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<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><FONT color=#800000 size=4><STRONG><EM>Boletín informativo - 
Red solidaria de la izquierda radical</EM></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=center><IMG alt="" hspace=0 
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline 
border=0><BR><FONT color=#000080 size=4><STRONG><EM>Año III - Nº 9224 - 
Enero&nbsp;9 - 2006 - Redacción: </EM></STRONG></FONT><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><FONT color=#000080 
size=4><STRONG><EM>germain@chasque.net</EM></STRONG></FONT></A></DIV>
<DIV align=center>
<HR>
</DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Brasil</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>A esquerda católica e o 
PT</STRONG></FONT></DIV><FONT face=Arial>
<DIV align=justify><FONT size=2></FONT><BR><STRONG><FONT size=2>Roldão 
Arruda</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2><STRONG>O Estado de S. Paulo – Caderno 
ALIáS<BR>Domingo, 8 de Janeiro de 
2006</STRONG><BR>&nbsp;<BR><STRONG></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2><STRONG>A despedida dos 
fiéis</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Plínio de Arruda Sampaio deixou o partido. 
Frei Betto, o governo. A CNBB não poupa críticas. Agora foi a vez do militante 
Francisco Whitaker se desfiliar da sigla. 'Vou organizar os sem-partido', diz. 
Lula chegou ao poder com a bênção das lideranças católicas, mas o desencanto com 
o governo desfaz esse elo. O que está acontecendo entre o PT e a Igreja? 'Crise 
de compreensão do processo político', afirma José de Souza 
Martins.<BR></FONT><STRONG><FONT size=2>&nbsp;<BR>Ele não carrega mais a cruz do 
PT</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Era um dos principais mantenedores do 
vínculo petista com a Igreja Católica. Agora, Chico vai se dedicar à sociedade 
civil, à margem dos partidos<BR><BR>Francisco Whitaker, ou Chico Whitaker, como 
é mais conhecido, recebeu o repórter na sala de seu apartamento, num antigo 
edifício, com colunas revestidas de pastilhas, na Rua Arthur de Azevedo, em 
Pinheiros. Apartamento modesto, de mobília mais modesta ainda, que nesta semana 
parecia conflagrado, com caixas de livros espalhadas por todos os lados, porque 
Chico está de mudança para outro lugar, no mesmo bairro. Foram quase três horas 
de conversa. Aos 74 anos, parece manter a mesma fidelidade aos princípios 
cristãos que despertaram seu interesse pela política ainda nos anos 50. Foi essa 
fidelidade, aliás, que o levou a divulgar uma carta, no primeiro dia deste ano, 
anunciando seu desligamento do PT, ao qual estava filiado desde 
1988.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Arquiteto de formação, Chico nunca foi nem 
almejou ser figura de proa no partido. Mas seu desligamento ganhou destaque na 
cena política porque ele fazia parte da cada vez mais rarefeita reserva moral da 
legenda; e porque era um dos principais mantenedores dos vínculos do partido com 
a Igreja Católica e os movimentos autônomos da sociedade civil. Entre outras 
atividades, Chico é conhecido por ter organizado, a pedido do cardeal Paulo 
Evaristo Arns, as assembléias populares que encaminharam propostas de leis aos 
deputados constituintes, nos anos 80; por ter encabeçado, ao lado da Conferência 
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o movimento Iniciativa Popular de Lei 
contra a Corrupção Eleitoral; e por ter sido um dos fundadores do festejado 
Fórum Social Mundial.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Em 1964, quando veio o golpe militar que 
derrubou João Goulart, Chico era militante da Ação Popular (AP), organização de 
esquerda originária de movimentos católicos, e dirigia o setor de planejamento 
da Superintendência da Reforma Agrária, a Supra, antecessora do Instituto 
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Foi exonerado do cargo e 
ficou preso durante 15 dias. Perseguido, não conseguiu mais emprego e teve de 
vender coleções da Enciclopédia Britannica para sobreviver. Um dos compradores 
foi o coronel que o chamava regularmente para interrogatórios.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Em 1965 começou a trabalhar para a CNBB no 
planejamento de ações pastorais. Mas, em 1966, quando o cerco da ditadura se 
fechou e sua prisão parecia iminente, deixou o País. Acreditava que ficaria fora 
um ano, no máximo dois, até a poeira baixar, mas ele e a família só conseguiram 
retornar 15 anos depois.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>De volta, envolveu-se com as Comunidades 
Eclesiais de Base (CEBs), que nessa época estavam completamente dedicadas à 
construção do PT. Em 1988 filiou-se ao partido e tornou-se vereador em São 
Paulo. Permaneceu na Câmara durante dois mandatos e afastouse, porque sempre foi 
contra a profissionalização política. Agora que está desligado do partido 
pretende se dedicar inteiramente àquilo que mais preza na política: a 
organização da sociedade civil, à margem dos partidos.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Por que o senhor decidiu agora 
deixar o partido? Teve algum fato desencadeador dessa 
decisão?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Foi uma oportunidade criada pela crise 
atual, que, embora não esteja resolvida, leva as pessoas a se posicionar de 
forma mais clara perante o partido. Quais são as alternativas para quem está 
descontente, como eu? Uma delas é mudar de partido. Outra, participar da 
refundação do PT. Preferi uma terceira, com a qual estou envolvido desde antes 
de me tornar petista, que é a organização política da sociedade. Vou ajudar a 
organizar os sem-partido.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Acredita ser possível refundar o 
PT?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Acho dificílimo. Refundar o partido 
significa rediscutir orientações políticas, regras. Se continuasse lá dentro, eu 
proporia a limitação do número de mandatos. Seria uma sinalização para a 
sociedade da mudança de orientação, impedindo que os militantes virem 
profissionais da política, usem a política como meio de vida. Mas aprovar uma 
mudança dessas exige uma luta imensa, porque uma boa parte do PT hoje é formada 
por militantes profissionalizados e políticos com mandatos que dedicam todo o 
seu tempo às disputas políticas. Internamente, o PT virou uma máquina 
extremamente competitiva, na qual intervêm questões pessoais, ambições 
políticas, disputas pelo poder, pelas candidaturas.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Na carta de desligamento, o senhor 
diz que o partido se desviou de seus propósitos originais. Como isso 
aconteceu?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Os dois desvios fundamentais foram: definir 
a tomada do Executivo como alvo principal; e concentrar todas as atividades na 
conquista desse alvo. Esses dois desvios iriam determinar todos os outros - e eu 
incluo aí a corrupção e o abandono do projeto de mudança do País. Na minha 
opinião, o mais importante seria conquistar cargos legislativos. Se tivéssemos 
vereadores bons em todos os municípios, e digo vereador pra valer, que não vai 
lá para fazer negócio, nos mudávamos o Brasil de baixo pra cima. Deveríamos ter 
investido mais em bons vereadores, bons deputados, senadores.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Há muito tempo o PT se dedica à 
conquista de cargos executivos. Por que o senhor decidiu atacar isso agora? 
Houve algum ponto de inflexão?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>A tomada do poder federal foi um salto 
fantástico na história do partido. Chegou a um patamar de poder, dinheiro e 
cargos inacreditavelmente superior ao de governos municipais e 
estaduais.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>O senhor falou em abandono do 
projeto de mudança do País. Pode explicar?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Existia o temor, durante a campanha 
presidencial, de que Lula não ficaria três dias no cargo se desse demonstrações 
de que pretendia mexer no sistema. Então, a preocupação principal passou a ser 
dizer que ele não iria mexer em nada, ou seja: "Gente, eu sou de vocês". 
Trocaram a opção de mudança do País pela tomada da Presidência da 
República.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>O risco de deposição era 
real?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Pode ser que sim. O mais terrível, porém, é 
que no início do governo não houve uma reflexão sobre o que poderia ser feito 
sem provocar o risco de confronto e deposição. Entraram no governo e não pararam 
mais para pensar. Lula tinha um potencial forte demais e desperdiçou tudo. 
Depois surgiu o problema da governabilidade, da base parlamentar, que levou o PT 
a se associar sem mais nem menos ao PP. E aí destrambelhou tudo.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Como Lula poderia ter usado o 
potencial ao qual o senhor se refere?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Vou citar dois setores que teriam sido 
decisivos. O primeiro seria repensar o mercado interno. Afinal, cerca de 120 
milhões de brasileiros estão fora do mercado de consumo. Para qualquer 
capitalista que se preze, isso é uma mina de ouro. Mas para isso seria 
necessário elevar salários, orientar a indústria para produzir produtos mais 
acessíveis e de interesse popular. Ulisses Guimarães já pregava isso lá pelos 
anos 70, quando foi candidato a presidente. Mas o governo Lula embarcou na tese 
da exportação e ponto. Se tivessem apostado no mercado interno teriam alterado 
substancialmente o atual quadro de desigualdade social. A segunda coisa que ele 
poderia ter feito era a reforma agrária. Não como está fazendo, com 
assentamentos aqui e ali, mas em massa. Em 1964 já se dizia que o Brasil 
precisava criar uma classe média no campo, por meio da reforma. Isso seria 
formidável, porque iríamos incorporar mais gente ao mercado e reduzir a 
miséria.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Por que não fizeram 
isso?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Porque nem passou pela cabeça deles que 
podiam fazer mudanças. Depois de chegarem ao poder, a preocupação foi se manter 
lá, fazendo agrados em quem manda. O que vocês querem? Superávit? Vamos lá. 
Pagamento da dívida? Ok.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>E os tão alardeados investimentos na 
área social?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>São só uma lasquinha, quireras, para 
equilibrar um pouco as coisas, reduzir a pressão e evitar muita revolução lá 
embaixo. Na entrevista ao Fantástico, ao falar sobre irregularidades no PT, o 
presidente disse que foi traído, esfaqueado pelas costas. Poria a mão no fogo 
por ele? Lula conhece bem o Congresso e suas práticas. Tempos atrás, quando 
falou que o Brasil se resolveria se fossem tirados de lá os 300 picaretas, ele 
se referia a negociatas que tinha visto. No caso atual, talvez não conhecesse os 
detalhes de todas as coisas que aconteciam, mas sabia do espírito da coisa. 
Podia saber, por exemplo, que tinha um sujeito operando o esquema, embora não 
soubesse que era Marcos Valério. Ele não é ingênuo a ponto de acreditar que os 
partidos se aliavam ao governo por identidade política. Pode ser que nunca fique 
provado que Lula sabia de tudo. Não se pode acreditar, no entanto, que estamos 
diante de um ingênuo.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Acha que o PT pode superar a crise e 
voltar a mostrar força eleitoral na próxima eleição?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>O partido está num beco sem saída. Já não 
pode falar que vai ser diferente, que vai fazer política de forma ética, porque 
o povo vai retrucar: vocês já falaram isso antes e deu no que deu. Também não 
pode falar que vai fazer mudanças. Enfim, perdeu o discurso. A crise esvaziou o 
discurso do PT.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Foi por isso que Lula disse que o 
partido vai ter de sangrar muito?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Acho que sim. O tempo de luta interna que o 
PT vai gastar para se refundar e ganhar credibilidade é tão grande que eu não 
quero estar nessa.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Acredita que o presidente está mesmo 
indeciso diante da reeleição? Ou só está fazendo cena?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Certamente não está tão seguro como estava 
tempos atrás. Suas certezas estão abaladas. Não se pode esquecer, no entanto, 
que ele ainda tem uma base popular grande. O bendito Bolsa-Família mantém uma 
quantidade enorme de pessoas que consideram uma maravilha receber R$ 50 por mês 
e vão querer que isso continue. Na eleição, vão pensar: "Esse cara pelo menos 
nos dá R$ 50".</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Não acha que os programas de 
transferência de renda deveriam ser acompanhados de políticas de desenvolvimento 
sustentável, que permitissem às pessoas viver com os próprios 
recursos?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Fazer política compensatória é mais fácil. 
Para fazer o que você está falando é preciso montar uma estrutura, definir uma 
política de desenvolvimento e, principalmente, estar preparado para enfrentar 
resistências, no governo e fora dele. Depois, se conseguir vencer as barreiras, 
tem de botar gente competente para fazer o negócio andar. É mais trabalhoso. 
Usar o poder para beneficiar as pessoas é bom; mas mantê-las dependentes é a 
pior forma de usar o poder.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Acreditava-se que com a chegada do 
PT ao poder seriam ampliadas as formas de participação popular. Afinal, era o 
partido do Orçamento Participativo, dos Conselhos. No entanto, já se viu que 
ocorreu um processo inverso: a participação popular recuou. Como vê 
isso?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Isso ocorre, de fato, mas não é 
maquiavélico. Decorre dos propósitos. Quando enfrentavam governos antagônicos, 
os movimentos sociais tinham de lutar. Mas, quando estão diante de um governo 
que diz "nós somos vocês", as lutas parecem desnecessárias. Isso também está 
ligado àquela prioridade à qual me referi, de eleger o presidente. Os movimentos 
sociais foram muito úteis para elegê-lo, mas depois tiveram de ouvir: "Não se 
afoitem e tratem de ir com calma, porque nós vamos resolver tudo". Eu já tinha 
visto isso na França, com a eleição de François Mitterrand. Ele foi eleito sob a 
égide da participação popular, após 15 anos de direita prepotente e repressiva. 
Com a vitória dele ocorreram festas populares, espalharam-se rosas pelas ruas de 
Paris, saudando o governo de participação. Um mês depois, porém, a conversa era 
outra: "Segurem o trem, não se animem demais, porque a gente vai 
resolver".</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>O senhor acha que a oposição exagera 
nos ataques a Lula, com o intuito de desestabilizar o 
governo?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>É óbvio que há exageros. Quando Arthur 
Virgílio fala é de sair de baixo. Mas isso faz parte da luta política. Na 
oposição, o PT fazia coisas mais pesadas. Quando Mário Covas era prefeito de São 
Paulo, a bancada do PT na Câmara, com quatro vereadores, nunca lhe deu um minuto 
de sossego. Não queria o diálogo, era o ferrinho de dentista em cima do governo. 
Uma das mais briguentas era a Luiza Erundina. Depois, quando ela se elegeu 
prefeita, o PSDB agiu exatamente da mesma maneira, o que era desesperador, pois 
não lhe deram chance de governar e a levaram a optar por governar sem maioria. 
Essa rivalidade foi crescendo até chegar ao ponto atual, quando os dois 
principais partidos do País tentam esganar um ao outro.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>O senhor se sentiu traído pelo 
PT?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Não. Quando alguém se diz traído é porque 
esperava tudo, menos o que fizeram a ele. O que eu vi foi uma involução 
progressiva. Eu já detectava há muito tempo certos desvios, flexibilizações. 
Antes mesmo de entrar para o partido já percebia a tentativa de 
instrumentalização dos movimentos sociais com objetivos partidários e 
eleitorais. Nunca me senti bem diante disso, mas, como as Comunidades Eclesiais 
de Base, com as quais eu trabalhava, viam no PT um espaço a mais que se abria 
para elas, nós fomos em frente.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>O senhor falou em flexibilizações. 
Pode dar um exemplo?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Quando era vereador e me recusei a 
participar de uma manobra irregular, que elevava em até 30% os vencimentos dos 
vereadores, um companheiro de bancada me chamou de chato de galocha, uma vez que 
todos os integrantes da Câmara tinham apoiado a proposta. Lideranças do partido 
também criticaram minha atitude, me chamaram de exagerado. O caso acabou na 
imprensa, deu um escândalo, o pagamento com acréscimo foi suspenso, alguns 
cidadãos foram à Justiça, até hoje está tramitando o processo no qual se pede a 
devolução do dinheiro pago irregularmente.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Acha que o PT se igualou aos outros 
partidos?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Não se igualou totalmente porque ainda conta 
com uma porção significativa de pessoas que acreditam que é possível fazer 
política de forma diferente.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Como vê o papel de José Dirceu nesta 
crise em que o PT está mergulhado? Acha que a influência dele foi decisiva para 
que o partido abandonasse o projeto de mudanças?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Infelizmente, acho que sim. O Zé tem uma 
visão extremamente pragmática da política, vê o partido como algo organizado e 
disciplinado. Ao longo dos anos reuniu em torno dele uma rede de apoiadores, com 
pessoas de uma lealdade quase canina, e a partir daí montou uma máquina 
partidária realista, pragmática, sem meios-termos, com a idéia de que o poder 
deve ser conquistado e exercido. Ao chegar à Presidência, apoiado no Campo 
Majoritário, adaptou todo o partido a essa sua maneira de ver a política. Ele 
tem uma história bonita, mas sua visão política é de comando.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=2>Não acha que esse pragmatismo foi 
turbinado pela idéia de que o partido estava do lado mais 
justo?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Sem dúvida. O que está por trás disso é: 
"Sabemos o que o Brasil precisa e vamos fazer tudo no momento certo". 
</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=2>Já que o senhor estabeleceu o paralelo 
com o PSDB, não acha que José Dirceu tem semelhanças com Sérgio Motta, o trator 
do primeiro governo de Fernando Henrique?</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Sim. Estamos falando de dois homens 
práticos, operacionais, pragmáticos e com grande liderança. Assim como o Zé 
Dirceu tinha planos de longa permanência no poder, o Serjão também falava que o 
PSDB precisava ficar 20 anos no comando. Eu conheci bem o Serjão, porque ele 
também pertenceu à Ação Popular em São Paulo. A principal diferença entre eles é 
que o Zé procura ser mais persuasivo. Você vai conversar com ele e sai de lá 
dizendo "o cara tem razão mesmo". É um quadro importante, que deve estar fazendo 
falta ao Lula. O bispo dom Tomás Balduíno, que apoiou a candidatura de Lula e 
depois se decepcionou com o governo, tem dito que os movimentos populares 
erraram ao acreditar que bastava eleger um presidente com perfil de esquerda. O 
difícil agora, na opinião dele, será vencer a desilusão e reorganizar esses 
movimentos.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2>Quando voltei do exílio, em 1982, a coisa na 
qual mais se falava era a necessidade de organizar o povo. Paralelamente havia a 
tese de que o único caminho viável para obter conquistas sociais era por meio 
dos partidos. O que houve então? Toda a organização popular foi absorvida pelo 
PT. Agora é preciso recomeçar a reorganização da sociedade, mas sob outra 
perspectiva, com autonomia em relação ao partido. Acho que essa é a grande lição 
que se pode tirar de tudo o que aconteceu agora. A sociedade civil deve ser 
autônoma em relação ao governo, deve ser capaz de exercer o controle social e de 
não se deixar domesticar pelos partidos.<BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2>
<HR>
</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2></FONT><BR><STRONG>A ala católica petista: crise 
e conseqüências</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>A saída de Francisco Whitaker aponta para 
problemas não só do PT e do governo, mas da militância 
religiosa</STRONG></DIV><FONT size=2></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>José de Souza Martins *</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=2>O Estado de S. Paulo – Caderno 
ALIáS<BR>Domingo, 8 de Janeiro de 2006</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2>Nos últimos dois anos, nomes expressivos da 
militância católica no Partido dos Trabalhadores têm criticado duramente o 
governo, ou deixado o partido, ou deixado o governo. Houve uma significativa 
mudança de atitude em comparação com a cálida acolhida que bispos progressistas 
e conservadores deram a Lula, na assembléia episcopal de 2003.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Um episódio da mudança ocorreu nesta semana. 
Com uma longa carta justificativa, Francisco Whitaker, da Comissão de Justiça e 
Paz da CNBB e do Fórum Social Mundial, desligou-se do Partido dos Trabalhadores 
no primeiro dia de 2006. Trata-se de uma das mais ativas e fundamentais conexões 
entre o partido e a Igreja. É pessoa com ampla presença em posições de 
dirigência na rede política paralela e auxiliar do PT e uma das mais 
representativas dos católicos que optaram pelo petismo.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>O documento deve ser lido como documento de 
uma crise não só do PT e do governo Lula, mas sobretudo da crise da militância 
católica. São várias e significativas as defecções de militantes católicos. 
Tanto do partido, como esta de Whitaker e a recente de Plínio de Arruda Sampaio, 
quanto do governo petista, como a de frei Betto e a de Ivo Poletto, originário 
da Comissão Pastoral da Terra. Como, ainda, as duras críticas de dom Mauro 
Morelli, dom Tomás Balduíno e dom Demétrio Valentini ao governo. São defecções 
que expressam os impasses políticos que cercam a justa militância dos que têm fé 
e não separam sua fé da política e até de um partido. Um modo problemático de 
atuar politicamente no mundo moderno, mas sem dúvida um fato 
político.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Lula tentara inicialmente organizar um 
governo de dupla estrutura, oferecendo aos militantes católicos posições 
adjetivas, praticamente sem poder de decisão nas áreas mais sensíveis da questão 
social. Literalmente declarou guerra a esse setor da base católica do PT ao 
demitir o presidente do Incra originário da Pastoral da Terra, que entrara numa 
disputa por hegemonia com o ministro do Desenvolvimento Agrário. Lula teve de 
decidir quem era o ministro. Ao mesmo tempo, irritou esses setores da Igreja com 
a política econômica e a política agrícola. De fato, as tensões com a Igreja 
aumentaram com a tática de acender uma vela para Deus e outra para o diabo. No 
encontro de 2005 das Comunidades Eclesiais de Base, ficou claro que esses 
setores da Igreja querem disputar com Lula e os dirigentes do partido o legado 
político que consideram delas.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>O documento de Whitaker é também um 
documento sobre a crise dos partidos, e não só do PT. Um alerta sobre a 
inquietação da massa dos que têm algum tipo de consciência política, mas não têm 
espaço no âmbito partidário e das doutrinas. São os que optam por esquemas de 
militância, ação política e poder que podem representar, em nome do justo 
primado do social, uma opção pré-política pelo mundo pré-moderno. Falta uma 
referência antropológica ao pensamento político brasileiro, aos programas e 
doutrinas de nossos partidos, não raro alheios às duras convicções dos simples, 
como essas.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>O discurso da ética, que é o nervo das 
objeções dos dissidentes, é o discurso contra o oligarquismo da intransparência 
do processo político; contra a vitalidade das forças impessoais e ocultas que 
comandam nossos destinos no mundo moderno. A preocupação com a ética está 
referida às dificuldades de compreensão dessa personagem diabolicamente 
invisível que impõe aos justos e puros de um partido ético (e de todos os 
partidos éticos) sua vontade e seu poder, incompreensíveis na perspectiva do 
fundamentalismo popular e religioso. A crise entre os católicos que se 
identificam com o PT e o PT e seu governo é antes de tudo uma crise de 
compreensão do que é propriamente o processo político e seus mistérios. Não 
houve traição alguma. Houve subentendidos enganosos e oportunismo. Nem Lula nem 
o PT mudaram. O processo histórico é que foi decantando as contraditórias 
camadas desse partido singular, expondo cruamente suas impossibilidades, 
insuficiências e ilusões.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>A evasão representa o sangramento dos órgãos 
vitais do corpo político e místico que é o PT, um partido e um governo entre a 
cruz e a caldeirinha, o coração lancetado pelas próprias contradições internas. 
Na verdade, o seu corpo de idéias é um resíduo insuficientemente elaborado do 
nacional-desenvolvimentismo. Confundem anticapitalismo, antiamericanismo e 
estatismo com socialismo. São apóstolos de uma restauração, que poderia se 
atualizar, sem dúvida, mas não na prática frágil das colagens ideológicas e das 
vizinhanças anômalas. Falemos a verdade: o PT de membros e simpatizantes como 
Whitaker, Sampaio e Poletto não tem nem nunca teve nada a ver com o PT de Lula e 
José Dirceu. Waldemar Rossi, aliás, da Pastoral Operária de São Paulo, foi o 
único que percebeu isso desde os primeiros passos de Lula como 
sindicalista.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>A adesão ao PT e a unidade do partido foram 
costuradas em cima desses fragmentos do passado e de um ideário suficientemente 
vago para comportar tantas ambigüidades quanto as necessárias para levar o 
partido político ao poder. Há nas propostas do grupo católico, sem dúvida, muita 
fé e pouca racionalidade política, e esse é seu maior problema.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>Sem a ala católica o PT terá dificuldades 
nas eleições deste ano. Ela é que faz dele um partido nacional. É ela que 
estabelece a ponte por onde passam os votos da multidão que interpreta a 
política com o coração, e não com a razão, perdida nos ermos rurais e urbanos da 
inclusão perversa. É a ponte que nutre a euforia do galicismo ideológico dos 
intelectuais do silêncio da Paris tropical. Nesse sentido, as defecções podem 
ser uma retirada estratégica para, desde fora, em face das eleições, jogar Lula 
contra as forças de acomodação que comandam o PT e obter concessões em suas 
reivindicações de mudanças e de uma política mais agressiva do governo contra o 
império, o capital e a propriedade. Pode ser, pois os dissidentes e seus 
seguidores dificilmente darão seu voto aos partidos da modernidade.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2>* José de Souza Martins é sociólogo e 
professor da Universidade de São Paulo. 
<HR>
<STRONG><FONT color=#000080>La información contenida en el boletín es de fuentes 
propias, sitios web, medios periodísticos, redes alternativas, movimientos 
sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los artículos firmados no 
comprometen la posición editorial de Correspondencia de Prensa. Suscripciones, 
Ernesto Herrera: </FONT></STRONG></FONT><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><FONT color=#000080 
size=2>germain@chasque.net</FONT></STRONG></A><FONT size=2> 
<HR>
<BR></FONT></FONT></DIV></BODY></HTML>