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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><EM><STRONG><FONT color=#800000 size=4>Boletín informativo - 
Red solidaria de la izquierda radical</FONT></STRONG></EM></DIV>
<DIV align=center><EM><STRONG><FONT size=4><IMG alt="" hspace=0 
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline 
border=0><BR><FONT color=#000080>Año III - Nº 9337 - Febrero 10 - 2006 - 
Redacción: </FONT></FONT></STRONG></EM><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><EM><STRONG><FONT color=#000080 
size=4>germain@chasque.net</FONT></STRONG></EM></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Roberto 
Romano</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Propaganda oficial e populismo serao 
as armas eleitorais de Lula...</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>“A República 
precisa ser repensada”</FONT></STRONG><BR></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Mateus Alves e Valéria 
Nader</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Correio da Cidadania Nº 485, 
4-2-06</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><A 
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A><BR><BR><BR>O 
Correio da Cidadania entrevista nesta semana o filósofo e professor da Unicamp 
Roberto Romano, que analisa o governo Lula, a República brasileira e comenta os 
ganhos e perdas dos movimentos sociais sob o governo 
Lula.<BR><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Qual a sua opinião sobre o fim da 
verticalização nas eleições?</STRONG><BR><BR>Roberto Romano: O fim da 
verticalização serviu muito para as oligarquias regionais brasileiras, para os 
partidos oligárquicos, que têm interesse sobretudo no trato da região com o 
poder central. Eles precisam da mercadoria – votos – para oferecer ao governo 
federal e, com isso, segurar o seu poder regional. O que aconteceu foi uma 
reiteração de um dos mais antigos costumes eleitorais brasileiros, os famosos 
currais eleitorais. É lamentável, pois isso é um retrocesso do ponto de vista da 
democracia.<BR><BR>Se analisarmos a verticalização de um ponto de vista 
estritamente jurídico, temos que levar em conta o fato de que o Brasil ainda não 
é uma República federativa completa. O poder central é demasiado, os estados 
estão praticamente presos a esse poder central e não têm autonomia. Se pensarmos 
em termos ideais, fica evidente que a verticalização foi um atentado à 
federação. Por outro lado, conhecendo a federação brasileira e conhecendo o 
poder das oligarquias, vê-se que não foi um passo adiante e nem um passo atrás. 
Está tudo como antes no quartel de Abrantes, o que é algo de se estranhar, 
sobretudo se se levarem em consideração as promessas de alteração da estrutura 
política do país feitas pelo partido que atualmente está no 
governo.<BR><BR><STRONG>CC: E os prejudicados, quem foram?</STRONG><BR><BR>RR: 
Os prejudicados são os de sempre: aqueles que são obrigados a sofrer o tacão 
desses oligarcas, a população em geral, a cidadania etc. Prejudicados, nos dois 
sentidos: se a verticalização fosse imposta, muitos partidos pequenos teriam 
problemas, como seria o caso do PSOL e do PV; com essa mudança, no entanto, não 
se pode dizer que esses partidos foram automaticamente beneficiados; o jogo está 
empatado. O que acontece é que há um desrespeito absoluto à cidadania. Concordo 
cada vez mais com Fábio Konder Comparato, que diz que o Brasil é tudo menos uma 
República; é muito estranho termos uma República onde o povo soberano não é 
ouvido.<BR><BR><STRONG>CC: Considerando a regra constitucional de que mudanças 
nas regras eleitorais devem ser feitas um ano antes da data das eleições, seria 
possível o STF (Supremo Tribunal Federal) barrar o fim da 
verticalização?</STRONG><BR><BR>RR: Tal regra existe, mas analisando a atuação 
recente dos ministros do STF, em especial a de Nelson Jobim, essas regras foram 
feitas para favorecer o governante da hora, e não a democracia e nem a 
população. O ministro Jobim vem dando tapas na consciência democrática e na vida 
nacional, mostrando claramente que é o campeão do Planalto no STF – como foi no 
governo de FHC, está sendo agora no governo de Lula. <BR><BR><STRONG>CC: Que 
prognósticos o senhor faria sobre o processo eleitoral nesse ano? Como deverá 
decorrer?</STRONG><BR><BR>RR: Acredito que a campanha eleitoral já começou há um 
bom tempo, com a utilização de dinheiro público, através da propaganda oficial. 
É escandaloso o que o governo federal está fazendo por meio das propagandas do 
Banco do Brasil, de órgão ligados à saúde; estão fazendo propaganda política 
direta. Concordo com a opinião de Oded Grajew de se abolir a propaganda oficial 
– que supostamente é feita para informar a população dos problemas do país, mas 
se torna uma maneira marota de qualquer governante, seja ele tucano, 
peemedebista ou o que for, fraudar a boa-fé pública e de utilizar milhões para 
se promover. É o que está ocorrendo agora. <BR><BR>Além da propaganda, há o 
reforço do ministro Jobim – que tem notórias pretensões de ser vice do 
presidente de República -, o que põe fim à situação de acuamento da candidatura 
Lula. Há um saber de trabalho político extremamente competente, o PT tem esse 
know-how, e, portanto, tenho quase certeza da reeleição do presidente. 
<BR><BR>Por outro lado, os tucanos mostram-se extremamente tímidos, talvez 
porque tenham algo a pagar e não querem que isso venha à tona – o vergonhoso 
depoimento de Antonio Palocci no Senado mostrou isso. Ali vimos uma situação 
capaz de envergonhar qualquer cidadão e mais ainda uma oposição que se pretende 
ética. A coisa adquiriu proporções de escândalo quando, no dia seguinte, as 
verbas para o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL/BA) foram liberadas. É o 
famoso “é dando que se recebe”. <BR><BR>Portanto, no campo da oposição, não vejo 
nada que seja suficientemente agressivo para acabar com essa vantagem que foi 
dada ao presidente da República. Darei todo o meu apoio aos pequenos partidos, 
votarei neles, mas creio que não seja possível reverter qualquer quadro. Eles 
estão numa outra fase partidária, sedimentando-se no campo nacional. Em 2006, 
terão, evidentemente, um aumento significativo em seu número de 
votos.<BR><BR>Gostaria de ter outro prognóstico, mas vejo que teremos uma 
reeleição e mais quatro anos de crise política, dada essa atitude extremamente 
imperial do núcleo do PT e do próprio governo. <BR><BR><STRONG>CC: O que 
significará uma eventual vitória de Lula para o Brasil?</STRONG> <BR><BR>RR: 
Podemos seguir para uma manutenção dessa política de extrema-direita - onde há 
um orgulho em pagar o FMI antes do prazo -, com alguma concessão aos movimentos 
sociais. Estes não exigem muito, são realistas. Nenhum deles extrapola, não vejo 
neles uma radicalização revolucionária. Todos possuem reivindicações no campo e 
nos limites da propriedade burguesa. O que o MST quer é que a propriedade seja 
redistribuída, não que seu princípio seja destruído. <BR><BR>Há um segundo 
caminho. Se o governo tiver bom senso – o que é difícil de se prognosticar 
quando falamos do governo Lula –, uma parte desse superávit primário será 
destinada, em primeiro lugar, para a ciência e tecnologia. Quando tomou posse, 
Lula prometeu que, ao final de seu primeiro mandato, 4% do PIB (Produto Interno 
Bruto) seriam destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Por enquanto, 
não houve interesse do governo nesse tipo de aplicação – o que é um equívoco 
criminoso em relação ao futuro do Brasil. Os Estados Unidos da América dominam o 
mercado com tecnologia de ponta; a União Européia tem em vista esse fator para a 
criação de um antagonismo em relação aos EUA; a China, o Japão e os tigres 
asiáticos também aplicam pesadamente em educação e em ciência e tecnologia para 
se tornarem competitivos. O que se vê no Brasil é o pagamento de juros com o 
superávit primário. O que existe de incentivo no Brasil está em São Paulo, por 
conta da Fapesp. Em termos federais, é quase nula essa aplicação. Daqui a alguns 
anos, seremos pura e simplesmente consumidores de produtos do exterior e, além 
disso, inadimplentes novamente.<BR><BR><STRONG>CC: Como o senhor encara a 
possibilidade de reeleição em nosso país?</STRONG><BR><BR>RR: Bom, eu tenho uma 
visão bastante peculiar da própria idéia de presidencialismo. Sou cada vez mais 
a favor do parlamentarismo, que foi liminarmente recusado pelo PT e pela 
esquerda porque havia a esperança de que, chegando ao governo, o partido mudaria 
tudo em três dias – bastava vontade política. A idéia do parlamentarismo era 
apresentada sumariamente como a idéia de um golpe que impedia Lula de chegar ao 
poder.<BR><BR>Fábio Konder Comparato, em artigo intitulado “Réquiem para uma 
Constituição” - que inclusive deveria ser distribuído nas portas das fábricas -, 
diz que o poder presidencial brasileiro herdou todas as prerrogativas imperiais. 
O Estado brasileiro foi criado de uma maneira conservadora, contra a revolução 
francesa e contra a revolução norte-americana. Foi criado para impedir que uma 
revolução acontecesse, e se montou uma estrutura que contava com um Poder 
Moderador. Na proposta inicial do Benjamim Constant, que era um liberal francês, 
ele apenas coordenaria os três poderes; aqui, no entanto, ele foi colocado acima 
dos outros poderes, o que fez com que o Império brasileiro fosse um dos mais 
autoritários de seu período. <BR><BR>Quando foi criada a República, ao invés de 
se abolir o Poder Moderador, este foi incorporado à presidência. O presidente é 
um imperador por quatro anos, e daí vem a fonte das crises de todos os governos: 
com poderes ilimitados, os presidentes nomeiam os ministros do STF, os 
procuradores da República, os procuradores gerais. As eleições são sempre 
plebiscitos imperiais: o presidente sobe com o nariz empinado – pelo menos desde 
Jânio Quadros é assim – e, muitas vezes, sai morto ou deposto, ou renuncia 
frente a uma crise tremenda. <BR><BR>Essa República imperial precisa ser 
repensada. É preciso retirar, por exemplo, esse poder do presidente de nomear 
ministros do STF, que passam a dever um favor a ele, e que o pagam com votos 
sobre o nosso direito. Veja os planos econômicos realizados até hoje, 
verdadeiros golpes de Estado. Até hoje o STF não se manifestou sobre o Plano 
Collor, que foi um confisco. <BR><BR>O presidente é todo-poderoso para manipular 
a instituição do Estado, mas depende das bases parlamentares, o que resulta em 
mensalão e em outras corrupções. E falam do mensalão como se fosse o único 
escândalo, mas a super-concentração dos impostos e a não distribuição desses 
recursos para o município e regiões são igualmente escandalosas. Quando se vai 
votar uma lei e alguém diz “olha, para os recursos chegarem a Ribeirão Preto, 
você vai ter que votar a favor do governo”, é muito pior que o mensalão. Acabar 
com essas prerrogativas que vêm desde a independência do Brasil não é fácil; 
sempre há a esperança em todos os partidos de que, quando chegarem à 
presidência, isso vai mudar. Até a esquerda participa dessa ilusão.<BR><BR>Há 
também o fato de o Brasil ser um país continental. Esse problema das finanças 
tem inclusive atormentado a União Européia, que é um conjunto de países 
fortíssimos. Em qualquer debate jurídico sobre a questão naquele continente, é 
apresentada essa questão dos impostos. Países como a França e a Holanda tiveram 
medo em relação ao que iria acontecer com a distribuição dos impostos, de que 
grande parte dos recursos fosse destinada aos países que pertenceram à União 
Soviética. Nos Estados Unidos, isso também é problemático, os estados não 
aceitam uma super-centralização no governo de Washington. Aqui, nem o debate nós 
temos; ele foi levantado nos anos 50 e 60 pelos municipalistas e perdeu fôlego. 
Continuou o espetáculo dos prefeitos com o pires na mão, assediando o poder 
central. Quando se coloca qualquer discussão mais séria sobre os impostos, 
acontece uma guerra fiscal, como pudemos observar nessa tentativa fracassada de 
realizar uma reforma durante o governo Lula.<BR><BR><STRONG>CC: Além destas que 
o senhor acabou de anunciar, qual a conjuntura e medidas necessárias a uma 
mudança qualitativa em nosso desenvolvimento? Em outras palavras, há 
alternativas ao neoliberalismo neste momento? Qual o caminho a 
trilhar?</STRONG><BR><BR>RR: Há uma receita muito antiga, todo país que 
progrediu a utilizou. Estou estudando a democracia ateniense sob Sólon. Qual foi 
a grande novidade que ele instalou? Em primeiro lugar, a interrupção das dívidas 
dos camponeses, que não mais precisavam pagar a taxa de ocupação do solo para os 
grandes latifundiários, realizando uma distribuição das terras de maneira mais 
adequada. Quando os EUA invadiram o Japão, a primeira medida que lá aplicaram 
foi a reforma agrária. Vê-se que todos os países que conseguiram dar um salto 
industrial pelo menos equacionaram - não perfeitamente, pois nada de perfeito 
existe no mundo dos homens - o problema agrário. Esse é o primeiro passo que 
temos que dar no Brasil. É preciso decidir o peso de cada setor; por exemplo, é 
preciso pensar um espaço para o agronegócio, mas é preciso garantir a divisão 
fundiária e a equação agrária. Eu não esperava que Lula fizesse a reforma 
agrária do século, mas que estabelecesse uma estratégia e uma tática para essa 
resolução. Não fez nada, apenas a política tradicional dos assentamentos, sem 
nenhuma providência mais profunda em termos de suporte técnico, educacional 
etc.<BR><BR>Em segundo lugar, temos a já mencionada aplicação de recursos em 
ciência e tecnologia. O operário brasileiro não tem o mesmo acesso ao setor 
quando comparado ao operário norte-americano, europeu ou asiático. As últimas 
medidas que tivemos no país ainda se resumem aos “S”, Senac, Senai etc. Depois 
disso, mais nada; foi dos “S” que surgiu a potência de São Bernardo do Campo, e 
não temos um equivalente contemporâneo. O que o Brasil vive hoje é a promoção 
dessas zonas como Manaus, onde a mercadoria chega pronta, coloca-se um selo e se 
paga o imposto. Isso nutre a preguiça do poder federal, qualquer que seja o 
partido que lá esteja.<BR><BR>Terceiro, como também já disse, é necessária uma 
política concertada de elaboração e distribuição dos impostos. O Brasil é um 
país onde os impostos são excessivamente concentrados no poder central, e, para 
que esses impostos cheguem aos municípios, se estabelecem os chamados 
intermediários. Existem muitos Marcos Valérios operando em silêncio, e sabemos 
que são verdadeiros ralos que impedem que os recursos alcancem os seus destinos. 
Os deputados que fazem esses dutos, os senadores, pervertem a cidadania local. 
Para o cidadão, bom deputado, bom senador, é aquele que traz obras para a 
região. No entanto, nunca perguntam – e a imprensa não esclarece, nem os 
partidos indicam – o que os políticos estão fazendo para conseguir tais obras. 
Como conseguem participação orçamentária? Vendendo-se para o Poder Executivo. 
Isso é uma fonte de corrupção e uma fonte de perversão do próprio cidadão, que, 
ao invés de exigir que os recursos venham de uma forma transparente para o seu 
município, de forma permanente e não esporádica, continua apoiando esses 
políticos. Veja o caso de ACM: mesmo os seus inimigos o apóiam na Bahia, pois 
ele traz recursos do governo federal seja do jeito que for – e sabemos como ele 
os consegue, vide o depoimento de Palocci. <BR><BR>Essas medidas implicam em 
alicerçar a República, a Federação, os municípios, e estabelecer um plano 
realista de abordagem dos problemas sociais. É mais ou menos isso o que penso em 
termos de programa mínimo, mas evidentemente isso pressupõe uma política bem 
diferente da atual.<BR><BR><STRONG>CC: O que é e quem é, a seu ver, a esquerda 
hoje no país? Como tem sido a sua atuação? Ou, alternativamente, como deveria 
mobilizar-se?</STRONG><BR><BR>RR: Ela existe no interior de vários partidos, 
mesmo no PSDB, no PT, ainda existem pessoas de esquerda. Há também a esquerda 
mais organizada, como o PSOL e o PSTU. Para mim, o PCdoB já não é mais de 
esquerda, pois perdi o parâmetro para analisar o partido. Conheço militantes 
valorosos e tenho muito respeito por eles, mas o realismo do PCdoB está se 
manifestando de uma maneira muito estranha. Estão escapando às suas matrizes 
ideológicas e históricas, e hoje cumprem o papel de um partido tradicional 
brasileiro.<BR><BR>O lingüista Jean Pierre Faye, em seu livro “A Teoria do 
Relato”, analisa a circulação das noções entre a esquerda e a direita. Num 
sistema que criou e ao qual deu o nome de “ferradura ideológica”, ele diz que, 
dados os interesses múltiplos e momentâneos, que não são de ordem estratégica 
nem de ordem tática, muitas vezes uma palavra de ordem que surge na extrema 
esquerda circula pelo aspecto ideológico e termina na extrema direita. Nunca se 
pode ter certeza de que se está usando uma palavra que é genuinamente, apenas e 
tão somente de esquerda ou de direita. Faye cita, por exemplo, o caso da 
colaboração entre o stalinismo e a Alemanha nazista; nesta última, ocorreu uma 
palavra de ordem pelo nacional-bolchevismo. Ali, a esquerda deu a sua 
contribuição e a direita deu a sua. Os termos nunca são impolutos, genuínos, nem 
sempre vão permanecer como são.<BR><BR>É necessário, portanto, tomar muito 
cuidado com a linguagem. Às vezes, uma pessoa de esquerda pode estar usando uma 
linguagem de esquerda cujos termos não estão mais ligados a uma política de 
esquerda, e sim de direita. Boa parte dos discursos atualmente veiculados em 
louvor do progresso econômico brasileiro é de direita e é enunciada como se 
fosse de esquerda. Sempre digo isso porque, em filosofia e nas análises 
políticas, tomamos mais cuidados não apenas com o termo, mas também com as suas 
conexões lógicas. <BR><BR>Se alguém diz “acho maravilhoso pagar o FMI e criar um 
grande superávit primário, porque é a única solução para o país”, para depois 
resolver os problemas estruturais e, ainda depois, os sociais, está dizendo a 
mesma coisa que foi dita na época da ditadura. É a teoria do bolo de Delfim 
Netto. Esse bolo foi comido pelas elites, empanturraram-se tanto que a economia 
brasileira foi à breca. Hoje acho fantástico Netto dar lições de realismo, 
enquanto deveria ficar quieto. Quando foi ministro da Economia causou, 
inclusive, a queda do regime militar.<BR><BR>Pessoas que criticavam fortemente 
essa teoria durante o regime militar hoje falam não mais sobre o bolo, mas sobre 
a mesma idéia, não importa que nome se dê a ela. Essa idéia de que você precisa 
primeiro satisfazer os interesses do grande capital, deixando de lado a 
indústria, a agricultura e a população, é uma idéia de direita, mas que pode ser 
expressa em termos de esquerda. <BR><BR>A esquerda, como eu a conheci nos anos 
60 e nos anos 70, se modificou muito. Hoje, os partidos de esquerda com 
coerência entre o ideário e a prática – o que não quer dizer que eu os aprove 
totalmente – são poucos. Há o PSOL, o PSTU, alguns setores da esquerda do PT e 
mesmo alguns do PSDB, que tentam impulsionar a candidatura de José Serra. Aliás, 
é muito interessante o juízo dos industriais paulistas sobre o Serra, que 
acreditam que o seu passado de esquerda e o seu desenvolvimentismo são 
inconvenientes para o capital. Isso é muito revelador em relação à consciência 
das classes dominantes brasileiras, que preferem perder os anéis a perder os 
dedos. <BR><BR><STRONG>CC: Qual é o seu olhar sobre os movimentos sociais no 
governo Lula? Houve uma melhora no padrão de relacionamento com estes movimentos 
no atual mandato relativamente ao anterior?</STRONG><BR><BR>RR: Sempre costumo 
falar não dos movimentos sociais como um todo, mas sim individualmente. No caso 
do movimento negro, houve avanços importantes, que inclusive contaram com a 
ajuda do governo Lula. O debate sobre as cotas foi muito saudável e ajudou 
muito.<BR><BR>Para o movimento dos sem terra, houve ganhos e perdas pesadas. O 
próprio fato de se esperar do governo uma colaboração maior levou a um certo 
desarrazoado, a um crédito dado em demasia ao governo – o que atrapalhou a 
estratégia do movimento. Pode-se dizer então que houve um empate, não houve um 
ganho fantástico e nem uma perda absoluta.<BR><BR>O problema do MST não está 
ligado ao governo, mas sim à estrutura social. No caso do movimento negro, as 
leis que passam não afetam a estrutura fundiária do país; nenhum latifundiário 
ficará ofendido porque uma universidade tem mais negros. No caso dos sem terra, 
isso é muito mais virulento, e as mudanças que reivindicam afetam a sociedade 
brasileira.<BR><BR>No caso dos outros movimentos, como o movimento gay, também 
não vejo muitos ganhos. Os movimentos continuam desprotegidos; por exemplo, o 
maior número de assassinatos de homossexuais na América do Sul ocorre no Brasil. 
Não há garantias necessárias para os militantes e nada indica que esse modus 
operandi irá mudar. <BR><BR>Chegamos então num ponto em que todos os movimentos 
minoritários têm um limite de atuação, que é a polícia; ela é preconceituosa, 
mal paga, incompetente e faz de conta que não viu coisas. Isso é o ponto que me 
parece mais delicado de todo o sistema. Veja o caso do movimento sem-teto: o que 
faz a polícia? Faz a sua função puramente institucional, vai lá, bate e tira. E 
o que faz o governo para solucionar o problema das moradias populares? Aí 
encontramos outro abismo, o das empreiteiras que desgraçam esse país desde a 
época de Juscelino Kubitschek. <BR><BR>Os movimentos, em 2006, devem fazer um 
balanço para constatar o que perderam e o que ganharam nesses quatro anos de 
governo Lula. No entanto, eu acho que todos os movimentos foram grandes 
perdedores, na medida em que recursos ponderáveis deixaram de ser encaminhados 
para o implemento de seus trabalhos. Pagou-se o FMI à custa de se retirar 
dinheiro de todos os programas sociais. Foi uma amputação gravíssima do 
organismo partidário petista, pois o PT era o único partido que oferecia duas 
pernas de sustentação em sua organização: tinha visão de Estado e uma base de 
movimentos sociais. Esses dois itens foram os que criaram a sua grande força. 
Outros partidos menores não tinham condição de fazer tal circulação; o PSTU, por 
exemplo, antes de toda essa confusão, tinha uma visão mais política.<BR><BR>Com 
essa política econômica, a base de sustentação social do PT sofreu forte abalo. 
Quando você não irriga com sangue os movimentos, eles morrem – como diz Hobbes, 
na República, o dinheiro é o sangue que faz com que todas as partes vivam. Por 
mais que medidas corretas do ponto de vista legal, como as cotas, tenham sido 
tomadas, elas não correspondem à injeção de recursos. Daí decorre a situação 
atual, em que o PT precisa conquistar novamente o apoio que perdeu devido à 
política econômica. E é aí que ele está armando – e isso me parece gravíssimo do 
ponto de vista ético – uma propaganda que não é mais de esquerda, e sim 
demagógica e populista. 
<HR>
<STRONG><FONT color=#000080>La información contenida en el boletín es de fuentes 
propias, sitios web, medios periodísticos, redes alternativas, movimientos 
sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los artículos firmados no 
comprometen la posición editorial de Correspondencia de Prensa. Suscripciones, 
Ernesto Herrera: </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><FONT 
color=#000080>germain@chasque.net</FONT></STRONG></A> 
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>