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<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=4>Boletín informativo - 
Red solidaria de la izquierda radical</FONT></EM></STRONG></DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=4><IMG alt="" hspace=0 
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline 
border=0><BR><FONT color=#000080>Año III - 13 de abril 2006 - Redacción: 
</FONT></FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080 
size=4>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Ricardo 
Antunes</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Desafio do PSOL 
é dar densidade social ao seu projeto</FONT></STRONG><BR><BR></FONT><FONT 
face=Arial size=2></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Valéria 
Nader</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Correio da Cidadania Nº 
493</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><A 
href="http://www.correiocidadania.com.br/">http://www.correiocidadania.com.br/</A></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG><BR><BR><BR>O 
Correio da Cidadania entrevista nessa semana o sociólogo Ricardo Antunes, que 
avalia o governo Lula, o surgimento do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, 
seu significado político e suas possibilidades eleitorais. 
<BR><BR><STRONG>Correio da Cidadania: É corrente a opinião de que não há 
diferença de projetos para o Brasil entre o PT e o PSDB. Qual a sua opinião 
sobre essa máxima? Se na política econômica são realmente notórios os aspectos 
continuístas, haveria algum avanço do ponto de vista da política externa e da 
política social?</STRONG><BR><BR>Ricardo Antunes: Eu diria que, essencialmente, 
não. Na verdade, o PT e o PSDB, ainda que acirrem a sua disputa política pelo 
poder, são hoje as duas faces da mesma moeda – e no sentido literal do termo. A 
base dos interesses que representam é muito assemelhada. No que diz respeito, 
por exemplo, à política econômica, há a prevalência do capital financeiro e dos 
grandes industriais – esse é o bloco que hegemoniza a política tanto do PT como 
do PSDB. Quanto às políticas sociais, as do PT são focalizadas, tais como eram 
as do PSDB. A política agrária do PT é tão pífia quanto era a do PSBD. 
<BR><BR>No que tange a um projeto para o país, ambos não só não romperam com o 
neoliberalismo como se mostraram as duas principais variantes do ideário e da 
pragmática neoliberal. Fernando Henrique, em seus oito anos, fez uma aplicação 
exemplar dessa pragmática, à qual o PT deu continuidade. Por exemplo, a política 
monetária e a política fiscal do governo Lula são mais duras do que as de FHC, o 
que mostra que as diferenças não são essenciais. <BR><BR>Quando os petistas 
dizem que não privatizaram como no governo FHC mentem, pois cometeram um crime 
tão ou mais violento que aqueles cometidos pelos tucanos, que foi a privatização 
e financeirização da previdência pública. É bom lembrar que o governo Lula 
tentou também aprovar as reformas sindical e trabalhista, que tinham embutidas 
em suas propostas a idéia da flexibilização. Sem falar das PPPs (Parcerias 
Público-Privadas) e da liberação dos transgênicos. O governo Lula diz também que 
rompeu com o FMI. Na verdade, ele assimilou a tal ponto, no corpo e na alma, o 
ideário e o receituário do FMI que o organismo não precisa mais controlá-lo. O 
governo do PT é um servo que realiza com presteza as imposições do 
Fundo.<BR><BR>Portanto, o desafio que se coloca para a esquerda, os movimentos 
populares, sociais, o sindicalismo, os partidos, os intelectuais de esquerda e 
os cidadãos trabalhadores, que acreditavam que o governo Lula pudesse trazer, 
mesmo num nível pequeno, alguma mudança e que perceberam que ao longo de três 
anos e meio de governo não houve substancialmente nenhuma mudança – e quando 
houve, foi pra pior –, é reconstituir um projeto político e social de 
esquerda.<BR><BR><STRONG>CC: O PSOL é hoje o partido que ressalta à esquerda no 
cenário político. Qual é a sua importância e o seu diferencial, especialmente 
considerando ser este um ano eleitoral?</STRONG><BR><BR>RA: O PSOL vem se 
mostrando, desde a sua fundação, como um caminho que tem sido bem trilhado. O 
que quero dizer com isso? Primeiro, os fundadores do PSOL o fizeram como um ato 
de revolta contra a tese do PT, dominante, de que a esquerda tinha acabado, de 
que o socialismo tinha acabado. Um ponto importante foi mostrar que tanto a 
esquerda quanto o socialismo são projetos contemporâneos em relação ao século 
XXI. <BR><BR>Segundo, ao fazer isso, o PSOL mostrou, ao longo deste primeiro ano 
e meio de existência, uma abertura para receber parte importante das várias 
dissidências que foram nascendo dentro do PT. Foi essencial que o PSOL tivesse 
dado o primeiro passo. Na última eleição que definiu a direção do PT, deixando-o 
sob a direção do núcleo dominante que é a Articulação, que não perde o comando 
do partido sob hipótese alguma, o PSOL recebeu uma parcela importante de 
militantes do PT, intelectuais, sindicalistas, militantes dos movimentos 
populares.<BR><BR><STRONG>CC: Nesse sentido, como se coloca hoje no partido, 
diante da conjuntura nacional e internacional, a discussão sobre a luta pela 
construção de uma sociedade socialista? Qual o modelo de socialismo projetado e 
qual o caminho para alcançá-lo?</STRONG><BR><BR>RA: Qual é o projeto do PSOL? É 
um projeto aberto, mas que tem claro desenho socialista, ainda que plural em sua 
concepção. E nós queremos que seja um pluralismo socialista, onde os marxistas, 
os cristãos, os militantes de base e os intelectuais encontrem espaço para um 
diálogo vivo, fraterno, generoso e autêntico em torno do seguinte tema: qual é o 
socialismo do século XXI. Para isso, vamos ter que fazer um balanço das 
experiências do século XX, do século XIX, dos desafios do século XXI, das novas 
experiências emergentes. O PSOL tem se mostrado positivo nesse processo; não 
está fechado, mas sim aberto. Não tem mostrado um sectarismo, ao contrário: 
evidencia uma disputa positiva, um debate positivo em sua reflexão sobre o país. 
<BR><BR>O desafio fundamental que o PSOL possui hoje, em minha opinião, é dar 
densidade social ao seu projeto. Não queremos ser um partido de grupos de 
esquerda, não queremos ser um partido de vanguarda na antiga tradição 
marxista-leninista. Queremos ser um partido de esquerda, radical, com um 
socialismo claramente anti-capitalista, mas com espaço para que vários 
agrupamentos, tendências e individualidades dele participem e encontrem um 
espaço autêntico de debate. Precisamos – e, repito, é o nosso desafio maior – 
encontrar ancoragem, suporte, nos movimentos populares. Isto fará a diferença. 
<BR><BR>Estamos muito perto de alcançar com força esse objetivo – até diria que 
já começamos a alcançá-lo. Após as duas últimas grandes dissidências que o PT 
sofreu em 2005, no Fórum Social Mundial e entre o primeiro e o segundo turno das 
eleições internas para a escolha da direção petista, recebemos um número muito 
grande de filiados, egressos do sindicalismo de esquerda e dos movimentos 
populares. Temos muitos simpatizantes no MST e em movimentos como o dos 
sem-teto. Precisamos ampliar o nosso apoio, a nossa centralidade no que eu chamo 
de “classe-que-vive-do-trabalho”. Ou seja, o nosso PSOL precisa ser um 
representante que encontra a sua força e sua impulsão nessa nova morfologia do 
trabalho – uma expressão que venho usando nesse novo desenho multifacetado que 
compreende as forças sociais do trabalho.<BR><BR>O PT possuía essa 
característica nos anos 80. Quando nasceu, apresentava, inclusive, uma certa 
diluição ideológica. Não havia um perfil traçado. Alguns de seus agrupamentos 
não se definiam como um partido socialista. O PSOL, ao contrário, se define como 
socialista, o que fica claro por seu próprio nome. Queremos, portanto, avançar 
para a confluência generosa do socialismo com a liberdade, com a autonomia dos 
trabalhadores e trabalhadoras, uma espécie de associação livre dos indivíduos 
para o século XXI.<BR><BR><STRONG>CC: Indo a reboque de sua analogia entre PSOL 
e PT, setores de esquerda, atualmente filiados ou não a algum partido político, 
avaliam que, justamente na medida em que o PSOL nasceu sem um acúmulo suficiente 
de forças políticas e sociais e, portanto, sem uma base militante consistente - 
ao contrário do histórico do próprio Partido dos Trabalhadores -, poderá 
resvalar, dentre outros, para uma postura eleitoreira. Qual a sua opinião sobre 
isto?</STRONG><BR><BR>RA: O primeiro ponto importante é que o contexto de 
fundação do PSOL é muito diferente do contexto do PT, cujo nascimento em 1980 se 
deu na abertura de um vasto ciclo de lutas sociais no Brasil, que começou em 
1978 e foi até 1989. Foi a década de ouro das lutas sociais no Brasil. O capital 
costuma dizer que foi uma “década perdida”; talvez para eles, mas para o mundo 
do trabalho, movimentos operários, lutas sociais, sindicalismo de base, foi uma 
década majestosa. Quando for feito um balanço do século XX no Brasil, a década 
figurará entre as mais majestosas da luta social. <BR><BR>O PSOL nasce, ao 
contrário, no início do século XXI, que é ainda um período de relativo refluxo 
das lutas sociais, um rescaldo da barbárie neoliberal e da contra-revolução 
burguesa de amplitude mundial, para usar uma expressão cara ao nosso querido e 
saudoso Otávio Ianni. Nesse contexto, o partido nasceu para dizer que não aceita 
esta ordem. Mas há um outro dado importante: o PSOL nasceu em um momento que é 
também de resistência e de retomada das lutas sociais, como se observou em 
Seattle, nos Fóruns Sociais Mundiais, com o Zapatismo no México e a Revolução 
Bolivariana na Venezuela, além da recente vitória do povo na Bolívia. Estamos na 
contracorrente dessa reação imperialista que foi muito violenta, especialmente 
depois de 2001.<BR><BR>No caso brasileiro, tínhamos duas alternativas quando o 
PSOL foi fundado: fundá-lo e dar o pontapé inicial para que este fosse um 
coágulo que permitisse que outros movimentos viessem a se somar a ele; ou 
esperar uma base mais sólida para a sua fundação. Acontece que, muitas vezes, a 
história oferece alternativas que são diferentes daquelas que pensamos. Poderia 
ser positivo esperar a confluência de vários movimentos de resistência para que 
fundássemos um partido mais pra frente; só que, se não tivéssemos fundado o 
PSOL, se não tivéssemos formado esse coágulo, essas dissidências todas do PT, 
dos movimentos populares, ficariam órfãs. <BR><BR>Sou radicalmente contra um 
partido institucional e exclusivamente eleitoral. Se tivesse que citar o veneno 
maior que levou o PT ao seu processo de desvertebração completo, diria que foi o 
seu abandono da condição de um partido cuja centralidade era dada nas lutas 
sociais para tornar-se um partido cuja centralidade passou a ser, cada vez mais, 
a busca da vitória eleitoral. Chegou ao governo e foi o antípoda de tudo o que 
propôs. Tornou-se um partido eleitoreiro, que chafurda numa crise inimaginável 
para a esquerda brasileira, latino-americana e mundial, dada a significação que 
possuía. Não adianta, no entanto, dizer que não há calendário eleitoral no 
Brasil. <BR><BR>Temos, portanto, que ter claro no PSOL que, se nós vamos 
participar do processo eleitoral, se aceitamos a busca pela legalização do 
partido, é porque não queremos um partido clandestino. A esquerda só é 
clandestina quando a direita lhe impõe essa condição. Queremos ser um partido 
aberto, de massas, de base, socialista e radical. Radical no sentido de tocar 
nas questões cruciais, vitais, sem escamoteá-las com o intuito de nos tornarmos 
mais palatáveis no plano eleitoral. Este é mais um dos desafios do PSOL. 
<BR><BR>Se você perguntar se existe o risco de o PSOL repetir a tragédia do PT, 
existe, claro. Se o PT repetiu a tragédia do New Labour inglês, que por sua vez 
repetiu a tragédia de toda a social-democracia, o risco existe. E como fazer com 
que esse risco não se efetive? Só tem um jeito: o partido precisa estar colado 
às lutas sociais. As eleições têm que ser um momento de conscientização das 
lutas sociais, de organização popular, de avanço da consciência de classe, de 
discussão das questões sociais e de discussão do socialismo. Se isso vai nos 
levar à vitória ou à derrota, a circunstância histórica é que vai 
dizer.<BR><BR><STRONG>CC: O senhor considera oportuno o lançamento de uma 
candidatura à presidência pelo partido (no caso, da senadora Heloísa Helena) na 
conjuntura que hoje está dada para a nação e também para o partido? Qual o 
alcance, tanto qualitativo com também quantitativo, dessa 
candidatura?</STRONG><BR><BR>RA: Heloísa Helena é uma candidata muito forte, tem 
5%, 6% nas pesquisas. Isso significa um ponto de partida especialíssimo, 
considerando tratar-se de uma candidatura de um partido pequeno, que nem foi 
pras ruas ainda. O PSTU, que nós respeitamos muito e que tenho a convicção de 
que estará conosco no processo eleitoral, com uma campanha sempre corajosa, teve 
sempre uma limitação forte no plano eleitoral. Claro, nós temos mais densidade 
social: o PSTU é uma parte desta luta e o PSOL é outra. O PCB também deve atuar 
conosco, assim como outros movimentos sociais que não têm vinculação partidária, 
mas que podem se constituir como setores simpatizantes e partícipes de nossa 
luta. O PSOL tem, assim, mais esse desafio: utilizar o processo eleitoral para 
conseguir subir degraus no processo de organização, de politização e de 
consciência da luta popular e da ação socialista.<BR><BR>Veja bem, o PT chegou, 
ao final de 26 anos de sua história, como um partido tradicional. É uma espécie 
de PMDB do século XXI – versão, eu diria, até piorada, se analisarmos as 
alianças que o PT fez nos últimos anos, que evidenciam sua completa falta de 
escrúpulos e de limite. Em mais um episódio dessa falta de limite, devastaram a 
vida de um trabalhador enquanto os trilhões que se movimentam nos bancos não são 
sequer combatidos. <BR><BR>O PSOL precisa colocar como seu desafio hoje 
utilizar-se do processo eleitoral para que as questões cruciais e vitais que 
infelicitam a classe trabalhadora brasileira, como o desemprego, a precarização, 
a fome, a miserabilidade, a insegurança, a devastação que decorre da economia do 
narcotráfico, sejam enfrentadas. E estas são questões que devem ser enfrentadas 
através de mudanças estruturais, não através de contra-reformas neoliberais. 
<BR><BR><STRONG>CC: Qual é o caminho para se fazerem essas mudanças 
profundas?</STRONG><BR><BR>RA: A história da humanidade mostra que há dois 
caminhos para se fazerem mudanças profundas. Um é o caminho clássico das 
revoluções. A Revolução Francesa foi uma revolução fundamental, burguesa, mas 
que mudou a humanidade. A Revolução Russa de 1917 foi grandiosa, generosa e 
auspiciosa em sua origem. 70 e poucos anos depois, foi derrotada. A Revolução 
Chinesa também foi uma revolução popular, socialista, ousada. O impasse em que 
vive o país hoje mostra o avanço da contra-revolução, onde a lógica do capital 
se impõe cada vez mais. <BR><BR>Se não vivemos um ciclo revolucionário, temos 
que ter uma forma de ação que permita que a classe trabalhadora, quer no seu 
espaço nacional, quer no seu espaço internacional, tenha canais de lutas. O 
primeiro passo, evidente e decisivo, é a auto-organização popular. O PSOL terá 
futuro se for um espaço de auto-organização política e de base. O segundo passo 
é lutar para que possamos ter governos que se contraponham à barbárie 
capitalista e sua lógica neoliberal. <BR><BR>Hoje, é possível dizer que há um 
único governo - com a exceção de Cuba, que viveu uma revolução socialista – na 
América Latina que resiste claramente contra o neoliberalismo e o imperialismo, 
que é o governo Chávez. Há também a esperança positiva de que o governo de Evo 
Morales, na Bolívia, possa seguir no mesmo curso. O caso da Argentina é um caso 
singular, ninguém imaginou que Kirchner seria uma alternativa de esquerda. 
Embora aqui e ali ele possa tomar medidas positivas, no fundo ele é parte da 
arquitetura neoliberal. <BR><BR>O governo Lula, que poderia não ser parte dessa 
arquitetura, tornou-se uma espécie de paladino do neoliberalismo. O PSOL deve 
caminhar na busca dos passos políticos possíveis, no plano das lutas sociais, 
das lutas operárias, das lutas sindicais e no plano dos governos de resistência, 
para ajudar a combater a tragédia neoliberal, que em última instância é a 
expressão político-ideológica do capitalismo em sua fase mais destrutiva, 
belicista, supérflua.<BR><BR>Neste plano, eu faço uma diferença, que, para mim, 
é importante: uma candidatura à presidência da República é diferente de uma 
candidatura ao parlamento. O parlamento é o fórum da dominação burguesa, em 
última instância. Não sou contra a atuação no Parlamento, mas acho que ela é 
somente uma caixa de ressonância das lutas sociais para a esquerda. A 
presidência da República é bem diferente. A revolução bolivariana avança na 
Venezuela, pois o levante popular impediu o golpe da direita de ser vitorioso. 
Então, veja: sob pressão da massa, guiado pela organização popular, um governo 
político pode colocar parte de sua força contra o FMI, o sistema financeiro, a 
provocação imperialista. <BR><BR>É evidente que, nesta fórmula que estou 
trabalhando, não há uma oposição de fundo entre a abertura de um ciclo 
revolucionário e a possibilidade de experiências de reformas estruturais 
profundas. Uma via de reformas estruturais pode estar muito concatenada se 
estiver olhando para um horizonte novo, de uma nova economia, de uma nova 
sociedade, de um novo modo de vida, de um novo modo de metabolismo societal, ou 
seja, quando estivermos olhando para o socialismo, que é um empreendimento que 
foi derrotado nos séculos XIX e XX. O capitalismo levou quatro, cinco séculos 
para se formar. Por que o socialismo teria que ser vitorioso no primeiro século? 
Vamos dar ao socialismo as possibilidades que o capitalismo teve, que as 
revoluções burguesas tiveram ao longo dos séculos XV, XVI e XVII, até as suas 
grandes vitórias nos séculos XVIII e XIX.<BR><BR><STRONG>CC: Ao se pensarem em 
mudanças estruturais, não se pode deixar de lembrar das recorrentes e 
contundentes críticas à política econômica nesse mandato, cuja intensidade vai 
desde alterações expressivas nas políticas monetária, fiscal e cambial, 
pavimentando o caminho para uma ruptura, até o calote imediato das dívidas 
interna e externa. Qual é a sua opinião sobre esse tema?</STRONG> <BR><BR>RA: A 
questão econômica é essencialmente política. Entendo, como Marx, que a anatomia 
da sociedade civil está na política. A resolução da economia política é 
essencialmente política. O que quer dizer isso? Se Lula, quando foi eleito com 
53 milhões de votos, tivesse ousadia política, consistência ideológica, força 
política, encontraria impulso popular e força para começar as mudanças 
fundamentais. Veja, com 7 milhões de votos, Nestor Kirchner foi muito além de 
Lula. E não é, como já citei, nenhum exemplo de esquerda; é, no máximo, a ponta 
mais crítica dentro da ordem. <BR><BR>Na Venezuela, quando Chávez sofreu o 
golpe, abriu-se um debate no interior de seu governo, resultante da vitória 
popular que conseguiu impedir o golpe da direita: o governo deve moderar para 
ter o apoio das burguesias golpistas ou deve radicalizar o seu projeto? 
Felizmente, o governo Chávez decidiu pela segunda alternativa, avançar. E não se 
trata de radicalizar no plano discursivo, mas de avançar no processo de 
organização e auto-organização popular. Este é o segredo. Na Venezuela, pude 
presenciar a existência de um Estado que não atrapalha a organização popular e, 
quando pode, a auxilia. O que já é um grande avanço.<BR><BR>O nosso desafio 
seria, com a vitória no processo eleitoral, iniciar desde logo as mudanças. 
Evidente que, em função da mobilização e força popular, o contexto 
latino-americano nos ajuda: Bolívia, Venezuela, rebeliões no Equador e no Peru, 
descontentamento em outros países. No Chile e no Uruguai, Bachelet e Vázquez, 
ainda que progressistas no plano político, não tocam na barbárie neoliberal. 
Isso vai sepultá-los como sepultou Lionel Jospin, François Miterrand e Felipe 
Gonzáles. Mas é claro que o povo uruguaio e o povo chileno podem encontrar, 
neste momento, situações para avançar.<BR><BR>No caso brasileiro, nós teríamos 
que perceber um contexto internacional que nos ajudaria a colocar uma trincheira 
contra essa política destrutiva do FMI e do sistema financeiro. Deveríamos dizer 
que isso acabou, que não vamos suportar mais saques generalizados, que não vamos 
mais trabalhar para pagar dívidas que foram feitas há séculos. Isso é uma 
resposta política, que não pode ser dada por um governo frágil, mas sim por um 
governo forte, como é o caso da Venezuela. Chávez mostrou força em três 
momentos: quando o povo suportou o golpe, quando o povo impediu o processo de 
privatização da PDVSA – que foi um locaute na gerência mancomunada com os EUA – 
e no plebiscito. Esta combinação de luta social e luta política é o caminho a 
ser perseguido. É claro que estamos começando, mas estamos começando numa 
situação favorável, que é a percepção de que o PT faliu completa e 
irreversivelmente como partido – em minha opinião, a esquerda que resta dentro 
do PT será sempre apenas um discreto charme de um partido cada vez mais nefasto. 
<BR><BR>Temos que pensar num movimento que possa ser social e político junto com 
outros partidos. Não há hegemonismo. Na melhor das hipóteses, o PSOL seria um 
dos canais importantes por onde a luta política do povo brasileiro encontra 
possibilidades de seguir. <BR><BR><STRONG>CC: O PSOL, enquanto sentimento 
coletivo, já enterrou efetivamente o PT – não só no que se refere ao abandono 
das práticas do partido, mas muito especialmente quanto à “superação emocional” 
de uma experiência de largo e histórico prestígio?</STRONG><BR><BR>RA: O 
desmoronamento de Lula é lento, pois Lula foi uma liderança operária que se 
consolidou no imaginário e na consciência popular ao longo de décadas. Foi uma 
liderança que se construiu pela base, com força popular, com um processo 
sistemático de montagem, preparação e luta. Agora seu desmoronamento está maior, 
mas são quatro anos de percepção da falência de seu projeto. <BR><BR>O que o 
governo fez? Na ponta de cima, atendeu de modo impressionante aos interesses dos 
grandes bancos, que lucram muito mais do que no governo FHC. E, na ponta de 
baixo, em relação aos miseráveis, fez uma política assistencialista vergonhosa 
para a esquerda, mas que, na barbárie brasileira, rende votos. Além disso, ao 
levar o PT e a CUT para o governo, Lula fez com que esses se voltassem contra os 
movimentos populares. É contra tudo isso que o PSOL tem que 
lutar.<BR><BR>Felizmente, herdamos uma coisa generosa. Se o povo brasileiro viu 
o processo de definhamento e de exaustão da sua principal liderança, que era 
Lula, ele também viu nascer, nesses últimos anos, uma liderança como Heloísa 
Helena. E ela encanta grande parte da população por sua coerência e coragem; não 
se ligou às oligarquias, não se curvou ao esquema de FHC, foi uma figura 
eminente no PT e, quando quiseram intimidá-la, não se curvou nem a Lula, nem a 
José Dirceu e nem ao PT dominante. Em sua luta recente, nos movimentos 
populares, no processo parlamentar, soube preservar-se e manter a coerência. 
Está agora junto a um partido que está aglutinando a esquerda que ainda quer ser 
esquerda.<BR><BR>Temos que criar a esquerda de esquerda, e não a esquerda que a 
direita “gosta” – que é o PT. Falar é fácil. Fazê-lo é nosso grande desafio e 
nisso estamos empenhados.<BR><BR><STRONG>CC: Anteriormente à definição da 
candidatura de Alckmin pelo PSDB, vinha surgindo um sentimento crescente, porém 
velado, dentre setores progressistas que se ressentiram do governo Lula, de que 
Serra poderia ser a opção de mudança, sendo até mesmo mais temido pelo sistema 
financeiro atualmente. Nesse sentido, quais as suas projeções para o cenário 
eleitoral desse ano? Qual é o candidato mais confiável, qual será agora o 
escolhido pelo sistema financeiro, Lula ou Alckmin? <BR></STRONG><BR>RA: Eu 
diria que são os dois. Na eleição passada, quando Serra não decolou, migraram 
para o Lula. É uma situação muito cômoda para eles. Lula não é um dos seus, mas 
faz o que querem; é o servo ideal. Alckmin é um deles, o PSDB é a cara da 
burguesia que domina o país hoje, transnacionalizada, financista. E há também o 
PFL, que traz os grotões da burguesia para garantir esse projeto. </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><EM><FONT color=#000080>La información contenida en 
el boletín es de fuentes propias, sitios web, medios periodísticos, redes 
alternativas, movimientos sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los 
artículos firmados no comprometen la posición editorial de Correspondencia de 
Prensa. Suscripciones, Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT 
color=#000080>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV></FONT></BODY></HTML>