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<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
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<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=4>Boletín informativo -
Red solidaria de la izquierda radical</FONT></EM></STRONG></DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=4><IMG alt="" hspace=0
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline
border=0><BR><FONT color=#000080>Año III - 13 de abril 2006 - Redacción:
</FONT></FONT></EM></STRONG><A
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080
size=4>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
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<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Ricardo
Antunes</STRONG></FONT></DIV>
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<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Desafio do PSOL
é dar densidade social ao seu projeto</FONT></STRONG><BR><BR></FONT><FONT
face=Arial size=2></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Valéria
Nader</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Correio da Cidadania Nº
493</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><A
href="http://www.correiocidadania.com.br/">http://www.correiocidadania.com.br/</A></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG><BR><BR><BR>O
Correio da Cidadania entrevista nessa semana o sociólogo Ricardo Antunes, que
avalia o governo Lula, o surgimento do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL,
seu significado político e suas possibilidades eleitorais.
<BR><BR><STRONG>Correio da Cidadania: É corrente a opinião de que não há
diferença de projetos para o Brasil entre o PT e o PSDB. Qual a sua opinião
sobre essa máxima? Se na política econômica são realmente notórios os aspectos
continuístas, haveria algum avanço do ponto de vista da política externa e da
política social?</STRONG><BR><BR>Ricardo Antunes: Eu diria que, essencialmente,
não. Na verdade, o PT e o PSDB, ainda que acirrem a sua disputa política pelo
poder, são hoje as duas faces da mesma moeda – e no sentido literal do termo. A
base dos interesses que representam é muito assemelhada. No que diz respeito,
por exemplo, à política econômica, há a prevalência do capital financeiro e dos
grandes industriais – esse é o bloco que hegemoniza a política tanto do PT como
do PSDB. Quanto às políticas sociais, as do PT são focalizadas, tais como eram
as do PSDB. A política agrária do PT é tão pífia quanto era a do PSBD.
<BR><BR>No que tange a um projeto para o país, ambos não só não romperam com o
neoliberalismo como se mostraram as duas principais variantes do ideário e da
pragmática neoliberal. Fernando Henrique, em seus oito anos, fez uma aplicação
exemplar dessa pragmática, à qual o PT deu continuidade. Por exemplo, a política
monetária e a política fiscal do governo Lula são mais duras do que as de FHC, o
que mostra que as diferenças não são essenciais. <BR><BR>Quando os petistas
dizem que não privatizaram como no governo FHC mentem, pois cometeram um crime
tão ou mais violento que aqueles cometidos pelos tucanos, que foi a privatização
e financeirização da previdência pública. É bom lembrar que o governo Lula
tentou também aprovar as reformas sindical e trabalhista, que tinham embutidas
em suas propostas a idéia da flexibilização. Sem falar das PPPs (Parcerias
Público-Privadas) e da liberação dos transgênicos. O governo Lula diz também que
rompeu com o FMI. Na verdade, ele assimilou a tal ponto, no corpo e na alma, o
ideário e o receituário do FMI que o organismo não precisa mais controlá-lo. O
governo do PT é um servo que realiza com presteza as imposições do
Fundo.<BR><BR>Portanto, o desafio que se coloca para a esquerda, os movimentos
populares, sociais, o sindicalismo, os partidos, os intelectuais de esquerda e
os cidadãos trabalhadores, que acreditavam que o governo Lula pudesse trazer,
mesmo num nível pequeno, alguma mudança e que perceberam que ao longo de três
anos e meio de governo não houve substancialmente nenhuma mudança – e quando
houve, foi pra pior –, é reconstituir um projeto político e social de
esquerda.<BR><BR><STRONG>CC: O PSOL é hoje o partido que ressalta à esquerda no
cenário político. Qual é a sua importância e o seu diferencial, especialmente
considerando ser este um ano eleitoral?</STRONG><BR><BR>RA: O PSOL vem se
mostrando, desde a sua fundação, como um caminho que tem sido bem trilhado. O
que quero dizer com isso? Primeiro, os fundadores do PSOL o fizeram como um ato
de revolta contra a tese do PT, dominante, de que a esquerda tinha acabado, de
que o socialismo tinha acabado. Um ponto importante foi mostrar que tanto a
esquerda quanto o socialismo são projetos contemporâneos em relação ao século
XXI. <BR><BR>Segundo, ao fazer isso, o PSOL mostrou, ao longo deste primeiro ano
e meio de existência, uma abertura para receber parte importante das várias
dissidências que foram nascendo dentro do PT. Foi essencial que o PSOL tivesse
dado o primeiro passo. Na última eleição que definiu a direção do PT, deixando-o
sob a direção do núcleo dominante que é a Articulação, que não perde o comando
do partido sob hipótese alguma, o PSOL recebeu uma parcela importante de
militantes do PT, intelectuais, sindicalistas, militantes dos movimentos
populares.<BR><BR><STRONG>CC: Nesse sentido, como se coloca hoje no partido,
diante da conjuntura nacional e internacional, a discussão sobre a luta pela
construção de uma sociedade socialista? Qual o modelo de socialismo projetado e
qual o caminho para alcançá-lo?</STRONG><BR><BR>RA: Qual é o projeto do PSOL? É
um projeto aberto, mas que tem claro desenho socialista, ainda que plural em sua
concepção. E nós queremos que seja um pluralismo socialista, onde os marxistas,
os cristãos, os militantes de base e os intelectuais encontrem espaço para um
diálogo vivo, fraterno, generoso e autêntico em torno do seguinte tema: qual é o
socialismo do século XXI. Para isso, vamos ter que fazer um balanço das
experiências do século XX, do século XIX, dos desafios do século XXI, das novas
experiências emergentes. O PSOL tem se mostrado positivo nesse processo; não
está fechado, mas sim aberto. Não tem mostrado um sectarismo, ao contrário:
evidencia uma disputa positiva, um debate positivo em sua reflexão sobre o país.
<BR><BR>O desafio fundamental que o PSOL possui hoje, em minha opinião, é dar
densidade social ao seu projeto. Não queremos ser um partido de grupos de
esquerda, não queremos ser um partido de vanguarda na antiga tradição
marxista-leninista. Queremos ser um partido de esquerda, radical, com um
socialismo claramente anti-capitalista, mas com espaço para que vários
agrupamentos, tendências e individualidades dele participem e encontrem um
espaço autêntico de debate. Precisamos – e, repito, é o nosso desafio maior –
encontrar ancoragem, suporte, nos movimentos populares. Isto fará a diferença.
<BR><BR>Estamos muito perto de alcançar com força esse objetivo – até diria que
já começamos a alcançá-lo. Após as duas últimas grandes dissidências que o PT
sofreu em 2005, no Fórum Social Mundial e entre o primeiro e o segundo turno das
eleições internas para a escolha da direção petista, recebemos um número muito
grande de filiados, egressos do sindicalismo de esquerda e dos movimentos
populares. Temos muitos simpatizantes no MST e em movimentos como o dos
sem-teto. Precisamos ampliar o nosso apoio, a nossa centralidade no que eu chamo
de “classe-que-vive-do-trabalho”. Ou seja, o nosso PSOL precisa ser um
representante que encontra a sua força e sua impulsão nessa nova morfologia do
trabalho – uma expressão que venho usando nesse novo desenho multifacetado que
compreende as forças sociais do trabalho.<BR><BR>O PT possuía essa
característica nos anos 80. Quando nasceu, apresentava, inclusive, uma certa
diluição ideológica. Não havia um perfil traçado. Alguns de seus agrupamentos
não se definiam como um partido socialista. O PSOL, ao contrário, se define como
socialista, o que fica claro por seu próprio nome. Queremos, portanto, avançar
para a confluência generosa do socialismo com a liberdade, com a autonomia dos
trabalhadores e trabalhadoras, uma espécie de associação livre dos indivíduos
para o século XXI.<BR><BR><STRONG>CC: Indo a reboque de sua analogia entre PSOL
e PT, setores de esquerda, atualmente filiados ou não a algum partido político,
avaliam que, justamente na medida em que o PSOL nasceu sem um acúmulo suficiente
de forças políticas e sociais e, portanto, sem uma base militante consistente -
ao contrário do histórico do próprio Partido dos Trabalhadores -, poderá
resvalar, dentre outros, para uma postura eleitoreira. Qual a sua opinião sobre
isto?</STRONG><BR><BR>RA: O primeiro ponto importante é que o contexto de
fundação do PSOL é muito diferente do contexto do PT, cujo nascimento em 1980 se
deu na abertura de um vasto ciclo de lutas sociais no Brasil, que começou em
1978 e foi até 1989. Foi a década de ouro das lutas sociais no Brasil. O capital
costuma dizer que foi uma “década perdida”; talvez para eles, mas para o mundo
do trabalho, movimentos operários, lutas sociais, sindicalismo de base, foi uma
década majestosa. Quando for feito um balanço do século XX no Brasil, a década
figurará entre as mais majestosas da luta social. <BR><BR>O PSOL nasce, ao
contrário, no início do século XXI, que é ainda um período de relativo refluxo
das lutas sociais, um rescaldo da barbárie neoliberal e da contra-revolução
burguesa de amplitude mundial, para usar uma expressão cara ao nosso querido e
saudoso Otávio Ianni. Nesse contexto, o partido nasceu para dizer que não aceita
esta ordem. Mas há um outro dado importante: o PSOL nasceu em um momento que é
também de resistência e de retomada das lutas sociais, como se observou em
Seattle, nos Fóruns Sociais Mundiais, com o Zapatismo no México e a Revolução
Bolivariana na Venezuela, além da recente vitória do povo na Bolívia. Estamos na
contracorrente dessa reação imperialista que foi muito violenta, especialmente
depois de 2001.<BR><BR>No caso brasileiro, tínhamos duas alternativas quando o
PSOL foi fundado: fundá-lo e dar o pontapé inicial para que este fosse um
coágulo que permitisse que outros movimentos viessem a se somar a ele; ou
esperar uma base mais sólida para a sua fundação. Acontece que, muitas vezes, a
história oferece alternativas que são diferentes daquelas que pensamos. Poderia
ser positivo esperar a confluência de vários movimentos de resistência para que
fundássemos um partido mais pra frente; só que, se não tivéssemos fundado o
PSOL, se não tivéssemos formado esse coágulo, essas dissidências todas do PT,
dos movimentos populares, ficariam órfãs. <BR><BR>Sou radicalmente contra um
partido institucional e exclusivamente eleitoral. Se tivesse que citar o veneno
maior que levou o PT ao seu processo de desvertebração completo, diria que foi o
seu abandono da condição de um partido cuja centralidade era dada nas lutas
sociais para tornar-se um partido cuja centralidade passou a ser, cada vez mais,
a busca da vitória eleitoral. Chegou ao governo e foi o antípoda de tudo o que
propôs. Tornou-se um partido eleitoreiro, que chafurda numa crise inimaginável
para a esquerda brasileira, latino-americana e mundial, dada a significação que
possuía. Não adianta, no entanto, dizer que não há calendário eleitoral no
Brasil. <BR><BR>Temos, portanto, que ter claro no PSOL que, se nós vamos
participar do processo eleitoral, se aceitamos a busca pela legalização do
partido, é porque não queremos um partido clandestino. A esquerda só é
clandestina quando a direita lhe impõe essa condição. Queremos ser um partido
aberto, de massas, de base, socialista e radical. Radical no sentido de tocar
nas questões cruciais, vitais, sem escamoteá-las com o intuito de nos tornarmos
mais palatáveis no plano eleitoral. Este é mais um dos desafios do PSOL.
<BR><BR>Se você perguntar se existe o risco de o PSOL repetir a tragédia do PT,
existe, claro. Se o PT repetiu a tragédia do New Labour inglês, que por sua vez
repetiu a tragédia de toda a social-democracia, o risco existe. E como fazer com
que esse risco não se efetive? Só tem um jeito: o partido precisa estar colado
às lutas sociais. As eleições têm que ser um momento de conscientização das
lutas sociais, de organização popular, de avanço da consciência de classe, de
discussão das questões sociais e de discussão do socialismo. Se isso vai nos
levar à vitória ou à derrota, a circunstância histórica é que vai
dizer.<BR><BR><STRONG>CC: O senhor considera oportuno o lançamento de uma
candidatura à presidência pelo partido (no caso, da senadora Heloísa Helena) na
conjuntura que hoje está dada para a nação e também para o partido? Qual o
alcance, tanto qualitativo com também quantitativo, dessa
candidatura?</STRONG><BR><BR>RA: Heloísa Helena é uma candidata muito forte, tem
5%, 6% nas pesquisas. Isso significa um ponto de partida especialíssimo,
considerando tratar-se de uma candidatura de um partido pequeno, que nem foi
pras ruas ainda. O PSTU, que nós respeitamos muito e que tenho a convicção de
que estará conosco no processo eleitoral, com uma campanha sempre corajosa, teve
sempre uma limitação forte no plano eleitoral. Claro, nós temos mais densidade
social: o PSTU é uma parte desta luta e o PSOL é outra. O PCB também deve atuar
conosco, assim como outros movimentos sociais que não têm vinculação partidária,
mas que podem se constituir como setores simpatizantes e partícipes de nossa
luta. O PSOL tem, assim, mais esse desafio: utilizar o processo eleitoral para
conseguir subir degraus no processo de organização, de politização e de
consciência da luta popular e da ação socialista.<BR><BR>Veja bem, o PT chegou,
ao final de 26 anos de sua história, como um partido tradicional. É uma espécie
de PMDB do século XXI – versão, eu diria, até piorada, se analisarmos as
alianças que o PT fez nos últimos anos, que evidenciam sua completa falta de
escrúpulos e de limite. Em mais um episódio dessa falta de limite, devastaram a
vida de um trabalhador enquanto os trilhões que se movimentam nos bancos não são
sequer combatidos. <BR><BR>O PSOL precisa colocar como seu desafio hoje
utilizar-se do processo eleitoral para que as questões cruciais e vitais que
infelicitam a classe trabalhadora brasileira, como o desemprego, a precarização,
a fome, a miserabilidade, a insegurança, a devastação que decorre da economia do
narcotráfico, sejam enfrentadas. E estas são questões que devem ser enfrentadas
através de mudanças estruturais, não através de contra-reformas neoliberais.
<BR><BR><STRONG>CC: Qual é o caminho para se fazerem essas mudanças
profundas?</STRONG><BR><BR>RA: A história da humanidade mostra que há dois
caminhos para se fazerem mudanças profundas. Um é o caminho clássico das
revoluções. A Revolução Francesa foi uma revolução fundamental, burguesa, mas
que mudou a humanidade. A Revolução Russa de 1917 foi grandiosa, generosa e
auspiciosa em sua origem. 70 e poucos anos depois, foi derrotada. A Revolução
Chinesa também foi uma revolução popular, socialista, ousada. O impasse em que
vive o país hoje mostra o avanço da contra-revolução, onde a lógica do capital
se impõe cada vez mais. <BR><BR>Se não vivemos um ciclo revolucionário, temos
que ter uma forma de ação que permita que a classe trabalhadora, quer no seu
espaço nacional, quer no seu espaço internacional, tenha canais de lutas. O
primeiro passo, evidente e decisivo, é a auto-organização popular. O PSOL terá
futuro se for um espaço de auto-organização política e de base. O segundo passo
é lutar para que possamos ter governos que se contraponham à barbárie
capitalista e sua lógica neoliberal. <BR><BR>Hoje, é possível dizer que há um
único governo - com a exceção de Cuba, que viveu uma revolução socialista – na
América Latina que resiste claramente contra o neoliberalismo e o imperialismo,
que é o governo Chávez. Há também a esperança positiva de que o governo de Evo
Morales, na Bolívia, possa seguir no mesmo curso. O caso da Argentina é um caso
singular, ninguém imaginou que Kirchner seria uma alternativa de esquerda.
Embora aqui e ali ele possa tomar medidas positivas, no fundo ele é parte da
arquitetura neoliberal. <BR><BR>O governo Lula, que poderia não ser parte dessa
arquitetura, tornou-se uma espécie de paladino do neoliberalismo. O PSOL deve
caminhar na busca dos passos políticos possíveis, no plano das lutas sociais,
das lutas operárias, das lutas sindicais e no plano dos governos de resistência,
para ajudar a combater a tragédia neoliberal, que em última instância é a
expressão político-ideológica do capitalismo em sua fase mais destrutiva,
belicista, supérflua.<BR><BR>Neste plano, eu faço uma diferença, que, para mim,
é importante: uma candidatura à presidência da República é diferente de uma
candidatura ao parlamento. O parlamento é o fórum da dominação burguesa, em
última instância. Não sou contra a atuação no Parlamento, mas acho que ela é
somente uma caixa de ressonância das lutas sociais para a esquerda. A
presidência da República é bem diferente. A revolução bolivariana avança na
Venezuela, pois o levante popular impediu o golpe da direita de ser vitorioso.
Então, veja: sob pressão da massa, guiado pela organização popular, um governo
político pode colocar parte de sua força contra o FMI, o sistema financeiro, a
provocação imperialista. <BR><BR>É evidente que, nesta fórmula que estou
trabalhando, não há uma oposição de fundo entre a abertura de um ciclo
revolucionário e a possibilidade de experiências de reformas estruturais
profundas. Uma via de reformas estruturais pode estar muito concatenada se
estiver olhando para um horizonte novo, de uma nova economia, de uma nova
sociedade, de um novo modo de vida, de um novo modo de metabolismo societal, ou
seja, quando estivermos olhando para o socialismo, que é um empreendimento que
foi derrotado nos séculos XIX e XX. O capitalismo levou quatro, cinco séculos
para se formar. Por que o socialismo teria que ser vitorioso no primeiro século?
Vamos dar ao socialismo as possibilidades que o capitalismo teve, que as
revoluções burguesas tiveram ao longo dos séculos XV, XVI e XVII, até as suas
grandes vitórias nos séculos XVIII e XIX.<BR><BR><STRONG>CC: Ao se pensarem em
mudanças estruturais, não se pode deixar de lembrar das recorrentes e
contundentes críticas à política econômica nesse mandato, cuja intensidade vai
desde alterações expressivas nas políticas monetária, fiscal e cambial,
pavimentando o caminho para uma ruptura, até o calote imediato das dívidas
interna e externa. Qual é a sua opinião sobre esse tema?</STRONG> <BR><BR>RA: A
questão econômica é essencialmente política. Entendo, como Marx, que a anatomia
da sociedade civil está na política. A resolução da economia política é
essencialmente política. O que quer dizer isso? Se Lula, quando foi eleito com
53 milhões de votos, tivesse ousadia política, consistência ideológica, força
política, encontraria impulso popular e força para começar as mudanças
fundamentais. Veja, com 7 milhões de votos, Nestor Kirchner foi muito além de
Lula. E não é, como já citei, nenhum exemplo de esquerda; é, no máximo, a ponta
mais crítica dentro da ordem. <BR><BR>Na Venezuela, quando Chávez sofreu o
golpe, abriu-se um debate no interior de seu governo, resultante da vitória
popular que conseguiu impedir o golpe da direita: o governo deve moderar para
ter o apoio das burguesias golpistas ou deve radicalizar o seu projeto?
Felizmente, o governo Chávez decidiu pela segunda alternativa, avançar. E não se
trata de radicalizar no plano discursivo, mas de avançar no processo de
organização e auto-organização popular. Este é o segredo. Na Venezuela, pude
presenciar a existência de um Estado que não atrapalha a organização popular e,
quando pode, a auxilia. O que já é um grande avanço.<BR><BR>O nosso desafio
seria, com a vitória no processo eleitoral, iniciar desde logo as mudanças.
Evidente que, em função da mobilização e força popular, o contexto
latino-americano nos ajuda: Bolívia, Venezuela, rebeliões no Equador e no Peru,
descontentamento em outros países. No Chile e no Uruguai, Bachelet e Vázquez,
ainda que progressistas no plano político, não tocam na barbárie neoliberal.
Isso vai sepultá-los como sepultou Lionel Jospin, François Miterrand e Felipe
Gonzáles. Mas é claro que o povo uruguaio e o povo chileno podem encontrar,
neste momento, situações para avançar.<BR><BR>No caso brasileiro, nós teríamos
que perceber um contexto internacional que nos ajudaria a colocar uma trincheira
contra essa política destrutiva do FMI e do sistema financeiro. Deveríamos dizer
que isso acabou, que não vamos suportar mais saques generalizados, que não vamos
mais trabalhar para pagar dívidas que foram feitas há séculos. Isso é uma
resposta política, que não pode ser dada por um governo frágil, mas sim por um
governo forte, como é o caso da Venezuela. Chávez mostrou força em três
momentos: quando o povo suportou o golpe, quando o povo impediu o processo de
privatização da PDVSA – que foi um locaute na gerência mancomunada com os EUA –
e no plebiscito. Esta combinação de luta social e luta política é o caminho a
ser perseguido. É claro que estamos começando, mas estamos começando numa
situação favorável, que é a percepção de que o PT faliu completa e
irreversivelmente como partido – em minha opinião, a esquerda que resta dentro
do PT será sempre apenas um discreto charme de um partido cada vez mais nefasto.
<BR><BR>Temos que pensar num movimento que possa ser social e político junto com
outros partidos. Não há hegemonismo. Na melhor das hipóteses, o PSOL seria um
dos canais importantes por onde a luta política do povo brasileiro encontra
possibilidades de seguir. <BR><BR><STRONG>CC: O PSOL, enquanto sentimento
coletivo, já enterrou efetivamente o PT – não só no que se refere ao abandono
das práticas do partido, mas muito especialmente quanto à “superação emocional”
de uma experiência de largo e histórico prestígio?</STRONG><BR><BR>RA: O
desmoronamento de Lula é lento, pois Lula foi uma liderança operária que se
consolidou no imaginário e na consciência popular ao longo de décadas. Foi uma
liderança que se construiu pela base, com força popular, com um processo
sistemático de montagem, preparação e luta. Agora seu desmoronamento está maior,
mas são quatro anos de percepção da falência de seu projeto. <BR><BR>O que o
governo fez? Na ponta de cima, atendeu de modo impressionante aos interesses dos
grandes bancos, que lucram muito mais do que no governo FHC. E, na ponta de
baixo, em relação aos miseráveis, fez uma política assistencialista vergonhosa
para a esquerda, mas que, na barbárie brasileira, rende votos. Além disso, ao
levar o PT e a CUT para o governo, Lula fez com que esses se voltassem contra os
movimentos populares. É contra tudo isso que o PSOL tem que
lutar.<BR><BR>Felizmente, herdamos uma coisa generosa. Se o povo brasileiro viu
o processo de definhamento e de exaustão da sua principal liderança, que era
Lula, ele também viu nascer, nesses últimos anos, uma liderança como Heloísa
Helena. E ela encanta grande parte da população por sua coerência e coragem; não
se ligou às oligarquias, não se curvou ao esquema de FHC, foi uma figura
eminente no PT e, quando quiseram intimidá-la, não se curvou nem a Lula, nem a
José Dirceu e nem ao PT dominante. Em sua luta recente, nos movimentos
populares, no processo parlamentar, soube preservar-se e manter a coerência.
Está agora junto a um partido que está aglutinando a esquerda que ainda quer ser
esquerda.<BR><BR>Temos que criar a esquerda de esquerda, e não a esquerda que a
direita “gosta” – que é o PT. Falar é fácil. Fazê-lo é nosso grande desafio e
nisso estamos empenhados.<BR><BR><STRONG>CC: Anteriormente à definição da
candidatura de Alckmin pelo PSDB, vinha surgindo um sentimento crescente, porém
velado, dentre setores progressistas que se ressentiram do governo Lula, de que
Serra poderia ser a opção de mudança, sendo até mesmo mais temido pelo sistema
financeiro atualmente. Nesse sentido, quais as suas projeções para o cenário
eleitoral desse ano? Qual é o candidato mais confiável, qual será agora o
escolhido pelo sistema financeiro, Lula ou Alckmin? <BR></STRONG><BR>RA: Eu
diria que são os dois. Na eleição passada, quando Serra não decolou, migraram
para o Lula. É uma situação muito cômoda para eles. Lula não é um dos seus, mas
faz o que querem; é o servo ideal. Alckmin é um deles, o PSDB é a cara da
burguesia que domina o país hoje, transnacionalizada, financista. E há também o
PFL, que traz os grotões da burguesia para garantir esse projeto. </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><EM><FONT color=#000080>La información contenida en
el boletín es de fuentes propias, sitios web, medios periodísticos, redes
alternativas, movimientos sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los
artículos firmados no comprometen la posición editorial de Correspondencia de
Prensa. Suscripciones, Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A
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color=#000080>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
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<HR>
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