<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN">
<HTML><HEAD>
<META http-equiv=Content-Type content="text/html; charset=iso-8859-1">
<META content="MSHTML 6.00.2600.0" name=GENERATOR>
<STYLE></STYLE>
</HEAD>
<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2><STRONG><EM>
<DIV align=center><FONT size=4>
<HR>
</FONT></DIV></EM></STRONG>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=4>Boletín informativo -
Red solidaria de la izquierda radical</FONT></EM></STRONG></DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT size=4><IMG alt="" hspace=0
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline
border=0><BR><FONT color=#000080>Año III - 8 de mayo 2006 - Redacción:
</FONT></FONT></EM></STRONG><A
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080
size=4>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
<DIV align=center>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT face=Arial>Entrevista a Cesar Benjamin</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT face=Arial></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Uma receita para
superar o lulismo</FONT></STRONG> <BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2> </DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Fred Melo Paiva
</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Estado de Sao Paulo,
7-5-06</STRONG><BR><BR><BR>Seu País ideal passa longe do PT, partido que deixou
em 94, quando sentiu o cheiro do caixa 2. Há cerca de 20 dias, Cesar Benjamin
recebeu a notícia de que o PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade, cogitava o
seu nome para candidato a vice-presidente na chapa de Heloísa Helena. Uma
reunião entre os 101 fundadores da sigla serviu para dar sustentação à idéia.
Nas duas últimas semanas, sua indicação foi dada como certa. "Ainda há consultas
a fazer", pondera Benjamin, para quem o convite seria "um gesto bonito em um
momento em que a política brasileira está muito feia". "Eu não lidero nenhum
grupo, não tenho votos ou esquemas, nunca me candidatei a cargo eletivo, não sou
celebridade", diz. "Só tenho a oferecer idéias sobre o Brasil."<BR><BR>Cesar
Benjamin, 52 anos, é dono da editora Contraponto, pela qual lançou seus dois
últimos livros - A Opção Brasileira (1998) e Bom Combate (2004). Com uma
formação "errática" segundo o próprio, é capaz de lecionar sobre a história do
pensamento econômico, a macroeconomia, o jornalismo científico, o meio ambiente,
as ciências sociais - já deu cursos regulares sobre cada um dos assuntos. É
doutor honoris causa pela Universidade Bicentenária de Aragua, na Venezuela.
Estudou Letras na Universidade de Estocolmo, na Suécia. É uma cabeça pensante
capaz de conferir estofo à juvenilidade do PSOL.<BR><BR>Benjamin era PT. Foi um
de seus fundadores e figura história na luta contra a ditadura - tinha 15 anos
quando, líder estudantil secundarista, foi preso num quartel do Exército. Só
saiu de lá três anos depois, e para a cadeia. Aos 23 foi expulso do País. Voltou
clandestino pouco antes da Anistia, em 1978. Até 94, fez parte da direção do
Partido dos Trabalhadores. Desligou-se quando, na campanha presidencial daquele
ano, percebeu "uma claríssima evidência de prática sistemática de caixa 2". É
bom ouvir o que diz Cesar Benjamin. A seguir, 10 de suas idéias para o
Brasil.<BR><BR><STRONG>1. GARANTIR A ALTERNÂNCIA NO PODER</STRONG><BR><BR>"Nos
últimos três anos, passamos a conviver com um grave risco na política
brasileira. Até recentemente, os conservadores dominavam os governos, mas seu
projeto era contestado pelas forças hegemônicas da oposição, lideradas pelo PT.
Hoje, os conservadores detêm hegemonia no governo Lula e também na principal
corrente da oposição, a coligação PSDB-PFL. Se esse arranjo se consolidar, a
alternância no poder perderá qualquer potencial transformador, como ocorre nos
Estados Unidos. Controlar, ao mesmo tempo, situação e oposição, em um sistema
estável, é o sonho de qualquer estrategista político. Temos o dever de impedir
que essa operação se complete, para que possa haver uma disputa de projetos. A
sociedade brasileira precisa disso."<BR><BR><STRONG>2. CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA
PÓS-LULISMO</STRONG><BR><BR>"Estamos assistindo ao fim de um ciclo de existência
da esquerda brasileira. Não quero dizer com isso que o PT vá desaparecer, ou que
Lula não possa ter uma grande votação, como Collor e Fernando Henrique tiveram.
Não estou falando de Ibope, mas de História. Lula rebaixa sistematicamente o
horizonte político e cultural do povo brasileiro, e precisa desse rebaixamento
para se manter no poder. Só um povo mediocrizado aceita alugar sua consciência
pelo medo de perder uma bolsa-família de, em média, R$ 60. Um povo culto e
organizado, ou em processo de aprendizado e organização, conhecedor de seu
próprio potencial humano, exigiria muito mais. O lulismo não tem futuro, pois
não está produzindo nem idéias a serem multiplicadas, nem um povo mais
consciente, nem uma juventude mais mobilizada, nem instituições republicanas
mais avançadas. Quando perder o controle de cargos e verbas - neste ano ou daqui
a quatro, não importa -, não se sustentará. Para se manterem vivos, movimentos
precisam de idéias e utopias. Máquinas vazias desmoronam com facilidade. Muita
gente já se deu conta disso, mas a construção de uma alternativa leva tempo. O
PSOL sabe que é apenas uma das vertentes dessa alternativa, e a campanha
eleitoral é um momento de um processo mais amplo de
reconstrução."<BR><BR><STRONG>3. DEMOCRATIZAR NOSSA
DEMOCRACIA</STRONG><BR><BR>"Em caso de vitória nas eleições, enfrentar lobbies é
fácil. Nosso desafio será muito maior do que esse. Ele inclui alterar o modo
como funciona o sistema político brasileiro. Há muitos anos, forças de natureza
supranacional, representantes de rentistas, credores da dívida pública,
controlam diretamente duas instituições-chave: o Ministério da Fazenda e o Banco
Central. A partir dessas posições, definem as políticas monetária, cambial e
fiscal, e comandam a execução do Orçamento da União. Assim, subordinam a ação de
todo o Estado nacional. Forças de natureza subnacional apresentam-se no jogo
político por meio, principalmente, das bancadas formadas no Congresso Nacional -
as do agronegócio, da construção civil, das escolas privadas etc. A partir
delas, negociam seus interesses com o Executivo, cujo núcleo é dominado pelo
sistema financeiro. O povo pobre, por sua vez, recebe políticas compensatórias.
Funcionando assim, nosso sistema político torna-se um obstáculo à construção de
um projeto nacional consistente. Trai as esperanças trazidas pela
redemocratização do País. Nossa principal tarefa política será democratizar, de
fato, a nossa democracia. Ou, se quiser, republicanizar a
República."<BR><BR><STRONG>4. DEIXAR DE SER REFÉM DO SISTEMA
FINANCEIRO</STRONG><BR><BR>"Nos últimos anos, cerca de 40% dos recursos da União
têm sido usados com encargos de dívidas financeiras, restando bem menos de 5%
para investimentos. A desproporção dos gastos com o serviço da dívida, em
relação aos demais gastos do Estado, é chocante. Dois meses de pagamento de
juros correspondem ao dispêndio anual do Sistema Único de Saúde. Um mês
corresponde ao gasto anual com educação. Quinze dias, aos recursos alocados no
Programa Bolsa Família, que unificou quase todos os programas sociais
anteriores. Um dia de pagamento de juros ultrapassa com sobras o gasto, no ano,
destinado à construção de habitações populares. Um minuto corresponde à alocação
anual de recursos com a defesa dos direitos humanos. É um descalabro. O País não
pode funcionar assim. E não me venham com supostas tecnicalidades. Estudei
bastante economia, justamente para não ter medo delas. Qualquer discurso que
justifique isso é, antes de tudo, imoral.<BR><BR>"Eu ainda quero viver em um
país em que os ministros da Educação, da Cultura e dos Esportes sejam mais
importantes do que o ministro da Economia. A enorme importância deste último é
um signo da nossa crise. Isso ocorre porque vivemos esmagados por variantes de
uma 'macroeconomia do curto prazo' que se nutre do próprio fracasso: quanto
maior o apelo a ela, maior a crise; quanto maior a crise, maior o apelo. Para
sair dessa arapuca, é preciso, em primeiro lugar, uma decisão de natureza
política: o Estado nacional brasileiro não será mais refém do sistema
financeiro."<BR><BR><STRONG>5. DESMONTAR A ENGRENAGEM DA CONCENTRAÇÃO DE
RENDA<BR></STRONG><BR>"Um novo ministro da Economia terá de desmontar, com
rapidez, as engrenagens que perpetuam a maior anomalia da economia brasileira,
que é a existência de dois tipos de moeda: a moeda comum, à qual todos têm
acesso e que se desvaloriza conforme a taxa de inflação; e a moeda financeira,
que tem a mesma liquidez da moeda comum, pois é transacionada todos os dias no
over, mas rende juros muito acima da inflação. Só os mais ricos e os bancos têm
acesso a esta última. Este é, de longe, o principal mecanismo de concentração da
renda nacional. Para desmontar isso, precisaremos aliar competência técnica,
estabelecendo um novo modus operandi para o Banco Central e o Ministério da
Fazenda, e capacidade de liderança política da Nação."<BR><BR><STRONG>6.
DEVOLVER AO BC O PLENO CONTROLE DOS JUROS</STRONG><BR><BR>"Quando as verbas da
educação ou do saneamento são cortadas ninguém fala em "calote". Aplica-se esse
termo, exclusivamente, para defender a altíssima rentabilidade do capital
especulativo. Ele se tornou, de fato, muito poderoso na medida em que o Banco
Central foi abrindo mão dos controles sobre as diversas formas de remessas de
recursos para o exterior. Esse processo começou no governo Collor e se completou
no governo Lula. Como as remessas estão liberadas, os aplicadores financeiros
ameaçam fugir a qualquer momento para o dólar, desestabilizando a taxa de câmbio
e ameaçando assim o funcionamento da economia real. Com isso, conseguem impor ao
Estado brasileiro um alto prêmio para aceitar permanecer com seus ativos
denominados em reais. Este prêmio são taxas de juros suficientemente atrativas,
que sejam um múltiplo da taxa básica paga no sistema internacional aos ativos
denominados em dólar.<BR><BR>"Restabelecida a disciplina sobre o envio de
recursos ao exterior - tal como existiu, em diferentes formatos, desde o início
da década de 1930 até 1992, e tal como é praticada hoje por inúmeros países -, o
BC retomará pleno controle sobre a fixação das taxas de juros, reduzindo-as sem
dificuldade a um patamar compatível com a realidade internacional, o equilíbrio
das contas públicas e a retomada do crescimento econômico. Se o mercado
financeiro recusar as taxas menores oferecidas, deixando de adquirir títulos
públicos, o BC simplesmente comprará os títulos vencidos ou vincendos, injetando
liquidez no mercado interbancário. Os bancos aceitarão rapidamente as novas
taxas oferecidas, por uma questão de racionalidade econômica. Pois, eliminada a
possibilidade de corrida para o dólar, não terão melhores alternativas de
aplicação para os recursos em caixa à sua disposição.<BR><BR>"Tudo isso o BC
pode fazer, agindo dentro dos limites das leis em vigor. O Brasil descobrirá
então que nos últimos 15 anos - desde Collor até Lula - entregou alguns trilhões
de reais ao sistema financeiro sem a menor necessidade. São os recursos que
faltam para desenvolver o país. No limite, se os especuladores decidirem
enfrentar o Banco Central, exigindo a continuação de pagamentos incompatíveis
com a nossa existência e dignidade, o povo precisará se posicionar diante desse
confronto. Quem você acha que vencerá?"<BR><BR><STRONG>7. COMBATER A POBREZA COM
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO</STRONG><BR><BR>"Com reformas sociais,
desenvolvimento econômico e expansão dos serviços públicos essenciais, entre os
quais a educação. O maior patrimônio de um país é seu povo. E o maior patrimônio
de um povo são suas capacidades culturais. Mas um projeto que priorize isso é
incompatível com a predominância das macroeconomias do curto prazo. O capital
financeiro que nos domina é rápido, esperto, móvel, centrado em operações de
curto prazo. A Nação não pode subordinar-se a essa lógica. Ela tem território,
história, cultura, instituições permanentes. E, principalmente, tem gente. Ela
existe em um tempo histórico que não se confunde com o tempo rápido da
especulação financeira."<BR><BR><STRONG>8. CONSTRUIR UM NOVO PROJETO
CIVILIZATÓRIO<BR></STRONG><BR>"Eu sou socialista e adoro o Brasil. Quero que o
nosso país dê certo. Temos recursos de todo tipo, capacidade técnica, enorme
potencial cultural e um belo povo. Podemos construir aqui um projeto
civilizatório novo, cheio de alegria, mistura, tolerância e
espiritualidade."<BR><BR><STRONG>9. TRANSFORMAR O BRASIL EM UMA
NAÇÃO-PARA-SI</STRONG><BR><BR>"Na origem, fomos grupos desenraizados - índios
destribalizados, brancos deseuropeizados e negros desafricanizados, depois gente
do mundo inteiro -, usados como força de trabalho pelo capitalismo mundial.
Gradativamente, porém, constituímos um povo novo, que não existia há
relativamente poucas gerações. É bonito isso. Formamos um povo filho da
modernidade, miscigenado, aberto ao futuro, que produziu uma cultura de síntese
e ganhou uma identidade. Esse é o nosso grande êxito. Mas, até agora, tivemos
também um grande fracasso: esse povo nunca comandou a sua nação. Este é o
impasse brasileiro, que está ficando cada vez mais radical. Já somos 190 milhões
de pessoas, 83% vivendo em cidades e 33% em apenas nove regiões metropolitanas.
O Brasil não pode mais organizar-se como uma empresa para poucos, controlada de
fora, como sempre se organizou, a não ser a um custo humano altíssimo e
crescente, que pode conduzi-lo à anomia e à desagregação. Está na hora de
refundar o Brasil, transformando-o de uma empresa-para-os-outros, que sempre
fomos, em uma nação-para-si, que desejamos ser."<BR><BR><STRONG>10. SABER
RECOMEÇAR</STRONG><BR><BR>"Estou sempre recomeçando. Heidegger refere-se
reiteradamente ao olhar que calcula, que mede, tendo sempre em vista um fim
instrumental. É o olhar típico do mundo dos negócios, que visa ao lucro, e da
atividade política, que visa ao poder. Essa característica já estava presente na
tradição da própria esquerda, mas se tornou caricata com a hegemonia do lulismo,
que não tem conteúdo nenhum. O cálculo, que em si já é problemático nas relações
humanas, degenera então em mera esperteza. Eu nunca compartilhei desse modo de
estar-no-mundo, até porque as pessoas que vivem assim são muito infelizes. Vivo
segundo os meus princípios, procuro manter uma existência espiritualmente rica e
diversificada, e estou sempre preparado para perder. Quase sempre, os perdedores
é que fazem a história andar: Jesus, Zumbi, Tiradentes... Quem se lembra
daqueles que os derrotaram? Os que querem o poder a qualquer custo acabam não
tendo importância nenhuma."
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080>La información contenida en el boletín es de
fuentes propias, sitios web, medios periodísticos, redes alternativas,
movimientos sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los artículos
firmados no comprometen la posición editorial de Correspondencia de Prensa.
Suscripciones, Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT
color=#000080>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A>
<HR>
<BR> </FONT></DIV></BODY></HTML>