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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=4>Boletín informativo - 
Red solidaria de la izquierda radical</FONT></EM></STRONG></DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT size=4><IMG alt="" hspace=0 
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline 
border=0><BR><FONT color=#000080>Año III - 14 de junio 2006 - Redacción: 
</FONT></FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080 
size=4>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Brasil</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Vera Malaguti Batista 
*</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>O medo à serviço do 
neoliberalismo</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Jornal dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Nº 262, Maio de 
2006</STRONG><BR><BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>Para socióloga, sentimento é usado 
pelas elites para deixar a sociedade brasileira paralisada e 
despolitizada.<BR><BR>Ao longo da história da humanidade o medo sempre foi usado 
para dominar e controlar a sociedade. No Brasil, em específico, a utilização 
deste sentimento, difundido pelos grandes meios de comunicação, criminaliza as 
ações populares e os movimentos sociais. Esta é a idéia defendida pela socióloga 
Vera Malaguti Batista, que realizou uma pesquisa histórica, que mostra como o 
medo, desde a época da colonização é usado para manter as hierarquias, deixando 
a sociedade mais conservadora. “Sempre os movimentos do povo brasileiro são 
tratados como crime, baderna, bagunça, caos. Acredito que esta é uma recorrência 
histórica para manter uma ordem que é muito parecida com a escravocrata 
imperial”, afirma.</FONT></DIV><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR>De acordo com Vera, nesta estratégia promovida desde 
sempre pela elite brasileira, os meios de comunicação de massa são uma 
ferramenta eficaz. “No Brasil, uma das coisas mais assustadoras é o domínio da 
alma e das mentes do povo brasileiro pelo monopólio da televisão. A existência 
de um discurso único faz com que o MST apareça sempre como uma ameaça e não como 
uma grande luta do povo brasileiro por sua soberania”. <BR><BR>Em entrevista ao 
Jornal Sem Terra, a socióloga defende que, para barrar esta situação, os 
movimentos sociais brasileiros devem se unir na luta contra o monopólio dos 
meios de comunicação. “Hoje em dia, defendo que esta é uma luta que deveria ser 
considerada prioridade”.<BR><BR><STRONG>Jornal Sem Terra – Como o neoliberalismo 
usa o medo para manter sua dominação e exploração?</STRONG><BR><BR>Vera Malaguti 
– Realizei um estudo da história do Brasil e principalmente do Rio de Janeiro, 
sobre os medos que apareciam no século 19. Minha primeira observação foi que a 
elite, quando quer descartar a massa trabalhadora brasileira, desenvolve, 
principalmente através da imprensa, uma estratégia para demonizar as ações 
populares. <BR><BR>Historicamente, há uma maneira de olhar o povo brasileiro 
como uma ameaça, principalmente a juventude popular. Na minha pesquisa de 
mestrado, trabalhei drogas e juventude na capital carioca e descobri que, se um 
menino negro e morador da favela for pego com a mesma quantidade de droga que um 
menino branco, morador da zona sul, os discursos construídos pelo sistema serão 
completamente diferentes.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Um será dependente, o outro traficante. Porque este outro 
representa o povo a quem sempre é lançado um olhar de desconfiança. <BR><BR>No 
século 19, a cidade do Rio de Janeiro contava com a maior concentração de 
africanos das Américas.</DIV>
<DIV align=justify><BR>A cidade branca e proprietária usava o tempo todo o 
discurso do medo. No entanto, quem vivia sobre condições horríveis de vida era a 
população africana, que era açoitada, mal tratada e submetida às piores 
condições de trabalho. Por isso, ali existia uma situação social explosiva. 
<BR><BR>Ao invés de se trabalhar os conflitos pela via social, o discurso do 
medo faz com que o Estado deixe de atender a população para construir um sistema 
penal. Desde que o neoliberalismo se instalou no Brasil, com maior intensidade a 
partir de 1994, nós tivemos a população penitenciária quintuplicada. O 
Ministério da Justiça trabalha com a perspectiva de que, em 2007, o Brasil tenha 
500 mil presos. Em 94 este número ficava em torno de 100 mil. O que assistimos 
hoje é um movimento de criação de precariedade social, desemprego, destruição 
dos laços coletivos, despolitização e a criminalização da pobreza. <BR><BR>O MST 
é um exemplo disso. O Movimento tem uma luta legítima que vem desde sempre na 
história do Brasil. É o que o professor e filósofo Marildo Menegatti chama de 
revoluções adiadas.<BR><BR><STRONG>JST – Quais as conseqüências que isso tem 
para a sociedade brasileira?</STRONG><BR><BR>VM - Na década de 60, durante o 
governo de João Goulart, quando se discutia as reformas de base, o medo da 
revolução, da violência foi se destilando pela imprensa, quando na verdade 
aquele era o momento em que a mobilização do povo brasileiro tentava avançar. 
Hoje existe, não só a criminalização do MST, mas do trabalho precário 
(flanelinhas e camelôs), dos meninos e meninas que vivem na rua. Um país decente 
olharia para estas crianças que estão jogadas nas calçadas com um olhar 
solidário, que reconheceria neles, seus filhos. No entanto, o medo faz com que a 
sociedade erga mais prisões, mais grades, mais muros, intensificando o 
distanciamento entre a pobreza e uma pequena elite que acumula cada vez mais 
riquezas. O mais curioso e absurdo disso tudo é que é esta burguesia a mais 
protegida, a que mais tem seu medo mais divulgado. Enquanto quem vive a 
barbárie, é a população pobre do campo e da cidade.<BR><BR>Por tudo isso o medo 
é um instrumento fundamental para se manter a hierarquia da sociedade. No século 
19, não existia nada mais legítimo do que a rebelião escrava, dada a condição 
que estas pessoas viviam. No entanto, a imprensa naquela época se referia aos 
quilombos da mesma forma com que hoje os meios de comunicação mostram a favela, 
o baile funk, o comércio de drogas, os camelôs. Os grandes nós que existem na 
sociedade brasileira, como o acesso à terra e à educação, tem sua origem na 
maneira com que o Brasil se construiu: excluindo seu povo das riquezas. 
<BR><BR>O medo é uma ferramenta fundamental para manter este mecanismo porque 
ele é paralisante e torna a sociedade conservadora. Uma população que teme a 
favela vai querer que se extermine seus moradores. Por isso, a morte diária dos 
jovens de lá é vista como algo natural. Da mesma forma com que no século 19, os 
capoeiras eram exterminados porque representavam uma ameaça à sociedade 
escravocrata. Quando olhamos para a realidade atual, percebemos que as questões 
do século 19 permanecem. Sempre os movimentos do povo brasileiro são tratados 
como crime, baderna, bagunça, caos. Acredito que isso é uma recorrência 
histórica para manter esta ordem que é muito parecida com a escravocrata 
imperial.<BR><BR>O medo deixa a sociedade engessada e conservadora. Ele não é um 
sentimento libertador, pelo contrário, faz com que as pessoas se fechem, 
desconfiem uma das outras. Ao longo da história da humanidade, este sentimento 
foi de grande uso. O nazismo, a Inquisição da Igreja, os Estados Unidos com a 
perseguição ao Islã, são exemplos claros. A eleição de um inimigo cria a 
propagação do medo, que produz resultados concretos, como a criminalização das 
lutas sociais, a criação de bodes expiatórios, a obsessão pela segurança 
pública. Se nós discutíssemos estas questões sem a propagação do medo promovida 
pelos meios de comunicação, estaríamos falando sobre Reforma Agrária, educação 
pública, programas sociais, saúde, trabalho. Entretanto, quanto mais inseguros 
ficamos no neoliberalismo com relação à garantias trabalhistas, acesso à saúde; 
quanto mais desamparados nos sentimos nesta ordem econômica, mais conservadores 
nos tornamos.<BR><BR><STRONG>JST – E qual o papel dos meios de comunicação nesta 
estratégia?</STRONG><BR><BR>VM – Os meios de comunicação são os protagonistas 
desta história. Sem eles, não seria possível difundir o medo. Os movimentos 
sociais e populares são vistos como uma ameaça à ordem, o que faz com que a 
sociedade conceda uma resposta penal e não política, econômica e social à estes 
casos. Este mecanismo é muito eficaz para manter as coisas como estão por muitos 
anos na nossa sociedade. No Brasil, uma das coisas mais assustadoras é o domínio 
da alma e das mentes do povo brasileiro pelo monopólio da televisão. A 
existência de um discurso único televisivo faz com que o MST apareça sempre como 
assustador e violento e não como uma grande e bonita luta do povo brasileiro por 
sua soberania. A gente tem o monopólio dos meios de comunicação e um discurso 
único que trabalha o medo o tempo todo. É um mecanismo sutil e subjetivo, mas 
que tem um poder extraordinário.<BR><BR>Um exemplo é o que está acontecendo na 
Bolívia com a nacionalização do gás. Os bolivianos estão exercendo seu direito 
soberano de se apropriar das suas riquezas naturais. No entanto, os meios de 
comunicação provocam uma falsa crise, constróem uma outra realidade para nos 
afastar das conquistas do povo boliviano e também do venezuelano, o que provoca 
a desagregação deste momento histórico que vivemos na América Latina. O medo do 
Chávez, do Fidel representa os grandes fantasmas da América Latina porque 
simboliza o povo.<BR><BR><STRONG>JST – Este receio aparece, de certa forma, na 
inscrição ordem e progresso que está no símbolo máximo do país, que é a bandeira 
nacional.</STRONG><BR><BR>VM – Sim, e neste tipo de ordem a hierarquia social 
não pode ser questionada. Cada um tem que ficar no seu lugar. No século 19, nós 
tivemos aqui várias rebeliões populares em todo o país, do Oiapoque ao Chuí. 
Desde a Farroupilha, no sul, a Cabanagem no Pará, a dos Malês na Bahia, a 
Praieria em Pernambuco. Este foi um período de grande medo de que o povo 
chegasse ao poder, o que comprova que esta é uma situação que vem desde sempre. 
Os colonizadores entraram no território latino-americano, como se os índios 
representassem uma ameaça, quando na verdade foram espanhóis e portugueses que 
promoveram um genocídio em todo o continente. Hoje percebemos isso quando os 
Estados Unidos tratam a resistência no Iraque como terrorismo, quando quem está 
sendo barbarizado são os iraquianos.<BR><BR>No Brasil, a sociedade é levada a 
enxergar o MST, um Movimento com que ela naturalmente se simpatizaria, de uma 
forma negativa. Todo este esforço é para manter distância entre organizações 
populares e sociedade, porque o medo distancia.<BR><BR><STRONG>JST – Como é 
possível enfrentar esta conjuntura?</STRONG><BR><BR>VM – Temos que manter as 
lutas setoriais que temos: por terra, educação, saúde, na cidade e no campo. Mas 
temos todos, de uma forma muito intensa, que lutar contra o monopólio dos meios 
de comunicação. Quando um governo que se diz progressista, se submete à estes 
veículos, acabamos andando para trás, ou seja, ficamos na mão deste poder 
midiático imenso de criação de uma realidade política determinada. Hoje em dia 
eu defendo que esta é uma luta que deveria ser considerada prioridade. É onde 
todos os movimentos sociais brasileiros deveriam se unir, porque hoje nós não 
temos voz. Mesmo um Movimento como o MST que tem uma grande e profunda 
organização, acaba não tendo espaço ou sendo manipulado, aparecendo como um 
perigo para o Brasil.<BR><BR></DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>* Vera Malaguti Batista é socióloga, Mestre em História, 
Doutora em Saúde Coletiva e Secretária Geral do Instituto Carioca de 
Criminologia. Publicou os livros: "Difíceis ganhos fáceis: drogas e juventude 
pobre no Rio de Janeiro" e "O medo na cidade do Rio de Janeiro: dois tempos de 
uma história". 
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080>La información contenida en el boletín es de 
fuentes propias, sitios web, medios periodísticos, redes alternativas, 
movimientos sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los artículos 
firmados no comprometen la posición editorial de Correspondencia de Prensa. 
Suscripciones, Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain@chasque.net"><STRONG><EM><FONT 
color=#000080>germain@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A> 
<HR>
<BR><BR></FONT></DIV></BODY></HTML>