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<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#800000 size=5>Boletín informativo - 
Red solidaria de la izquierda radical</FONT></EM></STRONG></DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT size=4><IMG alt="" hspace=0 
src="C:\Documents and Settings\EH\Mis documentos\germain 1.JPG" align=baseline 
border=0><BR>Año III - 29 de setiembre 2006 - Redacción: </FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>A polêmica sobre 
a democracia e a declaração de amor de Heloísa Helena</FONT></STRONG> 
</FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><BR></FONT><FONT face=Arial size=2><STRONG>Valério Arcary 
*</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><A 
href="http://www.pstu.org.br/"><STRONG>http://www.pstu.org.br/</STRONG></A><BR><BR><BR>Em 
sua campanha a candidata à Presidência Heloísa Helena tem declarado, quando 
perguntada pela imprensa se sua candidatura é anticapitalista, que o socialismo 
seria a maior declaração de amor à humanidade de nossa época; mas pondera que 
seu governo não será socialista. Heloísa anunciou que o socialismo será, talvez, 
uma alternativa para os seus netos. Afirmou também que o programa de seu 
partido, e dos partidos da Frente, o PSTU e o PCB, é socialista, mas o seu 
programa de governo não. Este respeitaria a Constituição em vigor no 
país.<BR><BR>Em momentos mais arrebatados, a candidata tem defendido uma 
revolução democrática. Mas, quando sob pressão, tem admitido que seu projeto 
seria de democratização da democracia e esclareceu que somente os corruptos e 
especuladores teriam razões para temer a sua candidatura. Heloísa tem finalizado 
esses depoimentos concluindo que, em sua opinião, não haveria ambigüidade alguma 
nessas posições.<BR><BR>Ninguém ignora que o socialismo é um projeto de 
libertação dos trabalhadores. Ser de esquerda é o abraço de um compromisso de 
classe. O socialismo é uma declaração de guerra ao capital. Reservamos nosso 
amor à humanidade para aqueles que são vítimas da exploração capitalista. Nossa 
entrega à causa mais elevada do tempo em que nos tocou viver, o socialismo, é do 
mesmo tamanho que nosso ódio ao capital, e do desprezo pelos que vivem da 
exploração do trabalho. O socialismo é uma declaração de luta ao mundo que nos 
cerca e que condena milhões à privação, à brutalização e ao desespero. <BR><BR>O 
capitalismo é o sistema que fomenta a guerra de recolonização do mundo. A 
fórmula do “amor à humanidade” é deseducativa, porque semeia ilusões. Ilusões 
que interessam à preservação da ordem. A humanidade está dividida. Há Estados 
imperialistas que dominam o mundo. Há classes que exploram a maioria, aqueles 
que vivem do trabalho. O socialismo não pode unir os homens e mulheres de “boa 
vontade”. Essa ilusão existe entre os trabalhadores e as camadas médias, e uma 
das tarefas de uma candidatura socialista é fazer a disputa ideológica para 
combatê-la. O projeto socialista não é a colaboração de classes, mas a luta de 
classes. <BR><BR>O socialismo para os nossos netos é outra fórmula infeliz. O 
projeto socialista ficou confundido com as ditaduras burocráticas que durante 
décadas usurparam seu nome, para preservar seus privilégios, e encabeçaram a 
restauração capitalista na ex-União Soviética e no Leste Europeu. Mas a 
propriedade privada e o mercado só trouxeram miséria e obscurantismo. A 
restauração capitalista significou na Rússia uma destruição equivalente ao 
desmoronamento de uma guerra, e fez da China o inferno dos trabalhadores. Mais 
do que nunca seria necessária uma enérgica defesa da superioridade histórica do 
socialismo. Defendê-lo para um futuro remoto corresponde à promessa religiosa de 
que uma vida melhor só seria possível depois da morte. Acreditamos que o 
socialismo é uma alternativa concreta aqui e agora. A preservação tardia do 
capitalismo é uma ameaça à civilização. <BR><BR>Não somente os ladrões e os 
banqueiros deveriam temer a candidatura da Frente de Esquerda. É verdade que não 
precisamos de inimigos imaginários, porque já estamos bem servidos. Nunca 
existiu, no entanto, capitalismo sem corrupção. A desigualdade social é 
inseparável da opressão política. O projeto da revolução brasileira é a ruptura 
com o imperialismo, o direito e o dever do trabalho para todos, o aumento dos 
salários e a anulação das privatizações, o acesso universal à educação, saúde e 
previdência pública de qualidade, a conquista da reforma agrária, etc. Nossos 
inimigos de classe não são nem tolos, nem distraídos. <BR><BR>Não temos porque 
esconder nossa identidade. Não deveríamos ser cúmplices da infantilização do 
debate eleitoral. A esmagadora maioria do povo só poderia ser beneficiada pelo 
projeto socialista. Nenhum militante desconhece, também, que os socialistas não 
são tolerantes com a duplicidade. Não disfarçamos nossas intenções. Nosso 
programa pode se desdobrar em diferentes plataformas táticas, dependendo das 
conjunturas, mas tem uma coerência indivisível. Nas eleições e depois delas, 
defendemos nosso programa como uma alternativa de poder. <BR><BR>As discussões 
políticas nunca são, teoricamente, irrelevantes. As discussões teóricas entre 
marxistas, por sua vez, nunca são politicamente inocentes. A polêmica sobre a 
democracia foi possivelmente uma das mais ásperas de todas e tem uma longa 
história. A estratégia de “radicalização da democracia” é um programa que surgiu 
na tradição marxista, há 100 anos, na Alemanha de Bernstein e Kautsky. Desde 
então, foi um dos divisores de águas na esquerda.<BR><BR><STRONG>Democracia 
liberal e reformismo socialista</STRONG></FONT></DIV><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR>A questão de fundo das declarações de Heloísa Helena é a 
atitude diante do regime democrático. Nos declaramos em oposição ao regime da 
democracia corrupta dos ricos e o denunciamos implacavelmente, ou somos a ala 
esquerda que pretende reformá-lo? O marxismo interpreta os debates de estratégia 
caracterizando cada posição em função da intensidade das pressões de classe. A 
esquerda socialista conhece no Brasil – pela tragédia vivida pelo PCB, em 1964, 
e pela comédia recente do PT – e no mundo, em incontáveis experiências, as 
conseqüências devastadoras da força de cooptação dos regimes 
democrático-liberais. <BR><BR>A luta do movimento operário e das organizações 
socialistas foi decisiva para garantir a expansão do direito do voto e, de 
resto, de todas as liberdades cívicas e democráticas. Mas, se a influência da 
esquerda foi vital para a conquista da liberdade de imprensa, de organização, de 
manifestação ou do direito de greve, é incontornável considerar também que a 
democracia liberal exerceu uma pressão terrível sobre os partidos socialistas. 
<BR><BR>Não esquecemos que houve uma longa resistência da burguesia ao sufrágio 
universal. Tão importante, no entanto, seria lembrar que na Europa o capital só 
aceitou a dominação através de regimes democrático-liberais, ao final do século 
19, quando obteve garantias de que os líderes social-democratas tinham 
renunciado ao projeto revolucionário. A burguesia preferiu a democracia, quando 
teve a certeza que os partidos socialistas tinham renegado o socialismo. 
Precisou antes se assegurar que a social-democracia não utilizaria as liberdades 
democráticas para subverter a ordem, organizando os trabalhadores para a luta 
pelo poder.<BR><BR><STRONG>A social-democracia e a via inglesa 
indolor</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Na etapa histórica anterior à Primeira Guerra Mundial, a 
sugestão de uma “via inglesa” – a perspectiva reformista de uma transição 
socialista por dentro do regime democrático, portanto, sem ruptura 
revolucionária – esteve no centro da disputa dentro da II Internacional, e ficou 
conhecida como o debate Bernstein. A querela do primeiro revisionismo marxista 
teve como pano de fundo a expansão imperialista do final do século 19 – até a 
Primeira Guerra Mundial – e a consolidação de regimes democrático-eleitorais, na 
Europa Ocidental, que absorviam as ambições de integração dos aparelhos 
sindicais e parlamentares reformistas – uma casta burocrática sustentada em 
setores privilegiados da classe trabalhadora e das novas classes médias. 
<BR><BR>O reformismo não era, contudo, antes de 1914, somente uma ideologia 
reacionária. Não estava desconectado do processo econômico-social. O regime 
democrático, depois do susto da Comuna de Paris em 1871, se apoiava em reformas 
que favoreciam setores organizados entre os trabalhadores: o salário médio subia 
lentamente, mas subia, surgiam em muitas cidades as vilas operárias, o acesso à 
educação pública se ampliava, os direitos políticos foram ampliados, etc. Mas o 
reformismo “à la Bernstein” naufragou também com a precipitação da Primeira 
Guerra Mundial. Não foi indolor: dez milhões de vidas foram sacrificadas nas 
trincheiras.<BR><BR><STRONG>O reformismo dos programas keynesianos do 
pós-guerra</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>O gradualismo democrático permaneceu sendo a política dos 
aparelhos social-democratas na etapa histórica posterior à Segunda Grande Guerra 
(associados aos partidos comunistas alinhados com Moscou), mas despojado de 
horizontes socialistas. A reconstrução capitalista da Europa fomentava o 
crescimento econômico, potencializado pela divisão de áreas de influência no 
mundo entre os EUA e a URSS, que garantia estabilidade política aos regimes 
democrático-liberais nos países imperialistas. <BR><BR>Esse programa de 
colaboração de classes renunciou até ao vocabulário anticapitalista, em função 
de um projeto keynesiano de políticas anti-cíclicas de regulação do capitalismo 
que buscava o pleno emprego e a universalização gradual de serviços públicos 
como saúde e educação. O medo histórico das seqüelas previsíveis de uma possível 
crise como a de 1929, e de novas revoluções como o outubro russo, aterrorizava o 
capitalismo. A burguesia estava disposta a ceder reformas para evitar 
revoluções. Social-democracia e estalinismo renderam-se ao capitalismo e 
abraçaram a democracia e, durante décadas, relembraram o socialismo nos dias de 
festa. Claro que esse processo só foi possível porque a existência da URSS sob 
Stálin garantia a coexistência pacífica no sistema mundial de Estados, portanto, 
o controle colonial da América Latina, da Ásia e da África.<BR><BR><STRONG>O 
reformismo das contra-reformas reacionárias</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Nos anos 80, no contexto de uma crise de estagnação 
econômica de longa duração, o programa reformista desceu mais um degrau em sua 
adaptação ao regime democrático e aos limites do capitalismo. Assimilando a 
pressão dos ajustes exigidos pelo programa do neoliberalismo, Felipe González na 
Espanha e depois Mitterand na França, em seu segundo mandato, iniciaram as 
privatizações e o processo de precarização do trabalho. Blair e Gerhard 
Schroder, os líderes da chamada Terceira Via nos anos 90, passaram a denunciar a 
perda de competitividade da economia européia diante dos EUA e da Ásia, os 
gastos insustentáveis dos serviços sociais, os excessos fiscais do estatismo 
intervencionista, etc.<BR><BR>Diante da ofensiva neoliberal, conduzida em vários 
países com a cumplicidade de suas organizações sindicais, aconteceu uma evolução 
desfavorável para os trabalhadores das relações de forças sociais e políticas: 
com as derrotas, ocorreu uma desmoralização de amplos setores da classe. Em 
resumo, desde 1980, os regimes democráticos deixaram de oferecer para a classe 
trabalhadora, mesmo nos países centrais, a segurança de que a geração futura 
poderia aguardar um futuro melhor. Surgiu um reformismo de contra-reformas. A 
democracia-liberal entrou em crise, e com ela a sua ala esquerda, os partidos 
reformistas. Passaram a ser os gerentes da destruição dos sistemas de seguridade 
social construídos 50 anos atrás.<BR><BR><STRONG>O reformismo das políticas 
compensatórias</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>A crise da economia capitalista desde meados dos anos 70 
não foi superada pela restauração no Leste Europeu e pela recolonização da 
América Latina. O mapa da esquerda mundial começou a passar, então, por 
mudanças. Não só a democracia nos países imperialistas já não garantia emprego, 
salário, aposentadoria, saúde e educação, mas exigia uma política de guerra 
permanente. À esquerda da social-democracia e do curso majoritário dos 
ex-partidos comunistas, entre as ideologias nostálgicas do reformismo das etapas 
históricas anteriores, nenhuma foi mais representativa do que o programa da 
“cidadania participativa” que reuniu em Porto Alegre, desde 2001, algumas 
dezenas de milhares de ativistas de todos os continentes contra a globalização. 
<BR><BR>Organizados ou atraídos pelas ONG’s, uma parcela dessa militância jovem 
se desinteressou de projetos de luta pelo poder. Se já não era possível a defesa 
do programa gradualista dos serviços sociais universais, a alternativa passou a 
ser o programa das políticas sociais focadas ou compensatórias. Lula era ainda, 
entre 2001 e 2003, ano da posse, a principal referência deste reagrupamento. 
Política e socialmente heterogênea, com posições que oscilavam da defesa das 
experiências do “orçamento participativo” do governo do PT do Rio Grande do Sul, 
à proposta da taxa Tobin sobre as transações financeiras internacionais dos 
colaboradores da ATTAC, passando pelos que se iludem com o projeto de 
democratização dos organismos internacionais, como a ONU, o elemento comum que 
unifica boa parte dessa “nova esquerda” mundial é a ilusão na democracia. 
<BR><BR><STRONG>Democratizar a democracia?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Mesmo as correntes que se colocaram à esquerda desta 
esquerda eram forças engajadas na construção de partidos sem delimitação 
estratégica, como o PSOL. Admitiam a idéia de unir, em um mesmo partido, 
tendências que defendiam a reforma do capitalismo e o gradualismo democrático, e 
tendências comprometidas com a revolução. Mas, em um partido de tendências 
permanentes com estratégias incompatíveis, a construção de um denominador comum 
só pode ser alcançado a partir da posição mais moderada. O denominador comum 
dessa estratégia é a democratização da democracia. <BR><BR>As posições de 
Heloísa Helena na campanha eleitoral têm sido, contudo, uma surpresa. Ela tem 
argumentado que não restaria aos socialistas alternativa melhor senão a proposta 
de regular o capitalismo pela redução de juros.<BR><BR>A candidata renunciou à 
defesa da suspensão do pagamento da dívida. Isso não corresponderia à atual 
relação social e política de forças, já que não se abriu ainda no Brasil, ao 
contrário da Bolívia e de outros países da América do Sul, uma situação 
revolucionária. Seriam necessárias, nessas circunstâncias, palavras de ordem 
plausíveis, ou seja, democráticas. Não há, de fato, uma situação revolucionária 
no Brasil. Isso não impede os socialistas de serem coerentes com seu programa e 
construírem uma campanha de educação política de massas sob as suas bandeiras. 
Infelizmente, é o receio de perder votos que explica o discurso de Heloísa</DIV>
<DIV align=justify><BR>Os socialistas não escondem seu programa em campanhas 
eleitorais. As eleições são o melhor momento para a apresentação de uma saída 
socialista para a crise. A tradição marxista-revolucionária sempre defendeu a 
atualidade das reivindicações democráticas – em especial nos países periféricos, 
onde a revolução por fazer será a simultaneidade de várias revoluções – mas 
nunca confundiu reivindicações democráticas com a defesa da reforma do regime 
democrático. O marxismo reconhece que no Brasil há uma revolução democrática por 
fazer, porque há tarefas democráticas pendentes. Mas nosso programa é a 
revolução socialista. <BR><BR>Dizem-nos que o internacionalismo revolucionário, 
tal como inspirou a fundação da Primeira, Segunda, Terceira e Quarta 
Internacional, no limiar do novo século, seria uma utopia. No entanto, se algo 
pode ser dito do século 20 é que ele demonstrou ser possível o movimento dos 
trabalhadores triunfar revolucionariamente sobre o capital: afinal, revoluções 
socialistas conquistaram o poder em inúmeros países, até na pequena Cuba, a 
poucas milhas da costa dos EUA. O que é utópico, no início do século 21, é a 
regulação social do capitalismo, ou a democratização <BR>da democracia. 
</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>* Historiador, professor do Cefet/SP 
e membro do conselho editorial da revista Outubro. Militante do PSTU. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><U>Nota</U></STRONG></DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>1) ENGELS, Friedrich. “Introdução a Luta de Classes na 
França” In MARX e ENGELS. Obras escolhidas. São Paulo, Alfa-Omega, volume 1, sem 
data, p.105. 
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080 size=3>La información contenida en el boletín es 
de fuentes propias, sitios web, medios periodísticos, redes alternativas, 
movimientos sociales y organizaciones políticas de izquierda. Los artículos 
firmados no comprometen la posición editorial de Correspondencia de Prensa. 
Suscripciones, Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A> 
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>