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<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT size=5><U>boletín informativo - red
solidaria de revistas</U></FONT><BR><EM><FONT color=#800000
size=6>Correspondencia de Prensa</FONT></EM><BR>Año IV - 8 de enero 2007 -
Redacción: </FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
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<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Roberto
Romano</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>"Desde longa data, a esquerda só se
defende e não ataca”<BR><BR>Mateus Alves e Valéria Nader</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Correio da Cidadania Nº
531</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><A
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><BR><BR><STRONG>Nesta edição
retrospectiva de 2006, o Correio da Cidadania traz entrevista com Roberto
Romano, professor do departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Romano analisa
a reeleição de Lula, traça os rumos tomados pelos movimentos sociais no ano que
termina e faz suas previsões para o novo mandato petista no Planalto, além de
observar a atuação da esquerda no Brasil de
hoje.</STRONG><BR><BR><STRONG>Correio da Cidadania: A reeleição de Lula em 2006
foi para o senhor uma surpresa? O que a teria garantido de forma mais
proeminente, a seu ver?</STRONG><BR><BR>Roberto Romano: Em primeiro lugar, não
foi surpresa. Estava evidente que Lula seria reeleito desde o momento em que
começou a andar pelo Brasil fazendo campanha em pleno cargo, utilizando
inaugurações de obras públicas, fazendo comícios fora do tempo e contra a lei.
Sabia também que Lula era uma pessoa que conseguiria reverter a situação adversa
pela qual passava, já que possui uma capacidade de sobrevivência política que
raros brasileiros do ramo têm.<BR><BR>O segundo ponto se deve justamente a uma
desenvoltura da qual ele é dotado para desobedecer à lei e depois dizer que não
sabe de nada. Além disso, utilizou-se de uma propaganda absolutamente dirigida,
retoricamente enviesada e cínica, servindo-se de um conjunto de valores
nacionalistas que ainda existiam na classe média, na classe pobre e sobretudo
entre os intelectuais para jogar toda essa massa a seu favor.<BR><BR>O último
fator, que não é o menos importante, é justamente o fantástico apoio que teve
das elites de que tanto fala mal. Ele foi o candidato preferido dos grupos
dominantes - evidentemente, Alckmin também tinha uma parte das elites a seu
lado. Esse foi o seu grande trunfo: falava em espetáculo do crescimento, mas
sabia - e aí há um dolo absolutamente insuportável para as consciências retas –
que este não viria, pois tinha um compromisso selado com o setor bancário. Foi
mais uma fraude eleitoral de Lula em conivência com a elite financeira do
país.<BR><BR>Posso citar também, como um último ponto que proporcionou a
reeleição de Lula, a consciência dos setores intelectuais mais à esquerda, que
foi manipulada e se deixou manipular.<BR><BR><STRONG>CC: Em um cenário marcado
por extrema desertificação de idéias, percebe-se, já há alguns anos, que as
análises retrospectivas dos anos que se vão não trazem grandes novidades, pelo
menos, as alvissareiras: crescimento pífio, escândalos políticos, desmobilização
social e descrença popular generalizada repetem-se sucessivamente. O senhor
acredita que 2006 foi diferente?</STRONG><BR><BR>RR: O ano foi fértil em
aumentar esse ceticismo observado anteriormente. No entanto, não diria que isso
é um problema proveniente do presidente da República ou do Partido dos
Trabalhadores, mas sim um problema que existe em todo o Estado brasileiro, cujos
três componentes - Executivo, Legislativo e Judiciário - deram passos vigorosos
para se afastar da cidadania.<BR><BR>Não é por acaso que, em pesquisas sobre a
consideração dos brasileiros e dos sul-americanos pela democracia, 37% dos
entrevistados se mostraram favoráveis a um regime ditatorial. Esses índices
diminuíram um pouco, mas nada que seja significativo; continua existindo – e
aumentando tendencialmente - esse fosso entre os que pagam impostos e os que
supostamente deveriam ser, na democracia, os seus funcionários.<BR><BR>Temos por
exemplo, no Judiciário, um Conselho Nacional de Justiça que defende mais os seus
salários e seus interesses privados, particulares e corporativos do que enfrenta
as grandes crises da República. No Legislativo, há esse absoluto deboche das
absolvições no caso do mensalão, das denegações de voto claro e aberto e esse
aumento absolutamente estapafúrdio dos vencimentos dos parlamentares - que,
aliás, segue a mesma tendência observada no Judiciário.<BR><BR>Tudo isso
certamente não trará bons augúrios para o Brasil. Eu gosto sempre de lembrar, e
isso contra muita gente que gosta de criar uma consciência feliz e mentirosa,
que o golpe de Estado em 1964 teve o apoio de boa parte da população brasileira.
Se naquele momento, com o nível de corrupção que existia - é bom lembrar que os
golpistas disseram que iriam lutar contra os comunistas e também contra a
corrupção -, havia uma espécie de saturamento da cidadania em relação aos
representantes, hoje a coisa é muito pior.<BR><BR>Tenho muito receio que
tenhamos no horizonte uma aventura populista que pode ser à esquerda, à direita
ou ao centro. Essa aventura, se prometer fechar o Congresso, terá o apoio de boa
parte da população do Brasil, e isso é lamentável.<BR><BR><STRONG>CC: É corrente
a avaliação quanto à desmobilização a que foram levados a sociedade civil e os
movimentos sociais ao longo do mandato de Lula. Qual a sua avaliação quanto à
atuação desses movimentos nesse ano de 2006? Houve algum tipo de rompimento com
a inércia anterior?</STRONG><BR><BR>RR: Veja, cada movimento está em um momento,
cada um tem o seu problema estratégico. Se os tratamos abstratamente e
generalizarmos, parecerá que todos fazem a mesma coisa, e por isso é bom
analisá-los separadamente.<BR><BR>Um movimento que não se desarmou e se manteve
como uma referência nacional, tanto do ponto de vista ético como político, foi o
movimento ecológico. A ministra Marina Silva é um dos poucos integrantes do
governo Lula de quem não há do que se envergonhar - pelo contrário, há muito do
que se orgulhar.<BR><BR><STRONG>CC: Mas algumas figuras tradicionais da esquerda
ligadas ao meio ambiente criticam de forma ostensiva a atuação da
ministra.</STRONG><BR><BR>RR: Bom, eu estou pensando em sua média dentro do
ministério, não estou comparando com quem está fora dele. Há uma linha que
chegou ao poder e está tentando fazer tudo contra um governo que possui uma
aliança estratégica com os grandes produtores do agronegócio, e aqueles que
estão dentro da sociedade civil e fazendo críticas à ministra. Isso mostra que o
movimento não está desarmado, que tem a sua presença.<BR><BR>Já o movimento
estudantil é quase uma piada. Ele não existe e é quase totalmente dirigido pelo
governo, está totalmente cooptado. Quem militou no movimento estudantil como eu,
que o fiz desde 1962, sabe identificar perfeitamente quando se fala com uma
pessoa cooptada pertencente a um movimento inexistente.<BR><BR><STRONG>CC: As
manifestações ocorridas na cidade de São Paulo em protesto contra o aumento da
tarifa de ônibus não ocorreriam, então, se o governo paulistano pertencesse ao
PT?</STRONG><BR><BR>RR: Exatamente, não. O presidente da UNE faz parte do
Conselho da República. Você ouviu alguma manifestação dele contra o corte de
recursos do CNPq e do CAPES? Nenhuma. É realmente um movimento que está nas mãos
de aparelhos políticos, com uma mentalidade extremamente estrita.<BR><BR>Sobre o
movimento negro, existem setores excelentes, que continuam a sua luta, e há
setores que atenuaram a sua capacidade de ataque esperando que o governo
realizasse modificações estruturais que os beneficiariam - caso da confiança no
ProUni por parte daqueles que defendem as cotas. É um escândalo que alguém que
sempre defendeu a escola pública, gratuita, de qualidade, republicana e
universal, e que se transformou de repente num grande aliado do governo que está
dando milhões para os industriais da educação de terceiro grau, não seja
criticado pelo movimento negro.<BR><BR>Entende-se a situação do movimento e a
delicadeza da questão, mas não por que essa interrupção da crítica quando se
trata do ProUni. Isso é complicado e precisa ser dito para o movimento negro,
pois uma coisa é o governo, outra coisa é o tipo de trato que o governo está
tendo com os donos do país.<BR><BR>Itamar Franco, através do ministro Murilo
Hingel, fechou o Conselho Federal de Educação pelas mesmas coisas que nele
ocorrem hoje. Em São Paulo, há universidades que simplesmente implementaram um
curso de Direito de forma ilegal, sem autorização das instâncias governamentais
- e os mesmos que fizeram isso têm assentos no Conselho!<BR><BR>São questões
desse tipo que são insustentáveis, não apenas do ponto de vista do antigo
programa do Partido dos Trabalhadores, mas de toda a tradição de luta pela
educação que vem desde Florestan Fernandes e Anísio Teixeira. O que se faz é
encher as burras desses empresários do ensino privado, dizendo que isso é uma
maravilha e até usando tal fato como propaganda. E não há uma palavra crítica do
movimento negro em relação a isso. Eu sei que é polêmico o que eu digo, mas é
preciso justamente uma polêmica para se chegar a algum consenso menos ambíguo
nessa República.<BR><BR><STRONG>CC: E em relação ao movimento sem terra no país,
como o senhor avalia suas ações em 2006?</STRONG><BR><BR>RR: Os sem terra
continuaram a sua luta. Inclusive, acredito que estejam em um compasso de
espera, pois tiveram uma atitude de não atrapalhar a reeleição do presidente,
com um recuo tático. No entanto, sabem que, devido à aliança do Planalto com o
agronegócio, terão que forçar o governo para que suas reivindicações sejam
atendidas. Particularmente, acredito que, com tal aliança, podemos esperar nas
próximas ocupações uma participação mais forte da polícia em termos de repressão
ao MST e outros movimentos.<BR><BR><STRONG>CC: Qual a sua opinião quanto aos
movimentos populares e setores autenticamente de esquerda que se decidiram pelo
apoio crítico e condicionado a Lula no segundo turno? Esse apoio pode ter criado
algum tipo de cumplicidade positiva para o futuro?</STRONG><BR><BR>RR: Acredito
que, nesse ponto, é preciso utilizar a linguagem antiga do marxismo: existem
condições objetivas e condições subjetivas. As condições subjetivas foram
empreendidas e os movimentos que apoiaram a reeleição esperam que o governo não
retribua com opressão. Isso é o mínimo.<BR><BR>Agora, as condições objetivas são
independentes, inclusive da vontade dos líderes desses movimentos. Por exemplo,
se o governo continua a não prestar atenção à questão agrária, a não tomar
atitudes voltadas à reforma agrária e privilegiando o agronegócio, é evidente
que um momento de luta vai ocorrer, e aí ficará clara a posição do presidente.
Se me perguntar honestamente o que acho, creio que Lula terá toda a latitude de
chamar a polícia para reprimir o MST.<BR><BR><STRONG>CC: Em entrevista concedida
ao Correio no começo desse semestre, quando a reeleição parecia garantida já no
primeiro turno, o senhor prognosticou um governo subjugado pelas oligarquias
regionais do PMDB. Como acredita que transcorrerá, politicamente, o segundo
mandato de Lula?</STRONG><BR><BR>RR: Essa “previsão” que fiz é o que está
acontecendo hoje, infelizmente minha bola de cristal funcionou. O segundo
mandato será muito complicado, pois as oligarquias peemedebistas - que têm o seu
correspondente na oposição nas oligarquias do PFL - possuem um longo treino de
controle das instituições públicas regionais e nacionais, não brincam em
serviço. São profissionais no assunto. Veremos como Lula irá distribuir cargos e
ministérios; a fome de poder do PMDB é imensa, e todas as alas do partido têm a
intenção de apoiar o presidente esperando o retorno em cargos.<BR><BR>É bom
lembrar que a expressão "é dando que se recebe" foi criada no seio do PMDB. Se o
presidente conseguir desalojar o PT de muitos cargos em estatais, ministérios
etc., e se conseguir colocar o PMDB em uma posição privilegiada, terá pelo menos
dois anos para realizar o seu programa. Nesse momento, eu digo para você que meu
temor é se ocorrerá a flexibilização das leis trabalhistas, a diminuição do peso
do orçamento da saúde - colocando o saneamento base como parte desse mesmo
orçamento -, e se a coisa seguirá o mesmo caminho de embromação na questão do
ensino público.<BR><BR>Caso Lula tenha esse apoio sólido do PMDB, é isso o que
fará, algo que agrada profundamente as elites do país, pois estará sendo
cumprido o “programa” a elas prometido.<BR><BR><STRONG>CC: A surpresa do segundo
turno levou o candidato petista, ainda que estrategicamente, a acirrar a
polarização do cenário eleitoral, tomando a crítica às privatizações como fio
condutor dessa polarização. O senhor acredita que isso terá algum reflexo na
próxima gestão?</STRONG><BR><BR>RR: Não terá nenhum. O que se nota no PT, pelo
menos desde a "Carta aos Brasileiros", é uma disposição de fazer todo o serviço
necessário para as políticas macroeconômicas e outras que interessam às elites.
Há um realismo absoluto, uma falta de trato com valores. Tornou-se quase um
refrão do presidente da República ou caçoar ou ironizar ou indicar como loucura
todos os valores carregados pela esquerda até os dias de hoje.<BR><BR>Lula exibe
uma espécie de “corrosão ética” causada pelo realismo político. Quem estuda
história sabe o resultado disso: sempre que há governantes que operam sem
referências axiológicas e valorativas, o resultado é um autoritarismo muito
grande a serviço de alguns setores da sociedade que se posicionam contra a
maioria. Nesse caso, isso está explícito; para cumprir as exigências do setor
financeiro e industrial, Lula tentará novamente uma depuração da reforma da
Previdência e a flexibilização dos direitos trabalhistas. Dado o que o
presidente já exibiu de ousadia, a CLT será duramente atacada em
2007.<BR><BR><STRONG>CC: Como será, em sua opinião, a atuação da oposição ao
governo petista durante os anos do próximo mandato?</STRONG><BR><BR>RR: A
oposição terá um trabalho duro pela frente. Nesse momento, você tem uma maré
montante; lembro-me que, no início do governo Collor, boa parte das
universidades aderiu ao governo de plantão, e houve uma espécie de inexistência
da oposição. O único partido que se opôs com firmeza ao presidente, que depois
sofreria impeachment, foi o PT. Hoje, não consigo ver nenhum partido que tenha
essa firmeza e a amplitude que o PT teve.<BR><BR>No caso do PFL, trata-se de um
partido que é uma federação de oligarquias regionais, mas cujos líderes foram
duramente batidos ou se afastaram - caso de Antônio Carlos Magalhães e de Jorge
Bornhausen. Marco Maciel sempre foi uma pessoa conciliadora, sempre afeita a
gestos espetaculares de oposição. Sobra o César Maia no Rio de Janeiro, mas ele
não possui abrangência nacional.<BR><BR>Já os tucanos, como era de se esperar,
estão em pleno namoro com os primos petistas. Fazem tudo para que o programa do
presidente da República seja cumprido, pois nisso eles são iguais: ambos
defendem a flexibilização das leis trabalhistas e tudo o que se chama de
"modernização". Ambos têm o mesmo programa, fato que faz com que, no Congresso,
o PSDB não seja exatamente oposição.<BR><BR>Além disso, o PSDB perdeu a dimensão
de Estado que seria alternativa à trazida pelo grupo petista no poder. O único
setor que possui uma visão de desenvolvimento econômico e de modificação do
Estado alternativa é o grupo liderado por José Serra; talvez se possa entrever
alguma oposição a partir de São Paulo, mas convém lembrar que o governador do
estado terá suas mãos atadas, do ponto de vista fiscal, pelo governo federal - e
isso faz com que também não se possa esperar de Serra uma oposição
virulenta.<BR><BR>Aécio Neves, por outro lado, continua sua lua de mel com o
presidente Lula, na esperança de que possa ser indicado para sucedê-lo. Aí será
mais uma desesperança que conheceremos e mais uma falta de compromisso com o
papel de oposição que deveria desempenhar. Se o governo de São Paulo, o governo
de Minas Gerais e o governo do Rio Grande do Sul se unissem na oposição, seria
uma frente respeitável, mas todos estão entregues ao Ministério da
Fazenda.<BR><BR><STRONG>CC: Quem é, essencialmente, a esquerda no país hoje?
Como o senhor avalia a sua atuação nesse ano eleitoral?</STRONG><BR><BR>RR: Há
um bom tempo costumo definir a esquerda e a ex-querda. Às vezes, determinada
pessoa começa um discurso ou uma prática com o “s” e termina com o “x”; Lula é
um bom representante da ex-querda.<BR><BR>Eu diria que são muito poucas as
lideranças de esquerda que têm representatividade popular e condições de mover
multidões em termos eleitorais. Felizmente, a cláusula de barreira não passou, e
o PSOL terá uma oportunidade de se expandir sem a popularidade de uma pessoa só,
como foi o caso de Heloísa Helena.<BR><BR>Por outro lado, sobra muito pouco de
membros da esquerda com “s”. Dentro do PT, existem grupos que se dizem como
sendo de esquerda, mas se calam frente às atitudes e decisões do grupo dominante
e do governo. Estive recentemente com Raul Pont, em Porto Alegre, e observei
algo que alcançava níveis esquizofrênicos: ao mesmo tempo em que criticava Lula,
apoiava o governo e a caçada à imprensa que promovem. A esquerda dentro do PT
está de tal maneira dividida, inclusive mentalmente, que acaba com suas
possibilidades de criar uma estratégia única de atuação nacional. Há também
alguns grupos trotskistas dentro do PT, mas esses nunca chegaram a empolgar nem
mesmo a máquina petista.<BR><BR>O PCdoB, o PDT e outros, eu me recuso a
considerá-los como representantes da esquerda clássica. Uma coisa é o discurso,
mas os atos desses partidos mostram que eles têm muito pouco dos ideais
democráticos da esquerda e têm muito de realismo político - para não utilizar
outra palavra mais pesada.<BR><BR>Gostaria de salientar também, ainda sobre o
mesmo tema, que existem diferenças entre as tendências e entre os indivíduos.
Não gostaria de dizer que Aldo Rebelo, por exemplo, é uma pessoa sem
características positivas, pois ele vem cumprindo bem o seu papel na Câmara, é
um homem de muito diálogo. Mas ele pertence a uma máquina e não é um indivíduo
isolado. Muitas vezes, essa máquina assume um ritmo e um modo de compromisso que
atropela os seus próprios integrantes, sejam eles grandes ou
pequenos.<BR><BR><STRONG>CC: O que configuraria, no atual momento histórico, um
autêntico e possível projeto de esquerda?</STRONG><BR><BR>RR: O imaginário da
esquerda é marcado pela Revolução Francesa, pelos ideais de liberdade, de
igualdade e de fraternidade, e isso precisa ser repensado. O que vemos é que
hoje ele é cada vez mais atenuado na esquerda mundial. Usam os ideais, mas fazem
concessões cada vez mais graves em um plano conjuntural.<BR><BR>A esquerda
precisa deixar de reagir à conjuntura, deixar de se prender nas armadilhas do
cotidiano e precisa repensar a história do mundo hoje, quais as grandes linhas
de força da vida, da cultura e da economia mundiais e verificar o que se pode
fazer no Brasil. O método da Revolução Francesa precisa - e muito - ser
ampliado; há pessoas na esquerda que não possuem sequer uma abertura intelectual
para acompanhar o que faz seu inimigo. De cem pessoas que combatem o
neoliberalismo, se duas leram textos de algum neoliberal é muito.<BR><BR>É
necessário que se volte a um esforço de pensamento, a uma erudição. É bom
lembrar que as grandes personalidades da esquerda da modernidade tinham uma
cultura muito grande dos projetos que combatiam, e não apenas reiteravam suas
próprias teses. Não existem, hoje, fóruns de trabalho que não sejam de
reiteração de crenças - caso do Fórum Social Mundial. Ali há coisas admiráveis,
mas há muito pouco trabalho de trocas intelectuais.<BR><BR>Se você analisa os
textos de Marx, vê-se que ele era crítico-leitor extremamente aguçado de Ricardo
e de Adam Smith. Lênin também, assim como Gramsci. Estes tiveram uma abertura
para analisar e entender o que os donos do mundo faziam e, a partir desse
conhecimento, propor um discurso e uma prática contrária. <BR><BR>Resumindo, a
esquerda não pode se contentar mais com manuais. Ou recupera essa dimensão de
ciência, de conhecimento e de prática, ou irá morrer na praia, recitando slogans
que apaziguam a sua consciência, mas que não mudam nada nas relações sociais.
<BR><BR><STRONG>CC: Qual seria, a seu ver, ainda que idealmente, o caminho que
abriria uma autêntica possibilidade de transformação em nosso
país?</STRONG><BR><BR>RR: Um elemento urgente seria que grupos variados, de
dentro e de fora das universidades, criassem instâncias de análise de pesquisas
e de divulgação de dados e propostas, de tal modo que não houvesse apenas uma
resposta automática ao desafio, mas uma luta dirigida por idéias muito claras.
Essa atitude reativa é algo muito sério e preocupante. Desde longa data, a
esquerda está apenas se defendendo e não ataca.<BR><BR>Para atacar, é necessário
conhecer o terreno do adversário, e para isso a esquerda precisa de uma dose
imensa de diálogo interno. Os anátemas no interior da esquerda se tornaram
cotidianos; se alguém discorda da análise de um guru qualquer, ele já se torna
de direita, já virou tucano. Isso também precisa ser pensado, antes do
xingatório e da classificação, através do retorno ao diálogo, do trabalho comum,
da troca de informações, sem que a discordância se transforme imediatamente em
anátema. Esse foi o elemento que desgraçou a esquerda durante o domínio do
Partido Comunista soviético, que criou a intolerância dos partidos da esquerda e
que resultou nessa miríade de grupos impotentes que não conseguem sequer fazer
oposição a um partido importante como o PT.<BR><BR>É necessário não um
desarmamento, não uma bondade, mas sim um trabalho refletivo de abrir a cabeça
de um grupo em relação ao outro, esquecendo momentaneamente a lógica de sua
facção e pensando mais na lógica de um todo.
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080 size=3>La información difundida por
Correspondencia de Prensa es de fuentes propias y de otros medios, redes
alternativas, movimientos sociales y organizaciones de izquierda. Suscripciones,
Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080
size=3>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A>
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>