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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U><FONT size=5>boletín informativo - red
solidaria de revistas</FONT></U><BR><FONT color=#800000
size=6><EM>Correspondencia de Prensa</EM></FONT><BR>Año IV - 16 de enero 2007 -
Redacción: </FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Mário
Maestri</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT face=Arial></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>A enorme fragilidade da esquerda
brasileira é reflexo direto da debilidade estrutural do movimento social, e a
crise de ambos se alimenta reciprocamente</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>“É fundamental que a oposição ao
governo se transforme em questionamento do Estado”<BR><BR>Valéria
Nader</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Correio da Cidadania Nº 532, janeiro
de 2007</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><A
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG><FONT
size=3>http://www.correiocidadania.com.br/</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify><BR><BR><STRONG>“Lula da Silva é apenas o general patético do
enorme exército Brancaleone que deixa em sua passagem rastro de desorganização
material e moral do movimento social”. O historiador Mário Maestri assim resume
a sua opinião quanto à atual situação e desempenho da esquerda e do movimento
social em nosso país, fortemente desestruturados pela hegemonia imperiosa do
capital financeiro há quase trinta anos. A enorme fragilidade da esquerda
brasileira é, em sua opinião, reflexo direto da debilidade estrutural do
movimento social, e a crise de ambos se alimenta reciprocamente.</STRONG>
<BR><BR><STRONG>Correio da Cidadania: A reeleição de Lula foi uma surpresa para
você? Qual foi a principal razão da reeleição?</STRONG><BR><BR>Mário Maestri:
Lula da Silva estava virtualmente eleito quando o grande capital descartou José
Serra, por menos confiável. É difícil imaginar objeto eleitoral midiático e
politicamente menos potável que Alckmin, que teve seu nome mudado para Geraldo,
em plena campanha! Heloísa Helena jamais se transformou na candidata de
reunificação do movimento social. Com sua pregação moralista e individualista,
obteve alta votação, no primeiro turno, mas impediu que a campanha avançasse na
construção de pólo de esquerda classista. Cristóvão Buarque jamais foi tomado a
sério pelo eleitorado. Lula da Silva disputou consigo mesmo, derrotando-se no
primeiro turno, com a ajuda de seus próximos, pegos, outra vez, com a mão em
milhões, novamente sem origem, e alcançou consagração plebiscitária para sua
gestão neoliberal no segundo turno, ao assustar os eleitores conscientes com o
bicho papão Alckmin. <BR><BR><STRONG>CC: Nos últimos anos, as retrospectivas de
fim-de-ano não despertam grandes esperanças. Na sua opinião, qual teria sido a
marca diferencial de 2006?</STRONG> <BR><BR>MM: No Brasil, vivemos com saudades
do passado. Após quatro anos de crescimento geral na América Latina, o Brasil
acrescentou mais um ano, aos já quase trinta, de estagnação estrutural que tem
transformado em forma patológica a sociedade e a nação. De novo, a extrapolação,
generalização e banalização da corrupção da vida política. A tentativa de
auto-aumento dos salários dos parlamentares para mais de trinta mil reais
mensais – são quinze salários ao ano –, enquanto os mesmos parlamentares
pontificam sobre a impossibilidade de elevação efetiva do salário mínimo, pois
ameaçaria as finanças públicas, é exemplo excelente da utilização do serviço
público para enriquecimento privado.<BR><BR>No entanto, a exigência de que os
parlamentares comportem-se com decência republicana tem elementos de ingenuidade
ou demagogia. O Brasil tornou-se máquina terrível de triturar o trabalhador em
benefício do capital, acionada por parlamentares, juízes etc., que exigem
participar minimamente do saque que apóiam e sustentam. Os salários diretos e
indiretos mirabolantes são espécie de “salário insalubridade” pago com gosto
pelos donos do poder, com os recursos da nação, aos serviçais excelentes, caso a
população não se mobilize contra eles.<BR><BR><STRONG>CC: Têm razão os que
sugerem que houve e ainda haverá uma forte desmobilização da sociedade civil e
dos movimentos sociais durante o mandato de Lula?</STRONG> <BR><BR>MM: Razões
históricas complexas dificultam a constituição do movimento social no Brasil
como ente para si. Somos país continental formado por múltiplas nações. A
liberdade civil é recente: há 118 anos, o trabalhador era propriedade do
explorador. Jamais contamos com um amplo campesinato. O movimento social sofreu
derrotas profundas recentes – o Golpe de 1964; as eleições indiretas de 1984
etc. O mundo do trabalho jamais se elevou autonomicamente, a não ser, talvez, em
forma confusa e transitória, em fins da década de 1970. A hegemonia do capital
financeiro, construída desde o final da Ditadura, aprofundou a fragilização do
operariado fabril com a desindustrialização relativa do país. Tivemos quase três
décadas de estagnação econômica. Multidões de parlamentares, administradores,
sindicalistas, intelectuais etc. apóiam a gerência do movimento social segundo
as necessidades do capital como meio de progressão social. Lula da Silva é
apenas o general patético do enorme exército Brancaleone que deixa em sua
passagem rastro de desorganização material e moral do movimento
social.<BR><BR><STRONG>CC: Quem é essencialmente a esquerda do Brasil, hoje? E o
que pensa de sua atuação em 2006?</STRONG><BR><BR>MM: O grande acontecimento de
2006 talvez seja a aceleração da crise da esquerda. O PCdoB apoiou com
disciplina o governo do capital, recebendo por isso a presidência do Congresso.
Aldo Rabelo não entrará para a história por ocupar telegraficamente a
presidência da República, mas por comandar o maior espetáculo nacional de
impudicícia parlamentar e, sobretudo, ser o primeiro comunista nacional a mandar
prender 497 camponeses! O que, convenhamos, não é pouco! </DIV>
<DIV align=justify><BR>Em 2006, vimos as esperanças despertadas pelo PSOL
encolherem-se. O refluxo social após a luta contra a reforma da Previdência
contribuiu para que o PSOL se mantivesse como federação de tendências
parlamentares, sem construir um programa, funcionar democraticamente, centrar
sua ação no movimento social. Por não ter superado o eleitoralismo, não se
transformou sequer no pólo de reunificação eleitoral do movimento
social.<BR><BR>O PSTU, a maior organização marxista-revolucionária do Brasil,
reúne escol de militantes. Sofreu mais uma rejeição eleitoral sem que sua
direção abandone a posição de direção revolucionária autoproclamada e proponha
uma real reflexão sobre sua prática, organização e programa. Sobretudo, 2006
será conhecido como o ano em que parte da vanguarda abandonou a CUT à burocracia
pelega para construir central vermelha, apenas com trabalhadores avançados, que,
com uma nova direção, abrirá o caminho da mobilização. Uma divisão dramática
para o movimento operário, mesmo em momento do ascenso da luta. O que se dirá
sob o domínio do refluxo social!<BR><BR><STRONG>CC: Qual a sua opinião quanto
aos movimentos populares e de esquerda que apoiaram criticamente Lula no segundo
turno?</STRONG> <BR><BR>MM: Houve as exceções, os que defenderam o voto no
segundo turno e seguiram conscientes na oposição. Mas foram poucos. Mais comum
foi a renúncia à frágil ruptura com o governo, com o retorno à casa paterna, o
rabo entre as pernas, pela porta dos fundos, enquanto Lula da Silva atendia na
sala os que importam. Esses arrependidos, para prestar serviços, atacaram sem dó
os que propunham o voto nulo; agitaram o perigo Alckmin; ressuscitaram do reino
das ilusões perdidas a “vitória da esquerda”, o “espaço de mudanças”, a “segunda
possibilidade”, o “governo em disputa”. </DIV>
<DIV align=justify><BR>O voto da burocracia da CUT em Lula da Silva foi
desdobramento automático da adesão anterior plena ao social-liberalismo. Na
esquerda socialista e classista, há mágoa com a direção do MST, pelo apoio à
reeleição do governo neoliberal. Creio que temos que compreender esse ato. O MST
constitui nosso mais valioso movimento social, que conquistou ganhos para
multidões de brasileiros pobres. Por além da orientação de militantes da base e
da direção, é movimento político-sindical de defesa da pequena propriedade, de
cunho democrático-radical. Na luta pela refundação social do Brasil, a aliança
cidade-campo terá seu pólo forte e anti-sistêmico no grande operariado urbano.
Ou não terá.<BR><BR><STRONG>CC: Em entrevista ao Correio da Cidadania, quando do
segundo turno das eleições presidenciais, você prognosticou a continuação do
projeto neoliberal. Porém, a surpresa do segundo turno foi a retomando da
crítica às privatizações por Lula.</STRONG><BR><BR>MM: Alguém escutou algo sobre
investigação das privatizações e devolução dos bens públicos? Sobre a orientação
da economia ao mercado interno, acréscimo substancial dos salários, melhoria das
condições de trabalho, ampliação da legislação trabalhista? Não. Prosseguem a
internacionalização da economia, a hemorragia financeira, a priorização das
exportações, a privatização do futuro com as parcerias público-privadas, as
PPPs, a prioridade do agronegócio. Segue a carência na saúde, segurança,
educação e trabalho. Fortalecido pela consagração plebiscitária, o governo
discute elevar o nível pífio da expansão econômica, sem propor modificação da
realidade antinacional e antisocial dominante. Discute, ao contrário, cortes nos
investimentos e novo ataque à Previdência. E por que faria diverso? Em time
vitorioso, não se mexe! <BR><BR><STRONG>CC: Qual o caminho que imagina será
feito pela esquerda no Brasil? O que configuraria um autêntico projeto de
esquerda? O socialismo pautaria ainda esse projeto?</STRONG><BR><BR>MM: O
socialismo não é utopia referencial, mas necessidade urgente. Não há
catastrofismo em propor que do socialismo dependa a sorte da humanidade, ferida
por ondas de doenças, guerras, crises ambientais e climáticas cada vez mais
complexas e globalizadas. Apenas o socialismo apresenta saída ao domínio da
violência, tristeza, miséria material e espiritual. Porém, vivemos ainda sob o
peso terrível da derrota histórica do mundo do trabalho simbolizada na Queda do
Muro, em 1989, que ensejou retrocessos objetivos e subjetivos materializados
pela perda dos trabalhadores da confiança em suas próprias forças.
<BR><BR>Devido a esse processo, as vanguardas abandonaram também comumente o
programa socialista. Muitos anunciaram seu fim e passaram a servir os poderosos.
Outros enviaram o socialismo às calendas, ao propô-lo como eventual opção das
gerações a nascer. Houve igualmente o abandono do programa socialista através de
reafirmação retórico-dogmática que impede a discussão de sua necessária
atualização e concretização. Há diferenças essenciais entre esses movimentos,
mas todos são nefastos. <BR><BR><STRONG>CC: Quais as razões mais profundas da
situação específica que vivemos?</STRONG><BR><BR>MM: A enorme fragilidade da
esquerda brasileira é reflexo direto da debilidade estrutural do movimento
social, com destaque para o grande operariado urbano. Há crise de direção porque
há crise de constituição do movimento social. Não há pólo operário que se
confronte, programaticamente, mesmo fragilmente, ao capital. Personagens como
Lula da Silva e Luiz Marinho são produtos e não razões do atraso do movimento
social. Se Lula da Silva batesse a cabeça, confundisse suas idéias, e se
tornasse – aos sessenta anos! – um honesto socialista, tornar-se-ia um estranho
para sua base social!<BR><BR>A fragilidade da esquerda e a do movimento social
alimentam-se reciprocamente. Dificilmente conheceremos reversão próxima dessa
realidade sem uma ruptura paradigmática da relação de forças, nacional ou
mundial. Uma realidade que depende portanto também da luta que avança, mais ou
menos forte, em níveis diversos, no mundo, no Afeganistão, Iraque, Itália,
França, Venezuela, Equador, EUA etc. Porém, o governo conservador de Lula da
Silva, devido à importância do Brasil, fragiliza esse avanço, direta e
indiretamente. Nossos soldados ocupam o Haiti, por determinação dos EUA, sem um
muxoxo dos setores mais avançados da sociedade. <BR><BR><STRONG>CC: Qual seria,
a seu ver, ainda que idealmente, o caminho da oposição ao governo e de luta por
uma autêntica transformação em nosso país?</STRONG><BR><BR>MM: O fundamental é a
luta por movimento que transforme a oposição ao governo em questionamento do
Estado e das instituições. Ou seja, a luta pela construção de movimento que
impulsione, nas esferas política, social, cultural, ideológica, comportamental
etc., programa e proposta de refundação da nação a partir das necessidades do
trabalho. A ação tradicional pragmática de esquerda no parlamento, organização
sindical, administração do Estado etc. já é parte do problema, e não sua
solução. Necessitamos de profunda discussão sobre a participação dos socialistas
no parlamento, na administração, na estrutura sindical, a origem da dependência
orgânica patológica ao Estado, que tem pesado contra a organização democrática e
pela base do movimento social.<BR><BR>Necessitamos de organização classista,
pela base, da moderna classe trabalhadora, para que ela assuma a direção da
sociedade que lhe cabe necessariamente. Urge um sindicalismo enraizado na
produção, já que o mero controle da direção de sindicatos tem servido
principalmente para a separação política e social dos sindicalistas da vida real
dos trabalhadores. Sobretudo, necessitamos movimento que coloque a questão da
construção de partido do trabalho no Brasil, organizado em torno de programa de
refundação social da nação. Um partido que tenha sua direção e suas políticas
definidas a partir da gestão democrática dos militantes de base organizados,
entranhados nas lutas sociais quotidianas.
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080 size=3>La información difundida por
Correspondencia de Prensa es de fuentes propias y de otros medios, redes
alternativas, movimientos sociales y organizaciones de izquierda. Suscripciones,
Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080
size=3>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A>
<HR>
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