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<DIV align=justify><FONT size=5><U>
<HR>
</U></FONT></DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT size=5><U>boletín informativo - red 
solidaria de revistas</U></FONT><BR><FONT color=#800000 
size=6><EM>Correspondencia de Prensa</EM></FONT><BR>Año IV - 29 de marzo 2007 - 
Redacción: </FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR></FONT><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Ricardo 
Antunes</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Críticas ao governo Lula, à cúpula 
da CUT...</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>E&nbsp;sinaliza para “uma nova 
morfologia” do trabalho e, portanto, das lutas sociais</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT face=Arial></FONT></STRONG><BR><FONT face=Arial 
size=2>O sociólogo Ricardo Antunes é um dos maiores especialistas brasileiros no 
estudo das mudanças no mundo do trabalho. Professor de sociologia no Instituto 
de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e autor, entre outros, de Uma 
Esquerda Fora do Lugar: o GovernoLula e os Descaminhos do PT, O Caracol e sua 
Concha: Ensaios sobre a Nova Morfologia do Trabalho e Lukacs, um Galileu no 
século XX, lançou no ano passado, juntamente com um grupo de pesquisadores, o 
livro Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil, no qual traça um panorama do 
momento atual e do futuro do trabalho e do sindicalismo. Nesta entrevista, além 
de expor os temas presentes em seu último livro, Antunes faz críticas ao governo 
Lula, à cúpula da CUT e sinaliza para “uma nova morfologia” do trabalho e, 
portanto, das lutas sociais. </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><BR></STRONG></FONT><FONT 
face=Arial size=2><STRONG>Juliana Sassi *</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Revista Caros Amigos, março 
2007&nbsp; </STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><A 
href="http://carosamigos.terra.com.br/"><STRONG>http://carosamigos.terra.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV><FONT 
face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Quais foram as mudanças ocorridas no mundo do 
trabalho nos últimos anos?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>No início da década de 70, o capitalismo sofreu 
transformações muito profundas no tempo, no espaço, no modo de produção, na 
forma de se reproduzir, no perfil da classe trabalhadora, na relação com o 
maquinário e na financeirização. Aquela forma de produção taylorista/fordista 
genialmente estampada pelo Chaplin em TemposModernos – a grande indústria 
concentrada, verticalizada, com milhares de trabalhadores sob o mesmo teto – foi 
sofrendo alterações significativas a partir da segunda metade do século passado. 
Isso ocorreu em função, primeiro, das mudanças tecnológicas – especialmente das 
chamadas mutações tecnocientíficas da era informacional – e também como resposta 
do capital às lutas sociais dos anos 1968, 1969, 1970, na Europa e na América 
Latina, que questionavam o controle social da produção. </DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Todos esses fatores, as lutas sociais, a crise estrutural do 
capitalismo, a superprodução, o envelhecimento do sistema taylorista/fordista, a 
tendência decrescente das taxas de acumulação, fizeram com que o capitalismo 
mudasse um pouco sua forma para que pudesse continuar sendo o capitalismo. Essas 
mudanças de forma significaram fundamentalmente o seguinte: primeiro, em vez de 
uma grande empresa concentrada, uma empresa, como chamam os capitalistas, 
enxuta, pequena e esparramada. Um dos primeiros experimentos disso foi a 
Benetton já nos inícios dos anos 70 na Itália, uma empresa que se esparrama em 
milhares de unidades pelo mundo inteiro conectadas pela Internet. Em vez de ter 
milhares de operários em uma mesma fábrica, são milhares de operários 
esparramados em centenas ou até milhares de pequenas unidades produtivas, e com 
isso a empresa se torna mais rentável. Essa foi uma das respostas do capital às 
taxas decrescentes dos níveis de lucro que se iniciam a partir dos anos 70, e 
também uma maneira de o capital desorganizar a classe trabalhadora. No final dos 
anos 70 e início dos 80, Margaret Thatcher na Inglaterra, Ronald Reagan nos 
Estados Unidos, Gustav Heinemann na Alemanha vêm com o neoliberalismo, um 
ideário – e uma pragmática – regressivo, reacionário que transfere tudo para o 
mercado como forma de reestruturar os níveis de acumulação e o padrão de 
dominação do capital. Em 1989/90, a URSS desmorona, tornando possível até o 
Fukuyama escrever que o capitalismo é o fim máximo da história pela sua 
positividade, quer dizer, era um fim positivo, a democracia, o capitalismo e o 
mercado. </DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Essas mudanças afetaram muito o mundo produtivo e a forma de 
ser do trabalho, abalando violentamente a classe trabalhadora, o sindicato, os 
partidos de esquerda. Entre tantas conseqüências desse “vulcão” está a 
precarização estrutural do trabalho, que discuto no livro. Venho trabalhando com 
a idéia de que essa precarização do trabalho que estamos vivendo não é 
circunstancial, mas sim estrutural, assim como o desemprego, que também não é 
circunstancial, é estrutural. E por que é um desemprego estrutural? Porque o 
capitalismo tem uma lógica destrutiva, ele cresce destruindo, destrói o 
ambiente, destrói a natureza, destrói a força humana de trabalho e destrói pela 
guerra, o sistema precisa destruir para poder se alavancar. Esse traço afetou 
bastante a classe trabalhadora. <BR><BR><STRONG>Você tem idéia dos números reais 
de desemprego?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Os dados oficiais falam de 10 por cento, nas capitais do 
Brasil, e até muito recentemente tínhamos índices de 20 por cento oficiais – há 
três anos tínhamos bairros em São Paulo em que o desemprego chegava a 70 por 
cento. A Argentina, no ápice da sua crise em 2001, chegou a ter índices reais de 
40, 50 por cento de desemprego, de cada dois argentinos um era desempregado, 
fazendo o que, então? Trabalhos precários. Então, na base um desemprego muito 
ampliado, e no meio do mundo do trabalho uma massa ampla realizando trabalhos 
precários, caindo cada vez mais na informalidade, trabalhando muito mais e 
recebendo menos e sem nenhuma estabilidade – aquela relação contratada 
tayloriana/fordizada que marcou a industrialização do século 20 está em processo 
de erosão, os capitais querem uma classe trabalhadora supérflua que possa 
oscilar entre a sua condição de perenidade. Um núcleo cada vez menor trabalha 
muito e, no outro pólo da superfluidade, um núcleo cada vez maior de homens e 
mulheres vive na informalidade, quando não no desemprego, esse é o cenário que 
visualizo. Se a lógica do capital continuar prevalecendo, é esse o futuro, e ele 
é trágico.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Como o trabalhador pode se organizar tendo em 
vista esse cenário?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>A primeira coisa é a seguinte: eu disse que esse é o 
cenário se a lógica do sistema continuar prevalecendo, ou seja, no século 21 
temos que pensar em alternativas, é uma obrigação nossa, quando o Fórum Social 
se reúne, um outro mundo é possível. Não tenho dúvida de que o século 21 reponha 
a questão do socialismo. Quando eu falava, há dez anos, que o socialismo era 
possível, diziam “ah, esse cara é louco”, mas agora é o povo da Venezuela que 
está dizendo que o socialismo do século 21 é uma alternativa. Se o governo Lula 
é incapaz de levantar a questão, na Bolívia o Evo Morales está dizendo, o Rafael 
Correa, no Equador, também. O primeiro desenho importante é que há lutas sociais 
e essas lutas sociais estão obrigando a humanidade e governos a buscar 
alternativas. Você pergunta quais as formas de se organizar. </DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Primeiro ponto: muita gente dizia que o sindicato ia 
desaparecer e isso não aconteceu. O sindicalismo viveu uma crise profunda? 
Viveu. Abalou os pilares da organização sindical? Abalou. É uma crise terminal? 
Não. Os sindicatos estão sendo obrigados a mudar, a incluir, por exemplo, a 
mulher trabalhadora. O sindicato de esquerda era muito machista, mas como 
organizar um sindicato de telemarketing onde 80 por cento dos trabalhadores são 
mulheres? O sindicato também tem que incluir o terceirizado, tem que enfrentar a 
organização dos jovens, há exemplos importantes de sindicatos que 
rejuvenesceram, que buscaram alternativas. Segundo ponto: há muitas lutas 
sociais importantes. Quando houve o desemprego maciço na Argentina, o que 
ocorreu? Uma explosão dos piqueteiros, um movimento de desempregados dizendo: 
“Olha, vocês não falam da gente, é como se não existíssemos, então vamos parar a 
Argentina”. E pararam as principais estradas que chegavam à capital federal. 
Outro movimento importante na Argentina, do qual há sinais no Uruguai e no 
Brasil, é o das “fábricas recuperadas”. Fiz dois lançamentos de livros na 
Argentina, um em uma metalúrgica recuperada chamada IMPA Fábrica Cultural, e o 
outro em um hotel chamado Bauen. Ambos haviam sido abandonados pelos patrões e 
os trabalhadores assumiram, reorganizaram a empresa que voltou a funcionar sem 
patrão privado. A Argentina chegou a ter duzentas fábricas recuperadas. </DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Outro exemplo de luta social, esse um exemplo brasileiro: o 
MST há mais de vinte anos vem demonstrando que é possível um movimento aglutinar 
os deserdados da terra, os desempregados do campo que foram para a cidade e hoje 
são deserdados da cidade e voltam para o campo. Quer dizer, estamos vendo que, 
quando os partidos de esquerda se tornam partidos da ordem, a resistência em 
massa os envolve, surgem novas formas de luta. Num certo marxismo tradicional 
havia uma tese também tradicional de que o organismo mais importante da classe 
trabalhadora era o partido. Se alguém perguntasse “mas por que o partido?” – vou 
falar com um pouco de ironia –, ele responderia: “Porque o comitê central 
decidiu que o partido é o mais importante organismo da classe operária”. Se 
perguntassem “qual é o segundo organismo mais importante da classe operária?”, 
ele diria: “O sindicato”. Por quê? “Porque o comitê central definiu que o 
sindicato é o segundo.” E os movimentos sociais? “Ah, esses são menos 
importantes.” Por quê? “Ah, porque o partido acha que os movimentos sociais são 
menos importantes.” Na condição de intelectual marxista, mas fora desse marxismo 
tradicional e fechado, eu diria que temos que entender que não há hierarquia nas 
lutas sociais, há uma nova morfologia do trabalho, e frente a essa nova 
morfologia do trabalho existem novas e velhas formas de organização da classe 
trabalhadora. </DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Se você perguntasse para mim “mas, Ricardo, qual é a mais 
importante?”, eu responderia: “Aquela que fizer a luta mais radical”. O que é 
fazer a luta mais radical? Não é berrar, que não adianta nada, é tocar nas 
raízes. Por exemplo, pode ser que na Bolívia de hoje a luta mais importante seja 
aquela que quer o controle do gás na mão do povo boliviano, porque o gás é uma 
riqueza para eles; da mesma maneira, provavelmente a luta mais importante para o 
povo venezuelano hoje é a do petróleo, aliás, a primeira iniciativa do Chávez 
quando eleito foi desmontar o projeto de privatização da PVDSA. Sofreu um golpe 
por isso, teve que derrotar o locaute patronal e ainda teve que ganhar um 
plebiscito para derrotar a oligarquia do petróleo, que queria privatizar segundo 
os interesses dos Estados Unidos. Veja que são outras lutas sociais, há uma nova 
morfologia das lutas sociais.<BR><BR>* Juliana Sassi é estudante de 
jornalismo.&nbsp; 
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080 size=3>La información difundida por 
Correspondencia de Prensa es de fuentes propias y de otros medios, redes 
alternativas, movimientos sociales y organizaciones de izquierda. Suscripciones, 
Ernesto Herrera: </FONT></EM></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT color=#000080 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A> 
<HR>
<BR><BR><BR>&nbsp; </FONT></DIV></BODY></HTML>