<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN">
<HTML><HEAD>
<META http-equiv=Content-Type content="text/html; charset=iso-8859-1">
<META content="MSHTML 6.00.2900.2523" name=GENERATOR>
<STYLE></STYLE>
</HEAD>
<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT size=5><U>boletín informativo - red 
solidaria</U></FONT><BR><FONT color=#800000 size=6><EM>Correspondencia de 
Prensa</EM></FONT><BR>Año IV - 5 de julio 2007<BR>Redacción y suscripciones: 
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Entrevista com João Pedro Stedile 
(MST)</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>A reforma agrária já está 
esgotada</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>O líder do MST diz que não faz mais 
sentido falar em divisão de terras sem outras mudanças 
radicais</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Revista Época, 2-7-2007</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Guilherme Evelyn e Leandro 
Loyola</STRONG></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>O líder do movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra 
(MST), João Pedro Stedile, coloca sobre a mesa uma pasta de plástico, na qual 
está colado o adesivo com um quadrinho da Graúna, personagem do cartunista 
Henfil de grande sucesso nos anos 70. Ajeita ao lado dela seu relógio de bolso. 
Começa a discorrer sobre conceitos como “mobilização das massas”, “combate ao 
neoliberalismo” e “plano estratégico nacional”. São símbolos do passado, mas 
Stedile fala do futuro. De acordo com ele, o movimento tem de derrotar o sistema 
econômico em vigor se quiser atingir seu objetivo. “O projeto de reforma agrária 
que o MST passou 20 anos lutando para implantar se esgotou”, afirma. “Será 
preciso um novo tipo de reforma agrária.”</DIV>
<DIV align=justify><BR>É<STRONG>POCA – No congresso do MST, o senhor disse que a 
reforma agrária com que o movimento sonhava não é mais possível. Por quê? 
</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>João Pedro Stedile – A reforma agrária clássica foi feita 
na maior parte dos países da Europa, nos Estados Unidos, no Japão, depois da 
Segunda Guerra Mundial. É um projeto que está combinado com um projeto de 
desenvolvimento da indústria nacional para desenvolver um mercado interno. O 
Brasil perdeu quatro oportunidades históricas de fazer esse tipo de reforma 
agrária: no fim da escravidão, na implementação da industrialização pela 
Revolução de 30, em 1964 e no governo Sarney, quando havia um clima favorável no 
PMDB para viabilizar um projeto de desenvolvimento nacional. Da década de 90 
para cá, nosso país e as elites brasileiras abandonaram o projeto nacional. O 
que está em curso é um projeto popularmente conhecido como neoliberalismo, que 
subordina a economia brasileira ao capital internacional e financeiro. O projeto 
pelo qual o MST lutou 20 anos se esgotou porque as elites brasileiras deixaram 
de defender um projeto de industrialização nacional. Hoje, a não ser o 
vice-presidente José Alencar, não há forças nacionalistas em nossa burguesia 
industrial.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – Qual seria o novo modelo defendido pelo 
MST?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Para viabilizar uma nova reforma agrária, será 
preciso antes derrotar o neoliberalismo. O primeiro fundamento desse novo tipo 
de reforma agrária é a democratização da propriedade da terra, que não é uma 
bandeira socialista, mas republicana. O segundo é a reorganização da produção 
agrícola. Hoje, as transnacionais vêm aqui e controlam a produção, o comércio, o 
preço. Isso está errado. A produção agrícola precisa ser organizada em primeiro 
lugar para atender o mercado interno e o povo brasileiro. O terceiro aspecto é 
repensar novas técnicas agrícolas, porque as usadas pelas transnacionais são 
insustentáveis do ponto de vista do meio ambiente. O quarto aspecto é levar a 
educação formal e o conhecimento para o campo para formar o cidadão camponês. O 
quinto aspecto é levar as pequenas agroindústrias ao interior para gerar emprego 
lá. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – O que o MST está fazendo para se adaptar 
a esses novos tempos?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Estamos mudando. Vou dar um exemplo: nós nos 
demos conta de que nas faculdades de Agronomia os caras só sabem sobre 
monocultura ou agrotóxico. Então, o MST está montando uma rede em parceria com 
universidades federais para formar novos agrônomos. Já temos um curso de 
Agronomia no Pará para o bioma da Amazônia, outro em Sergipe para o semi-árido, 
um terceiro em Mato Grosso para o Centro-Oeste e um quarto no Paraná para o 
clima frio e temperado. Para quê? Para formar novos agrônomos que dominem 
técnicas de agroecologia e possam nos assessorar. Vamos anunciar uma parceria 
com o Greenpeace. Estamos brigando com o governo para botar mais dinheiro da 
educação no meio rural. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – Por que a correlação de forças políticas 
se tornou desfavorável à reforma agrária justamente no governo Lula?</STRONG> 
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – A própria eleição do Lula só foi possível 
porque ele se aliou com parte da burguesia neoliberal. Ela aceitou apoiar a 
candidatura Lula que eles nunca engoliram. Além disso, as lutas sociais se movem 
em ondas. E estamos numa onda de descenso do movimento de massas desde 1989. A 
ascensão do Fernando Collor e do Fernando Henrique Cardoso foi uma derrota 
política grave para o povo brasileiro. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – Mas esse movimento social não se animou 
nem com a eleição do Lula?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Nós do MST apostávamos que a simples vitória 
eleitoral do Lula reanimaria as massas. Nós nos reanimamos, tanto que, em 2003, 
botamos 200 mil famílias acampadas, mas o resto do povo não se mobilizou. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – O que o senhor chama de neoliberalismo 
não é, na verdade, o resultado de um processo de mudanças inevitáveis na 
economia mundial, como a globalização e as inovações tecnológicas?</STRONG> 
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Claro que o capital está numa fase de querer 
circular em todos os países do mundo, mas governos nacionais existem para cuidar 
dos interesses de seu povo, né? Vários países do mundo mantiveram políticas 
nacionalistas, como Irã, Índia e China. A taxa de câmbio da China é 
historicamente sobrevalorizada, mas os chineses não mudam porque assim há 
produtos baratos em dólar para todos. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – O governo diz que sua política econômica 
reforça o mercado interno.</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Todos os dados empíricos mostram que continua a 
haver concentração da renda nacional nas mãos de uma minoria. O que houve no 
governo Lula, com a política de aumento real do salário mínimo e do 
Bolsa-Família, foi uma distribuição mais equânime da renda entre os 
assalariados. Mas a economia nacional não se mede apenas entre os 
assalariados.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – O Bolsa-Família tirou militantes do 
MST?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Não. Os 10 milhões beneficiados pelo 
Bolsa-Família são gente que está lá embaixo na pirâmide, que não tem consciência 
nem capacidade de mobilização. São os párias da sociedade. O Bolsa- Família é um 
programa humanitário. Salva vidas, mas não distribui renda. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – Qual é sua avaliação do governo 
Lula?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Em sua composição atual, o governo Lula está 
ainda mais à direita que no primeiro mandato. O governo fez uma opção unicamente 
por uma maioria parlamentar e se aliou com gente que inclusive era contra ele. É 
ridículo ver o Michel Temer (presidente nacional do PMDB) apoiando o Lula, 
quando todo mundo sabe que ele fez campanha para o Geraldo Alckmin. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – O MST não passa por uma crise de 
identidade por não saber se faz oposição ou se apóia o governo Lula?</STRONG> 
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Nossa atitude em relação ao governo sempre foi 
de autonomia. Nos jornais, ora somos acusados de arrefecer por causa do Lula, 
ora de nunca termos feito tantas invasões, de nunca ter desrespeitado tanto a 
lei. Continuamos fazendo ocupações de terra. O governo é que está em crise 
porque ficou parado. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>ÉPOCA – Por que o MST é contra a parceria com os 
Estados Unidos para desenvolver um mercado mundial de álcool 
combustível?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stedile – Esse programa do etanol só interessa ao grande 
capital internacional. Se os EUA têm problemas para abastecer seus carros, é 
problema deles. Temos de resolver os problemas do Brasil: distribuição de renda 
e emprego. Defendemos outra forma de produzir o álcool, de uma maneira mais 
equilibrada e sustentável para o meio ambiente. 
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080 size=3>Correspondencia de Prensa, difundido por 
la red solidaria de información. Los artículos firmados no comprometen la 
opinión editorial del boletín.&nbsp; Redacción (Ernesto Herrera). Suscripciones: 
</FONT></EM></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT 
color=#000080 size=3>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A> 
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>