<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN">
<HTML><HEAD>
<META http-equiv=Content-Type content="text/html; charset=iso-8859-1">
<META content="MSHTML 6.00.2900.2523" name=GENERATOR>
<STYLE></STYLE>
</HEAD>
<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT size=5><U>boletín informativo - red 
solidaria</U></FONT><BR><FONT color=#800000 size=6><EM>Correspondencia de 
Prensa</EM></FONT><BR>Año IV - 6 de julio 2007<BR>Redacción y suscripciones: 
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Cecilia 
Coimbra</STRONG></FONT><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>&nbsp;(Grupo 
Tortura Nunca Mais)</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT 
size=3></FONT></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Favelas do Rio 
de Janeiro estão virando campos de concentração</FONT> <BR><BR>Luciana 
Candido</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Portal do 
PSTU</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><A 
href="http://www.pstu.org.br/"><STRONG>http://www.pstu.org.br/</STRONG></A><BR><BR><BR>Na 
última quarta-feira, um massacre cometido pela Força de Segurança Nacional e 
pela Polícia Militar em nome do “combate ao tráfico” chocou o país e aterrorizou 
a população de uma das regiões mais pobres do Brasil: o complexo de favelas do 
Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.<BR><BR>Os grandes meios de comunicação de 
massas apresentaram a violência policial como uma medida necessária. Entretanto, 
até o momento, o centro de controle do tráfico não foi desmontado. Os moradores 
denunciam: a polícia invade as casas, rouba e mata inocentes.Entidades de 
direitos humanos e de movimentos sociais se uniram e lançaram uma nota pública. 
Desde a semana passada, têm tentado em vão ser recebidas pelo secretário de 
Segurança Pública, José Mariano Beltrame. O Portal do PSTU ouviu Cecília 
Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca mais do Rio de Janeiro. Cecília é 
psicóloga e professora da Universidade Federal Fluminense. O Grupo está 
envolvido na apuração e na denúncia do massacre no Alemão, indo ao local e 
ouvindo os principais envolvidos: os moradores. Cecília criticou a forma como 
foi veiculado o caso na grande mídia e contou alguns relatos de crimes cometidos 
pelos policiais, feitos por moradores do Alemão ao Tortura Nunca Mais. Leia, 
abaixo, a entrevista concedida por telefone no último sábado, 30 de 
junho.<BR><BR><STRONG>O que aconteceu no Alemão, na quarta-feira, chocou o país 
inteiro e teve repercussão internacional. O secretário de segurança disse que 
quem não era bandido virou, porque resolveu enfrentar a polícia. E o que a gente 
vê são fotos até de crianças.</STRONG></FONT></DIV><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Tem crianças sendo degoladas, inclusive, diante 
das mães. Nós tivemos um caso de um menino de 13 anos e existem outros casos que 
os moradores informaram ontem [29/7/2007]. Os moradores estão com muito medo, 
porque eles ficam no meio do tráfico e da polícia. A polícia está muito mais 
violenta do que o tráfico, com invasões de domicílio, com essa coisa de degolar, 
inclusive de enfiar facão e degolar crianças.<BR><BR><STRONG>Houve relatos de 
roubos também. Isso está mesmo acontecendo?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Invasão de domicílio e roubos. Isso aí sempre 
aconteceu em toda e qualquer invasão de favela. É o cara que bota o pé na porta 
e invade a sua casa como se fosse casa de ninguém. É uma coisa que a gente diz: 
será que a guarda nacional vai para a zona sul, para as áreas nobres do Rio de 
Janeiro? O “caveirão”, que vive andando aqui nas favelas do Rio, será que ele 
percorre as ruas da zona sul do Rio de Janeiro, os bairros de elite? São 
perguntas que a gente tem de fazer. A gente não pode naturalizar isso. E a 
grande massa da população brasileira, porque está tendo as suas cabeças feitas 
pelos grandes meios de comunicação de massa, acham sim que bandido tem de ser 
morto, que, se é bandido, até merece ser torturado e morto. É essa “política de 
tolerância zero” que está em vigência aqui.<BR><BR>É terrível. Nós somos 
minoria, porque a gente não tem acesso aos grandes meios de comunicação de massa 
e a gente é desqualificada – os movimentos de direitos humanos – como “aqueles 
que defendem bandidos”. Temos de pensar por que isso é dito. Quando a gente acha 
que direitos humanos também devem ser estendidos aos pobres, a todos aqueles que 
nunca foram considerados como humanos, a gente passa a ser “defensora de 
bandido”.<BR><BR><STRONG>O governo anunciou que vai voltar ao Alemão e que vão 
ter outras seis operações iguais – Cidade de Deus, Mangueira, 
Maré...</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Isso foi denunciado ontem. A companheira nossa, 
que está acompanhando, junto com o Justiça Global e outras entidades, essa 
invasão do Complexo do Alemão, colocou, inclusive, que tem um plano nacional de 
segurança pública, que vem dentro da “política de tolerância zero”, de cercar as 
ditas zonas perigosas, cercar as favelas.<BR><BR><STRONG>Você acha que o “PAC da 
Segurança” do governo Lula, que prevê mais de R$ 400 milhões só para o Rio de 
Janeiro, tem a ver com aumento de repressão?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Sem dúvida que é aumento de repressão. O Globo 
de hoje diz o seguinte: “Força Nacional permanecerá no Rio, no segundo semestre, 
para cercar favelas”. Olha como se produz um território perigoso, onde mora a 
pobreza, como se toda a pobreza fosse bandida. E até é de se pensar que bandidos 
são esses que estão lá. Que “pé-de-chinelo” é este que está lá? É a mesma coisa 
que havia na África do Sul, no regime racista do Apartheid, de campos de 
concentração. As comunidades ditas perigosas começam a ser cercadas. É isso que 
está se passando.<BR><BR><STRONG>Os jogos Pan-Americanos acirraram esta 
situação?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Justamente. Não é por acaso o que está 
acontecendo no Rio hoje. O Pan está aí, semana que vem está acontecendo. É a 
limpeza das ruas, é essa coisa do “higienismo do século XX”, que hoje se maquia. 
Está com outra cara, dentro da “política de tolerância zero”. “Vamos limpara as 
ruas! Vamos tirar a sujeira que está nas ruas!” Não é através de políticas que 
possam tirar estas pessoas da situação miserável em que estão: é pela pura 
repressão. E aí todo mundo apóia. A “política de tolerância zero” dos estados 
Unidos coloca isso muito claramente: em nome da qualidade de vida de alguns, 
muitos precisam ser reprimidos. Em nome da qualidade de vida das elites, a 
pobreza tem de ser exterminada. Não tem emprego para todo mundo. O dito Estado 
de bem-estar social cada vez se minimiza mais, e se fortalece o Estado penal. É 
o Estado penal que está vigendo aqui, o Estado penal repressivo e 
punitivo.<BR><BR><STRONG>Como está, neste momento, a situação no Rio? Como está 
reagindo a população, inclusive quem não está no morro?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – De um modo geral, a população que está sendo 
informada só pelos meios de comunicação de massa está achando que é isso mesmo. 
Cria-se um clima de terror e de medo muito grande. Cria-se uma paranóia 
coletiva, e as pessoas acham que para a sua segurança tem de matar o outro 
mesmo, tem de cercar estes lugares perigosos mesmo, tem de transformar isso em 
campos de concentração. É o problema da sua segurança: a classe média está 
apavorada. Não é que a violência não exista, a violência está aí. Agora, ela é 
apresentada de uma forma que cria pânico, cria terror, e esse medo é uma forma 
de controle social. Quanto mais tutela do Estado a gente pede, mais repressão a 
gente pede, mais a gente está podendo ser atingido por essa repressão do Estado. 
Não tenhamos dúvidas disso.<BR><BR>Eu ontem estive conversando com uma 
psicóloga, ex-aluna minha, que trabalha no Centro de Saúde do Morro do Alemão. 
Fora os depoimentos que a gente tem tido dos companheiros das entidades e da 
nossa companheira que estão indo lá. Os moradores dessa região estão apavorados. 
A população está com muito medo. Realmente, o terror dessas pessoas não aparece 
nos grandes meios de comunicação de massas. As barbáries que a Força Nacional e 
que a Polícia Militar estão fazendo no Complexo do Alemão não estão sendo 
mostradas. Mostram os arsenais de armas que foram apreendidos para justificar a 
matança. <BR><BR>É muito sério, porque hoje a gente tem um outro dispositivo 
importante que controla e domina as mentes das pessoas, que são os meios de 
comunicação de massa hegemônicos. O que eles dizem passa a ser verdade. Ontem, 
por exemplo, a manchete do Globo transformava um cara que é um PM num herói, 
aparece fumando charuto. Esse cara, inclusive, segundo um depoimento de um 
morador de Acari, que esteve ontem no nosso evento, é uma pessoa conhecida das 
comunidades. Esse cara vira herói, fez o trabalho que tinha de ser feito. E 
sempre com a justificativa de estar indo contra os traficantes. Eu me lembro 
que, há alguns anos, a Marilena Chauí colocava uma coisa muito interessante que 
é: antes eram os terroristas, hoje são os traficantes. Isso justifica a 
repressão, e a população engole. Isso que é o pior: a população acha que isso é 
natural mesmo e se produz um individualismo cada vez maior, que é uma das pragas 
do capitalismo. “Eu cuido de mim e que se dane quem está do meu lado. Se ele é 
bandido, merece morrer mesmo, porque está pondo em risco a minha vida e a vida 
da minha família.” Entende? É este o pensamento hegemônico, 
infelizmente.<BR><BR><STRONG>Até o momento, se tem notícias de que o centro de 
controle do tráfico tenha sido atingido ou fragilizado?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Que eu saiba não. Eles apreenderam armas, 
mostraram armas na televisão, etc. e tal, fazem aquelas grandes mise en scénes, 
que são formas de justificar, mas a gente nem sabe se aquelas armas foram 
encontradas lá. Não se sabe.<BR><BR><STRONG>Há alguma atividade prevista do 
movimento com relação ao massacre do Alemão?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Cecília – Hoje o pessoal está indo lá dentro do Complexo 
do Alemão. Várias entidades de direitos humanos vão entrar e tentar conversar 
com os moradores, fazer contato com os movimentos – há movimentos interessantes 
dentro do Complexo do Alemão. Na terça-feira, está programada uma manifestação 
para ver se o secretário de Segurança Pública recebe as entidades. Ontem e 
anteontem se fez manifestações na frente da Secretaria de Segurança Pública, mas 
o secretário só queria receber três entidades quando havia mais de vinte 
entidades presentes. Aí, ninguém aceitou isso.<BR><BR>Na terça-feira, já tem 
programada uma ida à Secretaria de Segurança Pública. A gente soltou uma nota 
conjunta com várias outras entidades sobre essa situação. Estamos lá [no 
Alemão], tentando ter o apoio dos moradores do local, estamos mais próximos a 
eles. É o que a gente tem programado. 
<HR>
<STRONG><EM><FONT color=#000080 size=3>Correspondencia de Prensa, difundido por 
la red solidaria de información. Los artículos firmados no comprometen la 
opinión editorial del boletín. Redacción (Ernesto Herrera). Suscripciones: 
</FONT></EM></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT 
color=#000080 size=3>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A> 
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>