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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U><FONT size=5>boletín informativo - red
solidaria</FONT></U><BR><FONT color=#800000 size=6><EM>Correspondencia de
Prensa</EM></FONT><BR>Año V - 9 de octubre 2007<BR>Redacción y suscripciones:
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=3><STRONG>Brasil</STRONG></FONT></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista especial com Leda Paulani
</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Lula: "Um governo muito amigo do
capital produtivo e financeiro"</STRONG></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV><FONT face=Arial size=2><STRONG>IHU On-Line</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><BR>O crescimento econômico do Brasil, embora pequeno, é
conseqüência do crescimento mundial, e não mérito do governo. A opinião é da
economista Leda Paulani, expressada em entrevista à IHU On-Line, por telefone.
</FONT></DIV><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR>Ao analisar a política econômica atual, a pesquisadora
afirma que o PAC nada mais é do que marketing político, que não garantirá um
crescimento sustentável. Sobre o modelo de crescimento econômico, que não
demonstra preocupações com o meio ambiente tampouco com os trabalhadores, ela
diz que ele é contraditório e trará dificuldades para os próximos governos.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani é doutora em Teoria Econômica pelo Instituto
de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (USP). Atualmente, ela é
docente da mesma universidade e presidente da Sociedade Brasileira de Economia
Política. </DIV>
<DIV align=justify><BR> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>IHU On-Line – O Brasil tem conseguido recuperar a
trajetória de crescimento que teve entre 1930 e 1980? O Lula tem conseguido
melhorar a economia do País?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Com relação à trajetória de crescimento,
isso depende muito do que está acontecendo com a economia mundial. A economia
brasileira não é uma das maiores do mundo, mas, de qualquer maneira, não é tão
pequena que não seja influenciada pelas questões que estão acontecendo no
contexto mundial. Então, esse tipo de análise fica mais correto quando a gente
compara a performance de uma determinada economia com o que está acontecendo no
resto do mundo. O professor Reinaldo Gonçalves, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), tem trabalhado nessa direção. Eu diria que a tendência dada
ao crescimento explosivo da economia mundial é de que cresçamos mais do que já
crescemos até agora. Mas isso não quer dizer que nós tenhamos retomado o
processo de crescimento. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line – Por que não?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Em primeiro lugar, estamos crescendo
porque o mundo inteiro está crescendo: é uma conseqüência do que está
acontecendo na economia mundial. Assim, não se trata de algo que foi
deliberadamente pensado e planejado pela nação brasileira. No nosso caso,
particularmente, temos uma economia beneficiada, porque nós exportamos os bens
que hoje estão com os preços em alta. E isso nos beneficiou do ponto de vista do
equilíbrio externo. É muito complicado dizer até que ponto o governo Lula está
efetivamente melhorando a economia do País, em termos absolutos. O que é
necessário considerar, é que o Governo Lula foi muito sortudo se comparado com o
governo Fernando Henrique Cardoso. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Não estou defendendo o Fernando Henrique, mas a questão é
que esse período de 1995 até 2002 foi bastante conturbado na economia mundial.
Na época, ocorreram cinco ou seis crises financeiras cavalares, e a economia
norte-mericana também passou por várias crises na bolsa de valores. O Brasil
sofreu todos os reveses desse cenário conturbado da economia mundial, que
começou a serenar e ficar mais tranqüila, retomando um crescimento forte que não
tinha há 30 anos, justamente a partir de 2002. Quer dizer, o Fernando Henrique
governou num período bastante crítico. E o Lula, ao contrário, passou a governar
não só num período de “céu de brigadeiro”, em que não havia nenhuma nuvem no
horizonte, mas num período de cinco anos, em que a economia mundial estava muito
serena e crescente, impulsionada pela China e pela própria economia
norte-americana. Então, isso criou um cenário favorável a uma economia como a
brasileira. As complicações só começaram nos últimos meses com a ameaça do setor
imobiliário dos Estados Unidos. Assim, quando se pensa em tudo que o Lula fez ou
deixou de fazer, é necessário levar em consideração esse contexto no qual a
economia brasileira está se movendo.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line - A proposta do PAC é suficiente para
o crescimento econômico? Em que medida o programa ajudará no desenvolvimento do
País?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – O PAC é muito mais um marketing político
do governo do que um programa para auxiliar no crescimento. Afirmo isso porque,
em primeiro lugar, todas essas ações que estão dentro do PAC já existiam antes,
só não estavam reunidas sob o mesmo nome. Em segundo lugar, nas áreas de
infra-estrutura, os recursos são muito pequenos comparativamente ao que deveria
existir. Então, não dá para comparar o PAC com o Plano de Metas, de Juscelino ,
por exemplo, pois o programa está muito longe de ter uma dimensão como esta.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Eu até escrevi um artigo sobre essa discussão, avaliando
a declaração da Ministra Dilma Rousseff, que disse que o programa injetava
dinheiro público direto na veia. Ela quis dizer que era uma injeção de demanda
agregada na economia e que isso iria puxar o crescimento. Só que isso está
errado, porque não importa se o dinheiro é público ou privado. Ele sempre terá o
mesmo efeito. O que faz a diferença, nesse caso, é que é uma demanda direta na
veia. O fato do governo se dispor a gastar vários bilhões em infra-estrutura
significa um aumento direto de demanda no sistema econômico como um todo. Mas
não dá para dizer que o PAC vai garantir as condições para o crescimento
sustentável posterior. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line – Como a senhora avalia a obsessão
pelo crescimento econômico, que ultrapassa as questões ecológicas e
sociais?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Esse é um dos grandes nós do problema, mas
não é apenas no Brasil que isso ocorre. Essa é uma discussão mundial. De fato,
um dos entraves maiores do crescimento é a questão dos recursos naturais. Por
isso, o termo do desenvolvimento sustentável, hoje, tem tanto sentido. Mas o que
existe é um modelo contraditório, porque, de um lado, é necessário fazer a
economia crescer, porque sem o crescimento não tem como recuperar empregos. Mas,
de outro lado, há uma limitação dada pela questão ecológica. Então, todo esse
crescimento tem que ser feito com muito cuidado. Por isso, essa não é uma
questão fácil para nenhum governo. Eu tenho a impressão que esse tipo de
discussão vai ganhar uma importância cada vez maior. Assim, os próximos governos
vão enfrentar esse dilema de um modo ainda mais marcado, do que o governo Lula.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>No que diz respeito ao consumo e à energia brasileira, eu
diria que o País ainda é privilegiado, pois nós temos o combustível mais barato
para produzir energia, que é a água. Agora, para que esse diferencial que nós
temos em relação a outros países se transforme numa possibilidade de crescimento
mais saudável, sem problemas ecológicos, precisaria recuperar algumas funções do
Estado. O discurso neoliberal acabou esterilizando um papel fundamental que o
Estado tem, e que nessas circunstâncias se tornam ainda mais importantes. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Hoje em dia, sabemos que boa parte das empresas se livram
dos direitos trabalhistas contratando os próprios empregados como pessoas
jurídicas. Então, todo mundo vira empregado de si mesmo. De modo que a própria
importância de uma atividade como a de fiscalização do Ministério do Trabalho,
vai se reduzindo e aí se abre espaço para todos os tipos de exploração selvagem
do trabalho. Como exemplos, temos os porões de bolivianos em São Paulo, nas
oficinas de jeans, e no interior, as carvoarias, por exemplo. Criou-se um
contexto em que, ao invés de se valorizar o papel do Estado e a importância dos
direitos do trabalho, se desvalorizou isso tudo. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line - O que a senhora pensa da proposta
de desenvolvimento do ministro Roberto Mangabeira Unger , que afirma que o País
precisa incentivar os empreendimentos da classe média e pesquisas universitárias
ao invés de continuar investindo na política industrial?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Uma coisa não exclui a outra. Para mim,
essa idéia é simpática. É possível tirar o foco do grande capital, porque ele
tem todas as condições de se manter, transferindo, então, o foco para os
negócios de médio e pequeno porte. Mas com isso não estará se deixando de fazer
política industrial, porque é possível, mesmo com o foco nesse capital médio e
pequeno, privilegiar alguns setores em detrimento de outros e fazer política
industrial, também com esse capital.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line – Com o avanço da plantação de
eucaliptos, a monocultura de alguns commodities poderá se tornar um problema
para o País, gerando aumento no preço dos alimentos, por exemplo? Como a senhora
percebe esse processo?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Se analisarmos a história da economia
brasileira, perceberemos que essa situação pode ser classificada como “um andar
para trás”, pois nós já vivemos de monocultura por 400 anos. Foram mudando as
culturas, mas nessa era da monocultura, começamos com o açúcar e acabamos com o
café. É sempre muito arriscado apostar todas as fichas numa única coisa. Uma
economia do tamanho da nossa, com um território enorme e com os recursos
naturais que tem, ao optar por esse caminho, direciona o País para ser
vulnerável a qualquer crise. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Até os anos 1930 do século XX, a economia brasileira
viveu ao sabor do que acontecia externamente, justamente, porque era uma
economia baseada na monocultura, com uma indústria muito frágil. Depois, entre
1930 a 1980, diversificou-se o setor agrícola e construiu-se o setor industrial.
O Brasil é um dos poucos países da América Latina que construiu toda a matriz
industrial (do carro, do aço, da energia elétrica, do petroquímico, da borracha,
da telefonia). E, com isso, o País ganhou autonomia e espaço de execução de
políticas. No entanto, hoje temos elementos que caracterizam a volta do País
para a agricultura, pois a taxa de câmbio está super valorizada, inviabilizando
alguns setores de crescer. Então, o Brasil foi caminhando no sentido contrário,
no sentido da não diversificação, tanto no que diz respeito ao mercado interno
quanto ao externo. Isso é muito perigoso do ponto de vista do equilíbrio
externo, e pode gerar conseqüências, não só como a elevação dos preços dos
alimentos, como o avanço da doença holandesa , que vai atingir o País em
cheio.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line – Antônio Ermírio de Moraes, do grupo
Votorantim, declarou na última semana que “não há o que reclamar”. Com essa
frase, é possível constatar que nunca um governo ajudou e apoiou tantos os
empresários como o atual?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Não sei se essa afirmação cabe a todos os
empresários. Mas eu diria que o governo Lula não comprou nenhuma briga com o
grande capital. Em todas as discussões, ele acabou ficando do lado deles, e fez
uma política econômica que claramente beneficiou os interesses do sistema
financeiro. Então, realmente, a despeito do Bolsa Família, foi um governo muito
amigo do capital produtivo e financeiro. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line – Na década de 1960, Guy Debord
dizia que vivíamos numa sociedade do espetáculo. Assim, percebe-se que a
mercadoria ocupou o centro da vida social. Será possível mudar esse
ciclo?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Eu diria que a mercadoria nunca foi tanto
o centro da vida social como é hoje. Guy Debord teve uma premonição, pois
ninguém deslumbrava, desde longe, que os rumos de capitalismo, até então
controlado e interferido pelo Estado, tomaria as direções atuais. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Se analisarmos a história do capitalismo em diferentes
espaços do planeta, isso é uma coisa que oscila. Em alguns momentos o Estado
está muito mais presente, planejando ou interferindo, e em outros momentos ele
está mais ausente. Agora, o capitalismo é uma economia de mercado. Assim, o
mercado é a grande estância reguladora da produção material. Com mais ou menos
intervenção do Estado, o mercado é a instância mais importante. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Guy Debord é muito pessimista. Até onde eu consigo
entender, ele não vislumbra muito espaço para uma reversão. Então, trabalhos
como o dele nos servem mais como um alerta do que como uma agenda de soluções.
</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>IHU On-Line – Qual seria o projeto de
desenvolvimento ideal para o crescimento econômico do País, mas que ao mesmo
tempo garantisse uma distribuição de renda equilibrada entre os
trabalhadores?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Leda Paulani – Dada a situação tal como ela está agora,
com essa desigualdade de renda e de riqueza, já que a desigualdade de riqueza é
maior que a de renda, qualquer modelo que se faça não será ideal, ou estará
muito longe do ideal, porque esse não é um quadro que se reverte rapidamente. O
que podemos fazer é, havendo espaço e vontade política, tomar providências para
que o desenvolvimento não só aconteça, mas aconteça de um modo a reduzir essas
desigualdades ao invés de aprofundá-las. Na época do governo militar, por
exemplo, em que se teve um crescimento enorme, o chamado 'milagre brasileiro',
não houve nenhuma preocupação com a questão distributiva. Então, acabou se
criando uma concentração de crescimento, mas isso não significou uma redução da
desigualdade, pelo contrário. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Não existem receitas prontas. Mas não é com uma política
como a que fez o governo Lula que vamos conseguir mudanças. É só comparar o que
se gasta com o Bolsa Família e com o pagamento de juros. Um número é dez maior
que o outro. Quer dizer, com um número se beneficiam 11 milhões de famílias, 45
milhões de pessoas, e com um outro número, se beneficia um conjunto da população
que está muito longe de 44 milhões. Um estudo do Marcio Pochmann , presidente do
Ipea, mostra que 80% da dívida pública brasileira está na mão de 20 mil pessoas.
Eu tenho certeza que esse tipo de política que o governo Lula faz é uma política
que concentra cavalarmente a renda, além de contribuir para que a riqueza
continue concentrada. Se ainda não se sabe o que fazer, se sabe o que não fazer,
mas o governo ignorou qualquer mudança. Há algumas coisas básicas que qualquer
estudante de economia do segundo ano sabe, e que poderiam ter sido evitadas no
governo, e não foram. </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT color=#000080 size=4><EM>Correspondencia de
Prensa - boletín informativo - red solidaria<BR>Ernesto Herrera (editor):
</EM></FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
color=#000080 size=4><EM>germain5@chasque.net</EM></FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV></FONT></BODY></HTML>