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<HR>
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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT size=5><U>boletín informativo - red 
solidaria</U></FONT><BR><FONT color=#800000 size=6><EM>Correspondencia de 
Prensa</EM></FONT><BR>Año V - 10 de diciembre 2007<BR>Redacción y suscripciones: 
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>10 de Dezembro: Presente e Futuro 
das Lutas pelos Direitos Humanos</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Elídio Alexandre Borges Marques 
*</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><FONT face="Times New Roman"><FONT 
face=Arial><STRONG></STRONG></FONT></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Meu ponto de partida é o de que as e os protagonistas da luta 
pelos Direitos Humanos no Brasil são as dezenas de milhares de mulheres e homens 
inseridos nos movimentos sociais que tem persistido na resistência e perseverado 
na busca da realização de suas reivindicações históricas; na lutas pela saúde, 
pela educação, pela terra, pelos direitos reprodutivos e sexuais, pela moradia, 
a liberdade e os mais elementares direitos civis. Os que trazemos o compromisso 
da transformação do mundo e que trabalhamos a partir das universidades, dos 
escritórios de advocacia ou da institucionalidade temos, como mínimo, a 
obrigação de contribuir com esforço de seriedade e muito mais a aprender do que 
lições a dar neste debate.<BR>&nbsp;<BR>Neste breve texto, não posso mais do que 
chamar atenção para alguns aspectos que gostaria de ver mais frequentemente 
apreciados pelos que se dedicam ao tema dos Direitos Humanos.<BR>&nbsp;<BR>O 1º 
aspecto que gostaria de ver reforçado é o que diz respeito ao significado, à 
identificação do que são, afinal, os Direitos Humanos. Para os que se colocam 
deste lado, parece-me indispensável tratá-los sim como positivações, como 
cristalizações amplamente reconhecidas, mas originadas em processos bastante 
concretos, de lutas historicamente situadas – e não como meros ideais propostos 
por operadores políticos inspirados e supostamente 
generosos.<BR>&nbsp;<BR>Parece indispensável fazer uma nota prévia acerca da 
compreensão das relações entre os direitos – e as lutas por sua positivação e 
efetivação – e um processo histórico, marcado pelas contradições de caráter 
classista. Aqui vou pedir licença para citar um autor que diz coisas 
interessantes neste terreno,&nbsp; Antoine Artous, que afirma:<BR>&nbsp;“A luta 
de classes não é uma entidade misteriosa que existiria por trás deste conflito: 
ela existe através deste conflito. Claro, não é o Direito que, em última 
análise, regula este conflito, são as relações de força sociais. No entanto, a 
dimensão jurídica do conflito não desaparece pois este deságua em uma nova 
reformulação de seus direitos (...). A luta pelo direito (pelos direitos) é uma 
dimensão constitutiva das lutas de classes.”<BR>&nbsp;<BR>É preciso sublinhar 
então que os direitos são produtos de contradições históricas concretas e em 
seguida integrados ao quadro no qual se dão estas contradições.<BR>&nbsp;<BR>É 
importante lembrar que os direitos consagrados na Declaração de 1948 o foram em 
um quadro histórico marcado:<BR>&nbsp;<BR>- como é amplamente conhecido, pela 
derrota do nazi-fascismo; o que se esquece comumente é de lembrar o 
Nazi-fascismo como manifestação do capitalismo; como barbárie racionalmente 
planejada por interesses da classe dominante; portanto, este marco da emergência 
dos Direitos Humanos se dá num momento de derrota de uma violentíssima 
experiência burguesa; <BR>&nbsp;<BR>- e ainda no marco do fortalecimento dos 
movimentos de trabalhadores e das alternativas pós-capitalistas. <BR>&nbsp;<BR>A 
Declaração Universal não é, portanto, filha e muito menos invenção capitalista, 
mas resultado da derrota de suas expressões mais exacerbadas. Uma vitória da 
humanidade que se fez a partir das fragilidades provadas do sistema 
dominante.<BR>&nbsp;<BR>Há um 2º aspecto que eu gostaria de ver melhor refletido 
por todos nós e é do significado das violações dos Direitos Humanos. Nunca 
deixaram de estar gravemente presentes na realidade mesmo dos Estados 
formalmente mais comprometidos com estes Direitos. A bomba atômica, lançada 
depois já que o desenho da ordem internacional do pós-guerra estava esboçado, é 
o cartão de visitas que apresentou a maior potência mundial do período: uma 
bomba para civis, massiva, de efeitos cruéis e a longuíssimo prazo. A disputa 
Leste/Oeste foi pano de fundo de inúmeras e violentas intervenções pontuais ou 
de grande porte geradoras das maiores violações. A prática, portanto, nunca 
deixou dúvidas sobre a sinceridade e a profundidade do compromisso da grande 
maioria dos governos – fundamentalmente representações políticas das elites 
economicamente dominantes – com os Direitos Humanos. Pouco ou nenhum 
compromisso.<BR>&nbsp;<BR>Neste novo século, as violações perpetradas pelos 
Estados mais poderosos assumiram um novo patamar. Buscando o enquadramento de 
todas as formas indóceis de comportamento político; a segurança do capital e de 
sua reprodução e a exploração máxima das vantagens da colocação dos 
trabalhadores em concorrência em escala mundial; os países mais ricos produziram 
importantes ataques aos Direitos Humanos nos últimos anos. <BR>&nbsp;<BR>Estes 
ataques deram-se tanto pela produção de novas legislações nacionais 
inaceitavelmente restritivas das liberdades de todos os suspeitos de serem 
potencialmente “perigosos”, tendo aí na mira trabalhadores migrantes, minorias 
étnicas, nacionais, religiosas;<BR>&nbsp;<BR>Como se deram fora das fronteiras 
daqueles Estados, pelo estabelecimento de prisões internacionais; pelo seqüestro 
e reintrodução de práticas abjetas de tortura em supostos adversários políticos, 
pela violência inaudita que joga à morte ou em modernos campos de concentração 
milhares de migrantes em busca da sobrevivência. Sobrevivência negada pela 
história de pilhagem, de manipulação e exploração produzida pelos mesmos Estados 
que defendem suas fronteiras dos indesejáveis.<BR>&nbsp;<BR>O que eu gostaria de 
sublinhar é que trata-se de um equívoco – e um equívoco que tem conseqüências 
importantes – tratar o pavoroso conjunto de violações contemporâneas aos 
Direitos Humanos como correspondente a meros erros, falhas, deslizes, 
imperfeições, ou a suposto “atraso” do sistema. Este tratamento, simplesmente, 
não me parece correto.<BR>&nbsp;<BR>Vejamos. Relatórios de agências 
internacionais bastante confiáveis para o sistema, como o Banco Mundial, 
demonstram que uma adequada gestão dos fluxos migratórios – ou seja, o controle 
de onde está a mão-de-obra – reduz de maneira importante o salário médio dos 
trabalhadores empregados E, claro, aumenta a taxa média de lucro dos 
“investidores”. Do mesmo modo, também demonstram que a imensa maioria das 
pessoas economicamente ativas do mundo (sabendo-se que nada menos do que a 
metade da humanidade está abaixo da renda de dois dólares por dia) está 
inserida, mesmo que não formalmente, no mercado de trabalho (ou seja, só faz 
sentido falar em exclusão se for para falar de exclusão em relação ao acesso a 
direitos, porque para ser explorado ninguém está excluído; os muito pobres do 
mundo não são muito pobres porque não têm trabalho, são muito pobres porque são 
muito explorados e recebem salários muito baixos). E a desigualdade no plano 
mundial permaneceu aumentando a níveis estratosféricos nas últimas décadas. 
<BR>&nbsp;<BR>A violência destes Estados, seletiva, dirigida a certos setores, 
aparece assim como perfeitamente funcional, útil mesmo ao funcionamento do 
capitalismo contemporâneo. O trabalhador amedrontado não se organiza, não exige, 
submete-se a condições de trabalho degradantes e salários relativamente menores. 
Além disso, produz, pela concorrência de sua oferta, a redução do poder de 
barganha mesmo dos setores tradicionalmente mais organizados. <BR>&nbsp;<BR>Ao 
prender, executar ilegalmente, torturar, vilipendiar, manietar o espaço de 
liberdade de alguns dos trabalhadores (geralmente escolhidos entre os que 
supostamente têm maior potencial de desenvolverem comportamentos considerados 
“não-conformes” para o sistema) o Estado não está, portanto, simplesmente 
errando, cometendo um deslize, mas corroborando com um modelo de reprodução da 
ordem do capital; produzindo um efeito dissuasivo contra a organização e a 
capacidade reivindicatória das maiorias. <BR>&nbsp;<BR>As violações dos Direitos 
Humanos, tragédia para nós, são muito úteis para a manutenção deste 
modelo.<BR>&nbsp;<BR>E isto me leva a um ponto importante: Se é verdade que 
quase todos os responsáveis políticos nacionais e internacionais afirmam seu 
compromisso com os Direitos Humanos – sendo de lembrar e de nos causar escândalo 
que em alguns casos nem mesmo este compromisso “da boca pra fora” existe – é 
verdade também que aqueles que estão comprometidos com a reprodução desta ordem 
sócio-econômica só podem fazê-lo de forma hipócrita; cínica. Esta ordem é 
inevitavelmente produtora de violações, restrições, constrangimentos aos 
Direitos Humanos. <BR>&nbsp;<BR>Os Direitos Humanos – sucedâneos que são das 
promessas emancipatórias da modernidade – não podem avançar consistentemente sem 
o recuo desta ordem com a qual estabelece contradições insanáveis. 
<BR>&nbsp;<BR>O 3º aspecto que eu gostaria de frisar, portanto, diz respeito às 
relações entre a luta pela transformação do mundo e as lutas pelos Direitos 
Humanos. Aquilo que tradicionalmente chamaríamos de “lugar dos Direitos Humanos 
no programa, na estratégia socialista”.<BR>&nbsp;<BR>Neste tema penso que é 
necessário assumir alguns pontos de partida. O primeiro deles é abandonar 
qualquer instrumentalização oportunista dos Direitos Humanos, que não serão 
construídos se forem restringidos à condição de “escudo” dos que temporariamente 
estão “por baixo” na ordem social e que, portanto, poderiam ser abandonados 
prontamente em momentos de correlação de força mais favorável. Este 
instrumentalismo, mesmo que disfarçado, corrói até mesmo a eficiência destes 
como direitos de defesa. <BR>&nbsp;<BR>O segundo, ligado diretamente a este, é 
que não existem Direitos Humanos “burgueses” e “proletários”; mas, como disse 
antes, Direitos Humanos defendidos consequentemente ou apenas cinicamente. E 
consequentemente só podem ser pelos que se colocam pela superação da contradição 
entre capitalismo e Direitos Humanos pela afirmação destes e suplantação 
daquele.<BR>&nbsp;<BR>E para isso é preciso assumir que a necessária 
universalidade dos Direitos Humanos, para além das circunstâncias ocasionais e 
das correlações de força de cada momento, decorre da universal fragilidade 
humana diante da força bruta e dos diferentes tipos de dor; todos podemos estar 
na situação mais vulnerável, todos. Decorre, do mesmo modo, da universalidade da 
capacidade de errar, de tornar os outros vulneráveis e de violar suas esferas de 
dignidade e autonomia, mesmo tendo em mente as mais grandiosas intenções e os 
melhores planos para o futuro coletivo; a História o demonstrou 
tragicamente.<BR>&nbsp;<BR>Assim, os que se comprometem com as lutas pela 
mudança do mundo ou bem entendem os Direitos Humanos como uma parte essencial – 
e, portanto, não temporária, não descartável – deste caminho ou estarão apenas 
alimentando os rios do ressentimento e do ódio, primos torpes da consciência 
libertadora, e não poderão nunca fazer mais que outros mundos terríveis, outros 
totalitarismos, ao invés do que precisamos e merecemos.<BR>&nbsp;<BR>É 
importante dizer, por fim, que as lutas pelos Direitos Humanos não são apenas 
pelo respeito aos conteúdos mínimos dos direitos que já estão formalmente 
consagrados, mas pelo desenvolvimento dinâmico dos seus significados e pela 
consagração de novos direitos. <BR>&nbsp;<BR>Assim, neste alargamento de 
fronteiras, precisamos denunciar e construir mais fortemente o combate ao 
genocídio econômico, que é esse que está sendo produzido pelos grandes grupos 
transnacionais nos países mais pobres; o genocídio das patentes farmacêuticas 
quando há enormes contingentes populacionais adoecidos; o genocídio da 
oligopolização da produção de alimentos, de fornecimento de água, do 
conhecimento científico e biotecnológico; Ao contrário, a democratização do 
acesso ao conhecimento precisa ser um dos grandes direitos deste novo século. 
Isso só é possível com o controle público, coletivo, de todo o conhecimento que 
seja essencial a essa mesma vida pública, coletiva.<BR>&nbsp;<BR>Precisamos 
tirar o véu da inocência destas grandes corporações e de suas mentirosas 
responsabilidades social e ambiental e lembrar que pelo mundo sustentam governos 
violadores, grupos paramilitares assassinos, como na inominável violência 
perpetrada recentemente em nosso território pela multinacional Syngenta, 
mostrando que a modernização capitalista e a jagunçada continuam juntas e 
felizes no campo brasileiro.<BR>&nbsp;<BR>Precisamos afirmar que o direito a 
deixar um país também é um direito a ser acolhido em outro, especialmente se 
esse outro é a antiga metrópole formal ou a nova metrópole econômica. 
<BR>&nbsp;<BR>Precisamos consagrar de maneira inequívoca o direito à diferença, 
a liberdade de orientação sexual e os direitos reprodutivos como parte 
indispensável dos Direitos Humanos. Consagrar ainda o direito à Memória e à 
Verdade, abrir os porões do passado de violações, responsabilizar quem precisa 
ser responsabilizado, reparar as vítimas inclusive simbolicamente, virar a 
página deste passado insepulto de violações que se querem esquecidas por 
anistias ilegitimamente auto-concedidas. O Direito a Lembrar é parte 
incontornável da luta pelo futuro dos Direitos Humanos.<BR>&nbsp;<BR>E falando 
em lembrar gostaria de pedir vossa licença para fazer uma rápida evocação 
histórica: <BR>&nbsp;<BR>Sempre que se falar em Direitos Humanos nesta casa 
legislativa é preciso lembrar que aqui, em 46, se discutiu e aprovou uma 
Constituição democratizante, já com muitos dos Direitos que voltariam na Carta 
de 88 e que hoje gostaríamos de ver realizados. E que na linha de frente da 
batalha pela consagração daquelas liberdades, daqueles direitos, estiveram, 
entre outros, dezena e meia de constituintes comunistas. Entre outros, o Dep. 
Maurício Grabois e o 3º Secretário da Constituinte, Dep. Carlos Marighela. 
Ajudaram a inscrever os Direitos Humanos na História constitucional brasileira 
aqui dentro e por sua ausência morreram lá fora. Suas vidas e lutas a ditadura 
interrompeu, mas a capacidade de serviço prestada por combates como estes serão 
sempre audíveis enquanto houver Humanidade que mereça este nome.<BR>&nbsp;<BR>E 
através da lembrança deles volto início: é quem luta pela transformação do mundo 
que luta pelos Direitos Humanos e quem luta consequentemente pelos Direitos 
Humanos só pode estar lutando pela transformação do mundo. <BR>&nbsp;<BR>Os 
Direitos Humanos não são um ponto de partida, mas um caminho que já começou, que 
precisamos e podemos fortalecer e ao qual precisamos ainda chegar. Hoje, dia 10 
de Dezembro, portanto, não é o aniversário de uma Declaração do passado, mas o 
aniversário deste nosso futuro possível, em construção.<BR>&nbsp;<BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>* Nota de Correspondencia de Prensa:</STRONG> Elidio 
A. Borges Marques, es profesor de Derecho Público; fue redactor-fundador de la 
revista "Marxismo Revolucionario Atual". La ponencia que publicamos fue 
presentada en el <FONT face=Arial size=2><FONT face="Times New Roman"><FONT 
face=Arial>Seminário de la Asamblea Legislativa de Río de Janeiro por el Día 
Internacional de Lucha por los Derechos Humanos.</FONT></FONT></FONT></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><EM><FONT color=#000080 size=4>Correspondencia de 
Prensa - boletín informativo - red solidaria<BR>Ernesto Herrera (editor): 
</FONT></EM></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><EM><FONT 
color=#000080 size=4>germain5@chasque.net</FONT></EM></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV></FONT></BODY></HTML>