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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT color=#800000><EM><U><FONT 
size=5>correspondencia de prensa - boletín solidario</FONT></U></EM>&nbsp; 
<BR><FONT color=#ff0000 size=6>Agenda Radical</FONT><BR>Edición internacional 
del Colectivo Militante<BR><U>1º de abril 2008</U><BR>Redacción y 
suscripciones:</FONT> </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Ricardo 
Antunes</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Legalização do 
imposto sindical reforçará 'neopeleguismo' e 
'neoestatismo'</FONT></STRONG>&nbsp;&nbsp;&nbsp; <BR></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Valéria Nader<BR>Colaborou 
Gabriel Brito</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Correio da 
Cidadania</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><A 
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>A aprovação do projeto de lei 
1.990/07 pelo Câmara Federal no dia 11 de março, reconhecendo legalmente as 
centrais sindicais como entidades gerais de representação dos trabalhadores, foi 
tomada por setores progressistas e mais à esquerda como um avanço para os 
trabalhadores.&nbsp;Constituindo-se a legalização, obviamente, em um fator 
positivo, não pode ter aí encerrada, no entanto, a sua análise. Junto a ela, 
aprovou-se o recolhimento do imposto sindical, cujos efeitos nefastos para a 
estrutura sindical foram analisados pelo sociólogo Ricardo Antunes, professor da 
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), nessa primeira parte de sua 
entrevista concedida ao Correio.&nbsp; A legalização das centrais, como mais uma 
medida de cooptação social sorrateiramente tomada pelo governo, é também 
abordada por Antunes logo abaixo. Na segunda parte de sua entrevista, a ser 
brevemente veiculada por este Correio, retoma-se a análise desse tipo de 
cooptação a partir de uma avaliação mais estrutural do governo 
Lula.&nbsp;<BR>&nbsp;<BR><STRONG>&nbsp;Correio da Cidadania: A Câmara Federal 
aprovou no dia 11 de março o projeto de lei 1.990/07, que reconhece legalmente 
as centrais sindicais como entidades gerais de representação dos trabalhadores, 
o que foi considerado por alguns setores à esquerda como um avanço, na medida em 
que as centrais passariam a ter personalidade jurídica, assegurando a autonomia 
no direito de representar legalmente os trabalhadores. O que você pensa sobre 
isso? <BR></STRONG>&nbsp;<BR>Ricardo Antunes: Eu diria que o mais nefasto nem é 
isso, porque a legalização das centrais sindicais em si mesma é um fato 
positivo. As centrais não necessitam de legalização pra existir. A CUT existe 
desde 83, a Força Sindical desde 91, as demais centrais também há uns bons anos. 
De modo que a legalidade das centrais sindicais não é negativa. Em certo sentido 
é positiva, pois vamos imaginar uma situação política distinta desta, num 
governo ditatorial. A ilegalidade da central é sempre um pretexto para sua 
eliminação. <BR>&nbsp;<BR>Mas o problema maior não reside aí, mas sim no fato de 
que, com a legalização das centrais sindicais, foi aprovado também o 
recolhimento do imposto sindical. Aí a tragédia é completa. Porque, se não 
bastasse o caráter nefasto do imposto sindical - criado pelo getulismo no final 
da década de 30, para garantir que os sindicatos tivessem uma vitalidade 
econômica, independentemente do número de associados, de modo que sindicato, 
federação e confederação recebiam uma polpuda parcela dos trabalhadores -, 
agora, as centrais sindicais, especialmente a CUT, que desde o nascimento se 
dizia claramente contra o imposto sindical, passam a promover um avanço ainda 
maior no processo de atrelamento dos sindicatos ao Estado. <BR>&nbsp;<BR>Esse 
atrelamento já é evidente pela existência do FAT (Fundo de Amparo ao 
trabalhador), pela cooptação governamental, e agora pelo imposto sindical. As 
centrais ficam prisioneiras do Estado, numa espécie de fortalecimento do 
neopeleguismo da era lulista. Se durante o getulismo havia um neopeleguismo 
sindical, agora as centrais sindicais entraram em cheio, não foram contra. A 
única tendência ou central sindical que se manifestou claramente contra foi a 
Conlutas. Não vi se a Intersindical fez alguma coisa, mas, de qualquer forma, 
ela não atua como central sindical. <BR>&nbsp;<BR>O processo de cooptação dos 
sindicatos pelo Estado e, portanto, de estatização deu um passo muito maior e 
esse é, no meu entender, o aspecto mais nefasto. Se houvesse somente a 
legalização das centrais sindicais, digamos que não alteraria muita coisa, 
porque, como disse, as centrais têm vida legal no Brasil há muito tempo. Mesmo 
na ditadura militar, a CUT tinha vida legal, porque tinha uma força social 
importante que lhe dava legitimidade. <BR>&nbsp;<BR>É curioso que, na medida em 
que há uma relativa legitimidade junto às bases sociais do trabalho, 
intensifica-se o processo, pelas cúpulas, de uma espécie de neoestatatização do 
sindicato. <BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Essa legalização não vai reforçar também, 
em certa medida, o caráter cupulista do sindicalismo?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>RA: 
A legalização em si não. O projeto do governo de reforma sindical do final do 
primeiro governo, que, felizmente, não foi aprovado, tinha um claro sentido 
cupulista, na medida em que determinava que as centrais sindicais seriam quem, 
em última instância, definiriam os sindicatos e a possibilidade de sua 
participação. Quando houvesse mais de um sindicato numa dada base, seria a 
central quem faria, por delegação, a indicação do sindicato responsável, ou 
seja, a reforma esvaziava a dimensão de base dos sindicatos e fortalecia as 
cúpulas. <BR>&nbsp;<BR>Mas há um segundo elemento importante e verdadeiro. É 
claro que, no processo de legalização das centrais sindicais, o governo Lula as 
cooptou. Aliás, é muito curioso. Ele tem hoje na mão a CUT e a Força Sindical. A 
Força Sindical, que era oposição de centro-direita, com um perfil mais 
neoliberal no início do governo, hoje participa ativamente do Ministério do 
Trabalho. <BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Ou seja, estamos diante de mais uma medida 
de cooptação social sorrateiramente tomada por esse governo?</STRONG> 
<BR>&nbsp;<BR>RA: Claro. No entanto, não é a legalização que traz isso. O que 
traz isso, entre outras coisas, é o fortalecimento das entidades de cúpulas que 
o imposto sindical favorece, porque, agora, a CUT, a Força Sindical, a Nova 
Central Sindical de Trabalhadores (NCST), todas essas, não dependem mais de 
cotização em função de seus associados. Além das verbas do FAT e desses fundos 
todos com que o governo Lula tem presenteado as centrais sindicais, elas vão 
abocanhar por lei 10% do valor das contribuições sindicais. É muito dinheiro. 
Pelo imposto sindical, todos os assalariados, homens e mulheres que trabalham em 
empresas privadas, terão um dia por ano do seu salário descontado, sejam 
sindicalizados ou não. E 10% disso, que é muito dinheiro, vai para as centrais 
sindicais. <BR><STRONG>&nbsp;<BR>CC: Ampliou-se, portanto, a porção a ser 
abocanhada pelas centrais?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>RA: Sim, e isso fortalece a 
disjuntiva, a separação, entre a base e a cúpula, porque a cúpula terá dinheiro, 
e dinheiro estatal. Isso a empurra para ser mais dependente do Estado e a 
distancia daquilo que foi o mais legítimo e pujante da CUT em toda sua história, 
que foi, especialmente nos anos 80, ter sido uma central sindical com fortíssima 
representatividade na base trabalhadora brasileira, quer no operariado 
industrial, quer nos assalariados médios, quer nos trabalhadores públicos ou do 
campo. Havia um arraigamento muito forte da CUT junto à classe trabalhadora 
brasileira. Na medida em que se retrai esse arraigamento, ela avança no seu 
processo de verticalização, burocratização, institucionalização e estatização, 
ao passar a depender dos recursos do Estado. <BR>&nbsp;<BR>É claro também que, 
no governo Lula, há uma clara estratégia: fortalecer as centrais pela cúpula 
para tê-las sempre como massa de manobra, para poder ter as centrais lhe dando 
ancoragem. O trágico é que as duas centrais que no passado recente, nos anos 90, 
não atravessavam juntas a mesma rua, agora andam de mãos dadas. 
<BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Você acredita que a Conlutas e a Intersindical – 
centrais surgidas mais recentemente para supostamente retomarem a combatividade 
perdida da CUT - podem desempenhar algum papel efetivo no atual contexto 
histórico, semelhante ao que foi a CUT?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>RA: Certamente 
podem desempenhar um papel muito positivo, mas semelhante ao que foi a CUT é 
difícil. Porque a CUT nasceu num processo muito expressivo de lutas sociais no 
Brasil. Costumo dizer que a década de 80 foi a mais importante para as lutas 
sociais no Brasil desde a de 60. E, em certo sentido, com um patamar de lutas 
superior aos anos 60. Basta ver que nasceram o PT em 80, a CUT em 83, o MST em 
84, além de uma explosão grevista no país inteiro, com 4 greves gerais... Nós 
tivemos um patamar de greves que está entre os maiores do mundo nos anos 80, ou 
seja, foi uma década de ganho para as lutas sociais do trabalhador, urbano e 
rural, operário e assalariado médios. <BR>&nbsp;<BR>É claro que o nascimento das 
duas centrais, Conlutas e Intersindical, vinte e tantos anos depois, se dá num 
contexto de refluxo, de desorganização da esquerda brasileira, com o PT 
estraçalhado, convertendo-se cabalmente num partido da ordem. O partido acabou 
de decidir, no dia 24 de março, que, no limite, não estão fechadas as alianças, 
pasmem, com o PSDB e os democratas. Quer dizer, até nesse nível chegou o PT, 
indicativo do quanto a esquerda se esfacelou. E a CUT, como herdeira de uma 
parcela importante da esquerda sindicalizada, também se arrebentou - 
recentemente, o PC do B, que era uma tendência importante de esquerda que dava 
suporte à CUT, também saiu da central. <BR>&nbsp;<BR>Então, temos hoje o 
Conlutas, mais próximo ao PSTU e de setores do Psol, e de forças independentes 
de outros partidos ou grupamentos menores. Temos a Intersindical, também com 
setores ligados ao Psol, outros que saíram do PT e não têm vínculos partidários, 
e outros que deixaram a CUT e a própria Corrente Sindical Classista, que era 
ligada ao PC do B. <BR>&nbsp;<BR>No entanto, a situação é dúplice. Por um lado, 
é uma situação mais adversa, pois estamos começando a juntar os cacos da 
esquerda sindical para termos uma certa organicidade, para termos um patamar de 
organização capaz de avançar. Mas foi esse pólo representado pela Conlutas e 
pela Intersindical que fundamentalmente fez oposição ao governo Lula em todas as 
tentativas de reforma, ou melhor, contra-reforma: da previdência, da taxação dos 
aposentados, até a tentativa no final do primeiro mandato da reforma sindical. 
<BR>&nbsp;<BR>Oposição também reforçada pelo MST, que tem outra forma de embate. 
Faz suas ocupações, luta pela reforma agrária, luta contra a produção de 
transgênicos, contra as transnacionais, só que em uma posição política difícil, 
que é a tensa relação que possui hoje com o governo, já que não faz uma oposição 
frontal e nem uma adesão cabal. Eles reconhecem que o governo Lula é diferente 
do de Fernando Henrique, no que concerne à criminalização das lutas sociais. Mas 
tirando isso, no mais é tudo parecido. O volume de assentamentos não se alterou. 
A diferença é que o governo Lula não quer o MST como oposição, então faz uma 
política da torneira pingando. <BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Essa situação, quase 
esquizofrênica, acaba sendo muito desmobilizadora, não?</STRONG> 
<BR>&nbsp;<BR>RA: Claro, se o MST não faz tantas ocupações, pela ótica do 
governo, sai um pouco mais de água da torneira; se o MST avança, a tendência é 
de retração. Mas, evidentemente, como o governo Lula não quer o MST como franca 
oposição a ele, pois perderia uma importante base social, acaba fazendo algumas 
concessões que só deseja fazer ao agronegócio. <BR>&nbsp;<BR>A Conlutas e a 
Intersindical são, portanto, em um quadro desses, um pólo de resistência do 
sindicalismo de esquerda, e daí nascerá o embrião de uma tendência. Como a 
conjuntura é muito diferente, não terá o peso que a CUT teve, que nasceu quase 
como uma central única. Lembre que o próprio nome dela é Central Única dos 
Trabalhadores. Não nasceu como central única porque uma parte do peleguismo não 
entrou e os partidos comunistas tradicionais também não. Na época, o PCB e o PC 
do B criaram a Conclat (Congresso das Classes Trabalhadoras) e depois seguiram 
outros caminhos. <BR>&nbsp;<BR>Mas podemos dizer que a CUT nasceu como a central 
única de parte importante dos movimentos sociais, das lutas sociais e de vários 
setores da esquerda brasileira. <BR>&nbsp;<BR>A Conlutas e a Intersindical, 
nesse sentido, têm uma amplitude muito menor, mas são um importante pólo de 
resistência, e certamente com a capacidade de arregimentar sindicatos 
importantes. Basta dizer que a Conlutas tem um sindicato do porte do dos 
metalúrgicos de São José dos Campos, que é muito expressivo, combativo, e a 
Intersindical tem um do porte do dos metalúrgicos de Campinas. Digo com muita 
freqüência que são os dois sindicatos mais importantes que fazem a luta social e 
política no país, e o mais difícil: em oposição ao governo Lula. Porque esse 
governo é muito articulado, é um governo que fala para os pobres muito bem, mas 
garante mesmo é a boa vida dos ricos. E isso cria uma situação muito difícil, 
porque, em geral, os governos burgueses falam para os ricos, governam para os 
ricos e não dialogam com os pobres. <BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Você mencionou que 
a reforma sindical prevista não passou no primeiro mandato. Mas a coisa não está 
vindo agora aos poucos e de mansinho, para se chegar onde eles queriam?</STRONG> 
<BR>&nbsp;<BR>RA: Ah, sim. Por sorte, no arranjo do Lula com o PDT, o Ministério 
do Trabalho ficou com o Lupi, que é menos nefasto que o Marinho. Porque o Lupi é 
herdeiro de um partido, o PDT, que tem um laço com o velho getulismo. Para eles, 
detonar a CLT é detonar o que ficou do getulismo. O Marinho, por sua vez, já 
dizia, antes de ser substituído e trocar de ministério, que a reforma sindical e 
trabalhista viria através de pequenos pacotes. Como eles não conseguiram fazer 
uma reforma ampla num pacotão, o pacotinho está vindo aos poucos. 
<BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: E com relação à reforma trabalhista, você acha que 
ainda sai alguma proposta estruturada nesse governo ou também vai ser tocada de 
mansinho? Essas medidas na área sindical estariam pavimentando o terreno para 
mais pacotes na área trabalhista?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>RA: Como o governo Lula 
ainda tem bom tempo pela frente, tenho a impressão de que eles não conseguem 
avançar um pacote pesado da reforma sindical e trabalhista. Inclusive porque 
medidas dessa ordem tenderiam a rachar as centrais sindicais, além de abrir um 
debate no bloco de apoio do governo Lula que poderia rachar todos os setores. 
Por exemplo, nas classes dominantes, nas várias frações da burguesia, há quem 
seja a favor e contra a CLT, há quem seja a favor e contra a reforma sindical. 
Nas centrais sindicais também, lembre da unicidade sindical. 
<BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Está havendo ainda hoje alguma discussão sobre a 
unicidade? Como você a encara no atual contexto?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>RA: 
Naquela primeira tentativa de reforma sindical – que chamei na época de projeto 
Frankenstein, um ‘mix’ de bandeiras recauchutadas do novo sindicalismo, 
acrescido do velho peleguismo rejuvenescido, com um toque do sindicalismo social 
democrático europeu, na era neoliberal -, o governo Lula mantinha uma situação 
muito ambígua para a unicidade sindical. <BR>&nbsp;<BR>Não se eliminava a 
unicidade sindical, mas se abria brechas para sua quebra na base do sindicato, 
na medida em que se exigia percentual de filiação do sindicato para sua 
representatividade. Existia uma unicidade limitada dada pelos sindicatos que 
tivessem determinada representatividade em relação ao número de associados. O 
projeto não teve coragem nem de manter a unicidade plena, nem de efetivar a 
liberdade e a autonomia. <BR>&nbsp;<BR>Isso dividiu as centrais, porque, por 
exemplo, setores da Força Sindical foram contra, o PC do B dentro da CUT foi 
contra e setores da articulação e de outras centrais sindicais oscilavam entre 
posições favoráveis e contrárias. <BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Ou seja, nesse 
momento, e à luz de situações anteriores, o que mais interessa é ‘acalentar’ as 
bases, evitando-se qualquer racha.</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>RA: Exatamente, não há 
acordo entre as centrais e este é o calcanhar de Aquiles da estrutura sindical 
brasileira. Abraçar a convenção 87 da OIT, que permite a legalidade, a liberdade 
sindical, traria uma oposição muito grande em vários setores dentro da base de 
apoio do governo Lula. Acho, portanto, que ele vai fazer o que vem fazendo, 
fatiando a reforma trabalhista e sindical, como agora com a legalização das 
centrais, o seu direito ao imposto sindical, a regulamentação e restrição de 
greves do setor público, além de medidas para criar um terreno favorável a um 
terceiro mandato para o bloco formado pelo PT e seus aliados. <BR>&nbsp;<BR>Uma 
vez vitorioso, numa nova eleição, o novo governo terá condição de avançar uma 
reforma de maior amplitude. Nesse sentido, o governo Lula percebeu que lhe 
faltava base de apoio. E mexer nesse vespeiro foi muito difícil. Não passar a 
reforma sindical abriria um processo de fratura muito grande dentro dos setores 
e blocos que compõem a base de apoio do governo. Eu imagino, portanto, que a 
tendência é muito mais caminhar para medidas parciais que vão mudando a CLT, o 
que, aliás, foi feito pelo governo Fernando Henrique. Como o governo FH não 
conseguiu quebrar a CLT na medula, o que fez? Tomou uma série de medidas 
parciais que foram permitindo a terceirização, as cooperativas fraudulentas, 
mini-reformas que foram aos poucos adulterando pela margem alguns fundamentos da 
CLT. <BR>&nbsp;<BR>Eu imagino que o governo Lula caminhe mais nessa direção. Não 
tem força, nem tempo hábil e nem consenso entre os setores que lhe dão 
sustentação para entrar numa reforma sindical e trabalhista com a amplitude da 
que foi pensada no início. <BR>&nbsp;<BR><STRONG>CC: Como você pensaria, ainda 
que idealmente, o futuro da classe trabalhadora e do sindicalismo?</STRONG> 
<BR>&nbsp;<BR>RA: O desenho da classe trabalhadora brasileira mudou muito. Temos 
que compreender essa nova morfologia do trabalho. E como mudou muito até 5 anos 
atrás, 50% da classe trabalhadora brasileira já estava na informalidade. Quer 
dizer, quase 50 milhões de pessoas (com uma população economicamente ativa de 
pouco mais de 80 milhões na época) já viviam laços de informalidade. Aquela 
classe trabalhadora mais taylorizada e fordista, dos anos 60, 70, 80, 
especialmente do pós-ditadura, mudou muito. E nessa morfologia do trabalho, os 
sindicatos vivem alguns desafios. <BR>&nbsp;<BR>Por exemplo, a classe 
trabalhadora hoje é tanto composta por homens e mulheres estáveis quanto 
terceirizados, sem falar no imenso exército de desempregados. A classe 
trabalhadora hoje tem também um perfil geracional. Jovens no mundo industrial, 
com 35 anos, já são considerados velhos para o trabalho; contingências de gênero 
são também muito grandes, pois a feminização do mundo do trabalho foi muito 
ampliada, enquanto os sindicatos, por exemplo, permanecem muito machistas, muito 
prisioneiros do trabalho estável e muito verticalizados. O capital é muito mais 
horizontal nesse sentido, porque as empresas se esparramaram. Em vez de uma 
empresa com 20 mil trabalhadores, eles fazem várias unidades, com redes, 
terceiros, empresas que fornecem a outras, nessa competitividade transnacional 
intensa. <BR>&nbsp;<BR>Isso faz com que os sindicatos sejam desafiados a: 
primeiro, compreender essa nova morfologia do trabalho; segundo, representar o 
conjunto de toda a classe trabalhadora, não um setor ou outro. Os sindicatos 
sofreram muito com o neoliberalismo no Brasil. Desde Collor, passando por FH e 
depois por Lula, foram muito penalizados. E, paralelamente, por uma relativa 
liberdade sindical existente depois da Constituição de 88, tornou-se um 
empreendimento lucrativo abrir sindicato. Assim, a cada dia, abrem-se dezenas, 
centenas de sindicatos. Por quê? Você monta o sindicato, registra, obtém o 
reconhecimento, pois agora há uma relativa liberalização para se criarem 
sindicatos, e eles passam a formar uma máquina que tira dinheiro dos associados, 
do imposto sindical, do governo. <BR>&nbsp;<BR>Eu diria que os sindicatos de 
esquerda, os mais combativos, estão desafiados a entender essa nova morfologia 
do trabalho, a não cair na disjuntiva ‘sindicato faz luta sindical e partido faz 
luta partidária’. O mais importante hoje do MST é ser um movimento social que 
faz luta social e política fortemente imbricadas. Acertando ou não, esta é a 
ação correta, luta social e política. Os sindicatos têm de fazer isso. Não tem 
mais aquela disjuntiva, isso se mostrou fracassado. O sindicato tem que 
recuperar a luta central pelas questões vitais, assim como estão lutando os 
movimentos sociais, e assim como devem lutar os partidos. Tristemente, os 
partidos têm entrado cada vez mais numa luta parlamentar absolutamente fadada à 
derrota e têm perdido a possibilidade de ser organismos e ferramentas de auxílio 
no processo de organização popular. Ou seja, é este o embaralhar. 
<BR>&nbsp;<BR>Para concluir, nunca disse que a crise dos sindicatos, no Brasil e 
no mundo, era terminal. Há uma crise, mas as perspectivas da retomada de um 
sindicalismo de esquerda mais ousado existem. Nesse sentido, a Conlutas tem uma 
proposta interessante. Não é uma organização somente de sindicatos; ela pretende 
ser um pólo de auxílio de organização de lutas populares extra-sindicais e isso 
me parece muito importante. Acho que a Intersindical também caminha nessa 
direção, dentro da CUT sempre foi muito voltada à organização das lutas sociais 
de base. E nós haveremos de avançar junto com outros movimentos sociais, como 
temos visto em toda a América Latina, na Venezuela, Equador, Bolívia, na luta 
das fábricas recuperadas na Argentina e nos seus movimentos piqueteros. Há uma 
nova morfologia das lutas sociais que devemos acompanhar e que os sindicatos 
devem procurar compreender.&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=3><FONT color=#800000><FONT 
size=4>Correspondencia de Prensa - Agenda Radical - Boletín 
Solidario</FONT><BR>Ernesto Herrera (editor): </FONT></FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT size=3><FONT 
color=#800000>Edición internacional del Colectivo Militante - Por la Unidad de 
los Revolucionarios<BR>Gaboto 1305 - Teléfono (5982) 4003298 - Montevideo - 
Uruguay</FONT><BR></FONT></STRONG><A 
href="mailto:Agendaradical@egrupos.net"><STRONG><FONT 
size=3>Agendaradical@egrupos.net</FONT></STRONG></A><BR>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><BR>&nbsp;<BR></DIV></FONT></BODY></HTML>