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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT color=#800000><EM><U><FONT
size=5>correspondencia de prensa - boletín solidario</FONT></U></EM>
<BR><FONT color=#ff0000 size=6>Agenda Radical</FONT><BR>Edición internacional
del Colectivo Militante<BR><U>19 de abril 2008</U><BR>Redacción y
suscripciones:</FONT> </FONT></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
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<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Ricardo
Antunes</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Governo Lula
respalda-se cada vez menos na classe trabalhadora
organizada</FONT> <BR></STRONG></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Valéria
Nader <BR>Correio da Cidadania, 8-4-08<BR></STRONG><A
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV><FONT
face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR><BR>O Correio publica abaixo a segunda parte da
entrevista que o sociólogo Ricardo Antunes, professor da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), concedeu ao Correio. Na primeira parte, publicada na
edição de número 595, analisaram-se os aspectos nefastos da aprovação do projeto
de lei 1.990/07 pelo Câmara Federal no dia 11 de março, reconhecendo legalmente
as centrais sindicais como entidades gerais de representação dos trabalhadores.
Inserindo essa medida no lógica do governo Lula, Antunes não tem nenhuma
complacência: em um processo de grandes avanços e pequenos recuos, o sociólogo
destaca que o governo vem devastando a classe trabalhadora organizada,
amenizando o caminho para o avanço do grande capital. <BR><BR><STRONG>Correio da
Cidadania: Em sua última entrevista ao Correio, você mencionou que o governo
Lula fala com os pobres muito bem, mas garante mesmo é a boa vida dos ricos –
uma situação, no mínimo, capciosa, já que os governos burgueses não dialogam com
os pobres. Que governo é esse?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Ricardo Antunes: Com o Lula é diferente mesmo, há uma
espécie de semibonapartismo, onde os interesses de cima estão absolutamente
preservados e garantidos, e a relação com as massas pode prescindir dos
partidos. É nítida também uma migração da base social do governo Lula. Esse
governo foi eleito com o apoio da classe trabalhadora organizada, sindical e
politicamente. Hoje é cada vez menos ancorado na classe trabalhadora organizada
e cada vez mais respaldado pelas parcelas mais empobrecidas da classe
trabalhadora, que não têm emprego, trabalham sem organização sindical e política
e vivem da esmola vergonhosa que o governo dá sob o nome de Bolsa Família, que
hoje atinge 11 a 12 milhões de famílias, cerca de 60 milhões de pessoas. </DIV>
<DIV align=justify><BR>É nesse pólo, por isso o traço semibonapartista, que o
governo Lula investe pesadamente. Eu me lembro que, há 4, 5 anos atrás, o Lula
esteve no ABC e disse que os operários de São Bernardo do Campo eram uma elite,
pois pagavam o imposto de renda. Foi vaiado. É comum esse tipo de gafe quando
Lula vai a um encontro operário organizado. Em compensação, nos rincões
miseráveis, para uma família paupérrima, que não tem trabalho, alimento,
produção, nada, receber 50, 60, 70 reais por mês permite a compra da ração
mínima necessária para a sobrevida. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Vivemos um momento muito esquizofrênico,
não?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>RA: É um momento difícil, porque, digamos assim, a
tragédia brasileira é que o governo Lula deu certo para os de cima, para as
classes dominantes. Quem ganha dinheiro com esse governo? O sistema financeiro,
o capitalismo financeiro, os bancos e o grande capital produtivo; Vale do Rio
Doce, Telefônica... O governo Lula é o reino desses grandes capitais produtivos
e do sistema financeiro. E perdem com isso os assalariados médios, os de base.
Claro, se você comparar com o governo Fernando Henrique, é evidente que o atual
significa uma pequena melhora. Mas ninguém votou no Lula pensando num governo um
pouquinho melhor que o de Fernando Henrique. Votou-se em Lula, pelo menos nos
setores organizados, por uma mudança substancial, e isso passou longe. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Essa chance nós perdemos, o governo Lula jogou fora a
chance de fazer algo como está sendo feito na Venezuela, onde começaram a
desmontar as engrenagens da dominação burguesa, oligárquica; as mudanças que se
fazem no Equador, que têm um certo respaldo político do governo; as lutas da
Bolívia, onde indígenas, camponeses e trabalhadores de certo modo têm alguma
ressonância no Estado. Daí a política desses respectivos governos de
nacionalização das riquezas minerais, de petróleo, gás, minérios, e a
preservação da água não como mercadoria privatizada. Tudo isso o Brasil jogou
fora. </DIV>
<DIV align=justify><BR>O governo Lula tem sido capaz de fazer privatizações que
o governo FH não fez. E não fez a revisão de nenhuma delas. Lembre-se que,
quando o MST fez a importante campanha pelo plebiscito da Vale, o governo Lula
disse que a situação era intocável, que a história não andava para trás, e isso
não entrou sequer na pauta de governo. É um governo tíbio, servil, que está
completamente embasbacado com as vantagens do país "grande potência". </DIV>
<DIV align=justify><BR>Nesse sentido, é curioso que, nos últimos anos, Lula tem
reiteradamente feito referências à ditadura militar, sempre elogiosas. É o
governo Geisel, o governo Médici, o Brasil cresceu... Quer dizer, recorre à
ditadura militar como se aquele fosse um período positivo da nossa história.
Isso mostra a tragédia em que nos enfiamos. </DIV>
<DIV align=justify><BR>E há uma diferença do primeiro mandato para o segundo que
temos de ter claro. Depois do destroçamento interno do governo que foi o
mensalão, que devassou o PT, chegou à Casa Civil e atingiu o alto comando do
partido e do governo, aconteceu que a oposição centro-direitista errou
redondamente. Imaginou que podiam deixar o Lula seminocauteado o ano de 2005
inteiro, para chegar em 2006 e dar o golpe final na eleição, fazendo a sucessão.
Erraram rotundamente. Porque a população percebe: entre um governo pífio como o
do Lula e um governo pífio, ultra-elitista e anódino como o do Alckmin, era
melhor o primeiro. A população tapou o nariz, não votou nele no primeiro turno,
depois tapou o nariz mais ainda e disse: "Bom, vamos votar no menos nefasto", e
deu uma chance para o Lula. </DIV>
<DIV align=justify><BR>E também, por motivos mais ou menos conhecidos, havia uma
impossibilidade de gestação de uma oposição de esquerda ampliada. Houve um
processo eleitoral, a Heloísa Helena teve 7 milhões de votos - o que é muito
expressivo para uma candidatura à esquerda da esquerda -, mas, com todas as
dificuldades encontradas naquele momento, era mais uma candidatura para marcar
um contraponto do que para empolgar as massas do país. Até porque a presença do
Lula conquistada em 30 anos de lutas sociais ainda tem força no imaginário
popular. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Esse prestígio histórico do Lula acaba
atravancando muito a resistência?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>RA: Claro, porque a população diz: "Pelo menos ele está
tentando fazer e não consegue". Não é isso, ele não está tentando. O Lula não
tentou nenhuma medida substantiva contra a ordem. Ao contrário, o que ele faz –
digo o governo, o Lula em si é parte dessa história – magistralmente bem é o que
o governo Fernando Henrique fez razoavelmente bem, pela ótica das classes
dominantes. </DIV>
<DIV align=justify><BR>O governo Lula é aquilo que as classes dominantes nunca
imaginaram que seria. Não sei se você se lembra, nas eleições de 2006,
perguntaram ao ex-presidente do Itaú, Olavo Setúbal, quem ele preferia. Ele
disse: "É a mesma coisa, tudo igual. O Lula está sendo o melhor dos mundos,
estamos ganhando dinheiro como nunca, o Alckmin também é isso, então estamos
tranqüilos, é questão de gosto, quase como time de futebol". Um ou outro, a
garantia é a de que a política econômica dos juros altos, do receituário
externo, aquela política balizada pelo FMI, das privatizações, da garantia dos
recursos financeiros estrangeiros que vêm aqui, saqueiam o país e voltam, tanto
o governo Alckmin como o Lula podem garantir. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Mas essa história começou lá atrás, já no
primeiro mandato.</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>RA: E a expressão disso é que, já em 2002, quando Lula
ganhou a eleição, o presidente do Banco Central seria ninguém menos que Henrique
Meirelles, que era presidente do Banco de Boston, recém eleito deputado federal
pelo estado de Goiás, sem provavelmente nunca ter posto o pé lá, porque ele
estava no jet-set internacional. Isso dá a dimensão da privatização dentro do
Estado e do governo Lula. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Para dar um segundo elemento, que foi absolutamente
surpreendente, há a liberação dos transgênicos, que foi uma imposição das mais
nefastas transnacionais, com a Monsanto sempre à frente. Eu imagino o que não
passou dentro do governo para que a liberação dos transgênicos fosse aprovada...
</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Ou seja, é uma capitulação atrás da outra, a
exemplo também da reforma trabalhista e sindical, que vem vindo de
mansinho.</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>RA: Exato. Mas há um elemento também importante: naquela
votação da emenda 3 – que proibia os auditores fiscais da Receita Federal de
autuar ou fechar as empresas prestadoras de serviço quando entendessem que a
relação de prestação de serviços com uma outra empresa era, na verdade, uma
relação trabalhista, em prejuízo dos contratos de trabalho pela CLT -, que
significaria um passo muito grave no processo de terceirização e precarização do
trabalho, nesse momento, o governo Lula foi contrário. Porque o Lula, que é uma
figura política muito inteligente, percebeu o momento. </DIV>
<DIV align=justify><BR>No ápice da crise do mensalão, tenho a impressão que deve
ter faltado muito pouco para ele renunciar. Quem convive lá, com o dia-a-dia do
palácio, deve ter sentido que faltou pouco para o Lula fazer como o Collor:
tirar o chapéu. Não sei se você se lembra quando ele deu uma entrevista a uma
jornalista em Paris, assumindo que tinha mensalão, mas não tinha, que era, mas
não era... </DIV>
<DIV align=justify><BR>Quem segurou o governo Lula na crise do mensalão foi o
grande capital, que deu a ordem de ninguém pensar em apagar o governo Lula,
porque, com a economia estável, os bancos e o grande capital ganhando como
nunca, quem seria louco de abrir uma crise política que podia detonar uma crise
econômica? Portanto, a ordem do grande capital era não tocar no governo, daí o
PSDB e o PFL não assumirem a luta pelo impeachment de Lula. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Nesse sentido, a rejeição da Emenda 3 foi muito pensada.
O governo Lula deve ter feito um balanço de que estava perdendo muito
rapidamente sua base social de trabalhadores e estava nas mãos integralmente do
grande capital. Era preciso segurar algumas pontas de apoio, porque, numa
segunda crise do mensalão, ele podia não ter mais o suporte desses setores de
cima. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Mas, mesmo na primeira crise, era assim: "Vamos deixá-lo
seminocauteado, o nocaute será nas eleições. Erraram feio. E em 2006 o que o
Lula faz? Continua garantindo a boa vida para os ricos; lembre-se que uma vez
ele disse que "nunca os ricos ganharam tanto dinheiro nesse país como no meu
governo". Ele diz isso com orgulho, quer dizer, esse lado nefasto, trágico, que
é a cara do governo Lula, ele destaca com orgulho. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: São os pequenos recuos para avançar na mesma
direção...</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>RA: Suponha-se que haja uma crise do segundo governo numa
situação econômica de instabilidade. Bom, aí as classes dominantes não teriam
mais o que garantir. Por isso que, no meu entender, o presidente faz uma pequena
inflexão em algumas medidas. Amplia o Bolsa Família, coopta centrais sindicais e
aceita algumas das suas reivindicações, nesse caso justas, como, por exemplo,
ser contra a "pejotização", que tiraria poder dos fiscais do trabalho. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: O apoio que foi dado às convenções 151 e 158
da OIT (Organização Internacional do Trabalho) - que, respectivamente, institui
a negociação coletiva no setor público e proíbe as demissões imotivadas na
iniciativa privada - viria também nesse pacote de recuos para segurar a base
social e não ficar só nas mãos do capital?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>RA: Em parte sim, em parte não. Quanto à convenção da OIT
que obriga a justificação para as demissões, sim. Mas com relação à outra,
lembre-se das medidas que também foram tomadas e que impedem o direito pleno de
greve do funcionalismo público, claramente uma imposição do FMI, do sistema
financeiro, que quer detonar o funcionalismo. E uma das formas de impedir a
organização do funcionalismo público é decretar a ilegalidade da greve. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Essa restrição ao direito de greve mostra o caráter
anti-republicano do governo Lula. Então veja, ele caminha assim, uma vez ele
cede, na outra ele bate. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Esta negociação coletiva estava atada, portanto, a uma
segunda medida. Qual a segunda medida? Como o funcionalismo público passa a ter
negociação coletiva, passa a ter direito restrito de greve. Algo do tipo "agora
que vocês têm quem os represente, o direito de greve não é mais pleno". Uma
concessão e uma cacetada. </DIV>
<DIV align=justify><BR>No frigir dos ovos, tornar ilegal o direito de greve ao
funcionalismo é um getulismo nos anos 2000. O que Getúlio fez com o decreto lei
19770/1931? Proibiu os sindicatos no setor público e o direito de greve, de
todos os trabalhadores, incluindo o setor público. A Constituição de 88 concede
o pleno direito de greve. Diz que vai haver uma regulamentação posterior, mas o
preceito constitucional é o direito de greve. O governo Lula, por sua vez, está
dando passos - e ainda vai tentar, pois não desistiu disso – no sentido de
tentar coibir, restringir e, em certo sentido, impedir mesmo o direito de greve
em vários setores do funcionalismo público. </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=3><FONT color=#800000><FONT
size=4>Correspondencia de Prensa - Agenda Radical - Boletín
Solidario</FONT><BR>Ernesto Herrera (editor): </FONT></FONT></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT size=3><FONT
color=#800000>Edición internacional del Colectivo Militante - Por la Unidad de
los Revolucionarios<BR>Gaboto 1305 - Teléfono (5982) 4003298 - Montevideo -
Uruguay</FONT><BR></FONT></STRONG><A
href="mailto:Agendaradical@egrupos.net"><STRONG><FONT
size=3>Agendaradical@egrupos.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><BR></FONT> </DIV></BODY></HTML>