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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT color=#800000><FONT
size=5><EM><U>correspondencia de prensa - boletín
solidario</U></EM></FONT> <BR><FONT color=#ff0000 size=6>Agenda
Radical</FONT><BR>Edición internacional del Colectivo Militante<BR><U>3 de mayo
2008</U><BR>Redacción y suscripciones:</FONT> </FONT></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Ariovaldo
Umbelino</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Crise alimentar
é o resultado do livre mercado e do abandono da política
agrária</FONT></STRONG> </FONT></DIV><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Valéria Nader <BR>Correio da
Cidadania<BR></STRONG><A
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Colaborou Gabriel Brito</STRONG></DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Em face de mais uma crise mundial que parece explosiva,
com a fome e a inflação de alimentos se tornando noticiário nos vários cantos do
planeta, conversamos com o professor do departamento de Geografia da USP
Ariovaldo Umbelino. Para Umbelino, a atual situação não deixa a menor margem
para diagnósticos ilusionistas: a crise alimentar resultou da total incapacidade
do mercado para conduzir à segurança e à soberania alimentar. No Brasil, a
ausência de reforma agrária foi também determinante, e a situação é
tendencialmente explosiva em função da escalada dos biocombustíveis. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: A que se pode atribuir,
pensando globalmente, o atual problema da fome: à formação especulativa de
estoques, à queda de safras, à tomada de terras para os cultivos
agroindustriais, todos eles comprometendo a produção de alimentos?</STRONG>
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Ariovaldo Umbelino: Em primeiro lugar, há de se levar em
conta que a falta da produção de alimentos na atual conjuntura tem uma série de
motivos, que vou tentar enumerar. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Primeiro, o que está em jogo é uma crise estrutural no
interior do sistema produtivo que o capitalismo adotou no neoliberalismo, com a
mudança da sistemática de controle da produção de alimentos, antes baseada no
sistema de estoques e hoje baseada no livre comércio, ou seja, na
disponibilidade dos estoques no mercado. Essa mudança está revelando agora suas
conseqüências. Portanto, essa é uma primeira razão, e ela é estrutural. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Podemos também lembrar que há uma redução dos estoques em
função da ‘subprime’, qual seja, dos problemas no mercado financeiro
norte-americano. Uma parte dos fundos se dirigiu à compra de commodities
(mercado de futuro), o que acelerou o processo especulativo em função da queda
dos estoques e da possibilidade de oferta de alimentos no mercado futuro. Essas
são questões estruturais e estão associadas. </DIV>
<DIV align=justify><BR>A segunda razão é de natureza conjuntural, e deriva do
aumento do preço do petróleo. Toda a produção do agronegócio pós-revolução
verde, e agora, nesse período do neoliberalismo, está assentada no setor
agroquímico, e evidentemente que este é comandado pela lógica do preço do
petróleo. Se sobe o preço deste, o custo da agropecuária também sobe e,
consequentemente, deriva daí parte da responsabilidade pelo aumento dos preços
dos alimentos. </DIV>
<DIV align=justify><BR>O terceiro motivo, nem por isso de menor importância,
pois todos esses são processos simultâneos, está no aumento do consumo devido a
uma certa melhoria das condições de algumas populações, sobretudo da China e da
Índia, que têm ampliado a importação de alimentos. Mas não é essa a principal
razão, como se quer fazer crer no Brasil. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Nesse sentido, fazendo um parêntese para o
Brasil, o presidente Lula chegou a declarar que a inflação de alimentos é
decorrente de os pobres estarem consumindo mais, e não uma conseqüência da
expansão do cultivo do biocombustível. Ao mesmo tempo, aparentemente
corroborando a versão presidencial, sabemos que o motor do crescimento nos
últimos meses tem sido realmente o aquecimento do mercado interno, em face da
deterioração da balança comercial (exportações menos importações). Como você
avalia essa situação?</STRONG> </DIV><STRONG></STRONG>
<DIV align=justify><BR>AU: Isso é uma grande bobagem. É evidente que o aumento
do consumo é parte da questão, mas não é nem a razão principal, muito menos a
única, conforme disse. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Mas voltando, então, aos determinantes da
crise alimentar em escala global, você citaria algum outro fator, como, por
exemplo, a produção dos biocombustíveis?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Outra causa também conjuntural, que pode vir a se
tornar estrutural, é a opção norte-americana pela produção do etanol a partir do
milho, bem como o caminho tomado pelos países da União Européia de produzir o
etanol a partir de grãos. É claro que essa opção dos EUA, hoje o maior produtor
mundial de etanol, fez com que uma parte do milho destinado à alimentação humana
e animal fosse destinada à produção de etanol, o que por sua vez gerou os
mecanismos especulativos na queda dos estoques de milho. Essa queda, por sua
vez, puxou pra cima os preços dos demais grãos: soja, trigo, arroz. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Volto a insistir, essa razão é conjuntural, mas pode vir
a se tornar estrutural, porque os EUA não têm mais terras disponíveis à
agricultura para ampliar sua produção de milho e continuar mantendo sua produção
de trigo e soja. Essas três culturas competem entre si. Portanto, se aumenta a
área de uma, diminui a de outra. Além do mais, ampliar a área de cultivo nos EUA
sai muito caro, os preços dos alimentos não compensariam. E a essa questão
interna dos EUA se soma o aumento do custo de produção, pelo efeito do petróleo.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Esse é, assim, o quadro que se apresenta no plano
mundial. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: E como esse quadro rebate nos países
emergentes, especificamente?</STRONG> <STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR></STRONG>AU: Poderíamos dizer que os primeiros países
onde esse rebatimento se deu de forma rápida foram os da Ásia, com a elevação
dos preços do arroz, e também os países importadores de trigo. Nesses, o efeito
foi imediato, pois, com a elevação do preço do trigo nos EUA, e consequentemente
do trigo exportado para outras partes do mundo, os países importadores sentiram
imediatamente a alta. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Quanto ao arroz, a elevação de seu preço fez com que os
países produtores de arroz do sudeste asiático começassem a bloquear as
exportações do produto, assim como agiu a Argentina com relação ao trigo. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Evidentemente que o lado cruel desse processo todo
rebaterá na África, cujos povos precisam do trigo para sua alimentação básica,
em função do grau de miséria que a região sofre. E aí entra o grito da ONU, pois
ela tem seus recursos destinados a fornecer alimento a essa população que sofre
com a fome e percebeu que não teria como comprar esses produtos em razão da
elevação dos preços. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Mas não só a África sofre, como também a América, como se
viu no Haiti. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: E o Brasil, como fica nessa
conjuntura?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: No Brasil, o primeiro efeito aparece no trigo, já
que, com o bloqueio das exportações da Argentina, precisamos comprar no mercado
mundial, ou seja, nos EUA e Canadá, onde há trigo disponível para exportação.
Sendo assim, os preços se elevaram. Não só os preços, pois agora há também o
frete, que não existia quando se trazia trigo da Argentina. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Pois bem, o Brasil tem um consumo anual de 10 milhões de
toneladas de trigo e produz três milhões, o que nos torna o maior importador
mundial de trigo hoje. Sendo assim, inevitavelmente o efeito do trigo terá suas
conseqüências no Brasil, não só no pão, mas em todos os produtos nos quais se
utiliza trigo. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Somos o único país do mundo em se prega essa tese maluca
do neoliberalismo, de que comida tem de ser oferecida no mercado a quem puder
pagar mais, como propõem os economistas neoliberais. Claro que isso tira do país
a possibilidade de obter uma mínima segurança alimentar, nem digo soberania.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>A lógica do neoliberalismo é essa: manda-se comida a quem
paga mais, não a quem tem fome. Nem para o próprio povo do país. A lógica
neoliberal não está assentada na segurança, quanto menos na soberania alimentar.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Como parte desse mecanismo, agravando-o ainda mais, vêm
os possíveis desdobramentos futuros. O Brasil, com seus três milhões de
toneladas produzidas de trigo, vai fazer o que se a demanda do mercado mundial
for superior? Os produtores de trigo vão exportar, como fizeram no ano passado.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Pensando, por exemplo, no feijão, por que chegou a faltar
esse produto em nosso mercado, se o Brasil é um grande produtor mundial? Esse
foi o reflexo indireto de outros fatores. O aumento, já desde o ano passado, do
preço do milho e da soja, assim como o efeito da subida dos preços desses
produtos no mercado interno, fez com que as terras destinadas à produção do
feijão não o fossem mais. Os capitalistas converteram a área de produção de
feijão em terra para cultivo do milho, que tinha preços mais vantajosos no
mercado mundial, em função da escalada provocada pelo etanol americano. Escalada
que atingiu também a soja, que, na falta do milho, o substitui na ração animal -
não na alimentação humana. </DIV>
<DIV align=justify><BR>É bem provável que nesse começo de ano, com a entrada da
principal safra de feijão, não haja falta, mas a perspectiva é que, no final do
ano, o produto venha a faltar. Se os preços do milho e da soja continuarem mais
vantajosos, é óbvio que os capitalistas continuarão privilegiando a sua
produção. </DIV>
<DIV align=justify><BR>No caso do arroz, os estoques de que o Brasil dispõe, que
são baixíssimos, mais a perspectiva de safra, já praticamente colhida,
momentaneamente não sinalizam para uma situação de falta do produto. Porém, se
os preços do mercado internacional estourarem, será iniciado um processo de se
destinar parte da produção do mercado interno ao externo. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Temos, portanto, o ‘deus mercado’ determinando todos
esses mecanismos nefastos associados a produtos essenciais à nossa segurança
alimentar. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Confirmando esses mecanismos, na atual
polêmica relativa ao desabastecimento do arroz, onde se discute taxar ou não as
exportações de produtores privados, o ministro da Agricultura Reinold Stephanes
chegou a negar a medida.</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Veja, é por isso que comecei pela causa estrutural. O
mercado de alimento não pode sobreviver ao mercado livre. Seguir essa trilha é
colocar em risco a possibilidade de sobrevivência da humanidade. O mercado não é
capaz de regular nada, exceto as vantagens dos capitalistas. E o problema da
fome está aí, para demonstrar essa incapacidade. </DIV>
<DIV align=justify><BR>No plano do mercado interno brasileiro, desde 1992, o
país não aumenta nem a produção de feijão, nem a de arroz e nem a de mandioca,
que são os três alimentos básicos da população brasileira. Pode-se pôr o milho
aí, mas este não serve só para a alimentação humana, tem também o componente de
matéria-prima para a ração. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>CC: Ou seja, estamos pensando em produzir etanol sem
sequer termos assegurado nossa segurança alimentar.</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: E como o Brasil tem resolvido, em face da adoção da
política neoliberal, o mercado de arroz e feijão? Quando há falta, importa.
Então, o país usa a disponibilidade do produto no mercado mundial como
instrumento de controle da sua segurança alimentar. Mas, à medida que os países
bloqueiam a exportação, não existe mais essa possibilidade, ou seja, o Brasil
não teria a chance de buscar no mercado mundial o arroz necessário para manter
seus preços elevados no mercado interno. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Esse é o quadro mais crítico do mercado interno. Bom,
pode-se questionar por que não se aumenta a produção de arroz, feijão e
mandioca. A resposta é que a política agrícola voltada ao alimento básico no
Brasil não permite aos agricultores reporem os custos de produção. Quem produz
esses alimentos são, em grande maioria, os pequenos agricultores, e eles não têm
como resolver o problema da produção, voltando sua atenção a outros produtos. Se
pegamos Paraná, Santa Catarina e parte do Rio Grande do Sul, todos produtores de
feijão, vemos que a tendência é plantar milho, pois possui preços mais
vantajosos. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Portanto, o efeito na alimentação brasileira é direto e
indireto no que se refere ao mercado dos alimentos básicos. Poder-se-ia colocar
nesse bolo a carne. O Brasil está se tornando o maior exportador mundial de tudo
quanto é tipo de carne. Conseqüentemente, é claro que, se a produção for
destinada ao mercado externo, o interno passa a ser regulado pela disputa de
preços. Ou o mercado interno paga preços compatíveis ao mundial, ou se investe
em produzir para o mercado mundial. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Pensando ainda no etanol no Brasil: a cana é responsável
direta pelo aumento no custo do alimento? Claro que não, mas de forma indireta,
sim. Ainda que uma parte da expansão da cultura da cana seja feita em cima de
área de pastagem. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Nesse quesito, o físico José Goldemberg
chegou a mencionar recentemente que os biocombustíveis estão envoltos em algumas
noções falaciosas, já que as lavouras de cana ocupariam apenas 2% dos quase 3
milhões de Km2 utilizados pelo setor agropecuário e, ademais, seriam cultivadas
pela conversão de pastagens - e o espaço ocupado por pastos estaria em
decréscimo. O que você responderia a isso?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Veja bem. Se tomarmos a área de crescimento da cana
neste ano, da penúltima safra para a última, vê-se que, na maioria, não se
invadiu a área da produção de alimentos. Mesmo assim, há locais em que isso
ocorreu, o que é reconhecido por órgãos do próprio setor sucro-alcooleiro.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>A cana, portanto, cresce sim sobre parte das terras que
eram destinadas à produção de outros alimentos. E o principal efeito da expansão
da cana, esse é o ponto primordial, é o sucessivo. Não se trata necessariamente
de um efeito que irá se sentir de forma direta, entre um ano e outro. É um
efeito que ao longo dos anos vai se somando. Se compararmos os dados do IBGE da
produção agropecuária de 1990 a 2006, considerando-se somente os municípios que
tiveram aumento na área plantada de cana e tomando como referência os municípios
que cresceram em mais de 500 hectares essa área, o que encontramos? Uma redução
de 261 mil hectares de área de feijão. E uma redução de 340 mil hectares de área
plantada de arroz. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Desta forma, como a expansão da cana não afeta? Não só o
arroz e feijão são afetados, mas também a agropecuária, pois nesses municípios
houve uma redução de 460 milhões de litros na produção de leite, por ano. E
também uma redução de 4,5 milhões de cabeças de gado bovino. </DIV>
<DIV align=justify><BR>E aí aparece ainda o efeito perverso do desmatamento: a
cana está deslocando a pecuária - assim como a soja no Mato Grosso também a
desloca - para o Pará, onde existe hoje o terceiro maior rebanho do país. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: No estado de São Paulo, a paisagem se
transformou de maneira incrível, só se vêem plantações de cana em longos trechos
de suas rodovias.</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: E para completar, naqueles 261 mil hectares que
deixaram de ser plantados com feijão, seria possível produzir 400 mil toneladas
do produto, ou seja, 12% da produção nacional. Pode-se dizer que o país não
diminuiu essa produção, apenas plantou em outras regiões. É verdade, mas não
houve incremento de produção. Seria possível plantar em outras regiões e fazer
crescer a produção de feijão no país, mas isso não aconteceu. Quanto ao arroz,
nos 340 mil hectares não plantados, poder-se-ia produzir 1 milhão de toneladas
do produto, o equivalente a 9% do total do Brasil. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Este é um estudo que estamos ampliando para os demais
produtos para mostrar exatamente que não estamos diante de um efeito momentâneo,
e sim de uma tendência. Quanto mais se expandir a produção de uma cultura que
disputa espaço com outras, naturalmente haverá reflexos nessa produção
concorrente. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Ou seja, a se permanecer esse modelo
agrícola, as conseqüências podem ser catastróficas. </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Só não são catastróficas porque a política agrícola
brasileira jogava com o mercado externo e até por isso o governo brasileiro bate
forte com essa história dos subsídios da Europa e dos EUA. Querem, a todo custo,
que o mundo continue com a política neoliberal. Europa, EUA e Japão estão
abandonando a política neoliberal – há vários estudos que mostram esse fato– e o
Brasil fica defendendo essa bandeira em nome do agronegócio. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Por outro lado, o que é cruel, não se fez avançar a
reforma agrária, sendo que onde ela existe sempre se prioriza a produção de
alimentos. Quer dizer, não se estimula a reforma agrária e fica-se nesse impasse
da crise que o modelo neoliberal gera. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Portanto, a reforma agrária seria uma das
soluções a longo prazo?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: É uma solução a curto, médio e longo prazo. O pequeno
agricultor produz primeiramente o alimento que precisa para consumo próprio e,
automaticamente, ele gera excedentes. Se o Brasil tivesse assentado sua política
de produção de alimentos na reforma agrária, hoje o país não estaria vivendo
essa situação. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Mas parece que essa possibilidade não se
inscreve mais politicamente nesse governo, não?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Não, pelo contrário. O que o governo, parte da mídia
e intelectuais passaram a dizer? Que a reforma agrária não era necessária.
</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Toda a extensa fundamentação que você fez
aqui retrata uma crise profundamente estrutural. Mas o estouro dessa crise
alimentar agora, em meio à crise hipotecária americana, não seria uma curiosa
coincidência?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Eu penso que a crise norte-americana é estrutural.
Trata-se de uma crise do setor financeiro e este é o coração do capitalismo na
etapa na qual vivemos. É também inegável que uma parte dos fundos investiu em
commodities. Não se trata, portanto, de uma ação somente ideológica, onde uma
crise vem para encobrir a outra, penso que não é esse o caminho. Há, isto sim, o
efeito da crise nessa mudança dos fundos para as commodities</DIV>
<DIV align=justify>. <BR><STRONG>CC: Mas uma bolha de commodities é então
inegável?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Exatamente. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Em meio a toda essa discussão, às vezes
surgem declarações como a do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, para quem,
em face da crise alimentar, seria necessário ampliar o desmatamento legal. Como
você encara uma declaração dessas?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Enxergar no desmatamento a alternativa, num país que
tem 120 milhões de hectares de terras comprovadamente improdutivas, registradas
no cadastro do Incra, que não faz a reforma agrária porque o governo não quer,
somente pode ser encarado como uma loucura do modelo do agronegócio </DIV>
<DIV align=justify><BR>Na realidade, há dois centros na produção de grãos. Um é
o histórico, no sul. O outro é o Centro-Oeste, a nova área do agronegócio e onde
ficam os defensores do desmatamento. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Esse setor do agronegócio situado no Centro-Oeste, que
tem no governador Maggi seu representante maior, está acenando com essa
alternativa porque, obviamente, na conjuntura atual, o preço da carne também
está em alta no mercado mundial. Não compensa fazer a reversão de área de
pastagem para a produção de grãos, como em anos anteriores. Então, na verdade,
os atuais produtores de grãos estão espremidos entre cumprir a legislação
ambiental e expandir sua área de produção. E eu só posso classificar isso como
um ato de loucura. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Seria também um ‘ato de loucura’ a declaração
do presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, ao dizer que
o avanço da pecuária na Amazônia e a derrubada da madeira são conseqüências do
baixíssimo valor econômico da floresta? Enquanto isso, ativistas do Greenpeace
defendem ‘compensações econômicas pelo não desmatamento’. Há uma relação de
causalidade entre esses dois enfoques?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>AU: Penso que são dois pontos que devem ser colocados de
maneira bem cuidadosa. Em primeiro lugar, a maior parte das terras da Amazônia
com floresta está grilada, não pertence a quem quer derrubar ou está derrubando
a floresta. Uma parte expressiva dessas terras é propriedade do Incra. Para se
ter uma idéia mais exata, são 60 milhões de hectares, que deveriam ser
destinados à reforma agrária e não o são porque estão grilados. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Assim, o primeiro ponto que deve ser levantado é o de
questionar se essas terras pertencem a quem as cercou. Não pertencem! E o que
fez o governo Lula? Baixou a MP 422 para regularizar a grilagem da terra na
Amazônia! E isso vai permitir que o grilão, que está lá ocupando a terra, compre
até 1500 hectares. Assim sendo, que historia é essa de baixo valor econômico?
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Quanto ao Greenpeace, em algumas áreas, as pessoas têm o
título de propriedade. Nesse caso, qual é a posição do Greenpeace, e de certo
modo a do ministério do Meio Ambiente? Explorar economicamente a floresta, de
forma sustentável. Isso é só para quem acredita em papai Noel e que o
agronegócio brasileiro, sobretudo esse que grila terra na Amazônia, é capaz de
respeitar alguma lei. O Estado na Amazônia está invertido. Quem ocupa o poder
nos municípios da região é exatamente quem não cumpre a lei. </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=3><FONT color=#800000><FONT
size=4>Correspondencia de Prensa - Agenda Radical - Boletín
Solidario</FONT><BR>Ernesto Herrera (editor): </FONT></FONT></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT size=3><FONT
color=#800000>Edición internacional del Colectivo Militante - Por la Unidad de
los Revolucionarios<BR>Gaboto 1305 - Teléfono (5982) 4003298 - Montevideo -
Uruguay</FONT><BR></FONT></STRONG><A
href="mailto:Agendaradical@egrupos.net"><STRONG><FONT
size=3>Agendaradical@egrupos.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><BR></DIV></FONT></BODY></HTML>