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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT color=#800000><EM><U><FONT 
size=5>correspondencia de prensa - boletín solidario</FONT></U></EM>&nbsp; 
<BR><FONT color=#ff0000 size=6>Agenda Radical</FONT><BR>Edición internacional 
del Colectivo Militante<BR><U>23 de setiembre 2008</U><BR>Redacción y 
suscripciones:</FONT> </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Bolivia</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>A encruzilhada 
boliviana</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><BR></FONT><FONT face=Arial 
size=2><STRONG><FONT size=3>Juliano Medeiros 
*</FONT></STRONG><BR>&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>Nos últimas semanas as atenções de 
todo o continente voltaram-se novamente para a Bolívia. Com o referendo 
revogatório e as recentes medidas do presidente Evo Morales em relação à nova 
Constituição do país, os rumos do processo de mudanças levado a cabo pelo 
governo boliviano voltou ao centro dos debates. Ainda que com uma cobertura 
ínfima e unilateral por parte da grande mídia, tanto o referendo revogatório 
quanto a proposta de plebiscito sobre a nova Constituição, convocado para 
dezembro deste ano, marcam uma página decisiva na história da Bolívia e de todo 
o continente: novamente, estão colocadas as condições para o avanço de um 
projeto de caráter popular, antimperialista, antimonopolista e 
antilatifundiário; ou para o retrocesso, com a volta das oligarquias ao 
poder.<BR>&nbsp;<BR>Por isso, compreender o processo em curso na Bolívia 
torna-se tão fundamental, seja para apontarmos seus limites e insuficiências, 
seja para reafirmarmos nosso apoio àquele projeto. Este é o objetivo desta 
contribuição: abordar alguns elementos do processo em curso na Bolívia, 
colaborando para entendermos as possibilidades que lá estão abertas e denunciar 
os ataques do imperialismo.&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>&nbsp;Bolívia, que país é 
esse?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>A Bolívia é uma das nações mais pobres de toda 
América. O país tem um dos menores índices de desenvolvimento humano do 
continente (atrás apenas do Haiti), a segunda maior taxa de mortalidade infantil 
e a segunda menor expectativa de vida. Preserva uma estrutura rural atrasada, 
herança colonial, cujo resultado é uma agricultura baseada em latifúndios e 
plantations, com uma produção voltada para o mercado externo que empobrece e 
gera milhões de trabalhadores sem terra, na sua maioria indígenas. Além disso, a 
industrialização tardia e limitada gerou burguesia industrial concentrada em 
poucos centros urbanos, fazendo com que as oligarquias, fortemente ligadas ao 
campo, fizessem vigorar impunemente ao longo de décadas seu projeto de 
poder.&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><BR></FONT><FONT face=Arial 
size=2>Porém, nos últimos anos a história da Bolívia vem sendo reescrita. Com a 
revolta popular que resultou na queda do presidente Gonzalo Sánchez de Lozada em 
outubro de 2003 (conhecida como a “guerra do gás”), os setores populares 
retomaram a iniciativa e aumentaram significativamente sua influência sobre os 
rumos da política na Bolívia. A vitória nas eleições presidenciais de 2005 de 
Evo Morales Ayma, líder cocaleiro ligado ao Movimento ao Socialismo (MAS), é 
resultado de um pacto social e político dos setores populares, expresso no 
“Pacto pela Dignidade e Soberania do Povo Boliviano”, em resposta à crise que 
vivia o país e composto por diversas organizações políticas e dos movimentos 
sociais bolivianos.<BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>Esta vitória (a primeira de um 
indígena) não só ampliou o número de governos contra o imperialismo no 
continente, como inaugurou um novo momento na luta de classes da Bolívia, 
criando condições para vitórias concretas dos setores populares. Certamente, 
havia entre estes setores diferentes expectativas quanto a um possível governo 
do MAS. Desde aqueles de acreditavam que Evo, uma vez no poder, trairia seus 
compromissos com o campo popular (a exemplo de Lula, no Brasil, ou Tabaré 
Vasquez, no Uruguai), àqueles que esperavam o transplante mecânico para a 
Bolívia da “Revolução Bolivariana”, em curso na Venezuela. Na prática, o que 
temos visto é um governo que, apesar de seus limites, tem dado andamento a uma 
plataforma de reformas democráticas e populares, enfrentando interesses do 
imperialismo e das elites bolivianas e dando vida a um projeto que busca 
respeitar o processo histórico das lutas do povo boliviano.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>Em essência, Evo Morales deu 
andamento à chamada “agenda de outubro”, uma saída construída em 2004 para a 
crise do gás. Nela, o governo de Carlos Mesa se comprometera com a recuperação 
dos recursos estratégicos, a convocação de uma assembléia constituinte e o 
respeito aos direitos humanos dos povos originários da Bolívia. Porém, com a 
continuidade da política neoliberal no governo de Mesa, a agenda só teve início, 
na prática, com a vitória de Evo em 2005.&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>Porém, bastaram as primeiras medidas 
para que as elites derrotadas da Media Luna, região composta pelos departamentos 
de Beni, Pando, Tarija e Santa Cruz de la Sierra, passassem a jogar sua vida na 
defesa dos interesses das oligarquias regionais, usando da bandeira da autonomia 
para preservar&nbsp; interesses transnacionais. Nestes departamentos, há um 
processo de acirramento dos conflitos que colocam em posições opostas governo e 
oposição, isto é, de um lado um projeto popular para a Bolívia, de outro, o 
velho projeto neoliberal travestido de luta em defesa da “autonomia” regional. 
Não devemos esquecer ainda, o apoio resoluto da diplomacia estadunidense nas 
ações golpistas promovidas pela Media Luna. Este apoio resultou há poucos dias, 
na expulsão do Embaixador dos EUA da Bolívia por parte do governo, num gesto de 
enfrentamento ao imperialismo e suas manobras em solo 
boliviano.&nbsp;<BR>&nbsp;<BR><STRONG>Mudanças 
estruturais</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Como já foi dito, o processo de mudanças 
levado à cabo pelo governo de Evo Morales tem como centro os compromissos da 
“agenda de outubro” e um programa de reformas democráticas e populares em defesa 
da soberania nacional e de enfrentamento ao neoliberalismo. Sendo assim, tanto a 
nova Constituição quanto o processo de nacionalização dos recursos naturais, são 
eixos estratégicos neste processo de enfrentamento aos interesses 
neoliberais.&nbsp;<BR>&nbsp;<BR>Porém, há uma série de outras medidas que 
determinam o caráter popular do projeto levado a cabo pelo governo de Evo 
Morales. Entre os avanços no plano econômico, destacam-se a nacionalização da 
empresa de telefonia Entel, da siderúrgica Vinto e da mina de Huanuni. Ao mesmo 
tempo, a nacionalização dos hidrocarbonetos ocorrida nos primeiros meses de 
governo, não só garantiu o controle do Estado sobre este recurso natural 
estratégico para a soberania econômica da Bolívia (a exploração do gás natural 
representa 48% das exportações do país), como garantiu recursos essenciais para 
fazer avançar as mudanças em outras áreas (com a entrada de cerca de 1,2 bilhões 
de dólares a mais a cada ano). Além disso, há uma clara inversão de prioridades, 
com a criação do Banco de Desenvolvimento Produtivo, que tem como objetivo 
garantir crédito a micro-empresários e artesãos. No campo, se aprovou a lei de 
reforma agrária (com artigo que trata da extensão máxima das propriedades 
rurais, a ser aprovado em referendo convocado para este fim) e avançou na 
titulação de terras, especialmente às comunidades originárias.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><BR></FONT><FONT face=Arial size=2>Na 
área social, as mudanças são notáveis. Mais de 580 mil bolivianos foram 
alfabetizados e, no final deste ano, a previsão é que a Bolívia seja declarada 
livre de analfabetismo; foi criada a empresa de alimentos EMAPA, uma estatal que 
tem como objetivo combater a especulação e controlar a inflação dos produtos 
agrícolas; e após seculos de luta, os direitos do povos originais finalmente se 
tornaram lei na Bolívia. Quanto à saúde, foram criados 42 novos hospitais, 
enquanto a Operação Milagro – em parceria com os governos de Cuba e Venezuela – 
levou atendimento médico a mais de um milhão de bolivianos até então 
desassistidos.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>&nbsp;</DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>Na relação entre governo e movimentos 
sociais os avanços ainda são tímidos, mas se fazem notar. Após 25 anos de 
neoliberalismo, o governo editou um decreto garantindo o respeito à estabilidade 
laboral e ao foro sindical. Ao mesmo tempo, tem recebido e negociado 
permanentemente com as organizações sociais, como a Central Operária Boliviana 
(COB) que, acertadamente, mantém uma posição de autonomia em relação ao governo. 
Além disso, como ato simbólico, foram cortados pela metade os salários de todos 
os parlamentares, ministros, do vice-presidente e do próprio presidente, 
enquanto se combate a corrupção em todos os níveis do 
Estado.&nbsp;&nbsp;&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>O referendo revogatório e a 
nova constituição</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG></STRONG><BR></FONT><FONT 
face=Arial size=2>O referendo que decidiu a continuidade do mandato do 
presidente Evo Morales foi uma proposta da oposição com o objetivo de desgastar 
o governo. Porém, ao contrário do que previa a oposição, o MAS, partido do 
presidente Evo Morales, não só aceitou a proposta dos conservadores, como 
conseguiu garantir a inclusão dos mandatos dos prefectos (equivalentes aos 
governadores no Brasil) na votação do referendo. O resultado foi acachapante: os 
mandatos do presidente Evo Morales e do vice-presidente, Álvaro Garcia Linera, 
não só foram ratificados com uma excepcional votação (mais de 67% dos votos pelo 
“sim”), como revogaram-se pelo voto popular os mandatos de dois importantes 
prefectos da oposição, em La Paz e 
Cochabamba.&nbsp;&nbsp;&nbsp;<BR>&nbsp;<BR>Contudo, a vitória não foi suficiente 
para alterar significativamente o quadro político. O episódio ocorrida no último 
dia 27, quando o presidente Evo Morales foi obrigado a pousar em uma base aérea 
brasileira devido a protestos na província de Beni, é emblemático: embora 
ratificado no cargo de presidente, Evo segue administrando uma crise de sérias 
proporções. O apelo à “unidade nacional” feito por ele na Praça Murillo no dia 
do referendo, após os primeiros resultados indicando sua vitória, foi 
solenemente ignorado pela oposição poucos dias depois. A violência tem aumentado 
e a idéia de uma Bolívia “dividida” segue sendo o principal trunfo da oposição. 
Nos últimos dias aumentaram o número de ações violentas, atentados e ataques de 
grupos neo-fascistas, como a União da Juventude Cruzenha. A possibilidade de um 
golpe civil existe e já não é descartada nem pelo governo, nem pela 
oposição.&nbsp;&nbsp;<BR>&nbsp;<BR><STRONG>As saídas 
possíveis</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>O processo que conduziu Evo Morales à 
presidência da Bolívia teve muitos sujeitos. Não só as velhas organizações de 
classe, herdeiras da revolução de 1952, mas frações menos organizadas entre os 
trabalhadores, como camponeses, indígenas e setores excluídos em geral. Porém, 
visivelmente, este amplo pacto em defesa de um projeto popular para a Bolívia 
não tem conseguido responder aos enfrentamentos das elites de forma contundente. 
Seja pelas tensões existentes no próprio governo (que colaboram para que setores 
fundamentais do campo popular mantenham-se vacilantes diante da luta que está em 
curso), seja pela correlação de forças que ainda se mostra extremamente 
desfavorável.&nbsp;&nbsp;&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><BR></FONT><FONT face=Arial 
size=2>Paradoxalmente, embora o referendo não tenha colocado um ponto final na 
conflito político que domina a Bolívia (e nem poderia faze-lo), serviu para 
demonstrar que Evo segue tendo força e apoio para fazer avançar as mudanças. As 
últimas ações do presidente, dando andamento ao processo constituinte que 
resultou na Nova Constituição Política do Estado – foco de conflito com as 
províncias dominadas pela oposição – demonstra que esta é a avaliação também no 
interior do próprio MAS. Porém, há incertezas no quadro político que diminuem a 
capacidade de iniciativa do governo e de bloco 
popular.&nbsp;&nbsp;<BR>&nbsp;<BR>Como responder às ações de força da oposição 
sem justificar uma guerra civil? Que papel podem jogar as forças armadas? Até 
que ponto a oligarquia está disposta a chegar para ver retroceder o processo de 
mudanças? Qual a capacidade do governo de seguir avançando neste processo com a 
atual correlação de forças? Que condições os movimentos sociais têm de responder 
aos ataques dos setores conservadores? Que iniciativas do governo poderiam 
favorecer a organização popular e a rearticulação do bloco que garantiu a 
vitória de Evo? Estas são perguntas que deverão ser respondidas em breve. Sem 
estas definições, será impossível qualquer ofensiva do bloco popular. Até lá, é 
nossa tarefa reforçar a solidariedade dos povos latino-americanos para fazer 
avançar as transformações em curso na Bolívia. Afinal, o que está em jogo é o 
futuro do povo boliviano e o avanço da luta popular em nuestra 
América.&nbsp;&nbsp;<BR>&nbsp;<BR>&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2>* Diretor da União Nacional dos 
Estudantes (UNE) e militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no RS. 
Acompanhou o referendo revogatório ocorrido mês passado na Bolívia como 
observador internacional a convite da Embaixada da Bolívia no Brasil. </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT color=#800000 size=3>Correspondencia de Prensa - 
Agenda Radical - Boletín Solidario<BR>Ernesto Herrera (editor): 
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT size=3><FONT 
color=#800000>Edición internacional del Colectivo Militante - Por la Unidad de 
los Revolucionarios<BR>Gaboto 1305 - Teléfono (5982) 4003298 - Montevideo - 
Uruguay</FONT><BR></FONT></STRONG><A 
href="mailto:Agendaradical@egrupos.net"><STRONG><FONT 
size=3>Agendaradical@egrupos.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><BR>&nbsp;</FONT></DIV></BODY></HTML>