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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT color=#800000><EM><U><FONT 
size=5>correspondencia de prensa - boletín solidario</FONT></U></EM>&nbsp; 
<BR><FONT color=#ff0000 size=6>Agenda Radical</FONT><BR>Edición internacional 
del Colectivo Militante<BR><U>10 de diciembre 2008</U><BR>Redacción y 
suscripciones:</FONT> </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Chico Mendes 
(1944-1988)<BR></DIV></FONT></STRONG>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Um ecossocialista à frente de seu 
tempo</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Há 20 anos, Chico Mendes era 
assassinado; o legado do seringueiro e o seu sonho de uma sociedade que 
combinasse socialismo com ecologia continuam vivos</FONT></STRONG><BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Carlos Walter Porto-Gonçalves 
*</FONT></STRONG><BR><BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Brasil de Fato</STRONG><BR><A 
href="http://www.brasildefato.com.br/"><STRONG>http://www.brasildefato.com.br/</STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify><BR><BR>Francisco Alves Mendes Filho nasceu no seringal Porto 
Rico no município de Xapuri em 15 de dezembro de 1944, filho de pais nordestinos 
que migraram para a Amazônia. <BR><BR>Desde os 11 anos, trabalhou como 
seringueiro partilhando o destino comum àquelas famílias cujos filhos em vez de 
irem à escola trabalham para extrair o látex. <BR><BR>Chico Mendes teve a 
fortuna de encontrar aquele que seria seu grande mestre, Fernando Euclides 
Távora, que não só lhe ensinou a ler e a escrever, mas o caminho que o levaria a 
se interessar pelos destinos do planeta e da humanidade. <BR><BR>Euclides Távora 
era um militante comunista que havia participado ativamente no levante comunista 
de 1935 em Fortaleza e, ainda, na Revolução de 1952 na Bolívia. Retornando ao 
Brasil pelo Acre, Euclides Távora vai morar em Xapuri quando se torna mestre de 
Chico Mendes. <BR><BR>Chico Mendes sempre falava com grande carinho de seu 
grande mentor-educador-político que nunca mais veria desde o golpe ditatorial 
civil-militar de 1964. <BR><BR><STRONG>Empates</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>A educação passou a ser uma verdadeira obsessão de Chico 
Mendes, ao que ele dava um sentido político muito prático, pois, acreditava, que 
sabendo ler e escrever o seringueiro não mais seria roubado nas contas do 
barracão do patrão. <BR><BR>Em 1975, já militando nas Comunidades Eclesiais de 
Base – as Cebs – funda o primeiro sindicato de trabalhadores rurais no Acre, em 
Brasiléia, junto com seu amigo Wilson Pinheiro. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Em março de 1976, organiza junto com seus companheiros, o 
primeiro Empate no Seringal Carmen. O Empate consistia na reunião de homens, 
mulheres e crianças, sob a liderança dos sindicatos, para impedir o desmatamento 
da floresta, prática que se tornaria emblemática da luta dos seringueiros. 
<BR><BR>Nos Empates, alertavam os “peões” a serviço dos fazendeiros de gado, 
geralmente de fora do Acre, que a derrubada da mata significava a expulsão de 
famílias de trabalhadores; convidava-os a se associar à sua luta oferecendo 
“colocações” e “estradas”de seringa para trabalhar e, firmes, expulsava-os dos 
seus acampamentos de destruição impedindo seu trabalho de derrubada da floresta. 
<BR><BR>Os Empates tiveram um papel decisivo na consolidação da identidade dos 
seringueiros, e essa forma de resistência acabou por chamar a atenção de todo o 
Brasil, sobretudo após o assassinato de seu amigo Wilson Pinheiro, em 21 de 
julho de 1980. <BR><BR>Chico Mendes insistiu com os Empates mobilizando os 
seringueiros, mesmo depois que as autoridades governamentais, diante da 
repercussão da resistência dos seringueiros, começaram a fazer projetos de 
colonização. <BR><BR><STRONG>Armadilha</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Chico Mendes, desde então, mostraria uma lúcida 
compreensão do significado daquela estratégia governamental que, inclusive, 
encontrava eco entre militantes sindicais, recusando-a posto que levaria o 
seringueiro a deixar de ser seringueiro ao torná-lo um colono-agricultor 
confinado a 50 ou 100 hectares de terra. <BR><BR>Chico Mendes valorizava o modo 
de vida seringueiro que usava uma restrita pequena parcela de terra junto à casa 
para fazer seu roçado e criar pequenos animais e fazia a coleta de frutos e 
resinas da floresta. Para os seringueiros o objeto de trabalho não é a terra e, 
sim, a mata, a floresta. Assim, mais que hectare de terra Chico Mendes e os 
seringueiros lutavam pela floresta, e foi essa firme convicção que o levou a 
gozar de apoio dos seus pares e aproximá-lo dos ecologistas, o que fazia com 
desconfiança, como não se cansou de manifestar a amigos. <BR><BR>Como comunista, 
Chico Mendes desconfiava não só dos ecologistas como também de uma série de 
movimentos sociais que começavam a se destacar naqueles anos mulheres, negros, 
homossexuais) que, acreditava, dividiam a luta dos 
trabalhadores.<BR><BR>Todavia, como homem prático e com grande capacidade de 
subordinar os princípios à vida sem perder o sentido da sua luta, Chico Mendes 
percebeu que os ecologistas ao defenderem a floresta eram aliados importantes da 
luta dos seringueiros na prática, além de permitirem que os seringueiros saíssem 
do isolamento a que estavam confinados. <BR><BR><STRONG>Aliados</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Os ecologistas, por seu lado, reconheceram a importância 
da luta dos seringueiros e dos seus Empates na preservação da floresta. Dessa 
aliança, Chico Mendes formulou um princípio que caracterizaria sua filosofia 
“Não há defesa da floresta sem os povos da floresta” que bem pode ser estendido 
a outras situações de defesa da natureza. <BR><BR>Chico Mendes percebeu que a 
luta dos seringueiros era uma luta de interesse da humanidade e, pouco a pouco, 
vai firmando a convicção de que além da exploração dos trabalhadores, o 
capitalismo tinha uma voraz força destrutiva que havia de ser combatida. 
<BR><BR>Assim, Chico Mendes vai se tornar um dos maiores próceres do 
ecossocialismo pela junção da luta contra a devastação com a luta contra a 
exploração e o capitalismo. Enfim, desenvolvia uma fina percepção holística, 
recusando tanto um sindicalismo como um ecologismo restrito. <BR><BR>Em 1984 num 
encontro nacional de trabalhadores rurais, Chico Mendes defende uma ousada 
proposta para a época, a de que a reforma agrária deveria respeitar os contextos 
sociais e culturais específicos e, um ano depois, ao fundar o Conselho Nacional 
dos Seringueiros em Brasília, já desenvolve junto com seus companheiros a 
proposta de Reserva Extrativista, uma verdadeira revolução no conceito de 
unidade de conservação ambiental que, pela primeira vez, não mais separa o homem 
da natureza como até então se fazia. <BR><BR>Costumava dizer que a Reserva 
Extrativista era a reforma agrária dos seringueiros. A Reserva Extrativista 
consagra todos os princípios ideológicos que Chico Mendes propugnava posto que, 
ao mesmo tempo, que cada família detinha a prerrogativa de usufruto da sua 
colocação com sua casa e com suas estradas de seringa, a terra e a floresta eram 
de uso comum, podendo mesmo cada um caçar e coletar nos espaços entre as 
estradas de cada família, idéia comunitária inspirada nas reservas indígenas. 
<BR><BR><STRONG>Segundo assassinato</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Desde então, Chico Mendes se empenha, junto com seu amigo 
Ailton Krenak, na construção da Aliança dos Povos da Floresta unindo indígenas e 
seringueiros invertendo a história de massacres que até então protagonizaram 
instigados pelas grandes casas aviadoras e seringalistas do complexo de 
exploração de borracha.<BR><BR>Aqui, também, o profundo sentido humanístico 
não-antropocêntrico da ideologia de Chico Mendes ganhava sentido prático. 
Registre-se que a proposta da Reserva Extrativista contemplava, ainda, uma 
inovadora relação da sociedade com o Estado, na medida em que embora a 
propriedade formal da reserva extrativista seja do Estado, no caso, do então 
Ibama, a gestão da mesma é de responsabilidade da própria comunidade, cabendo ao 
órgão público supervisionar o cumprimento do contrato de concessão de direito de 
uso que, nesse sentido, é o pacto que se estabelece entre o Estado e os 
seringueiros. Ou seja, o notório saber dos seringueiros se torna o 
elemento-chave da concessão do direito de uso que o Estado confere a eles. 
<BR><BR>Esse princípio viria a ser violentado no Sistema Nacional de Unidades de 
Conservação, aprovado no ano 2000 que, assim, deve ser considerado rigorosamente 
como o segundo assassinato de Chico Mendes, pois desconsidera o saber das 
populações tradicionais como a base de todo o direito que têm aos seus 
territórios ao preconizar que todo plano de manejo deve ser feito por técnicos. 
Temos aqui um belo exemplo da colonialidade do saber e do poder que, assim, 
desperdiça a riqueza da experiência humana materializada em múltiplas formas de 
conhecimento que a humanidade na sua diversidade inventou.<BR><BR>Em toda sua 
vida, Chico Mendes jamais deixou de se dedicar à construção de instrumentos de 
lutas sociais e políticas, tendo sido dirigente nacional da Central Única dos 
Trabalhadores (CUT) e do Partido dos Trabalhadores (PT), assim como do Conselho 
Nacional dos Seringueiros. <BR><BR><STRONG>Socialismo com 
ecologia</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>O legado político e moral de Chico Mendes é enorme e pode 
ser visto tanto pelos intelectuais que reconhecem a originalidade de suas idéias 
e práticas políticas, como pelos políticos que, tanto no seu Estado como no 
país, têm seus cargos de vereador(a), deputada(o), governador, senador(a) e 
ministra(o) associados às lutas que protagonizou, embora devamos reconhecer que 
alguns de seus companheiros no Acre prefiram falar de “governo da floresta” e 
não governo dos povos da floresta. <BR><BR>Tanto no Brasil como no mundo seu 
trabalho foi reconhecido: em 1987, recebe, em Londres, o Prêmio Global 500 da 
ONU e, em Nova York, a Medalha da Sociedade para Um Mundo Melhor, Já em 1988, 
foi condecorado com o título de Cidadão Honorário da cidade do Rio de Janeiro. 
<BR><BR>Sua enorme crença na capacidade humana de superar as contradições do 
mundo que vive se organizando social e politicamente foi capaz de inspirar todo 
um conjunto de idéias e práticas hoje em curso no mundo que vê a natureza, com 
sua produtividade e capacidade de auto-organização (neguentropia), e a 
criatividade humana na sua diversidade cultural como bases de uma racionalidade 
ambiental (Enrique Leff) ou, como ele gostava de chamar, de uma sociedade que 
combinasse socialismo com ecologia.<BR><BR>Em 22 de dezembro de 1988, assassinos 
ligados à UDR (União Democrática Ruralista) pensaram calar com uma bala essa voz 
cuja força, tal como uma poronga, continua iluminando 
caminhos.<BR><BR><STRONG>Para entender</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Poronga – Instrumento que os seringueiros carregam sobre 
a cabeça para iluminar os caminhos na mata quando saem, ainda de noite, para 
trabalhar. Chico Mendes chamou de “poronga” a cartilha que alfabetizava os 
seringueiros.<BR><BR><BR>* Carlos Walter Porto-Gonçalves é doutor em Geografia. 
Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal 
Fluminense. Pesquisador do CNPq e do Grupo Hegemonia e Emancipações do Clacso. 
Ganhador do Prêmio Casa de las Américas 2008 de Literatura Brasileira. 
Ex-Presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros (1998-2000). </DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT color=#800000 size=3>Correspondencia de Prensa - 
Agenda Radical - Boletín Solidario<BR>Ernesto Herrera (editor): 
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT size=3><FONT 
color=#800000>Edición internacional del Colectivo Militante - Por la Unidad de 
los Revolucionarios<BR>Gaboto 1305 - Teléfono (5982) 4003298 - Montevideo - 
Uruguay</FONT><BR></FONT></STRONG><A 
href="mailto:Agendaradical@egrupos.net"><STRONG><FONT 
size=3>Agendaradical@egrupos.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV></FONT></BODY></HTML>