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<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><EM>boletín solidario de información -
edición internacional</EM><BR><FONT color=#800000 size=5><U>Correspondencia de
Prensa</U><BR>Agenda Radical - Colectivo Militante</FONT><BR><U>1º de
mayo 2009<BR></U>suscripciones y redacción: </FONT></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR></DIV>
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<HR>
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Capitalismo</FONT></STRONG></DIV>
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Entrevista a Ricardo
Antunes</FONT></STRONG></FONT></DIV>
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<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>Crise atual pode
ser mais intensa do que a de 1929</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><BR><BR><STRONG>Gilberto Costa -
repórter da Agência Brasil <BR><A
href="http://www.agenciabrasil.gov.br/">http://www.agenciabrasil.gov.br/</A></STRONG></FONT></DIV><FONT
face=Arial size=2><STRONG>
<DIV align=justify><BR></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify>Em 1980, o cineasta mineiro João Batista de Andrade filmou O
Homem que Virou Suco para contar as agruras de um imigrante nordestino
confundido com um assassino de um manager de uma empresa multinacional. A imagem
antecede ao conceito, usado pelo sociólogo Ricardo Antunes, de "liofilização"
organizacional - tomado de empréstimo da química para explicar o processo de
transformar substância líquida em pó (como acontece com o leite em pó ou com o
veneno). Para Antunes, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
e especialista em temas do mercado de trabalho, as empresas, antes da crise
atual, passaram por processos de "liofilização" e enxugaram suas "substâncias
vivas", os trabalhadores, por meio da modernização tecnológica e da
reestruturação produtiva. O resultado disso foi o crescimento do chamado
desemprego estrutural, que poderá aumentar em muito com a crise econômica
mundial de hoje. Ele avaliou que o trabalho está sob enorme ameaça e o dia 1º de
maio deste ano será "digno do século 19". Nesse contexto, são abandonadas as
teses sociológicas que enxergavam o fim do trabalho ou do trabalhador como
categoria de análise e voltam a circular críticas ao capitalismo e idéias de uma
sociedade assentada em novas relações de produção. Ele afirmou que a crise
mundial atual poderá ser mais intensa do que a de 1929, nos Estados
Unidos.<BR><BR><STRONG>Agência Brasil - Que ameaças a crise econômica mundial
trouxe ao trabalho?</STRONG><BR><BR>Ricardo Antunes - Não é mais ameaça. A crise
econômica já tem um resultado devastador para a classe trabalhadora. A OIT
(Organização Internacional do Trabalho) fez a previsão de novos 50 milhões de
desempregados em 2009, o que eleva o número de desempregados para até 340
milhões de pessoas no mundo. Este número é uma estimativa moderada. Só a China
anunciou que 26 milhões de ex-trabalhadores rurais, que estavam ocupados nas
cidades, perderam o emprego. A tragédia que se abateu entre os trabalhadores é
monumental, a começar pelos imigrantes à cata de trabalho nos países do norte do
mundo, mas também a classe trabalhadora em geral, que estava empregada na
indústria metal-mecânica, têxtil, no setor alimentício. A primeira providência
que o empresariado toma na eminência de uma crise é o corte nos postos de
trabalho. É emblemático que os Estados Unidos, a Inglaterra e o Japão vivem a
maior taxa de desemprego das últimas décadas.<BR><BR><STRONG>ABr - Qual a versão
brasileira dessa situação?</STRONG><BR><BR>Antunes - O governo tentou nos vender
a idéia, completamente falsa, de que estávamos imunes à crise. A verdade, no
entanto, é que nós, no final do ano, tivemos 640 mil novos desempregados. De lá
para cá, os dados melhoraram, porque o governo tomou medidas, como a redução do
IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos automóveis, para impedir que a
recessão fosse mais dura. Mas essas medidas têm folego curto. A economia
brasileira é muito globalizada. O Brasil depende muito do mercado externo por
causa das commodities. O desfecho da crise brasileira está bastante atado ao
desfecho da crise internacional. Não podemos ter uma ilusão de que o país é uma
ilha rósea em um mar turbulento.<BR><BR><STRONG>ABr - Antes da crise essa "ilha"
tinha metade dos seus trabalhadores sem os direitos reconhecidos,
não?</STRONG><BR><BR>Antunes - Chegamos a quase 60% da nossa População
Economicamente Ativa, em meados dos anos 2000, na informalidade, o que é
expressão da tragédia social. Imaginar que o Brasil vai ficar no século 21
fornecendo, por exemplo, cana-de-açúcar com trabalho semi-escravo e pessoas
cortando até 17 toneladas de cana por dia, sob um regime de mensuração do
trabalho que subtrai os valores de remuneração. Essa não pode ser a alternativa
brasileira. O Brasil não é o pior cenário no contexto internacional, mas pensar
que estamos imune a ele é um completo equívoco.<BR><BR><STRONG>ABr - O trabalho
no Brasil chegou ao século 21?<BR></STRONG><BR>Antunes - Estamos vivendo uma
situação bastante contraditória. Embora o mundo produtivo às vezes atinja um
patamar do século 21, as condições de trabalho estão regredindo às condições
verificadas nos séculos 18 e 19. O trabalho escravo, semi-escravo e infantil,
que nós imaginávamos fazer parte do início da Revolução Industrial, estão hoje
esparramados em vários setores, e não é só no Brasil. Na Europa e nos Estados
Unidos, também existe trabalho infantil, e o trabalho sujo do imigrante, que é
tratado como um cidadão de quarta categoria. Tudo isso nos joga a querer ser uma
economia do século 21 com condições pretéritas de trabalho, o que faz com que a
luta do 1º de Maio de 2009 seja semelhante à luta do 1º Maio de 1886, ano da
Revolta de Haymarket, em Chicago, nos Estados Unidos.<BR><BR><STRONG>ABr - O
senhor disse que políticas como a isenção do IPI têm fôlego curto. Por que os
governos optam por medidas para a indústria automobilística, a despeito dos
problemas ambientais e dos problemas de saúde? Não há outros setores com maior
empregabilidade?</STRONG><BR><BR>Antunes - O Brasil é uma triste repetição de
governos que representam os interesses dominantes. Por que que a indústria
automobilística joga pesado? Porque seu lobby é decisivamente forte, assim como
os bancos também o são. Os governos olham para o capital, para o setor produtivo
e financeiro, de um modo muito diferente de como olham para o trabalho. Os
trabalhadores só conseguem alguma medida em seu favor quando lutam de forma
consciente. Como muitas centrais sindicais, hoje, estão prisioneiras de política
oficiais, trabalhadores e sindicatos de base perderam força. Muitas das centrais
oscilam em defender a política do governo e defender os trabalhadores. Mas
sabemos que as conseqüências para o desemprego, quando a indústria
automobilística entra em recessão, são graves. Se reduz o emprego nessa
indústria aumenta o nível geral de desemprego porque a cadeia produtiva atinge o
fornecedor, toda a rede de autopeças, que existe em função da montagem do
sistema automotivo.<BR><BR><STRONG>ABr - E quanto à
sustentabilidade?</STRONG><BR><BR>Antunes - Se voltarmos a produzir,
recuperaremos o emprego da indústria automobilística e de sua cadeia produtiva,
mas aumentam os níveis de destruição ambiental e de poluição global. Se tivermos
a retração do emprego, o desemprego aumenta a barbárie social. Atividades que
são profundamente positivas na medida em que preserva a sociedade, pela via
reciclável, daquela tendência do capitalismo de destruir as mercadorias para
produzir outras, são subvalorizadas e não recebem incentivos. Isso nos faz ter
que pensar um novo modo de vida e de produção para o século 21. Vamos querer
viver eternamente nesse sistema que exclusão, precarização, informalidade,
desemprego e barbárie social são o predominante?<BR><BR><STRONG>ABr - As
características desse sistema é que constituem a atual morfologia do trabalho,
tratada em um dos novos artigos de seu livro Adeus Trabalho?, relançado
agora?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG><BR></FONT><FONT face=Arial size=2>Antunes -
O meu livro foi, desde sua primeira edição (em 1995), uma resposta à tese do fim
do trabalho e de que a classe trabalhadora não tinha mais sentido. O que venho
mostrando desde então é que é preciso compreender quem é a classe trabalhadora
de hoje. Temos trabalhadores no telemarketing que não existiam antigamente, de
hipermercados, motoboys. Temos uma nova morfologia, um novo desenho. Não é que
acabou o trabalho, e muito menos as possibilidades da revolução do trabalho. A
nova morfologia é para não ter uma visão restrita da classe trabalhadora como
apenas os operários metalúrgicos.<BR><BR><STRONG>ABr - Essas idéias do fim do
trabalho foram apropriadas pelas correntes de ciência social aplicada que
defendiam a chamada qualidade total, a eficiência e o aumento da produtividade.
Essas melhorias não foram benéficas à sociedade?</STRONG><BR><BR>Antunes - Esse
conjunto de medidas nasceram no Japão e depois se ocidentalizaram. Esses
processos tiveram como resultado o aumento da produtividade e dos ganhos do
capital, maiores lucros das empresas e crescimento do desemprego. Com esse
processo de liofilização, digo utilizando um termo cunhado pelo sociólogo
espanhol Juan Jose Castillo, as empresas passaram a produzir dez vezes mais com
cinco vezes menos trabalhadores. Quem perdeu foi o pedaço da humanidade que
depende do trabalho. Foi aí que o desemprego estrutural, em escala planetária,
aumentou. O problema é que as pessoas afetadas hoje estão no desemprego,
informalidade, precarização, narcotráfico, economia do crime.<BR><BR><STRONG>ABr
- O que o senhor acha da proposta de banco de horas para evitar o desemprego
atual, visando uma extensão de jornada no futuro?</STRONG><BR><BR>Antunes - É
ruim, descalibra a vida dos trabalhadores. Fiz uma pesquisa há alguns anos
analisando essa situação e havia trabalhadores que não teriam férias nos três
anos seguintes. Significa que o trabalhador nunca vai poder ter férias
programadas, vai estar sempre devendo. Por que os trabalhadores têm que pagar o
ônus de uma crise sobre a qual não têm nenhuma
responsabilidade?<BR><BR><STRONG>ABr - Em um dos artigos da última edição de
Adeus Trabalho?, o senhor afirma que "a crise penetra no centro dos países
capitalistas, numa intensidade nunca vista anteriormente". A atual crise é pior
que de 1929?</STRONG><BR><BR>Antunes - A crise atual é diferente, e seu espectro
é de mais intensidade. A crise de 1929 ainda foi herança de um período cíclico:
ciclo de expansão e ciclo de crise. Há pensadores muito qualificados que dizem
que desde o fim dos anos 1960 entramos em uma crise estrutural de longa duração,
na qual não teremos mais aqueles ciclos. É uma longa fase depressiva, onde não
há mais como equacionar dentro da lógica do capital a destruição ambiental e não
tem como atender toda a humanidade que precisa trabalhar para sobreviver.
Estamos em um buraco de proporções razoáveis. Isso não quer dizer, no entanto,
que estamos no fim do capitalismo.<BR><BR><STRONG>ABr - O senhor diz que o
socialismo não morreu. Que projeto a classe trabalhadora pode ter neste
cenário?</STRONG><BR><BR>Antunes - Se há um pensador que ressurge das cinzas com
vigor explosivo neste momento é o Karl Marx. Nenhum pensador chegou perto de
análise crítica do (livro) O Capital (de 1867). Um texto escrito há 150 anos se
mostra atual, ainda que o capitalismo tenha mudado bastante. No Manifesto
Comunista (de Karl Marx e Frederich Engels, de 1848) já estava escrito que o
capitalismo precisa de um mercado global. Assim como não há capitalismo em um só
país não há socialismo em um só país. As revoluções socialistas do século 20
foram derrotadas, mas àqueles que disseram que o socialismo acabou eu provocaria
dizendo que o socialismo não pôde começar. O século 21 é um laboratório em
ebulição.</DIV>
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Uruguay<BR></FONT></STRONG></DIV>
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