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<BODY bgColor=#ffffff background=""><FONT face=Arial size=2>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><EM>boletín solidario de información - 
edición internacional</EM><BR><FONT color=#800000 size=5><U>Correspondencia de 
Prensa<BR></U>Agenda Radical - Colectivo Militante</FONT><BR><U>16 de agosto 
2009<BR></U>suscripciones y redacción: </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV><FONT 
face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Entrevista a João Pedro 
Stédile</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Reforma agrária regrediu no governo 
Lula, diz Stédile</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Líder do MST diz que melhor solução 
para o Senado é a extinção</FONT></STRONG><BR><BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Guilherme Balza<BR>UOL Notícias, São Paulo 
15-9-08</STRONG><BR><BR></DIV>
<DIV align=justify>Ao longo dessa semana, o MST (Movimento dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra) realizou marchas, atos, ocupações - de propriedades rurais e 
de prédios públicos - em diversos Estados para cobrar do governo federal medidas 
concretas para a realização da reforma agrária. As principais reivindicações do 
sem-terra são o assentamento imediato de 90 mil famílias acampadas há mais de 
quatro anos pelo país; a atualização dos índices de produtividade da terra, que 
servem de parâmetro para classificar as propriedades rurais improdutivas, 
inalterados desde 1975; e o descontigenciamento de R$ 800 milhões retidos do 
orçamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) por 
conta da crise econômica. Principal liderança do MST, o gaúcho João Pedro 
Stédile concedeu entrevista ao UOL Notícias, na qual falou sobre a questão 
agrária no Brasil, as eleições presidenciais de 2010, o governo Lula, a crise no 
Senado, além de fazer um balanço dos 25 anos do movimento.<BR><BR><STRONG>UOL 
Notícias - Na quarta-feira (12), houve uma reunião entre representantes do 
sem-terra e dos ministérios, na qual o governo afirmou desconhecer a pauta de 
reivindicações do MST, muitas delas já apresentadas ao presidente Lula em 2005. 
O senhor acha que o governo Lula é realmente melhor para os sem-terra ou é 
apenas aparência?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>João Pedro Stédile - Na audiência havia cinco 
ministérios. Evidentemente que nem o Palácio do Planalto, e muito menos o 
ministro da Reforma Agrária (Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento 
Agrário), disseram que desconheciam a pauta. Quem disse que desconhecia foi o 
ministério da Fazenda e do Planejamento, porque não é a área deles. Agora, o 
ponto mais negativo da conversa não foi isso. O ponto mais negativo é que o 
Ministério da Fazenda abriu o jogo, disse que a crise é grave, que a arrecadação 
diminuiu entre 30 e 50% nesse primeiro semestre e que o governo tem dificuldades 
de recompor o orçamento do Incra, porque eles cortaram pela metade o orçamento 
de R$ 958 milhões destinado a obtenção de terras. Então, nossa reivindicação 
principal agora é que o governo, como um todo, determine que o Ministério da 
Fazenda recomponha o orçamento do Incra. Eu ouvi pessoalmente o ministro Paulo 
Bernardo (Planejamento) se comprometendo que não haveria cortes nos orçamentos 
relativos à pequena agricultura. Portanto, temos o compromisso da palavra dele e 
do presidente Lula de que não haveria cortes sociais. Por isso insistimos que o 
presidente enquadre o Ministério da Fazenda e mande repor o orçamento do Incra, 
até porque está na lei orçamentária aprovada no Congresso. Não estamos pedindo 
nada a mais do que cumprir a lei e não acreditamos que não tenha dinheiro no 
Ministério da Fazenda. Porque para outros setores da sociedade, como indústria 
automobilística, desoneraram o IPI - o que representou um custo de cerca de 20 
bilhões -, desoneraram o depósito à vista dos bancos, o que representou R$ 80 
bilhões dos cofres dos bancos. Portanto nós não estamos convencidos de que [o 
governo] não tenha dinheiro. O que não tem é dinheiro para a reforma agrária e 
para a pequena agricultura.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Qual o balanço que o 
senhor faz dos dois mandatos de Lula com relação a questões sociais e 
agrárias?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - O governo Lula, como ele mesmo gosta de 
comparar, é muito parecido com o do Getúlio Vargas. É um governo de composição 
de classes. Ao longo desses sete anos, ele adotou uma política que agradou 
gregos e troianos. Ou seja, ele, com sua política econômica, beneficiou os 
banqueiros, os grandes grupos transnacionais, e, ao mesmo tempo, fez políticas 
de assistência social, como o Bolsa Família, Prouni, [promoveu] a valorização do 
salário mínimo, aumentou os recursos para o Pronaf, o que atendeu a uma parcela 
mais pobre da sociedade brasileira. Agora, em relação à reforma agrária e à 
pequena agricultura, o governo Lula está em dívida. Porque na reforma agrária 
não tem como você compactuar latifundiário com sem-terra. Um dos dois tem que 
perder. E, infelizmente, o número de desapropriações de fazendas, em especial na 
região Nordeste e nas regiões Sudeste e Sul, que são as regiões mais agrícolas, 
as desapropriações foram menores do que no governo Fernando Henrique Cardoso. O 
atual governo repetiu uma tática que o Jugmann (Raul Jungmann, ministro 
extraordinário da Reforma Agrária no governo Fernando Henrique) fazia: para 
manter as estatísticas, fizeram projetos de colonização na Amazônia. Pegaram 
terras públicas e distribuíram, e com isso mantiveram as estatísticas. Mas, na 
verdade, o que vem acontecendo no Brasil nos últimos 10 anos é que há um 
violento processo de concentração da propriedade da terra. Ou seja, é um 
movimento contra a reforma agrária. Em vez de nós estarmos democratizando a 
propriedade da terra, dando acesso a mais gente e criando mais oportunidade de 
trabalho para que as pessoas não venham para a cidade, nesses últimos anos nós 
sofremos um processo de concentração, justamente por essa ineficácia do governo 
Lula em desapropriar fazendas nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>UOL Notícias - O MST é criticado por setores da 
esquerda e da opinião pública por suposto abrandamento das ações e da postura 
durante o governo Lula. O que o senhor pensa disso?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Isso é uma manipulação ideológica. Tanto pela 
direita, quanto pela esquerda. Porque se você pegar as estatísticas, nós nunca 
fizemos tantas ocupações quanto agora, então setores da esquerda, tipo Conlutas 
(Coordenação Nacional de Lutas) e o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores 
Unificado), dizem que nós ficamos chapa branca e o editoral do Estadão diz que 
por causa do governo Lula nós viramos sem-lei. Então, claro, cada um interpreta 
da sua maneira, mas nós estamos com a consciência tranquila, o nosso papel é ser 
um movimento que faz luta social, e a luta social nós aumentamos, e ao mesmo 
tempo nós temos autonomia do governo. Desafio alguém dizer que o MST segue as 
orientações do PT, PCdoB, ou de qualquer outro partido, do PSOL, desafio alguém 
a provar que o MST é refém das medidas do governo. Tanto que nessa semana 
acabamos de ocupar o Ministério da Fazenda e neste momento estamos com 
manifestações em 12 Estados, vários Incras ocupados, porque nós queremos que se 
resolvam os problemas concretos do povo. Se o nosso objetivo fosse ser bom para 
a opinião pública nós tínhamos fundado uma banda de rock. <BR><BR><STRONG>UOL 
Notícias - Recentemente o senhor afirmou que a Dilma Rousseff é ignorante em 
questões rurais. Por quê?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - A formação técnica dela é na área de energia. 
Ela é uma economista tipicamente urbana. Eu acho que ela está preparada para 
essas questões mais amplas. E quando eu me referi a isso, foi num debate no 
Incra justamente no dia em que o governo cortou 48% do orçamento para a reforma 
agrária. E eu disse, como uma reação natural, de que um governo, em uma crise 
dessa, que toma uma decisão que corta 48% da verba para a reforma agrária, é um 
governo ignorante, que não sabe que a reforma agrária poderia ser um dos 
principais instrumentos, e mais baratos, para conter a crise no meio rural. Essa 
crise que afetou a produção de soja, algodão e milho, diminuiu o preço das 
commodities, diminuiu a taxa de lucro dos fazendeiros, e quem pagou a conta 
foram os trabalhadores assalariados rurais. Cerca de 300 mil trabalhadores 
perderam o trabalho. Para onde eles foram? Para a cidade. Alguns já moravam na 
periferia das cidades. E foram fazer bico. Ora, se o governo quer arrefecer as 
consequências da crise no meio rural, ele poderia imediatamente acelerar, 
aumentar até o orçamento da reforma agrária para dar terra a esses 300 mil 
trabalhadores que ficaram sem emprego no campo.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>UOL Notícias - Nessa mesma época, segundo 
notícias veiculadas na imprensa, a Casa Civil e o Planalto teriam buscado se 
aproximar dos movimentos sociais por conta de uma possível candidatura da Dilma. 
Houve essa aproximação?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Nós percebemos que o Partido dos Trabalhadores 
(PT), do qual ela é filiada, multiplicou reuniões de consulta aos movimentos, 
como partido, não como candidatura. Assim como outros [partidos]. Nós, MST, como 
somos um movimento social que zela pela autonomia em relação ao governo, ao 
Estado, aos partidos e à religião, estamos muito à vontade, porque nós 
conversamos com todos os partidos. Conversamos com PDT - eu mesmo sou muito 
amigo do senador Cristovam Buarque (PDT-DF) -, com o PCB, PCdoB, e PMDB. Nós 
temos ótimas relações com o governador [Roberto] Requião no Paraná. Conversar e 
ter diálogo faz parte da democracia. Não significa se subordinar. E essa é a 
política do MST e que os movimentos sociais em geral vão adotar. De diálogo, 
conversações, sem subordinação.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Entre Dilma e 
Lula, quem busca mais diálogo com os movimentos e qual dos dois é mais alinhado 
ao agronegócio?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Isso são questões mais pessoais. Evidentemente 
que o presidente Lula tem uma história mais vinculada. Ele é fruto do reascenso 
do movimento de massas, que houve de 1978 até 1990. E por isso que se construiu 
todo esse carisma em torno da sua pessoa, o que a Dilma não tem. É claro que ele 
tem mais projeção entre movimentos sociais e entre os pobres do campo. Agora, a 
relação do governo com o agronegócio não depende de carisma pessoal, de 
comportamento pessoal, nem de conhecimento. A relação com o agronegócio vai 
depender de como vai evoluir a luta de classes no Brasil. Eu acredito que nos 
próximos anos nós precisamos e teremos um grande debate na sociedade brasileira 
em torno de um novo modelo de produção de alimentos e de agricultura. Porque o 
modelo do agronegócio está falido. É um modelo que só interessa a empresas 
transnacionais e a exportações. E, cobra como fatura do povo brasileiro, uma 
degradação ambiental. Não é à toa que o Brasil se tornou o maior consumidor 
mundial de agrotóxicos. Na safra passada, jogamos 713 milhões de toneladas de 
veneno sobre o nosso solo, a nossa água e os nossos alimentos. O agronegócio é o 
modelo de produção que expulsa mão-de-obra porque adota a mecanização intensiva. 
Então não há lugar para camponeses e para os pobres nesse modelo. O resultado de 
tudo isso é que pode até aumentar as exportações, mas pro mercado interno 
aumenta cada vez mais a produção de alimentos contaminados. Então, eu acredito 
que a população da cidade, que é quem está comendo esses alimentos contaminados, 
quem está sentindo um aumento do câncer, e está sentindo na pele a conseqüência 
desse processo, assim como os ambientalistas, serão os aliados do MST para nós 
mudarmos o modelo agrícola e fortalecemos outro modelo baseado na reforma 
agrária e na agricultura familiar.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>UOL Notícias - Já que o senhor falou dos 
ambientalistas, a senadora Marina Silva pode se desfiliar do PT e concorrer à 
presidência pelo PV. O que o senhor pensa disso?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Eu vou te dar uma opinião pessoal porque o fato 
é muito recente e nós não conversamos nos coletivos do MST. Pessoalmente eu vejo 
com muito bons olhos, com muita simpatia. Porque nós vivemos em uma sociedade 
democrática e quanto mais candidatos a presidente houver, melhor. Porque isso 
gera debate na sociedade. E um dos problemas que nós temos daqui até 2010 é a 
necessidade de debater projetos para sociedade. Não basta apenas debater 
candidaturas e partidos. E o pior dos cenários que nós podemos ter para a 
democracia brasileira e para o projeto de sociedade é se nós chegarmos a uma 
conjuntura eleitoral de que a decisão se defina apenas entre Dilma e Serra no 
primeiro turno. Por isso, pessoalmente, mesmo sendo filiado ao PT, vejo com 
muita simpatia que haja outras candidaturas porque isso vai oxigenar a política 
brasileira e obrigar a se fazer um debate não de nomes, mas sim de projetos. 
Então, uma candidatura da Marina vai trazer para o debate um projeto que ela 
defende. Com o enfoque muito maior à sustentabilidade do meio ambiente, à 
produção de alimentos sadios, à preservação da Amazônia, que é a região dela, e 
isso que é importante, é debater. O número de votos é o de 
menos.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Temos a chance de ter três mulheres 
disputando a eleição com possibilidade de alcançar grande eleitorado: Heloísa 
Helena pelo PSOL, Dilma pelo PT, e possivelmente a Marina Silva pelo PV. 
Considerando a história de cada uma, o senhor estaria mais inclinado a apoiar 
qual em uma eleição?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Eu acho que o problema não é em quem votar. Eu 
acho que nós, como movimento social e com militantes, devemos estimular sempre o 
debate político. O debate de projetos. Então vamos esperar. Não é só julgar as 
pessoas e as suas biografias. Se nós ficássemos julgando a biografia dos 
parlamentares, 70% deles não deveria estar no Congresso. No entanto o povo vota 
neles. Então, eu prefiro defender a ideia de que tenham mais candidatas e 
candidatos e que nós aproveitemos bem essa pluralidade de ideias para daqui até 
outubro de 2010 nós dedicarmos o máximo de tempo para debater 
projetos.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Sob o ponto de vista dos sem-terra, a 
situação agrária no Brasil evoluiu ou continua praticamente igual a de 1996, 
quando houve o massacre de Eldorado dos Carajás e o movimento ganhou 
projeção?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>João Pedro Stédile - Há aspectos que melhoraram muito, 
como, por exemplo, a criação do programa Luz Para Todos, que praticamente 
universalizou o acesso à energia elétrica. Há outros aspectos que pioraram, como 
as condições de trabalho, as relações trabalhistas, a existência de trabalho 
escravo. Melhorou o nível de violência dos conflitos. Antigamente havia muito 
mais assassinatos, os fazendeiros eram mais prepotentes, queriam resolver tudo 
no tiro. Isso não significa que nós deixamos de ser reprimidos, mas agora a 
repressão é judiciária. É mais uma perseguição política ao MST e às suas 
lideranças. Do ponto de vista da organização da produção, eu acho que a situação 
piorou. Ainda somos reféns de 15 anos de neoliberalismo, que conseguiu impor ao 
Brasil esse modelo do agronegócio. Isso é um desastre para os nossos recursos 
naturais, para o meio ambiente, para a produção de alimentos. Recentemente a 
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) divulgou uma pesquisa não 
recomendando o consumo de 20 produtos e não aconteceu nada. Se fossemos uma 
sociedade mais organizada, o consumo desses produtos seria proibido. Mas é 
preciso criar condições para produzir alimentos saudáveis. E isso só em um outro 
modelo agrícola, baseado na agroecologia, na pluricultura. Hoje, a pequena 
agricultura perdeu espaço e as empresas transnacionais tomaram conta. Em cada 
segmento da produção agrícola, a produção se concentrou de tal maneira que nós 
temos quatro ou cinco empresas transnacionais controlando tudo. Nós regredimos 
do ponto de vista da soberania alimentar e do controle da nossa 
agricultura.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Em 25 anos, no que o MST evoluiu, no 
que regrediu, o que precisa mudar, quais são as maiores dificuldades que vocês 
enfrentam e quais os desafios?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Evoluímos em muitos aspectos internos. Em 
convênio com o Pronera (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), já 
formamos mais de 3.000 filhos de camponeses em cursos superiores. Temos 
atualmente mais de 3.500 frequentando universidades e mais de 300 companheiros 
fazendo pós-graduação, mestrado e doutorado. Isso é um avanço para a nossa 
organização, porque nos demos conta de que o conhecimento é fundamental para 
você construir uma sociedade democrática e, sobretudo, para resolver os 
problemas concretos. O MST investiu muito na educação da sua militância e da sua 
base. O que é uma novidade. Porque não havia essa tradição nos movimentos 
camponeses nem no Brasil, nem no mundo. Nós avançamos muito e digo isso com uma 
autocrítica porque há seis, dez anos atrás nós não dávamos bola para a 
agroecologia, achávamos que era coisa de ambientalista. Quando começamos 
perceber a gravidade da produção agrícola, as consequências dos agrotóxicos, do 
monocultivo, é que fizemos uma autocrítica e adotamos a agroecologia. Avançamos 
também no sentido de valorizar a cultura camponesa. O MST hoje tem vários pontos 
de cultura, estimulamos o teatro, fizemos convênios com o Teatro do Oprimido, do 
[Augusto] Boal, com o Ministério da Cultura, passamos filmes no 
interior...<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - E os desafios?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Os desafios ainda são enormes. Hoje não se 
trata mais de descobrir qual é o latifundiário atrasado e ocupar a fazenda dele. 
O latifúndio se modernizou porque se vinculou às empresas multinacionais e 
adotou o agronegócio. Vamos pegar o exemplo do banco Opportunity. O Daniel 
Dantas comprou 600 mil hectares no Pará, em 52 fazendas, onde ele cria mais de 
450 mil bois. Para que um banco precisa de terra? Quando nós começamos a ocupar 
essas fazendas, nós enfrentamos um banco que, segundo relatório da Polícia 
Federal, é testa de ferro do Citigroup. Então, quando se ocupa uma fazenda do 
Dantas, não é só de um fazendeiro atrasado do Pará. Se enfrenta o capital 
financeiro instalado na avenida Paulista (em São Paulo). E eles têm tentáculos 
nos meios de comunicação, como a Isto É, [que] é do Dantas, do banco 
Opportunity. Então, a Isto É, na outra semana após a ocupação, na capa, nos 
chama de bandidos, terroristas etc (em 2007, foi noticiado que o grupo de Dantas 
iria adquirir 51% do capital da Editora Três, proprietária da Isto É, mas a 
negociação não se concretizou por desistência da editora; o UOL Notícias 
procurou a empresa que, por meio da sua secretaria jurídica, afirmou que o grupo 
de Dantas não possui qualquer participação no seu capital e questionou o porquê 
de Stédile ter se referido ao banqueiro). Em São Paulo, antigamente nós 
ocupávamos uma área de pecuária extensiva, no Pontal [do Paranapanema]. Hoje, as 
melhores áreas produtivas se transformaram em monocultivo da cana. E de quem é a 
maior fazenda de cana aqui em São Paulo com 100 mil hectares? Da usina comprada 
pela Cargill. Então, quanto nós vamos lá nos manifestar contra o monocultivo da 
cana, estamos enfrentando a Cargill, que é o maior grupo mundial de grãos. Essa 
é a mudança na correlação de forças que prejudicou muito os camponeses. E daí 
vem a necessidade de fazer uma reforma agrária não mais só ocupando a terra, mas 
com a mudança de modelo econômico.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Eu gostaria que 
o senhor comentasse a política agrária dos dois últimos governos do Estado São 
Paulo, de José Serra e Geraldo Alckmin (ambos do PSDB)?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - A minha atuação é mais em nível nacional. 
Embora eu more aqui em São Paulo, não acompanho as questões mais relativas aos 
Estado. São outros companheiros que acompanham isso. Pelo o que sei, os dois 
governos foram apenas apoio ao processo de expansão do agronegócio, sobretudo da 
expansão monocultivo da cana, que é lamentável. Nós esperamos que algum dia eles 
se deem conta que temos que urgentemente mudar o modelo agrícola, até porque o 
modelo do monocultivo da cana traz conseqüências graves no equilíbrio climático 
e afeta as populações das cidades. Na região de Ribeirão Preto, que hoje já 
virou monopólio da cana, tem pesquisas da USP (Universidade de São Paulo) que 
[mostram que] nos últimos 20 anos a temperatura aumentou 2ºC na média. A 
prefeitura de Ribeirão já tem problemas porque ela capta água do lençol freático 
do aquífero Guarani para abastecer a população. A cada ano eles têm que 
aprofundar ainda mais a captação porque o monocultivo da cana suga muita água. 
Então falta abastecimento de água para a população por causa do modelo agrícola. 
Isso é de responsabilidade do governo estadual. Então, faço até como um apelo 
para que o governo de SP fique mais alerta sobre as consequências que o atual 
modelo agrícola traz para a população em geral.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - O 
que o senhor pensa da crise do Senado?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - A crise do Senado é o espelho mais verdadeiro 
possível da forma como a classe dominante brasileira trata os bens públicos e a 
democracia. Eles são o espelho disso. Eles tratam as coisas públicas como se 
fossem propriedade privada e tratam a opinião pública com escárnio. Por isso, eu 
acho que a melhor solução para o Senado é aquela que a OAB (Ordem dos Advogados 
do Brasil) já está defendendo, que na próxima Constituinte nós eliminemos o 
Senado da sociedade brasileira. Nossa sociedade não precisa do Senado. Basta uma 
Câmara dos Deputados. E ainda mais representativa, com, em vez de 500 deputados, 
mil. Na Câmara também tem que haver uma proporcionalidade [de deputados] mais 
adequada. O voto daquele que mora no Acre ou no Amazonas vale 20 vezes mais do 
que o voto de um cara que vota em São Paulo. Isso é uma distorção na democracia, 
na qual cada pessoa representa um voto. E essas questões que envolvem a 
federação dos Estados poderiam ser resolvidas em um conselho da República, que 
não precisasse de tanto dinheiro. Quem pode imaginar que o Senado gasta hoje R$ 
2 bilhões por ano? Isso não tem necessidade nenhuma. Porém, mais do que isso, é 
preciso fortalecer outros mecanismos da democracia brasileira, que certamente 
não passam pelo Senado.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - É possível pensar em um 
projeto de esquerda para o Brasil, ou vislumbrar uma sociedade mais justa e 
igualitária, por meio das instituições democráticas que temos hoje?</STRONG> 
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Claro. Há um debate na sociedade que se 
aglutina em quatro campos: alguns setores das elites, das classes dominantes, 
defendem a subordinação total do Brasil ao capital internacional. Aí estão os 5% 
mais ricos, as empresas transnacionais, os bancos, que são os que defendem 
políticas neoliberais e que, nos partidos, tem sua expressão, sobretudo, entre 
os tucanos e entre o DEM; temos um setor nacionalista, que está presente em 
todos os partidos, que defende um projeto "neo-keynesiano" para o Brasil, com 
algumas políticas de distribuição de renda, redução da taxa de juros e 
fortalecimento do mercado interno; há outros setores da esquerda brasileira, 
mais radicais, como correntes do PSOL e do PSTU, que defendem o "socialismo já". 
Eles acreditam que o capitalismo já chegou a sua maioridade aqui no Brasil e que 
não há outra saída sem o socialismo. Só que a palavra socialismo é muito forte. 
Significa socialização da propriedade dos meios de produção. Não é apenas você 
ser socialista no sentido humanista, ser socialista por querer uma sociedade 
mais justa; nós, dos movimentos sociais, defendemos um quarto projeto, que 
chamamos de projeto popular, que é, nos marcos da nossa sociedade, fortalecermos 
de fato o Estado para que ele adote uma política econômica que leve ao 
desenvolvimento do país em benefício do povo. Quais são os problemas 
fundamentais do povo no Brasil? Desemprego alto, falta de moradia, necessidade 
de reforma agrária e ausência de educação. Então, [nós defendemos] um programa 
para a sociedade que coloque o dinheiro público como prioridade para resolver os 
problemas do povo. Mas não basta colocar no papel "esse é o nosso projeto". É 
preciso construir, acumular forças populares que atuem para a implementação 
desse projeto.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Esse projeto popular é um caminho 
para uma sociedade socialista?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Ele é fundamental. Ele seria uma espécie de 
transição para nós construirmos uma sociedade mais igualitária. Primeiro vamos 
resolver os problemas fundamentais da população. Que é comida, trabalho, moradia 
e educação. Depois, podemos avançar para a socialização de outros meios de 
produção da nossa sociedade.<BR><BR><STRONG>UOL Notícias - Qual é o modelo de 
reforma agrária defendido hoje pelo MST?</STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><BR>Stédile - Na história das reformas agrárias, há dois 
tipos clássicos. Primeiro, a reforma agrária capitalista, que todos os países do 
hemisfério norte fizeram entre a metade do século 19 e ao longo do século 20 até 
a Segunda Guerra Mundial. E eles fizeram as reformas agrárias clássicas 
capitalistas distribuindo a propriedade da terra para fortalecer o mercado 
interno e desenvolver a indústria nacional. Depois houve uma outra reforma 
agrária clássica, que aconteceu no bojo de revoluções socialistas, ou de 
revoluções populares, como no Vietnã, China, Rússia, Nicarágua e Cuba. Qual é a 
realidade hoje no Brasil? Nós tentamos desde o início do movimento defender uma 
reforma agrária clássica capitalista, mas não há forças acumuladas burguesas que 
queiram essa reforma. Por isso que o governo não faz reforma agrária. Quem fez 
as reformas agrárias capitalistas? Foram as burguesias industriais, que queriam 
desenvolver o mercado interno e a indústria. Também seria uma ilusão achar que a 
solução seria uma reforma agrária socialista, porque essa reforma só acontece 
depois de uma revolução. Ela é casada com um processo revolucionário, que não é 
o que temos hoje no Brasil. O que nós propomos é uma reforma agrária que 
chamamos de popular, que se diferencia das duas. Nessa reforma não basta 
distribuir terra, como na reforma capitalista. É necessário também desenvolver 
agroindústrias na forma cooperativa, criar pequenas agroindústrias nos 
assentamentos. Assim, o agricultor sai mais rápido da pobreza, porque daí ele 
não vai só produzir matéria prima, mas também se apropriar do valor agregado dos 
produtos e gerar emprego no meio rural.</DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=3><FONT color=#800000 
size=4>Correspondencia de Prensa</FONT><BR>boletin solidario de información - 
edición internacional<BR></FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT size=3><FONT 
color=#800000 size=4>Agenda Radical - Colectivo 
Militante</FONT><BR></FONT></STRONG><A 
href="mailto:Agendaradical@egrupos.net"><STRONG><FONT 
size=3>Agendaradical@egrupos.net</FONT></STRONG></A><BR><STRONG><FONT 
size=3>Gaboto 1305 - Teléf: (5982) 4003298 - Montevideo - 
Uruguay</FONT></STRONG><BR></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV></FONT></BODY></HTML>