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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><EM><U>boletín solidario de
información</U></EM><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de
Prensa</FONT> <BR><U>5 de noviembre 2009</U><BR><FONT color=#800000>Edición
Internacional de Agenda Radical</FONT><BR><U>Colectivo Militante</U><BR>Gaboto
1305 - Teléfono 4003298 - Montevideo - Uruguay<BR>redacción y suscripciones:
</FONT></STRONG><A href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV> </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Entrevista a Vera Malaguti
Batista</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT size=3>"Rio virou um
laboratório de técnicas genocidas" </FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG><FONT
size=3></FONT></STRONG><BR> </DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Rodrigo
Mendes </STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial size=2><STRONG>Correio da
Cidadania<BR></STRONG><A
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV><FONT
face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR><BR>Toda a grande mídia tem dado vasto destaque nas
últimas duas semanas à "escalada da violência" no Rio de Janeiro. Mas há sempre
o questionamento acerca do quanto isso chega a ser um acontecimento fora do
comum. Além do mais, há pouca possibilidade de uma análise mais sóbria, que fuja
da idéia de que há um confronto entre as forças da lei e as forças do crime.
Muitos especialistas, defensores dos direitos humanos, entidades e militantes
apontam que há complicações mais profundas na política de segurança que se
acostumou a aplicar no Brasil atual. É o caso da socióloga Vera Malaguti
Batista. Militante acadêmica do Instituto Carioca de Criminologia, ela defende
teses muito diferentes, quando não opostas, às que estão implícitas no discurso
predominante da grande mídia, que com suas análises apenas colabora em formar um
consenso generalizado na população. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Como você analisa a atual
política de segurança pública do Rio de Janeiro? Pode ser classificada como
adequada? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Vera Malaguti: Lembrando uma polêmica que aconteceu um
tempo atrás entre Marta Suplicy e Joel Rufino dos Santos: a Marta dizia que a
esquerda precisava de uma política de segurança pública e o Joel Rufino disse
que política de segurança pública é coisa da direita, e que a esquerda precisa
mesmo é de política de Direitos Humanos. Há uma grande discussão em torno disso,
que redundou em um fracasso, no chamado ‘realismo de esquerda’, na idéia de que
a esquerda tinha de praticar uma política de segurança pública mesmo sem ter
derrotado o capitalismo. Acabou dando o que deu na Europa, nos Estados Unidos. A
esquerda contribuiu para a expansão do sistema prisional neoliberal; a esquerda
começou a assimilar, a dar a mesma resposta da mídia, e para a mídia, ao invés
de desconstruir o conceito de segurança pública no sentido de lei e ordem.
Contribuiu para essa gestão criminal da pobreza, ao discurso que prega o
ordenamento dos deserdados da ordem neoliberal. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Hoje, vemos um monte de sociólogo – e eu posso falar
porque sou socióloga também – fazendo projetinho de segurança pública. É uma
vergonha o que está acontecendo no Rio de Janeiro, eu olho o jornal e não
acredito na quantidade de pessoas aplaudindo essa aliança entre o governo do
estado do Rio e o governo federal. Eu entendo aliança eleitoral em função da
governabilidade, sou muito compreensiva com as dificuldades de governabilidade
do governo Lula, mas tudo tem limite ético. Acho que o governo federal apoiar
essa política de segurança truculenta do Rio de Janeiro é perder o rumo da
História. São muitos equívocos, tem ministro da Justiça pedindo fim da
progressão... </DIV>
<DIV align=justify><BR>A esquerda tem medo do lúmpen e há uma má compreensão da
questão criminal pela teoria marxista. É preciso parar de contribuir com a
implementação da ordem neoliberal e começar a proteger os pobres do massacre.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Vi um levantamento que aponta que desde o começo de 2007
houve 21 mil homicídios no Rio de Janeiro. A polícia do Rio mata, com aplausos
da imprensa, da elite e de parte do mundo acadêmico e da esquerda, 1300 pessoas
por ano – e isso são os números oficiais! </DIV>
<DIV align=justify><BR>Acho que esse governo do estado do Rio de Janeiro
trabalha em um tripé de negócios privados, grande mídia e segurança pública. Não
tem projetos de política pública. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Há uma ligação entre a propalada escalada da
violência e a escolha do Rio para sediar os Jogos Olímpicos? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>VM: A mídia fala de explosão de criminalidade porque
legitima essas políticas tenebrosas, exterminadoras, truculentas. Com a luta de
classes nesse capitalismo de barbárie, a violência não aumenta só no Rio de
Janeiro, é o modelo econômico que gera violência, os últimos episódios
demonstraram: há uma visão de segurança pública baseada numa ideologia
apartadora à la Bush. Há um conflito social, apela-se para a indústria bélica e
essa indústria se aquece. Isso produz o discurso jurídico do Inimigo, alguém que
pode ser torturado, exterminado, alguém cujas famílias vão pagar também.
<BR>Quando o secretário de segurança fala que os últimos eventos foram "nosso 11
de setembro", há também uma tentativa da imprensa de esconder a qualificação
desse debate, fica sempre naquele papo da "escalada de violência". </DIV>
<DIV align=justify><BR>Houve um coronel, além de várias outras pessoas que
entendem de polícia, que disse ser um absurdo usar helicóptero da maneira como
se vem usando. Ali não tem confronto, é extermínio, homicídio. Nenhuma polícia
do mundo usa helicóptero daquele jeito, isso faz parte de uma ideologia de
guerra, inspirada nos modelos de apartação mais questionados no mundo
contemporâneo. Um sistema que produz o policial matador. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Aí a elite fica espantada quando vê dois policiais
passando por cima de um cara agonizando para roubar seu casaco, seu tênis. Ora,
para o cara que mata cinco, que mata vinte, o que é roubar para ele? A polícia
vai punindo, torturando, roubando, saqueando. </DIV>
<DIV align=justify><BR>É o que acontece quando você dá todo poder à polícia, não
há freios democráticos. O governador disse que a polícia não tem política, pois,
para ele, política é só a troca de favores, a barganha e negociação de cargos.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>É a naturalização da morte. Isso expõe tremendamente o
policial também, afeta muito a vida dele, da família dele, tem muito sofrimento.
Precisamos de um grande movimento com as mães dos meninos mortos, dos policiais,
contra a naturalização da morte. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Há alguma chance de os problemas serem, pelo
menos em parte, resolvidos até as Olimpíadas? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>VM: Temos que botar pra correr quem está gerindo a cidade
e o estado – e essa mentalidade dos grandes negócios esportivos, da concentração
das multinacionais. É preciso fazer das Olimpíadas um grande projeto para o
povo. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Veja como foi o Pan-americano, todo dia tinha massacre no
Morro do Alemão. Teve dia que chegaram a 20 mortos. E a grande pergunta tinha de
ser: estão derrotando o tráfico? Os dirigentes da segurança pública dizem que
está tudo no Alemão, então aquela matança não serviu pra nada. O Pan-americano
não trouxe nada para o Rio, apenas alguns investimentos milionários, todos
concentradíssimos. Proporcionou muitas viagens para governadores, dirigentes,
políticos. E o Maracanã hoje não tem mais vendedor ambulante, flanelinha...
essas pessoas são presas, a pobreza é tratada como sujeira. </DIV>
<DIV align=justify><BR>E o Rio virou um laboratório de técnicas genocidas. Daqui
até 2016, esperamos derrotar esse pessoal (que está hoje nos governos municipal
e estadual). </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Ou seja, os conflitos vão se acirrando, a
temperatura só tende a subir... </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>VM: Veja só, a mesma indústria que vai vender o
helicóptero blindado vende a arma que derruba o helicóptero blindado. São redes
econômicas. As favelas são punidas como um todo, mas vai sobrar para todo mundo,
inclusive para os ricos. Uma elite matadora sofre com os efeitos disso também. 
</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>CC: Há alguma ligação ou similaridade entre a
atuação das facções criminosas do Rio e do PCC em São Paulo e entre as políticas
de segurança dessas duas cidades? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>VM: Acho que não. O que há em comum, e não só no Rio e em
São Paulo, mas na Bahia e em outros lugares onde isso está começando, é que
todas as facções são fruto do sistema penitenciário. A mistura de crimes
hediondos, a legislação do direito penal do inimigo e o neoliberalismo
produziram essa loucura. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Todos os grandes líderes entraram no sistema prisional
por pequenos delitos e foram se barbarizando. Cada vez que eles têm menos
expectativa de sair da prisão, de encontrar acolhimento, isso aumenta. A pauta
da esquerda tinha de ser prender menos, amparar as redes de familiares de
presos, estabelecer mais comunicação de dentro para fora da prisão, para acabar
com essa idéia de que quem está fora é o cidadão de bem – essa expressão que a
gente ouve tanto – e dentro da prisão está ‘O Mal’. </DIV>
<DIV align=justify><BR>É preciso romper com essa política estadunidense
proibicionista das drogas. Não se pode trabalhar uma questão de saúde pública
pela legislação penal. Vários países já começaram a se desgarrar dessa política
que começou com o Nixon e foi ao auge com Reagan. Temos que parar de querer
resolver a conflitividade através da pena, do sistema penal.
<HR>
<BR></FONT></DIV></BODY></HTML>