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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de 
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de Prensa</FONT> 
<BR><U>10 de abril 2010</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Colectivo Militante - 
Agenda Radical</FONT><BR>Gaboto 1305 - Montevideo - Uruguay<BR>redacción y 
suscripciones: </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV></FONT><FONT face=Arial size=2>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Río de Janeiro<BR><BR>Fomentada pelo 
capital, tragédia no Rio produz clima para novas "doutrinas de 
choque"&nbsp;&nbsp;&nbsp; <BR></FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Marcelo Badaró *&nbsp;&nbsp;&nbsp; <BR>Correio da 
Cidadania<BR></STRONG><A 
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG>http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify><BR>&nbsp;<BR><EM>"Sou o monstro criado por ti <BR>No lixão 
do Jaracati <BR>Foi ali que vi minha mãe <BR>Garimpando um rango pra mim <BR>Foi 
ali que eu vi os irmãos <BR>Todos negros com calos nas mãos <BR>Atração pro boy 
que filmava <BR>Da sacada de sua mansão <BR>Foi ali que eu vi o contraste 
<BR>Duas cidades em uma cidade <BR>Foi ali que eu vi que nós éramos 
<BR>Patrimônio da desigualdade"&nbsp;<BR>(O Imortal, Gíria Vermelha)</EM> 
<BR>&nbsp;<BR>Moro entre Niterói e Santa Teresa e escrevo quando muitos de meus 
vizinhos nos dois locais não têm mais onde morar, depois de três dias de chuvas 
que castigam o Grande Rio. Muitos outros não sobreviveram. Somente no Morro do 
Bumba, em Niterói, a estimativa é de que 200 pessoas possam ter morrido 
soterradas. <BR>&nbsp;<BR>Estimativas, não dados precisos, porque aquelas 
pessoas que moravam na encosta de um antigo aterro sanitário são realmente 
tratadas pelo Estado como resíduos urbanos. Não há cadastramento da área para 
precisar o número de casas e pessoas atingidas. Mas o prefeito da cidade, o Sr. 
Jorge Roberto da Silveira (PDT), afirmou na véspera desse desabamento, quando o 
número de vítimas em Niterói já ultrapassava 60 pessoas, que o número de casas 
em áreas de risco na cidade era muito pequeno para justificar obras de contenção 
de encostas muito caras, sendo mais barato remover os moradores dessas áreas. 
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Nada a estranhar, partindo de um prefeito que tomou como 
prioridade asfaltar as ruas da Zona Sul (sem as devidas obras de drenagem) e 
construir torres panorâmicas, mas que destinou no Orçamento Municipal de 2010 
apenas 50 mil reais para obras de redução de risco de desabamentos e 
escorregamentos de encostas, enquanto gasta mais de 2 milhões por ano somente 
com o custeio de um Conselho Consultivo, no qual reduz os riscos de amigos e 
correligionários com uma polpuda sinecura, conforme denunciou o vereador 
Renatinho (PSOL). <BR>&nbsp;<BR>Para os trabalhadores e trabalhadoras mais 
pauperizados, que só encontraram aquelas encostas para morar, a solução "mais 
barata" é a remoção. Nada se diz, porém, das ocupações de outras encostas, tão 
ou mais irregulares e também sujeitas a deslizamentos de terra, como ocorreu na 
Estrada Fróes, área "nobre" para a especulação imobiliária da cidade, que há 
poucos anos conquistou concessões da prefeitura para construir um imenso 
condomínio de mansões e prédios de luxo em local que deveria ser destinado à 
preservação ambiental. <BR>&nbsp;<BR>Remoção é, aliás, a palavra de ordem. O 
governador Sérgio Cabral (PMDB), ao lado do presidente Lula da Silva (PT) e com 
sua aprovação, apressou-se a definir os responsáveis pelas mortes: os moradores 
das favelas cariocas, que teimam em construir em áreas de risco. Por isso, 
afirmou a correção de sua proposta de construção de muros "ecológicos" de 
contenção (complementados, é claro, pelas placas de "isolamento acústico"). 
</DIV>
<DIV align=justify><BR>Tais instrumentos - passo adiantado para converter 
favelas e áreas periféricas de guetos, que já o são, em campos de concentração, 
para mais eficiência na ação dos caveirões e UPPs (todos "pacificadores") - 
agora são apresentados como solução para o problema das chuvas. Ao invés de 
urbanização das favelas, regularização do direito ao solo, construção de 
moradias decentes e contenção das encostas, a "contenção" das pessoas, pelos 
muros e armas. E se remoção é a solução, Cabral também anunciou que a Polícia 
Militar estava à disposição de todos os prefeitos para efetivar essa política. 
<BR>&nbsp;<BR>Eduardo Paes (PMDB), o prefeito do Rio, que coincidentemente era o 
"prefeitinho" de César Maia na região da Barra da Tijuca e Jacarepaguá, quando 
das também trágicas enchentes de 1996, é o que mais rapidamente se apresentou 
para defender a necessidade das remoções, amplas, gerais e irrestritas, 
classificando de demagogos os que a elas se opõem. A lista começa pelos 
moradores do Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, castigado pelas chuvas desta 
semana, mas logo se amplia para todas as favelas que já haviam sido listadas 
como prioritárias para remoção em função das Olimpíadas, em número muito 
superior ao de qualquer levantamento de áreas de risco na cidade. 
<BR>&nbsp;<BR>Quanto à prevenção, agora se anuncia que o governo federal enviará 
200 milhões para o estado do Rio de Janeiro. Tarde demais, como sempre, pois até 
aqui nenhum tostão foi enviado para obras de prevenção de enchentes e contenção 
de encostas este ano, e descobriu-se agora que o ex-ministro Geddel Vieira Lima 
(PMDB), candidato ao governo baiano, enviou 50% das verbas federais de prevenção 
de desastres para a Bahia, enquanto o Rio recebeu menos de 1%. Mas não se 
desesperem os que estão sem teto por conta das chuvas, pois o governo federal 
liberou os saques das contas de FGTS (dinheiro do próprio trabalhador) dos 
atingidos. "FG o que?", perguntam os milhares de trabalhadores precarizados que 
foram atingidos por esse desastre. <BR>&nbsp;<BR>O caso é que hoje, como tudo na 
sociedade de classes instituída pelo poder do capital, as tragédias não são 
vistas pelo mesmo ângulo por todos. Para os interesses do capital imobiliário, 
da construção civil, dos monopólios do transporte e serviços públicos e de seus 
representantes, eleitos para ocupar os governos através de campanhas que 
financiam com fartura de recursos, as tragédias, como tudo mais, são bom 
negócio. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Naomi Klein, no livro "A doutrina do Choque", documentou 
e analisou como crises econômicas, catástrofes naturais (furacões, terremotos, 
tsunamis) e guerras são cada vez mais instrumentalizadas pela lógica do capital, 
como momentos "excepcionais", em que grandes comoções criam o clima necessário 
para a aplicação das doutrinas de choque, com retirada de direitos, 
privatizações e criminalizações (ver a esse respeito a entrevista publicada na 
revista Classe, no. 1). <BR>&nbsp;<BR>Nada mais apropriado para se entender o 
Brasil de hoje e, em especial, o Rio de Janeiro. Aqui, na terra dos "choques de 
ordem", a tragédia fomentada pelo capital – que transforma o solo urbano em uma 
de suas principais áreas de investimento e especulação, inviabilizando a moradia 
e vida digna da maioria da classe trabalhadora – não está sendo pranteada pelos 
governantes. Dias de luto oficial e lamentos na TV não escondem as comemorações 
daqueles que nada fizeram para prevenir desastres, porque esperam por eles, para 
impingir mais "choques" à população. A nós cabe, sim, a comoção com a tragédia 
que retira tantas vidas, mas também a indignação, semente da reação, que não 
pode tardar. <BR>&nbsp;<BR>* Marcelo Badaró é professor do Departamento de 
História da Universidade Federal Fluminense. 
<HR>
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