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<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de
información<BR></U><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de Prensa
<BR></FONT><U>18 de octubre 2010<BR></U><FONT color=#800000 size=5>Colectivo
Militante - Agenda Radical<BR></FONT>Gaboto 1305 - Montevideo -
Uruguay<BR>redacción y suscripciones: </FONT></STRONG><A
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
size=4>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR><BR>Entrevista a Francisco
"Chico" de Oliveira<BR><BR>Sociólogo e fundador do PT afirma que "Lula é mais
privatista que FHC" </FONT></STRONG></DIV>
<DIV><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV><STRONG><FONT size=3>Afirma que tanto faz votar em Dilma Rousseff (PT) ou
José Serra (PSDB</FONT></STRONG></DIV>
<DIV><BR><BR><STRONG>Uirá Machado</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Folha de Sao Paulo, 17-10-10</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><A
href="http://www1.folha.uol.com.br/">http://www1.folha.uol.com.br/</A></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify>No começo de 2003, ano em que rompeu com o PT, o sociólogo
Francisco de Oliveira, 76, afirmou que "Lula nunca foi de esquerda". Agora, o
professor emérito da USP dá um passo adiante e diz que Lula, mais que Fernando
Henrique Cardoso, é "privatista numa escala que o Brasil nunca conheceu". Na
entrevista abaixo, Oliveira, um dos fundadores do PT, também afirma que tanto
faz votar em Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB), analisa o papel de Marina
Silva (PV) e critica a entrada do aborto no debate político pela ótica da
religião. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>-Folha - Qual a sua avaliação sobre o debate
eleitoral no primeiro turno? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>-Francisco de Oliveira - Fora o horror que os tucanos têm
pelos pobres, Serra e Dilma não têm posições radicalmente distintas: ambos são
desenvolvimentistas, querem a industrialização... <BR>O campo de conflito entre
eles é realmente pequeno. Mas, por outro lado, isso significa que há problemas
cruciais que nenhum dos dois está querendo abordar. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>-Que tipo de problema? </STRONG></DIV><STRONG>
<DIV align=justify><BR></STRONG>-Não se trata mais de provar que a economia
brasileira é viável. Isso já foi superado. O problema principal é a distribuição
de renda, para valer, não por meio de paliativos como o Bolsa Família. Isso não
foi abordado por nenhum dos dois. </DIV>
<DIV align=justify><BR>A política está no Brasil num lugar onde ela não comove
ninguém. Há um consenso muito raso e aparentemente sem discordâncias. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>-Dá a impressão que tanto faz votar em uma ou no
outro... </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- É verdade. É escolher entre o ruim e o pior. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>-Qual a sua opinião sobre a movimentação de
igrejas pregando um voto anti-Dilma por causa de suas posições sobre o aborto?
</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- É um péssimo sinal, uma regressão. A sociedade
brasileira necessita urgentemente de reformas, e a política está indo no sentido
oposto, armando um falso consenso. O aborto é uma questão séria de saúde
pública. Não adianta recuar para atender evangélicos e setores da Igreja
Católica. Isso não salva as mulheres das questões que o aborto coloca.
<BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- O que significa a entrada desse tema no debate?
</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>-Representa o consenso por baixo devido ao êxito
econômico. Essas posições conservadoras ganham força. Há uma tendência a todo
mundo ser bonzinho. Nesse contexto, ninguém quer tomar posições consideradas
radicais. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Com o progresso econômico, há um sentimento de
conformismo que se alastra e se sedimenta, as pessoas ficam medrosas,
conservadoras. Isso está ocorrendo no Brasil. Gente da classe C e D mostra-se a
favor de uma marcha de progresso lenta e contínua. Eles não querem briga, não
querem conflito. Por isso o Lula paz e amor deu certo. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- Se as pessoas tornam-se conservadoras, o que
explica a divisão do Brasil quando considerada a votação de Dilma e Serra nos
Estados? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- É um racha. Significa que a questão da desigualdade
regional ainda é muito marcante. Aliás, essa é outra questão que está fora da
discussão. Os dois não querem abordar o tema. </DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify>Por baixo disso tudo está a velha história de que São Paulo é
uma locomotiva que puxa 25 vagões vazios. Essa tensão existe. Esse desequilíbrio
vai criando a sensação de que há um lado pobre e um lado rico. Como se houvesse
um voto comprado, de curral eleitoral, e outro consciente. Há de fato uma
fratura, e isso ressurge em períodos eleitorais. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>-Marina aparece como uma terceira força sustentável?
</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>-Acho que não. A ascensão dela se dá pela falta de
radicalização dos dois principais, e a questão do ambiente é relativamente
neutra. Não vejo eco na sociedade, a não ser de forma superficial. Não é um tema
que toca nos nervos das pessoas. A onda verde é passageira. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>-O sr. foi um dos primeiros a romper com o PT, em
2003, e saiu fazendo duras críticas ao presidente. Lula, porém, termina o
mandato extremamente popular. Na sua opinião, que lugar o governo Lula vai
ocupar na história? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>-A meu ver, no futuro, a gente lerá assim: Getúlio Vargas
é o criador do moderno Estado brasileiro, sob todos os aspectos. Ele arma o
Estado de todas as instituições capazes de criar um sistema econômico. E começa
um processo de industrialização vigoroso. Lula, é bom que se diga, não é
comparável a Getúlio. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Juscelino Kubitschek é o que chuta a industrialização
para a frente, mas ele não era um estadista no sentido de criar instituições.
</DIV>
<DIV align=justify><BR>A ditadura militar é fortemente industrialista, prossegue
num caminho já aberto e usa o poder do Estado com uma desfaçatez que ninguém
tinha usado. <BR></DIV>
<DIV align=justify>Depois vem um período de forte indefinição e inflação fora de
controle. <BR></DIV>
<DIV align=justify>O ciclo neoliberal é Fernando Henrique Cardoso e Lula. Coloco
ambos juntos. Só que Lula está levando o Brasil para um capitalismo que não tem
volta. Todo mundo acha que ele é estatizante, mas é o contrário. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- Como assim? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- Lula é mais privatista que FHC. As grandes tendências
vão se armando e ele usa o poder do Estado para confirmá-las, não para negá-las.
Então, nessa história futura, Lula será o grande confirmador do sistema. <BR>Ele
não é nada opositor ou estatizante. Isso é uma ilusão de ótica. Ao contrário,
ele é privatista numa escala que o Brasil nunca conheceu. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Essa onda de fusões, concentrações e aquisições que o
BNDES está patrocinando tem claro sentido privatista. Para o país, para a
sociedade, para o cidadão, que bem faz que o Brasil tenha a maior empresa de
carnes do mundo, por exemplo.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Em termos de estratégia de desenvolvimento, divisão de
renda e melhoria de bem-estar da população, isso não quer dizer nada. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- Em 2004, o sr. atribuiu a Lula a derrota de Marta
na prefeitura. Qual sua avaliação de Lula como cabo eleitoral de Dilma?
</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>-Ele acaba sendo um elemento negativo, mesmo com sua alta
popularidade. O segundo turno foi um aviso. Há uma espécie de cansaço. Essa
ostensividade, essa chalaça, isso irrita profundamente a classe média. É a coisa
de desmoralizar o adversário, de rebaixar o debate. Lula sempre fez isso. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>- Como o sr. avalia as afirmações de que o
comportamento de Lula ameaça a democracia? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- Não vejo como uma ameaça. Mas o Lula tem um componente
intrinsecamente autoritário. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- Em que sentido? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- Ele não ouve ninguém, salvo um círculo muito restrito,
e ele tem pouco apreço por instituições. Eu o conheço desde os anos de São
Bernardo. Ele tem a tendência, que casa perfeitamente com o estilo de política
brasileira, de combinar primeiro num grupo restrito e, depois, fazer a
assembleia. Ele sempre agiu assim. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Não é pessoal, é da cultura brasileira, ele foi cevado
nisso. Mas não que ele queira derrubar a democracia. Isso é da cultura política
em que ele foi criado: o sindicalismo, que é um mundo muito autoritário, muito
parecido com a cultura política mais ampla. E ele se dá bem, sabe se mover nesse
mundo. <BR></DIV>
<DIV align=justify>As instituições de fato não são o barato dele. Mas ele não
ameaça a democracia do ponto de vista mais direto nem tem disposição de ser
ditador. Acho essas afirmações um exagero, uma maldade, até. Elas têm um
conteúdo político muito evidente. Agora, certa ala do PT, com José Dirceu...
Esse tem projetos mais autoritários. <BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- E essa ala ganharia mais força num governo Dilma?
</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- Acho que não. Porque Lula vigia ele de muito perto.
Lula não gosta dele [José Dirceu]. Tem medo, até, do ponto de vista político.
Ele veio de outra extração, a qual Lula detesta. Uma extração propriamente
política, de esquerda. </DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>- O sr. já disse que Lula havia matado a
sociedade civil. O que pode acontecer num governo Dilma e Serra? Haveria
diferença? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>- Os governos tucanos têm horror ao povo. Isso não é
força de expressão. É uma questão de classe social. Eles não têm contato com o
real cotidiano popular. Eles não andam de ônibus, não têm experiência do
cotidiano da cidade. Nem de metrô eles andam, o que é incrível. </DIV>
<DIV align=justify><BR>A cidade é grande, tem violência, a gente sabe. Mas eles
não sabem como é o transporte, como são os hospitais, as escolas públicas. Há
uma fratura real, eles perderam a experiência do cotidiano real. E isso não
entra pelas estatísticas, só pela experiência. </DIV>
<DIV align=justify><BR>Por causa disso, o governo deles é sempre uma coisa muito
por cima. Eles são pouco à vontade com o popular. Essa é a diferença marcante em
relação a Lula. Sobre Dilma eu não sei. Ela pode também sofrer desse mal.
</DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>- Mas, do ponto de vista da evolução e da função dos
movimentos sociais, qual dos dois é preferível? </STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>-Eis uma questão difícil. Os tucanos, com esse horror a
pobre, tendem sempre a aumentar essa fratura, essa separação. Os tucanos não têm
jeito...
<HR>
<BR><BR><BR><BR><BR> </FONT></DIV></BODY></HTML>