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<HR>
</FONT></DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><FONT face=Arial><U>boletín solidario de 
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de 
Prensa</FONT><BR><U>25 de diciembre 2011</U><BR><FONT color=#800000 
size=5>Colectivo Militante - Agenda Radical</FONT><BR>Montevideo - 
Uruguay<BR>redacción y suscripciones: </FONT><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><FONT 
title="mailto:germain5@chasque.net&#10;CTRL + clic para seguir el vínculo" 
face=Arial>germain5@chasque.net</FONT></A></FONT></STRONG><A 
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href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
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<DIV align=justify><FONT face=Arial>
<HR>
</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><FONT 
size=3><STRONG>Brasil<BR><BR>Entrevista a Ariovaldo Umbelino, </STRONG><FONT 
size=2><STRONG><FONT size=3>geógrafo da USP</FONT></STRONG> 
</FONT><BR><BR><STRONG>2011: Imobilismo do movimento social permite nova 
ofensiva do grande capital <BR><BR>Vivemos um momento em que o Partido dos 
Trabalhadores é um verdadeiro Partido do 
Capital</STRONG></FONT><BR><BR><BR></FONT><FONT face=Arial><STRONG>Valéria Nader 
e Gabriel Brito, da Redação&nbsp;&nbsp; <BR>Correio da Cidadania, 
23-12-2011</STRONG>&nbsp;</FONT></DIV>
<DIV align=justify><A 
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href="http://www.correiocidadania.com.br/"><FONT 
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title="http://www.correiocidadania.com.br/&#10;CTRL + clic para seguir el vínculo">http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></FONT></A></FONT></DIV><FONT 
size=2 face=Arial>
<DIV align=justify><FONT size=3 face=Calibri></FONT><BR>&nbsp;<BR>2011 
encerra-se no Brasil, e no mundo, com muita história pra contar. Um ano que 
talvez seja tomado, em futuro nem tão distante, como sintético, na medida em que 
para ele confluiu uma série de acontecimentos marcantes, diversos e simbólicos, 
nos planos nacional e internacional. E também um ano paradoxal, já que pleno de 
uma efervescência popular em escala global que ainda não encontrou a sua plena 
significância.<BR></DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>A primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff, não 
contou com a maré mansa na economia mundial que brindou, e blindou, seu 
antecessor na maior parte de seu mandato. Já em meados de 2011, a crise 
econômico-financeira mundial, que explodiu bombasticamente em 2008, saiu do 
aparente estado de dormência que era insinuado aos olhos do público. Os Estados 
Unidos e os países do velho continente passaram a amargar a quebradeira de seus 
orçamentos públicos, como conseqüência inevitável do pronto socorro que 
prestaram aos grandes bancos e grupos econômicos que ameaçavam falir a partir de 
2008.<BR></DIV>
<DIV align=justify>Da Primavera Árabe ao Ocupe Wall Street, no seio do Império, 
a população mundial mostrou a sua cara de intolerância crescente contra regimes 
ditatoriais de seus países e, principalmente, contra a ditadura da ortodoxia 
financeira. Ortodoxia que, mal iniciado 2011, e antes mesmo do recrudescimento 
da crise financeira mundial, irrompeu na política econômica de nosso país, com o 
corte de mais de 50 bilhões de reais no orçamento.</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>Tomando-se os retrocessos ambientais e sociais como os mais 
eloqüentes, em escala global, em momentos de recrudescimento no conservadorismo, 
o Brasil constitui exemplo digno de nota. Em 2011, foram notórios e emblemáticos 
os retrocessos na área ambiental - tomem-se Código Florestal, hidrelétrica de 
Belo Monte, genocídio indígena no Mato Grosso do Sul, grilagem de terras, 
políticas para os transgênicos.<BR>Nosso escolhido como entrevistado especial 
para este abrasador final de ano é, portanto, o geógrafo da USP Ariovaldo 
Umbelino, um reconhecido estudioso dos processos ambientais de nosso país, 
tomados a partir de sua interconexão com a lógica e o histórico político, 
econômico e social - sempre marcado pelos falsos avanços de uma 'modernização 
conservadora', e pela ausência de consciência da sociedade civil quanto às reais 
intenções e procedimento das elites.</DIV>
<DIV align=justify><BR>A tão aclamada, e jamais efetivada, reforma agrária é 
para Umbelino um exemplo clássico deste histórico. Trata-se, na visão do 
geógrafo, do único instrumento político que o Estado tem pra submeter a 
propriedade privada da terra ao cumprimento de sua função social, além de se 
constituir como único caminho que o país e a sociedade brasileira possuem na 
construção de uma política de soberania alimentar, de produção de alimentos para 
a sociedade. No entanto, reduziu-se na atualidade a uma luta levada a cabo 
unicamente pelos camponeses e posseiros, que passa ao largo dos movimentos 
sociais organizados, incidindo em um aumento brutal no número de conflitos e 
assassinatos.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Enfim, este é apenas um dos retratos da barbárie 
brasileira, que tem como seu maior substrato a incompreensão do Estado e, 
atualmente, do próprio Partido dos Trabalhadores, "que prometeu ao longo de toda 
sua história, desde sua formação, a reforma agrária como ação estrutural capaz 
de resolver o problema da pobreza e da miséria dessa parcela do campesinato 
brasileiro; 47% dos miseráveis estão no campo. E o governo não tem política de 
reforma agrária!".</DIV>
<DIV align=justify><BR>Mediante o descumprimento total das leis e da 
Constituição, com a conivência do Judiciário, Umbelino ressalta a urgência de 
que "a sociedade civil entenda todas essas contradições que vivemos e comece a 
elaborar cada vez mais Ações Civis Públicas no sentido de encurralar os 
governantes descumpridores da Constituição".</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Oito anos se passaram com 
Lula e agora finda o primeiro ano de Dilma, a primeira mulher a presidir o país. 
Como avalia, no geral, este primeiro ano transcorrido, à luz dos oito anos 
anteriores de um presidente que foi simbólico naquilo que se considerava como 
uma promessa de transformação? Como avalia, enfim, a condução do governo em 
áreas essenciais como as sociais, econômicas, políticas e 
ambientais?</STRONG></DIV><FONT size=3 face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino:</STRONG> É preciso registrar 
que houve estratégias de enfrentamento à crise econômica mundial, tais como o 
alargamento do consumo via redução de impostos. Houve também alguns avanços na 
política social, certa queda no desemprego em função das obras da construção 
civil geradas pelos programas do governo - O PAC e o Minha Casa, Minha Vida. 
Houve aumento das exportações à China, nosso principal parceiro comercial. 
Deu-se continuidade ao Bolsa-Família, ao programa de aquisição de alimentos que 
permite aos agricultores camponeses, familiares, fornecer sua produção agrícola 
a merendas escolares e creches. De certo modo, tivemos elevação na renda 
familiar e ascensão da base da pirâmide social brasileira.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Mas é preciso dizer que não ocorreu nenhuma mudança 
estrutural, ou seja, apenas se redistribuiu uma pequena parte dos tributos 
arrecadados pelo Estado. Como gosta de afirmar o professor Chico de Oliveira, 
uma pequena parte do fundo público foi redistribuída socialmente - mas uma 
pequena parte.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E há exemplos inversos, em que o governo atuou no sentido 
contrário às ações que citei. Por exemplo, a reforma agrária foi substituída 
pela contra-reforma-agrária. Isto é, ao invés de optar pela reforma agrária e 
promover a distribuição de terras, o governo optou pela legalização das terras 
públicas griladas do INCRA na Amazônia legal - decorrência das MPs 422 e 
458.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Outro ponto: não se elaborou o 3º Plano Nacional de 
Reforma Agrária (PNRA). O Brasil não tem mais um PNRA, o que significa que o 
governo só fará a reforma agrária se quiser, pois não há obrigação política, 
comprometimento do Estado. Ainda que a Constituição mande fazer a reforma 
agrária, o governo não tem o instrumento político para isso, que é o 
PNRA.<BR>&nbsp;<BR>E o que é mais incrível nesse processo de contramarchas do 
governo petista é seu principal programa, de combate à extrema pobreza (Brasil 
Sem Miséria); 47% desses pobres que o governo brasileiro chama de "extremamente 
pobres" (se olharmos os parâmetros e dados da ONU, veremos que são chamados de 
"miseráveis") estão na área rural, particularmente do Nordeste. Mas o plano da 
Dilma não fala da reforma agrária como solução estrutural de combate à 
miséria!</DIV>
<DIV align=justify><BR>O que vemos é a continuação da concentração de terras, 
uma das razões estruturais, simultaneamente, da concentração da renda e, 
conseqüentemente, do aumento da pobreza. E o governo não ter feito as reformas 
estruturais é um grande dilema, pois, na hora em que as famílias saírem do Bolsa 
Família, não terão como se envolver em atividades produtivas geradoras de renda, 
capazes de resolver o problema da pobreza no Brasil.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Em um processo de 
recrudescimento no conservadorismo, os retrocessos ambientais e sociais estão 
geralmente entre os mais relevantes em qualquer lugar do mundo. Em 2011, em 
nosso país, talvez sejam emblemáticos os retrocessos na área ambiental - 
tomem-se Código Florestal, hidrelétrica de Belo Monte, genocídio indígena no 
Mato Grosso do Sul, grilagem de terras, políticas para os transgênicos. O que o 
senhor teria a dizer, em geral, sobre tal afirmação?</STRONG></DIV><FONT size=3 
face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino:</STRONG> É preciso registrar 
que a história do Brasil está repleta de falsos avanços e retrocessos sociais e 
ambientais, com grandes exemplos de medidas legais que o governo toma e na 
verdade não cumpre. Ou elabora uma medida restritiva, mas não fiscaliza, nem 
cumpre, as ações propostas. Poderia citar como exemplo do que chamo de falsos 
avanços em forma de retrocessos sociais e ambientais o governo João Goulart. Ele 
propôs a reforma agrária em terras ao longo das rodovias, sem restrição, ou 
seja, devia se desapropriar qualquer terra, produtiva ou não. Por quê? Porque se 
pretendia promover mudanças estruturais na sociedade brasileira naquele momento 
histórico, dos anos 60. E os regimes de distribuição de terras teriam de ser 
alterados. Aquilo que se imaginava nas reformas de base.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E como as elites brasileiras responderam? Com 20 anos de 
ditadura e nenhuma reforma estrutural. Contraditoriamente, os mesmos militares 
que impediram o plano de reforma agrária do João Goulart propuseram a lei do 
Estatuto da Terra. Ou seja, a lei da reforma agrária brasileira foi proposta 
pelos militares, que tinham feito um movimento contra a própria reforma 
agrária.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Dessa forma, o Estatuto da Terra, que é a lei maior, foi 
assinado no início do governo militar, ainda em 1964, mas não foi feito o 1º 
Plano Nacional de Reforma Agrária, o instrumento político de sua aplicação. 
Fizeram uma pequena distribuição de terras nos projetos de colonização na 
Amazônia legal. Mas, na realidade, o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND) 
serviu como instrumento de distribuição de terras às burguesias nacional e 
internacional na própria Amazônia legal, através de programas de incentivo 
fiscal da SUDENE. Depois, o governo militar reformou o Código Florestal em 1967. 
Porém, esse mesmo governo militar, em 1967, fez um plano de incentivo fiscal à 
expansão da silvicultura de eucalipto e pinus, trazendo ao país as indústrias de 
celulose poluidoras, que estavam sendo questionadas na Europa e vieram pra cá. 
Poderíamos até dizer, quem não se lembra da defesa dos militares na primeira 
reunião sobre meio ambiente? No Brasil é assim, é a história: o governo toma 
medidas legais, mas não as cumpre.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O governo Sarney fez o 1º Plano Nacional de Reforma 
Agrária para assentar mais de 1 milhão de famílias, mas assentou 80 mil. O FHC 
fez o 2º PNRA em razão das pressões internacionais advindas da Eco-92, no Rio, 
porém, não combateu o desmatamento e a corrupção no IBAMA.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O Lula, através da Marina Silva no Ministério do Meio 
Ambiente (MMA), reproduziu o velho ditado brasileiro: uma no cravo, outra na 
ferradura. A Marina fez um programa de combate ao desmatamento, que no início 
foi até eficiente, mas depois fez a lei da exploração de florestas 
públicas.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Isso pra não falar na aprovação de toda a legislação dos 
transgênicos, que configurou um procedimento sui generis do Estado brasileiro. 
Um presidente da República faz três atos legais, absolvendo três crimes 
simultâneos: a importação das sementes transgênicas, que era proibida; o plantio 
das sementes transgênicas, então proibido; e a venda da soja transgênica, que 
também era proibida. Em resumo, o governo Lula fez a legislação pra absolver 
quem cometeu as ilegalidades.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Se formos ver, o governo praticamente não demarcou terra 
indígena ou quilombola, como manda a Constituição. Ao invés de implantar a 
reforma agrária do 2º. Plano Nacional, o que fez o INCRA? Mentiu à sociedade 
brasileira, divulgando números que não correspondiam à verdade, porque, das 400 
mil famílias assentadas, da proposta do período 2003-2006, assentaram-se apenas 
150 mil. Contraditoriamente, o que fizeram? As Medidas Provisórias 422 e 458 e a 
legalização da grilagem na Amazônia legal. Inclusive com uma ironia, pois esse 
programa do governo de legalização da grilagem se chama Terra Legal.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E agora estamos diante da reforma do Código Florestal. Na 
realidade, qualquer que seja o ato legal que saia do Congresso, qualquer que 
seja o texto legal do Código Florestal, não será cumprido. Porque a história do 
Brasil tem sido uma história sistemática de descumprimento da lei. E o Estado 
não fiscaliza quem descumpre a lei.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Assim, vivemos um momento crucial na sociedade 
brasileira, de ausência de consciência na sociedade civil sobre o falso 
procedimento das elites, que traz a aparência de resolver o problema ambiental, 
social, econômico. Mas, na verdade, o procedimento das elites continua sendo da 
burla da lei, da transgressão constante dos instrumentos legais, indo de acordo 
com os interesses do desenvolvimento capitalista. Faz aquilo que pede a lógica 
de acumulação capitalista, mesmo que de forma proibida do ponto de vista 
legal.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Aliás, tratando da questão indígena, já se fala na 
mudança da legislação sobre mineração em terra indígena, ou seja, o capital 
procede na lógica da acumulação novamente. E estamos diante de uma realidade 
cruel. Contraditoriamente, o governo do Partido dos Trabalhadores está fazendo 
todas as reformas estruturais que o capital necessita para aumentar a exploração 
sobre os trabalhadores e os recursos naturais no Brasil.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Durante os governos anteriores, a burguesia não teve 
coragem de fazer tais reformas, que agora são encampadas pelo governo do Partido 
dos Trabalhadores. Reformas que só beneficiam a acumulação capitalista no 
Brasil, sem trazer benefícios sociais, a não ser essas migalhas representadas 
pelas políticas compensatórias, como o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha 
Casa, Minha Vida. Um conjunto de políticas compensatórias que traz benefícios à 
população, mas que esconde o aumento da exploração sobre os trabalhadores e os 
recursos naturais do país.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: A longa votação do Código 
Florestal talvez seja um dos mais significativos processos do conflito de 
interesses no país, e da sua resolução em favor dos mais poderosos. O que o 
senhor avalia sobre o percurso que teve este processo nesse ano em nosso país, o 
respectivo posicionamento do governo, e sobre eventuais resultados mais 
prováveis que advirão das mudanças aprovadas no Código?</STRONG></DIV><FONT 
size=3 face=Calibri></FONT><FONT size=3 face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino</STRONG>: Esse é o princípio 
dominante. Todas as restrições que forem aprovadas no Código Florestal serão 
descumpridas e o governo não fiscalizará nem punirá. Mas também há os pontos que 
os latifundiários queriam modificar para favorecer a acumulação de capital. 
Esses serão implementados. Por exemplo: será aprovado que não se precise mais 
levar a Reserva Legal a registro em cartório, ou seja, são contra fazer a 
averbação da Reserva Legal nos cartórios de registros de imóveis. Isso está 
passando no Código porque não lhes interessa um instrumento legal que possa 
puni-los, pois não vão respeitar a legislação da Reserva Legal. E se não a 
registrarem em cartório, o Estado ficará sem instrumento legal para levar a 
juízo os descumpridores da lei.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Outro ponto: eles querem permitir, sobretudo para criação 
de camarão, exploração em área de mangue. E para isso estão tirando áreas de 
mangues das APPs (Área de Preservação Permanente). Ora, área de mangue é onde se 
reproduzem os peixes, os crustáceos. Se não se protege o mangue, não se protege 
o criatório das espécies marinhas! Novamente, uma no cravo, outra na 
ferradura... Outra mudança que vai passando em silêncio: a exploração das 
veredas, sobretudo no cerrado, vastas áreas que querem aproveitar 
economicamente, retirando-as das APPs também.</DIV>
<DIV align=justify><BR>É um conjunto de procedimentos sempre na seguinte 
direção: nas áreas que eles querem "descriminalizar", tentam tirar as restrições 
legais. Aonde não conseguem tirar as restrições, deixam quieto porque sabem que 
não vão cumprir a lei, mas o Estado não vai fiscalizar e, conseqüentemente, eles 
não serão punidos.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Em paralelo às fortes 
discussões e polêmicas que rodearam o Código Florestal, a hidrelétrica de Belo 
Monte esteve também refletindo um pesado conflito de interesses entre grandes 
grupos econômicos e políticos interessados na obra e as populações originárias, 
especialmente as indígenas, que serão as mais afetadas, inclusive com a sua 
realocação. Qual a sua visão sobre esta outra grande obra no decorrer deste ano, 
a postura do governo com relação a ela, e o que poderá advir caso vá 
adiante?</STRONG></DIV><FONT size=3 face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino</STRONG>: Belo Monte é um 
equívoco. Como foi um equívoco Balbina, no Amazonas. Está sendo dito que gerará 
determinada quantidade de megawatts, mas na realidade o regime hídrico dos rios 
nessa região da Amazônia tem uma oscilação den nível durante o ano. A quantidade 
divulgada de megawatts é a do período das cheias, mas na seca não conseguirá 
manter o nível. O mesmo que ocorre em Balbina...</DIV>
<DIV align=justify><BR>Do ponto de vista econômico, é discutível a obra. Do 
ponto de vista ambiental, é um crime sem precedente! Vai se comprometer uma 
parte da Amazônia legal, uma parte daquela natureza, que será agredida pelo 
investimento econômico, e sobretudo atingirá os povos indígenas, que têm nessa 
região uma de suas grandes áreas míticas, de onde vem todo seu mito de origem, 
como dizem os antropólogos. Portanto, há um desrespeito total por parte do 
Estado na realização dessa obra.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E penso que, na verdade, ainda não temos total idéia do 
que irá acontecer. Não sabemos como os povos indígenas vão reagir. Se lembrarmos 
dos episódios que envolveram a índia Tuíra, quando mostrou o facão aos 
engenheiros da Eletronorte, cortando com a borduna o braço de um deles... Não 
temos idéia de como reagirão os povos indígenas e não vejo nenhum sinal do 
governo de estabelecer um diálogo com os povos indígenas e demais atingidos pela 
obra.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Um dos grandes temas sobre 
o qual o senhor tem incisivamente incidido nos últimos anos, que já foi 
mencionado no início desta entrevista, diz respeito ao abandono da política de 
reforma agrária, ao lado da negligência do governo com a grilagem de terras, 
contando inclusive com a conivência da 'banda podre' de órgãos como o INCRA. 
Como viu estas questões neste primeiro ano de Dilma à frente do 
governo?</STRONG> </DIV><FONT size=3 face=Calibri></FONT><FONT size=3 
face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino</STRONG>: O governo Dilma é 
uma espécie de prolongamento do segundo mandato do governo Lula. Do ponto de 
vista de ação específica de seu governo, só temos até agora a chamada bolsa 
verde, uma política compensatória de entrega de determinado valor, a cada três 
meses, às famílias que moram nas áreas de conservação ambiental na Amazônia 
legal. Essa bolsa verde é o primeiro instrumento exclusivo do governo Dilma. 
Evidentemente, tem conseqüências sociais, pois aquelas populações, na medida em 
que recebem um auxílio, podem melhorar um pouquinho suas condições vida. Mas não 
se trata de nenhuma reforma estrutural, mesmo porque o valor destinado a elas 
não permite desenvolver ações interessantes, como o extrativismo de recursos 
vegetais, de modo a se tornarem auto-suficientes. É outra política compensatória 
que não resolve os problemas estruturais, geradores da pobreza e da miséria no 
Brasil.</DIV>
<DIV align=justify><BR>No que se refere à reforma agrária, vivemos um momento 
curioso. Porque, de um lado, o governo não a promove - como disse, não fez o 3º 
PNRA. Mas, por outro lado, os movimentos sociais organizados e sindicais também 
não reclamam que não há reforma agrária! Não temos nenhuma ação dos movimentos 
no sentido de solicitar ao governo uma política de reforma agrária.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E o que estamos testemunhando de 2009 pra cá? O aumento 
do número dos conflitos pela terra. Isso quer dizer que o campesinato brasileiro 
continua sua luta pela reforma agrária. Só que agora a luta leva à barbárie, 
porque é uma luta dos posseiros, sobretudo. Mas a luta dos posseiros não tem 
praticamente nenhuma organização social. E sem essa organização social e 
política que lhe dê garantias, ficam à mercê da violência praticada pelos 
latifundiários brasileiros.<BR>&nbsp;<BR>Aumentam os assassinatos, aumentam os 
conflitos. Esse aumento de conflitos é indicador de que parte da sociedade 
brasileira, representada pelos camponeses, quer a reforma agrária. No entanto, 
isso não é compreendido pelo Estado, não é compreendido pelo Partido dos 
Trabalhadores, que prometeu ao longo de toda sua história, desde sua formação, a 
reforma agrária como ação estrutural capaz de resolver o problema da pobreza e 
da miséria dessa parcela do campesinato brasileiro. Como eu disse, 47% dos 
miseráveis estão no campo. E o governo não tem política de reforma 
agrária!</DIV>
<DIV align=justify><BR>Fica uma coisa no mínimo curiosa, estapafúrdia. Porque os 
camponeses reclamam a reforma agrária, como observamos através do aumento dos 
conflitos no campo, e, ao mesmo tempo, os movimentos sociais que surgiram há 25, 
30 anos para protagonizar a reforma agrária não clamam mais por ela. Um momento 
estranho, mas ainda acredito que a sociedade civil saberá como sair dessa 
encruzilhada que vivemos no que se refere à reforma agrária.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Também deve se registrar que uma parte dos intelectuais 
não fala mais da reforma agrária. Para uma parte deles, já não é mais 
necessária. Os camponeses que lutam e morrem não são ouvidos por essa 
intelectualidade...</DIV>
<DIV align=justify><BR>Outra questão dessa encruzilhada é a posição dos 
movimentos sociais, que dizem assim: "não queremos mais a reforma agrária 
clássica". Eu digo a eles: "gente, o país nunca teve reforma agrária nenhuma! 
Como se pode falar em recusa de uma reforma agrária 'clássica'? Na verdade, a 
reforma agrária clássica foi uma coisa dos partidos comunistas, e não o clamo e 
luta das ligas camponesas do Brasil, não é?". Os camponeses gritaram e continuam 
gritando através dos posseiros e dos movimentos sociais!</DIV>
<DIV align=justify><BR>No entanto, temos essa situação absurda de se questionar 
a reforma agrária como instrumento político e econômico. Ela é o único caminho 
que o país e a sociedade brasileira têm na construção de uma política de 
soberania alimentar, de produção de alimentos para a sociedade, porque o 
agronegócio produz mercadoria pra quem tem dinheiro, pra exportar, não pra 
resolver o problema do abastecimento alimentar da sociedade brasileira. A 
reforma agrária é o instrumento político que o Estado tem pra submeter a 
propriedade privada da terra ao cumprimento da função social, lembrando que a 
função social se cumpre pelas legislações da terra, trabalhista, ambiental... A 
reforma agrária é um instrumento poderoso que o Estado tem para efeitos 
constitucionais, através do qual a propriedade capitalista da terra estaria 
submetida ao cumprimento da função social, como mandam o Estatuto da Terra e a 
Constituição Brasileira de 1988.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Já os acontecimentos no 
Mato Grosso do Sul, expondo novos e tristes episódios do secular genocídio 
indígena, encerram desafortunadamente o ano de 2011, marcado por tamanhos 
reveses e atentados ambientais e sociais. O que pensar sobre estes episódios e 
como, de alguma forma, estão relacionados às questões 
anteriores?</STRONG><BR>&nbsp;<BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino</STRONG>: A questão 
do Mato Grosso do Sul é outra dessas que mostram a esquizofrenia que existe na 
política brasileira. Se olharmos os dados do INCRA, o MS é o estado com mais 
casos de títulos declarados de posse de terras. Somadas, dariam uma extensão 
maior que a do próprio estado. No MS temos uma grande quantidade de documentos 
ilegais de posse de terra. E mais: parte expressiva do estado é faixa de 
fronteira, que não pode ter terra titulada por governos estaduais.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Quem tem de fazer controle de ocupação em área de 
fronteira é o INCRA. Porém, o que aconteceu no estado, desde quando era parte do 
Mato Grosso? Fez-se titulação de praticamente toda a superfície. Ou seja, 
estamos diante de emissão de títulos ilegais de terra, e os fazendeiros com essa 
posse reivindicam tais terras. Mas são atos de flagrante ilegalidade. Parte 
expressiva das terras é devoluta, portanto, deveriam ser destinadas aos povos 
indígenas. Isso porque, pela legislação brasileira, quem tem direito a terra em 
primeiro lugar são os povos indígenas.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Pode existir a ocupação que for nessas terras, mas o 
direito originário é dos povos indígenas. No entanto, aqui se cumpre a lei ao 
contrário, de modo que fica parecendo que são os latifundiários grileiros que 
têm o direito às terras, não os índios.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E mesmo depois daquele maravilhoso episódio no Supremo 
Tribunal Federal, determinando que os não índios tinham de ser retirados da 
Terra Indígena de Raposa Serra do Sol, afirmando os direitos dos povos indígenas 
e originários à terra, o Estado ignora o preceito legal e constitucional que 
ampara os indígenas e seus direitos.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Hoje, os povos indígenas são outros sujeitos sociais em 
luta pela terra, um flagrante absurdo. Se olharmos a Constituição de 1988, foram 
dados cinco anos para a demarcação de todas as terras indígenas. Presidente 
nenhum fez tais demarcações e a sociedade civil nunca pediu impeachment desses 
presidentes da República que não cumprem a Constituição.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Assim, vivemos essa situação, tal como já mencionei em 
relação à questão agrária e ambiental, de descumprimento total das leis e da 
Constituição. E o poder judiciário fica parado como se nada estivesse 
acontecendo. Se fazemos reclamações, logo se responde que "o poder judiciário só 
se move quando acionado".</DIV>
<DIV align=justify><BR>É preciso que a sociedade civil entenda todas essas 
contradições que vivemos e comece a elaborar cada vez mais Ações Civis Públicas 
no sentido de encurralar os governantes descumpridores da Constituição, que 
juraram cumpri-la quando tomaram posse.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: O senhor realmente enxerga 
o governo Dilma como continuidade do segundo mandato de Lula, tendo em vista o 
que a atual presidente já insinua como marcas de seu governo e o que já 
conhecemos dos oito anos de governo Lula? </STRONG></DIV><FONT size=3 
face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino:</STRONG> Como disse antes, 
vejo que o governo Dilma é um prolongamento do segundo mandato do governo Lula. 
Se olharmos, por exemplo, o conjunto de medidas que a direção do IBAMA está 
tomando com relação aos licenciamentos ambientais das grandes obras, vamos 
verificar que o governo remove todos os instrumentos de proteção ambiental, de 
modo que as grandes obras do PAC sejam feitas independentemente de 
licenciamento.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Portanto, é um governo que vai na contramão da história, 
pois só vai na direção de favorecer o grande capital no Brasil. Tudo bem que 
estamos só no primeiro ano de governo, mas essas ações já são nítidas. Não se 
fez nenhuma discussão de Belo Monte, bem pelo contrário; temos também problemas 
na construção das usinas do Rio Teles Pires e ninguém fala nada; as próximas 
licitações serão no Vale do Rio Juruena, repleto de terras indígenas nas duas 
margens do rio, o que vai agravar problemas com a licitação das obras.</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=3 face=Calibri></FONT><BR>Vivemos um momento em 
que o Partido dos Trabalhadores é um verdadeiro Partido do Capital.</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=3 face=Calibri></FONT><BR><STRONG>Correio da 
Cidadania: Acredita, ademais, que governo Dilma dá indícios de que será ainda 
menos receptivo que o governo Lula em relação ao diálogo com os movimentos 
sociais?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino:</STRONG> Se compararmos o 
primeiro mandato de Lula com o segundo, vemos que, no primeiro, havia movimentos 
sociais fazendo pressão política. Agora, não fazem pressão alguma. Pelo 
contrário, alguns intelectuais que apóiam tais movimentos idolatram o governo 
Lula. O número de intelectuais, pessoas que fazem críticas às políticas 
implantadas, é diminuto, são poucos, e muitas vezes as críticas não têm 
eco.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Vivemos um momento em que o governo Dilma aprofunda as 
reformas que visam retirar toda e qualquer legislação restritiva ao avanço do 
capital no Brasil, e não encontra nenhuma oposição! Esse é o grande problema, o 
país não tem oposição. A pequena oposição dos partidos de esquerda acaba ficando 
voltada a si própria, não consegue mobilizar a sociedade em geral.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Estamos num momento de ausência de luta política por 
parte da sociedade civil. E num momento desses, o que faz o governo? Aprofunda 
suas ações no sentido de retirar conquistas sociais e direitos que permitem a 
construção de uma sociedade e um país mais humanos, com melhor distribuição de 
renda etc.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Esse fortalecimento do 
grande capital aparentemente não se dará, de fato, através somente de 
financiamentos e legislações. Parece que os órgãos e segmentos de governo que 
podem dar suporte às causas populares aqui defendidas são cada vez mais 
enfraquecidos, enquanto são fortalecidos aqueles que favorecem o capital e seu 
respectivo modelo de desenvolvimento.</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino:</STRONG> Dá pra ilustrar com 
exemplos como tais ações que vêm ocorrendo. Se tomarmos as ações do BNDES, 
verificamos que o banco tem financiado empresas nacionais para torná-las 
empresas mundiais. A ação do BNDES vai nessa direção: fortalecer com aportes de 
capital essas empresas e deixá-las aptas a disputar o mercado internacional. A 
BRFoods, produto da fusão da Sadia com a Perdigão, é um desses exemplos. Quando 
o caso de sua fusão foi pro CADE, órgão fiscalizador de fusões e incorporações 
que visa evitar a formação de monopólios e cartéis no Brasil, decidiu-se que a 
Sadia deveria vender uma parte de suas plantas industriais, de modo a não se 
constituir como monopólio. E o que está tentando fazer a Sadia? Comprar a 
Frangosul, empresa francesa do setor avícola. Ou seja, o capital continua em sua 
marcha de concentração, centralização. E o governo apóia.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Contraditoriamente, vemos que uma parte dessas empresas 
brasileiras que vão se tornando mundiais têm dinheiro dos fundos de pensão das 
estatais. É uma coisa curiosa, pois assim os próprios trabalhadores se tornam 
'interessados' no fortalecimento de tais empresas. É uma espécie de nova 
soldagem da relação capital-trabalho, de forma a mostrar ambos como duas faces 
da mesma moeda. E tanto o governo Lula como Dilma atuam nessa direção, 
fortalecendo as empresas e tornando-as competitivas do ponto de vista global. É 
a evidência de que estamos em uma política econômica voltada a fortalecer o 
capital, e não para humanizar as relações entre o capital e o trabalho, dentre 
outras.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Diante do quadro traçado, 
fica difícil imaginar um governo que poderia, ainda que minimamente, dar esse 
enquadramento mais digno e humano ao desenrolar dos acontecimentos, 
especialmente na área ambiental, aqui mais detalhadamente 
tratada?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Ariovaldo Umbelino:</STRONG> Eu não quero, como 
intelectual, fazer previsões na análise de um governo que só teve um ano e que, 
imagino, ainda não implementou todos os planos que deve ter para o seu período 
de mandato. Minha análise, portanto, fica restrita ao primeiro ano. Se o governo 
todo for semelhante ao primeiro ano será como a continuidade do segundo mandato 
do governo Lula. Ou seja, contra a reforma agrária, a favor do capital, contra 
os trabalhadores, contra a proteção ambiental. Fará tudo aquilo que o capital 
desejar, sem implantar nenhuma reforma estrutural. Continuará e ampliará 
políticas compensatórias iniciadas no governo Lula, julgando que a sociedade 
civil brasileira continuará calada. Penso que a sociedade civil tem um limite. 
Espera ações dos governantes, mas até certo limite. Depois, dá o troco. 2012 é 
ano eleitoral. E já pode ter troco.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>Correio da Cidadania: Que 'antídotos' ainda 
vislumbra como necessários e viáveis nas atuais circunstâncias, nesse sentido 
de, como dito, humanizar as relações capital-trabalho e as próprias relações 
sociais e políticas?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=3 face=Calibri></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Ariovaldo Umbelino</STRONG>: Eu penso que a sociedade 
brasileira tem um comportamento, do ponto de vista político, que a maioria dos 
intelectuais não entende. A reação dela na política às vezes demora um tempo, 
faz aquilo que chamamos, na teoria, de "revolução silenciosa", vai fazendo 
mudanças sem nos darmos conta de que tais mudanças estão em marcha.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E penso que as contradições na relação capital-trabalho 
vão se aguçar, pois, inevitavelmente, o país terá posto na pauta política a 
discussão da questão previdenciária. E na hora em que ocorrer essa discussão, os 
trabalhadores vão ver de que lado o governo Dilma está. A questão previdenciária 
no Brasil não existe - ou não deveria existir. Quando olhamos os integrantes do 
sistema previdenciário que recolhem à Previdência, vamos ver que ela é 
superavitária, não deficitária, como se diz por aí. O problema é que, no Brasil, 
a Previdência teve colocada em suas contas as ações de suporte social maior, 
como, por exemplo, aposentadoria dos trabalhadores rurais, para a qual nem 
patrão nem empregado nunca tinham recolhido contribuição. Além de outras 
questões, necessárias, diga-se, mas que deveriam sair do orçamento público. E os 
governantes querem remover esse tal "déficit da Previdência"...</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify>É só olharmos o item principal das medidas na Europa no 
momento de crise: retirada das conquistas sociais dos trabalhadores. O governo 
ainda não implementou tais políticas, mas inevitavelmente vai fazer isso no ano 
que vem, principalmente se tivermos o aprofundamento da crise mundial. E tudo 
indica que ela irá se aprofundar, o que, se ocorrer, impactará o Brasil também. 
Aí, tais questões vão aparecer, o que permitirá aos trabalhadores verificarem de 
que lado está o Partido dos Trabalhadores. E não tenho dúvidas de que esse lado 
é o do capital, não o do trabalho. 
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<BR>&nbsp;<BR><BR><BR></DIV></FONT></BODY></HTML>