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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de 
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de 
Prensa</FONT><BR><U>7 de enero 2013</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Colectivo 
Militante - Agenda Radical</FONT><BR>Montevideo - Uruguay<BR>redacción y 
suscripciones: <A 
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<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV><FONT face=Arial><STRONG><FONT face=Calibri><FONT 
face=Arial>Entrevista</FONT> </FONT>Tiago Egídio Avanço Cubas, do Núcleo de 
Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA) da Universidade Estadual 
Paulista (Unesp)<BR></STRONG></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG>Territórios em 
disputa<BR></DIV></STRONG></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT 
size=3></FONT></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT size=3>Expansão do 
agronegócio no estado de São 
Paulo</FONT></STRONG><BR>&nbsp;<BR><BR><STRONG>Aline Scarso, da Redação<BR><FONT 
color=#000000>Brasil de Fato</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=2 face=Arial><A 
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<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><FONT size=3 face=Calibri></FONT><A 
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color=#000000><STRONG 
title="http://www.brasildefato.com.br/&#10;CTRL + clic para seguir el vínculo"></STRONG></FONT></A></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Agronegócio e agricultura camponesa. 
A luta por território vai além do mero conceito material. Ela envolve visões de 
mundo. Uma "usa os óculos" do capitalismo periférico, em que o monocultivo em 
larga escala e a concentração de riqueza são vistos como processos naturais; 
nada há que mudar. A outra visão engloba o modo de produção camponesa, a 
economia regional diversificada, a soberania alimentar, e que passou a ser 
sinônimo de resistência ao processo dominante.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><BR>Isso porque, nos últimos vinte 
anos, a divisão territorial se desequilibrou vertiginosamente. Na dissertação de 
mestrado São Paulo Agrário: representações da disputa territorial entre 
camponeses e ruralistas de 1988 a 2009, o autor Tiago Egídio Avanço Cubas* 
percorre a ampliação da violência, concentração de renda e da pobreza na maior 
parte das cidades analisadas, em decorrência da expansão do 
agronegócio.<BR><BR>Além do conjunto de mapas que representam a história recente 
da disputa pela terra no estado de São Paulo, o autor destaca também a ação da 
mídia corporativista como um braço forte do discurso agronegócio. Segundo Tiago, 
ela "trabalha unicamente com o território de relações capitalistas, como se 
fosse uma totalidade, assim reforçando sempre esta visão do mundo e apagando os 
mundos alternativos representados pelo territórios de relações da economia 
familiar". </FONT></DIV><FONT size=2 face=Arial>
<DIV align=justify><BR><STRONG>-Brasil de Fato - Cubas, como se dá na prática 
essa relação entre o desenvolvimento do agronegócio e o aumento da pobreza 
relativa no estado de São Paulo?</STRONG><BR>&nbsp;&nbsp;&nbsp;&nbsp;<BR>Tiago 
Egídio Avanço Cubas - Se dá justamente no modo mais agressivo de se expandir 
física e ideologicamente, que o agronegócio tem como essência. Usualmente o 
agronegócio é visto como a agricultura "modernizada, progressiva e visionária", 
quando, de fato, é um sistema que soma a agricultura, o comércio e a indústria e 
que reduz o camponês a uma mercadoria que é facilmente descartada com o 
progresso de uma "tecnifi cação" dos processos. Observarmos ainda que dos 645 
municípios paulistas cadastrados para mapeamento - no que tange os 22 anos do 
estudo (1988-2009) - , apenas 228 municípios conseguiram amenizar a intensidade 
da pobreza. O restante, ou 417 municípios, praticamente dois terços dos 
municípios paulistas sofreram com o aumento da intensidade da 
pobreza.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Em quais áreas do estado e a partir de quais 
culturas essa relação se dá de forma mais forte?A que você atribui o 
desenvolvimento da cana-de-açúcar no interior do estado, especialmente na região 
da Alta Mogiana?</STRONG></DIV><FONT size=3 face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR>A monocultura da cana-de-açúcar é a que transmite os 
valores atuais do capitalismo agrário paulista através da expansão 
indiscriminada de todo o aparato que envolve a mesma. Tradicionalmente a 
produção dessa cultura ocupou a região da Alta Mogiana (com destaque para a 
mesorregião de Ribeirão Preto) que até o fim da década de 1990 era a base 
nacional do agronegócio da laranja.<BR></DIV>
<DIV align=justify>Em relação à cultura da laranja, as famílias camponesas, 
desde a década de 1980 têm sido descapitalizadas e desterritorializadas da terra 
e da informação. Elas têm sofrido com o fechamento do território do capital em 
"condomínios" (formas de controle político e econômico por parte das empresas 
capitalistas) e grande parte desse território perdido compreende os próprios 
camponeses citricultores.</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=3 face=Calibri></FONT><BR>Na década de 1990, a 
implementação da verticalização da produção foi intensificada, diminuindo a 
participação do campesinato citricultor no processo produtivo. Somente nessa 
década o número de citricultores caiu em quase dois terços. As políticas 
públicas a favor da agroindústria de açúcar e etanol foram acompanhadas pelas 
políticas compensatórias e assistencialistas ao invés de políticas 
emancipatórias para os camponeses. Assim, os usineiros e fazendeiros de São 
Paulo conseguiram repassar ao longo do tempo toda responsabilidade relacionada à 
questão social para o Estado, ao mesmo tempo que apoiaram reformas neoliberais. 
Antes disso, também por meio do apoio ao golpe militar e da utilização de 
jagunços, lograram diminuir a capacidade do Estado em funcionar sem seu 
aval.</DIV>
<DIV align=justify><BR><STRONG>-O desenvolvimento do agronegócio no interior do 
estado de São Paulo afeta a economia regional no que se refere ao índice de 
emprego e a concentração de renda da população?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Afeta sim. A renda apropriada pelos 10% mais ricos da 
população se acirra nas regiões do Pontal do Paranapanema (principalmente em 
Presidente Prudente e parte de Araçatuba) e da Alta Mogiana (principalmente em 
Ribeirão Preto e parte de Campinas e Araraquara); mesmas regiões que sofrem com 
o aumento intenso do agronegócio sucroalcooleiro.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Em 1991, 23% dos municípios do estado tinham a 
apropriação de 40 a 44% da renda do município para os 10% mais ricos. Esse 
número chega, em 2000, com a mesma amplitude de concentração (40 a 44% da renda) 
nos 10% mais ricos para quase 30% dos municípios em 2000.</DIV>
<DIV align=justify><BR>E não é somente a renda, mas também a concentração 
fundiária que afeta a fl uidez das relações campo-cidade. No Censo Agropecuário 
[do IBGE] de 1995, as propriedades acima de 200 hectares contabilizaram 61% 
(10.659.891 hectares) do total do território, e as propriedades igual ou abaixo 
de 200 hectares 39% (6.709.313 hectares).</DIV>
<DIV align=justify><BR>Já no Censo Agropecuário de 2006, as propriedades acima 
de 200 hectares contabilizaram 71% (14.332.546 hectares) do total, e as 
propriedades igual ou abaixo de 200 hectares com 29% (5.840.727 hectares). Isso 
reflete que concentração de renda e terras caminham lado a lado quando estudamos 
o campo paulista, e isso gera a marginalização das populações mais 
vulneráveis.</DIV>
<DIV align=justify><BR>A "equalização por baixo" é mais uma das mazelas, que se 
desdobra no fetiche do desemprego travestido de "trabalho flexível" ou "trabalho 
temporário". Isso remete diretamente aos trabalhadores rurais - camponeses com 
terra ou sem-terra, desterritorializados de sua terra, mas não da ideia do valor 
de ter seu próprio território - oprimidos por essa lógica degradante, que infere 
tanto nas migrações entre estados, nos trabalhadores sazonais, quanto na 
realidade de um assentado que convive em tempo integral com a especulação 
opressiva do capitalismo agrário. São, então, as assentados que se sentem sem 
outra opção senão arrendar seu lote para o plantio da cana e sua força de 
trabalho para a corte nas fazendas controladas pelo agronegócio. O processo de 
deterioração social também é evidente em muitas pesquisas sobre trabalho análogo 
a escravidão, e patologias mentais e físicas relacionadas aos homens e mulheres 
presos na lógica da atividade sucroalcooleira.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Políticas 
como o Programa de Aquisição de Alimentos - PAA e o Programa Nacional de 
Educação na Reforma Agrária - Pronera são capazes de impulsionar uma situação 
emancipatória dos camponeses do estado?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>Emancipatório, esse é um conceito fundamental para o 
campesinato brasileiro e paulista hoje; criar possibilidades de políticas 
públicas emancipatórias que permitam através de um mercado não-capitalista a sua 
reprodução, e assim a (re)invenção (na luta) do sujeito camponês nos seus 
territórios.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Essas políticas são alguns passos rumo ao fortalecimento 
do território imaterial do campesinato perante a sua própria resistência e 
estabelecimento, e perante o Estado e a sociedade.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Entretanto, vamos começar com a situação do agronegócio. 
Para 2011/12 serão destinados no Plano Agrícola da Agricultura e da Pecuária R$ 
107,21 bilhões. Isso revela um aumento de 7,2% em relação ao plano passado. O 
que justifica o que dizemos até então é mostrar que segundo o Ministério da 
Agricultura, essa linha de crédito tem a intenção de renovar os canaviais 
brasileiros, com destaque para o incentivo a própria cana-de-açúcar, além da 
laranja e da pecuária. Para esse plano não existe limite de crédito por 
estado.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Já para o Plano Safra do Agricultor Familiar de 2011/12, 
que é para o campesinato, muito em assentamentos, temos um investimento total de 
R$ 16,2 bilhões. O foco desse plano é incentivar a produção de alimentos, os que 
principalmente fazem parte da alimentação tradicional do brasileiro como arroz, 
feijão, milho e mandioca. Um braço importante do Plano Safra do Agricultor 
Familiar é o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar 
(Pronaf). É muito pouco quando observamos no "milagre da criatividade do modo de 
vida camponês" a quantidade de alimentos que esse setor produz: de acordo com o 
Censo Agropecuário de 2006, são 70% dos alimentos em 24% das terras 
utilizadas.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-O estudo também mostra que nos locais onde o 
agronegócio se instala cresce a violência contra camponeses?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>No período de 2000 a 2009, período da alavanca da 
expansão do agronegócio sucroalcooleiro no estado (CPT, 2010), tivemos uma série 
oficial de ameaças de morte, tentativas de assassinato e assassinatos por todo o 
estado, registrado em diversos municípios como: Mirante do Paranapanema (9 
tentativas de assassinato e 7 ameaças de morte); Presidente Epitácio (13 
tentativas de assassinato e 1 ameaça de morte); Sandovalina (8 tentativas de 
assassinato e 1 ameaça de morte); e por aí vai. Isso sem contar as violências 
dos contratos trabalhistas, violências relacionadas a castigos físicos e 
psicológicos contra trabalhadores rurais, entre outras. Quanto maior o grau de 
pobreza e miséria, e mais à míngua a burguesia agrária procura manter os 
camponeses assentados e sem-terra.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Como você analisa a 
naturalização da violência contra as ocupações de terra por parte da mídia? E a 
relação entre a elite agrária e as mídias locais?</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR>O Oeste Notícias pertence ao Grupo de Comunicação Paulo 
Lima, coordenado pelo próprio Paulo Lima, proprietário da TV Fronteira (Filial 
da Rede Globo) e fi lho de Agripino Lima (ex-prefeito de Presidente Prudente, 
proprietário da maior universidade particular da região e latifundiário ligado a 
UDR - União Democrática Ruralista).</DIV>
<DIV align=justify><BR>O Imparcial tem como seus proprietários atuais, Mário 
Peretti, Adelmo Vaballi e Deodato Silva, proprietários que fazem parte da elite 
histórica da cidade. Em nossas análises, esses dois jornais regionais com sede 
em Presidente Prudente, observamos a íntima ligação entre os proprietários dos 
jornais e o conteúdo das notícias que revelaram uma memória histórica dos 
dominadores.<BR>Temos o território de relações capitalistas e os territórios de 
relações da economia familiar, em que concorrem conceitualmente segurança 
alimentar versus soberania alimentar, desenvolvimento sustentável versus 
diversidade produtiva, modo de produção e vida capitalista versus modo de 
produção e vida camponesa.</DIV>
<DIV align=justify><BR>A mídia corporativa não utiliza tais termos e trabalha 
unicamente com o território de relações capitalistas, como se fosse uma 
totalidade, assim reforçando sempre esta visão do mundo e apagando os mundos 
alternativos representados pelo territórios de relações da economia 
familiar.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Como o território capitalista está longe de ser somente 
uma entidade material, ele penetra nas instituições culturais da sociedade e se 
reproduz social e culturalmente. Dessa forma, a imprensa passa a ter a 
funcionalidade de um braço do território capitalista.<BR>
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>