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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de
Prensa</FONT><BR><U>10 de enero 2013</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Colectivo
Militante - Agenda Radical</FONT><BR>Montevideo - Uruguay<BR>redacción y
suscripciones: <A
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="mailto:germain5@chasque.net">germain5@chasque.net</A></FONT></STRONG><A
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title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
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</DIV><FONT size=3 face=Calibri></FONT>
<DIV align=justify><BR><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR><BR>O dilema da Reforma
Agrária no Brasil do agronegócio</FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3></FONT></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>O governo ainda não entendeu a natureza
e a gravidade dos problemas sociais no campo</FONT></STRONG><BR><BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG></STRONG> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG>João Pedro Stedile*</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Revista Desacato</STRONG></DIV>
<DIV align=justify><A
title="http://desacato.info/2013/ CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="http://desacato.info/2013/"><STRONG
title="http://desacato.info/2013/ CTRL + clic para seguir el vínculo">http://desacato.info/2013/</STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=3 face=Calibri></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><BR>A sociedade brasileira enfrenta no meio rural problemas
de natureza distintos que precisam de soluções diferenciadas. Temos problemas
graves e emergenciais que precisam de medidas urgentes. Há cerca de 150 mil
famílias de trabalhadores sem-terra vivendo debaixo de lonas pretas, acampadas,
lutando pelo direito que está na Constituição de ter terra para trabalhar. Para
esse problema, o governo precisa fazer um verdadeiro mutirão entre os diversos
organismos e assentar as famílias nas terras que existem, em abundância, em todo
o País. Lembre-se de que o Brasil utiliza para a agricultura apenas 10% de sua
área total.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Há no Nordeste mais de 200 mil hectares sendo preparados
em projetos de irrigação, com milhões de recursos públicos, que o governo
oferece apenas aos empresários do Sul para produzirem para exportação. Ora, a
presidenta comprometeu-se durante o Fórum Social Mundial (FSM) de Porto alegre,
em 25 de janeiro de 2012, que daria prioridade ao assentamento dos sem-terra
nesses projetos. Só aí seria possível colocar mais de 100 mil famílias em 2
hectares irrigados por família.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Temos mais de 4 milhões de famílias pobres do campo que
estão recebendo o Bolsa Família para não passar fome. Isso é necessário, mas é
paliativo e deveria ser temporário. A única forma de tirá-las da pobreza é
viabilizar trabalho na agricultura e adjacências, que um amplo programa de
reforma agrária poderia resolver. Pois nem as cidades, nem o agronegócio darão
emprego de qualidadea essas pessoas.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Temos milhões de trabalhadores rurais, assalariados,
expostos a todo tipo de exploração, desde trabalho semiescravo até exposição
inadequada aos venenos que o patrão manda passar, que exige intervenção do
governo para criar condições adequadas de trabalho, renda e vida. Garantindo
inclusive a liberdade de organização sindical.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Há na sociedade brasileira uma estrutura de propriedade
da terra, de produção e de renda no meio rural hegemonizada pelo modelo do
agronegócio que está criando problemas estruturais gravíssimos para o futuro.
Vejamos: 85% de todas as melhores terras do Brasil são utilizadas apenas para
soja/ milho; pasto, e cana-de-açúcar. Apenas 10% dos proprietários rurais, os
fazendeiros que possuem áreas acima de 500 hectares, controlam 85% de todo o
valor da produção agropecuária, destinando-a, sem nenhum valor agregado, para a
exportação. O agronegócio reprimarizou a economia brasileira. Somos produtores
de matérias-primas, vendidas e apropriadas por apenas 50 empresas transnacionais
que controlam os preços, a taxa de lucro e o mercado mundial. Se os fazendeiros
tivessem consciência de classe, se dariam conta de que também são marionetes das
empresas transnacionais.</DIV>
<DIV align=justify><BR>A matriz produtiva imposta pelo modelo do agronegócio é
socialmente injusta, pois ela desemprega cada vez mais pessoas a cada ano,
substituindo-as pelas máquinas e venenos. Ela é economicamente inviável, pois
depende da importação, anotem, todos os anos, de 23 milhões de toneladas de
fertilizantes químicos que vêm da China, Uzbequistão, Ucrânia etc. Está
totalmente dependente do capital financeiro que precisa todo ano repassar: 120
bilhões de reais para que possa plantar. E subordinada aos grupos estrangeiros
que controlam as sementes, os insumos agrícolas, os preços, o mercado e ficam
com a maior parte do lucro da produção agrícola. Essa dependência gera
distorções de todo tipo: em 2012 faltou milho no Nordeste e aos avicultores, mas
a Cargill, que controla o mercado, exportou 2 milhões de toneladas de milho
brasileiro para os Estados Unidos. E o governo deve ter lido nos jornais, como
eu. Por outro lado, importamos feijão-preto da China, para manter nossos hábitos
alimentares.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Esse modelo é insustentável para o meio ambiente, pois
pratica a monocultura e destrói toda a biodiversidade existente na natureza,
usando agrotóxicos de forma irresponsável. E isso desequilibra o ecossistema,
envenena o solo, as águas, a chuva e os alimentos. O resultado é que o Brasil
responde por apenas 5% da produção agrícola mundial, mas consome 20% de todos os
venenos do mundo. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelou que a cada ano
surgem 400 mil novos casos de câncer, a maior parte originária de alimentos
contaminados pelos agrotóxicos. E 40% deles irão a óbito. Esse é o pedágio que o
agronegócio das multinacionais está cobrando de todos os brasileiros! E atenção:
o câncer pode atingir a qualquer pessoa, independentemente de seu cargo e conta
bancária.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Uma política de reforma agrária não é apenas a simples
distribuição de terras para os pobres. Isso pode ser feito de forma emergencial
para resolver problemas sociais localizados. Embora nem por isso o governo se
interesse. No atual estágio do capitalismo, reforma agrária é a construção de um
novo modelo de produção na agricultura brasileira. Que comece pela necessária
democratização da propriedade da terra e que reorganize a produção agrícola com
outros parâmetros. Em agosto de 2012, reunimos os 33 movimentos sociais que
atuam no campo, desde a Contag, que é a mais antiga,MST, Via campesina, até o
movimento dos pescadores, quilombolas,etc., e construímos uma plataforma
unitária de propostas de mudanças. É preciso que a agricultura seja reorganizada
para produzir, em primeiro lugar, alimentos sadios para o mercado interno e para
toda a população brasileira. E isso é necessário e possível, criando políticas
públicas que garantam o estímulo a uma agricultura diversificada em cada bioma,
produzindo com técnicas de agroecologia. E o governo precisa garantir a compra
dessa produção por meio da Conab.</DIV>
<DIV align=justify><BR>A Conab precisa ser transformada na grande empresa
pública de abastecimento, que garante o mercado aos pequenos agricultores e
entregue no mercado interno a preços controlados. Hoje já temos programas
embrionários como o PAA (programa de compra antecipada) e a obrigatoriedade de
30% da merenda escolar ser comprada de agricultores locais. Mas isso está ao
alcance agora de apenas 300 mil pequenos agricultores e está longe dos 4 milhões
existentes.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O governo precisa colocar muito mais recursos em pesquisa
agropecuária para alimentos e não apenas servir às multinacionais, como a
Embrapa está fazendo, em que apenas 10% dos recursos de pesquisa são para
alimentos da agricultura familiar. Criar um grande programa de investimento em
tecnologias alternativas, de mecanização agrícola para pequenas unidades e de
pequenas agroindústrias no Ministério de Ciência e Tecnologia.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Criar um grande programa de implantação de pequenas e
médias agroindústrias na forma de cooperativas, para que os pequenos
agricultores, em todas as comunidades e municípios do Brasil, possam ter suas
agroindústrias, agregando valor e criando mercado aos produtos locais. O BNDES,
em vez de seguir financiando as grandes empresas com projetos bilionários e
concentradores de renda, deveria criar um grande programa de pequenas e médias
agroindústrias para todos os municípios brasileiros.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Já apresentamos também ao governo propostas concretas
para um programa efetivo de fomento à agroecologia e um programa nacional de
reflorestamento das áreas degradadas, montanhas e beira de rios nas pequenas
unidades de produção, sob o controle das mulheres camponesas. Seria um programa
barato e ajudaria a resolver os problemas das famílias e da sociedade brasileira
para o reequilíbrio do meio ambiente.<BR>Infelizmente, não há motivação no
governo para tratar seriamente esses temas. Por um lado, estão cegos pelo
sucesso burro das exportações do agronegócio, que não tem nada a ver com projeto
de país, e, por outro lado, há um contingente de técnicos bajuladores que cercam
os ministros, sem experiência da vida real, que apenas analisam sob o viés
eleitoral ou se é caro ou barato. Ultimamente, inventaram até que seria muito
caro assentar famílias, que é necessário primeiro resolver os problemas dos que
já têm terra, e os sem-terra que esperem. Esperar o quê? O Bolsa Família, o
trabalho doméstico, migrar para São Paulo?</DIV>
<DIV align=justify><BR>Presidenta Dilma, como a senhora lê a CartaCapital,
espero que leia este artigo, porque dificilmente algum puxa-saco que a cerca o
colocaria no clipping do dia.<BR></DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify>* Economista. Integrante da coordenação nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da Via Campesina
Brasil<BR><BR>Fonte: Carta Capital
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>