<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN">
<HTML><HEAD>
<META content="text/html; charset=unicode" http-equiv=Content-Type>
<META name=GENERATOR content="MSHTML 8.00.7600.16385"></HEAD>
<BODY style="PADDING-LEFT: 10px; PADDING-RIGHT: 10px; PADDING-TOP: 15px"
id=MailContainerBody leftMargin=0 topMargin=0 CanvasTabStop="true"
name="Compose message area"><FONT size=2 face=Arial>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de
Prensa</FONT><BR><U>25 de junio 2013</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Colectivo
Militante - Agenda Radical</FONT><BR>Montevideo - Uruguay<BR>redacción y
suscripciones: <A
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="mailto:germain5@chasque.net">germain5@chasque.net</A></FONT></STRONG><A
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
size=4></FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR></FONT></STRONG></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT size=3>A multidão nas
ruas: construir a saída de esquerda para a crise política, antes que a reação
imprima sua direção</FONT></STRONG> <BR><BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>Marcelo Badaró Mattos
</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>A Voz das
Ruas</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><A
title="http://a-voz-das-ruas.blogspot.com.br/ CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="http://a-voz-das-ruas.blogspot.com.br/"><STRONG
title="http://a-voz-das-ruas.blogspot.com.br/ CTRL + clic para seguir el vínculo">http://a-voz-das-ruas.blogspot.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Há momentos na história em que o
ritmo dos acontecimentos parece se acelerar. Nos últimos 15 dias a sociedade
brasileira viveu conflitos de dimensões tais que há pelo menos 20 anos não se
desenhavam. As multidões tomaram as ruas das cidades (grandes, médias e
pequenas). Na noite de ontem (20/06), manifestações em cerca de 400 cidades
levaram milhões de pessoas aos atos. Não faz duas semanas que as manifestações
se iniciaram, tendo por pauta imediata a derrubada dos aumentos nas tarifas de
transportes urbanos. A intensa repressão policial aos primeiros atos levou a
que, nos últimos cinco dias, a luta transbordasse as pautas, perfil dos
manifestantes e dimensões originais das mobilizações. Na cidade em que a
multidão foi maior, o Rio de Janeiro, mais de 100 mil manifestantes foram às
ruas no dia 17 e no mínimo cinco vezes mais gente esteve no centro da cidade
ontem. Tudo isso mesmo depois que prefeitos e governadores recuaram e revogaram
os aumentos.</FONT></DIV><FONT size=2 face=Arial>
<DIV align=justify><BR>Diante da intensa repressão policial aos primeiros atos e
da cobertura favorável a esta por parte dos monopólios da mídia, as
manifestações ganharam uma dimensão de contestação a esses dois polos
fundamentais da dominação de classes no Brasil de hoje: de um lado, o aparato
repressivo ostensivamente utilizado no dia a dia contra os segmentos mais
precarizados da classe trabalhadora (especialmente nas periferias e favelas da
grandes cidades) e sistematicamente empregado contra os movimentos sociais
organizados de perfil mais combativo; de outro, a fábrica de "consensos"
ideológicos que tem na mídia monopolística sua vanguarda mais ativa.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Diante da persistência e crescimento das multidões nas
ruas, o "partido da ordem" se realinhou. Governantes, mídia corporativa e
políticos de direita começaram a elogiar as mobilizações como exemplo de
cidadania, mas introduziram dois novos elementos no discurso que difundiram. O
primeiro foi uma distinção: entre os cidadãos pacíficos e ordeiros nas ruas
defendendo "um Brasil melhor" e a horda de "vândalos" e "radicais", estes
últimos os que estariam envolvidos em depredações e choques com a polícia. O
segundo foi uma pauta: os manifestantes se mobilizavam (ou deveriam se
mobilizar) contra a corrupção, contra os políticos em geral e, particularmente,
rechaçavam (ou deveriam rechaçar) os partidos de esquerda, cujo objetivo seria
se aproveitar das mobilizações para dirigir as massas para bandeiras que não
seriam as suas.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O primeiro mote, abria espaço para tentar resgatar a
abalada legitimidade da polícia, inclusive sua face mais violenta (seus Choques
e Bopes), agora não mais para bater indiscriminadamente, mas para conter os
"vândalos" e "radicais". Difícil é estabelecer as mediações para os comandantes
(os governadores reacionários civis e os coronéis fardados) desse aparato
repressivo. Ao longo da semana, partiram de uma aparente liberalidade completa
no início dos atos, combinada a uma batalha localizada no final, contra grupos
que misturavam massas revoltadas com a repressão, nítidos provocadores e setores
a soldo sabe-se lá de quem. Transitaram em seguida para uma repressão ainda mais
violenta que nos primeiros atos, especialmente nos locais e dias de jogos da tal
"Copa das Confederações" ("da Fifa", antes que eu tome um processo por uso
indevido de name right).</DIV>
<DIV align=justify><BR>No Rio de Janeiro, na noite passada, o asfalto tremeu
quando a PM empregou todo a força que exercita em uso diário nas áreas
periféricas e favelizadas. No momento em que centenas de milhares de
manifestantes se aproximaram da prefeitura da cidade, uma ação "preventiva"
disparou bombas e balas de borracha na multidão, numa situação em que todos
estavam privados de transportes públicos (os ônibus não circulavam dada a
própria manifestação e o metrô fechou suas estações). Empurrando a multidão de
volta ao Centro, os famosos "Caveirões" da PM carioca começaram a circular "para
limpar" a área (palavras da própria polícia), fazendo uso de todo o arsenal
militar a sua disposição contra quem quer que estivesse nas ruas. Dezenas de
feridos foram parar nos hospitais da cidade em decorrência dessa ação que varou
a madrugada.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Já o segundo mote - o da definição de uma pauta
difusamente nacionalista e conservadora - gerou a incorporação aos últimos atos,
agora ampliados para novos setores sociais, de bandeiras (contra PECS, contra os
"corruptos"), uma indumentária (verde amarelo, bandeira nacional), cânticos (o
hino nacional, os slogans de propaganda futebolística da Globo) e gritos ("sem
violência" e "sem partido"), completamente adequados à linha conservadora,
contraditoriamente defendida pelos editorialistas e comentaristas dos mesmos
veículos de comunicação monopolísticos que, violentamente criticados pelos
manifestantes, tiveram carros queimados e esconderam seus repórteres da multidão
com medo de suas reações. E gerou algo bem mais grave. A direita organizada
percebeu a oportunidade, foi para as ruas e influenciou diretamente as
manifestações, via carros de som, faixas e slogans de grupos como o "Movimento
Brasil", ou mesmo através de milícias pagas para atacar os militantes de
partidos de esquerda e movimentos sociais combativos, que chegaram a ser
espancados por bate-paus da reação em várias cidades do país, algumas vezes com
respaldo de parte da massa, ao som do coro "sem partido".</DIV>
<DIV align=justify><BR>Quando as câmeras de tráfego do Centro do Rio pararam de
gerar suas imagens, e os canais de jornalismo das TVs por assinatura
interromperam a transmissão ao vivo da mesma região, ficou claro que, ao mesmo
tempo que, embora a criação do consenso conservador tenha dado algum tipo de
resultado sobre o senso comum da multidão, os governos abriram a caixa de
Pandora da barbárie repressiva mais generalizada. O desespero do governo federal
tentando avaliar o grau da instabilidade, naquelas mesmas horas, revelou que os
que estão à frente do aparelho de Estado ainda não sabem como retomar o controle
do processo. Nem a Fifa sabe o que fazer!</DIV>
<DIV align=justify><BR>Há uma crise política de proporções amplas em curso. Isso
não respalda análises apressadas, nem de que há riscos golpistas imediatos pela
direita contra o regime democrático, nem que a crise política já está gerando
uma situação "pré-revolucionária" que favoreça à esquerda. O desenho atual da
dominação burguesa no Brasil, que durante as últimas duas décadas combinou, tão
eficientemente, o aparato amplo de formulação de consensos com todos esses
instrumentos repressivos ainda parece ter muito fôlego para sustentar o regime
democrático em nosso "Ocidente periférico". No entanto, ficou evidente que,
diante do primeiro movimento de contestação de massas, voltou a desmascarar-se a
velha face da "contra-revolução preventiva" (lembrando Florestan Fernandes), que
sempre caracterizou uma classe dominante que já nasceu, por aqui, sob o temor da
revolução dos "de baixo".<BR></DIV>
<DIV align=justify>O desafio da esquerda socialista, dos autonomistas
efetivamente contrassistêmicos e dos movimentos sociais combativos é imenso
neste momento. A multidão em luta, nas ruas, foi acionada por esses setores,
pelo acúmulo de suas denúncias e mobilizações. Frente à contra-ofensiva da
reação conservadora burguesa, porém, o terreno das ruas está agora bastante
minado para essas mesmas esquerdas e seus movimentos. Para manter-se nele será
preciso um salto: é necessário construir unidade em torno de um programa mínimo
de intervenção e só se pode convocar novas manifestações com um grau de
organização muito maior. Fóruns, plenárias e espaços de articulação precisam ser
criados imediatamente. Novas manifestações não poderão ter apenas o (belo)
perfil de festa popular, sem liderança coletiva ou objetivos claramente
delimitados (onde começar, onde e quando parar e para quê), pois a reação
conservadora aprendeu a lidar com os atos, disputou sua direção e pode tomá-los
para seus objetivos políticos. A entrada em cena dos sindicatos, ainda muito
tímida, a presença do MST nos atos de ontem e as ações de outros movimentos
sociais urbanos, como MTST, apontam para a possibilidade concreta de que tal
salto se materialize numa frente da nova geração de manifestantes com as
parcelas ainda combativas dos movimentos organizados da classe trabalhadora.
Quando isso acontecer, deixaremos de ser uma multidão para ganharmos um perfil
de classe. Por enquanto, isso é só uma possibilidade.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O cheiro de primavera que as primeiras marchas trouxeram
e que a enorme vitória da derrubada dos reajustes reforçou, pode ser encoberto
pelo odor do gás lacrimogênio e do spray de pimenta, assim como nossas palavras
de ordem podem ser abafadas pelo hino nacional e o "sem partido" dos partidários
da reação. O movimento cresceu, as contradições também, e a capacidade de
intervenção dos que lutam para que floresça um outro mundo terá de evoluir na
mesma proporção, pois as ruas precisam voltar a ser nossas.</DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>