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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de 
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de 
Prensa</FONT><BR><U>25 de junio 2013</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Colectivo 
Militante - Agenda Radical</FONT><BR>Montevideo - Uruguay<BR>redacción y 
suscripciones: <A 
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<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR></FONT></STRONG></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT size=3>A multidão nas 
ruas: construir a saída de esquerda para a crise política, antes que a reação 
imprima sua direção</FONT></STRONG> <BR><BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>Marcelo Badaró Mattos 
</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>A Voz das 
Ruas</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><A 
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<DIV align=justify><BR><FONT size=2 face=Arial></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Há momentos na história em que o 
ritmo dos acontecimentos parece se acelerar. Nos últimos 15 dias a sociedade 
brasileira viveu conflitos de dimensões tais que há pelo menos 20 anos não se 
desenhavam. As multidões tomaram as ruas das cidades (grandes, médias e 
pequenas). Na noite de ontem (20/06), manifestações em cerca de 400 cidades 
levaram milhões de pessoas aos atos. Não faz duas semanas que as manifestações 
se iniciaram, tendo por pauta imediata a derrubada dos aumentos nas tarifas de 
transportes urbanos. A intensa repressão policial aos primeiros atos levou a 
que, nos últimos cinco dias, a luta transbordasse as pautas, perfil dos 
manifestantes e dimensões originais das mobilizações. Na cidade em que a 
multidão foi maior, o Rio de Janeiro, mais de 100 mil manifestantes foram às 
ruas no dia 17 e no mínimo cinco vezes mais gente esteve no centro da cidade 
ontem. Tudo isso mesmo depois que prefeitos e governadores recuaram e revogaram 
os aumentos.</FONT></DIV><FONT size=2 face=Arial>
<DIV align=justify><BR>Diante da intensa repressão policial aos primeiros atos e 
da cobertura favorável a esta por parte dos monopólios da mídia, as 
manifestações ganharam uma dimensão de contestação a esses dois polos 
fundamentais da dominação de classes no Brasil de hoje: de um lado, o aparato 
repressivo ostensivamente utilizado no dia a dia contra os segmentos mais 
precarizados da classe trabalhadora (especialmente nas periferias e favelas da 
grandes cidades) e sistematicamente empregado contra os movimentos sociais 
organizados de perfil mais combativo; de outro, a fábrica de "consensos" 
ideológicos que tem na mídia monopolística sua vanguarda mais ativa.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Diante da persistência e crescimento das multidões nas 
ruas, o "partido da ordem" se realinhou. Governantes, mídia corporativa e 
políticos de direita começaram a elogiar as mobilizações como exemplo de 
cidadania, mas introduziram dois novos elementos no discurso que difundiram. O 
primeiro foi uma distinção: entre os cidadãos pacíficos e ordeiros nas ruas 
defendendo "um Brasil melhor" e a horda de "vândalos" e "radicais", estes 
últimos os que estariam envolvidos em depredações e choques com a polícia. O 
segundo foi uma pauta: os manifestantes se mobilizavam (ou deveriam se 
mobilizar) contra a corrupção, contra os políticos em geral e, particularmente, 
rechaçavam (ou deveriam rechaçar) os partidos de esquerda, cujo objetivo seria 
se aproveitar das mobilizações para dirigir as massas para bandeiras que não 
seriam as suas.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O primeiro mote, abria espaço para tentar resgatar a 
abalada legitimidade da polícia, inclusive sua face mais violenta (seus Choques 
e Bopes), agora não mais para bater indiscriminadamente, mas para conter os 
"vândalos" e "radicais". Difícil é estabelecer as mediações para os comandantes 
(os governadores reacionários civis e os coronéis fardados) desse aparato 
repressivo. Ao longo da semana, partiram de uma aparente liberalidade completa 
no início dos atos, combinada a uma batalha localizada no final, contra grupos 
que misturavam massas revoltadas com a repressão, nítidos provocadores e setores 
a soldo sabe-se lá de quem. Transitaram em seguida para uma repressão ainda mais 
violenta que nos primeiros atos, especialmente nos locais e dias de jogos da tal 
"Copa das Confederações" ("da Fifa", antes que eu tome um processo por uso 
indevido de name right).</DIV>
<DIV align=justify><BR>No Rio de Janeiro, na noite passada, o asfalto tremeu 
quando a PM empregou todo a força que exercita em uso diário nas áreas 
periféricas e favelizadas. No momento em que centenas de milhares de 
manifestantes se aproximaram da prefeitura da cidade, uma ação "preventiva" 
disparou bombas e balas de borracha na multidão, numa situação em que todos 
estavam privados de transportes públicos (os ônibus não circulavam dada a 
própria manifestação e o metrô fechou suas estações). Empurrando a multidão de 
volta ao Centro, os famosos "Caveirões" da PM carioca começaram a circular "para 
limpar" a área (palavras da própria polícia), fazendo uso de todo o arsenal 
militar a sua disposição contra quem quer que estivesse nas ruas. Dezenas de 
feridos foram parar nos hospitais da cidade em decorrência dessa ação que varou 
a madrugada.</DIV>
<DIV align=justify><BR>Já o segundo mote - o da definição de uma pauta 
difusamente nacionalista e conservadora - gerou a incorporação aos últimos atos, 
agora ampliados para novos setores sociais, de bandeiras (contra PECS, contra os 
"corruptos"), uma indumentária (verde amarelo, bandeira nacional), cânticos (o 
hino nacional, os slogans de propaganda futebolística da Globo) e gritos ("sem 
violência" e "sem partido"), completamente adequados à linha conservadora, 
contraditoriamente defendida pelos editorialistas e comentaristas dos mesmos 
veículos de comunicação monopolísticos que, violentamente criticados pelos 
manifestantes, tiveram carros queimados e esconderam seus repórteres da multidão 
com medo de suas reações. E gerou algo bem mais grave. A direita organizada 
percebeu a oportunidade, foi para as ruas e influenciou diretamente as 
manifestações, via carros de som, faixas e slogans de grupos como o "Movimento 
Brasil", ou mesmo através de milícias pagas para atacar os militantes de 
partidos de esquerda e movimentos sociais combativos, que chegaram a ser 
espancados por bate-paus da reação em várias cidades do país, algumas vezes com 
respaldo de parte da massa, ao som do coro "sem partido".</DIV>
<DIV align=justify><BR>Quando as câmeras de tráfego do Centro do Rio pararam de 
gerar suas imagens, e os canais de jornalismo das TVs por assinatura 
interromperam a transmissão ao vivo da mesma região, ficou claro que, ao mesmo 
tempo que, embora a criação do consenso conservador tenha dado algum tipo de 
resultado sobre o senso comum da multidão, os governos abriram a caixa de 
Pandora da barbárie repressiva mais generalizada. O desespero do governo federal 
tentando avaliar o grau da instabilidade, naquelas mesmas horas, revelou que os 
que estão à frente do aparelho de Estado ainda não sabem como retomar o controle 
do processo. Nem a Fifa sabe o que fazer!</DIV>
<DIV align=justify><BR>Há uma crise política de proporções amplas em curso. Isso 
não respalda análises apressadas, nem de que há riscos golpistas imediatos pela 
direita contra o regime democrático, nem que a crise política já está gerando 
uma situação "pré-revolucionária" que favoreça à esquerda. O desenho atual da 
dominação burguesa no Brasil, que durante as últimas duas décadas combinou, tão 
eficientemente, o aparato amplo de formulação de consensos com todos esses 
instrumentos repressivos ainda parece ter muito fôlego para sustentar o regime 
democrático em nosso "Ocidente periférico". No entanto, ficou evidente que, 
diante do primeiro movimento de contestação de massas, voltou a desmascarar-se a 
velha face da "contra-revolução preventiva" (lembrando Florestan Fernandes), que 
sempre caracterizou uma classe dominante que já nasceu, por aqui, sob o temor da 
revolução dos "de baixo".<BR></DIV>
<DIV align=justify>O desafio da esquerda socialista, dos autonomistas 
efetivamente contrassistêmicos e dos movimentos sociais combativos é imenso 
neste momento. A multidão em luta, nas ruas, foi acionada por esses setores, 
pelo acúmulo de suas denúncias e mobilizações. Frente à contra-ofensiva da 
reação conservadora burguesa, porém, o terreno das ruas está agora bastante 
minado para essas mesmas esquerdas e seus movimentos. Para manter-se nele será 
preciso um salto: é necessário construir unidade em torno de um programa mínimo 
de intervenção e só se pode convocar novas manifestações com um grau de 
organização muito maior. Fóruns, plenárias e espaços de articulação precisam ser 
criados imediatamente. Novas manifestações não poderão ter apenas o (belo) 
perfil de festa popular, sem liderança coletiva ou objetivos claramente 
delimitados (onde começar, onde e quando parar e para quê), pois a reação 
conservadora aprendeu a lidar com os atos, disputou sua direção e pode tomá-los 
para seus objetivos políticos. A entrada em cena dos sindicatos, ainda muito 
tímida, a presença do MST nos atos de ontem e as ações de outros movimentos 
sociais urbanos, como MTST, apontam para a possibilidade concreta de que tal 
salto se materialize numa frente da nova geração de manifestantes com as 
parcelas ainda combativas dos movimentos organizados da classe trabalhadora. 
Quando isso acontecer, deixaremos de ser uma multidão para ganharmos um perfil 
de classe. Por enquanto, isso é só uma possibilidade.</DIV>
<DIV align=justify><BR>O cheiro de primavera que as primeiras marchas trouxeram 
e que a enorme vitória da derrubada dos reajustes reforçou, pode ser encoberto 
pelo odor do gás lacrimogênio e do spray de pimenta, assim como nossas palavras 
de ordem podem ser abafadas pelo hino nacional e o "sem partido" dos partidários 
da reação. O movimento cresceu, as contradições também, e a capacidade de 
intervenção dos que lutam para que floresça um outro mundo terá de evoluir na 
mesma proporção, pois as ruas precisam voltar a ser nossas.</DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>