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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de
Prensa</FONT><BR><U>15 de agosto 2013</U><BR><FONT color=#800000
size=5>Colectivo Militante - Agenda Radical<BR></FONT>Montevideo -
Uruguay<BR>redacción y suscripciones: <A
href="mailto:germain5@chasque.net">germain5@chasque.net</A></FONT></STRONG><A
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<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR><BR>Entrevista a Ricardo
Antunes<BR><BR></FONT></STRONG></FONT><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT
size=3>"Descontentamento monumental faz emergir era de rebeliões no
Brasil"</FONT></STRONG> <BR></FONT></DIV>
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<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>Valéria Nader e Gabriel
Brito<BR>Correio da Cidadania<BR><A
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href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG
title="http://www.correiocidadania.com.br/ CTRL + clic para seguir el vínculo"></STRONG></A></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><BR> <BR>Um dos grandes
estudiosos do mundo do trabalho, o sociólogo e professor da Unicamp Ricardo
Antunes já havia dito, após o estouro da crise econômica internacional, quando
eclodia a Primavera Árabe, que um novo tempo de ebulição social marcaria o
início do século 21, a exemplo, porém não identicamente, do século 20. Pois bem.
O capitalismo financeirizado e globalizado continuou buscando suas fugas para
frente e, de fato, vieram as novas eclosões sociais, em todos os cantos do
mundo, chegando finalmente ao Brasil, sede dos próximos megaeventos
esportivos.<BR> <BR>Para discutir o atual momento das mobilizações sociais
no país que se dizia descolado de toda essa conjuntura mundial, o Correio da
Cidadania voltou a conversar com Antunes, em entrevista dividida em duas partes.
Nesta primeira metade, Antunes analisa as razões que fizeram explodir a revolta
social em solo brasileiro, além de tratar da entrada em cena do movimento
sindical, marcada pelas mobilizações de 11 de julho. Na entrevista, ele reitera
a necessidade de reinvenção da concepção e atuação sindical, porém, não mostra
acreditar que as atuais direções das centrais se disponham a abandonar sua
situação de "sindicalismo negocial de Estado", o que tornaria impossível, mesmo
adiante, uma adesão das massas trabalhadoras às suas lutas e
bandeiras.<BR> <BR><BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Como você sente o
atual momento do país, após as grandes e intensas manifestações país afora no
mês de junho? Qual o sentido e perspectivas para os quais apontam estas
manifestações?</STRONG><BR> <BR>Ricardo Antunes: As manifestações que
começaram em junho e continuam hoje tiveram uma cara multiforme. Elas têm
motivações, modos e formas de ser diferentes. Começaram no dia 6 de junho com 2
mil pessoas, ligadas ao Movimento Passe Livre, depois foram se ampliando, até
atingirem manifestações multitudinárias, com dezenas e centenas de milhares de
pessoas, chegando, no momento de auge, a mais de 2 milhões de manifestantes no
conjunto do país. Depois, entramos em julho, com manifestações mais localizadas.
Mas quase todo dia ainda temos expressões das mobilizações de
junho.<BR> <BR>Para mim, é preciso entender a causalidade desse movimento,
passando por três ou quatro pontos que me parecem centrais. O primeiro é uma
causalidade interna, motivada, digamos, pela percepção de que o projeto que vem
se desenvolvendo no Brasil desde a década de 90 (com FHC, depois levemente
alterado, mas não substantivamente, pelos governos Lula e Dilma), voltado ao
desenvolvimento capitalista financeirizado e mundializado, sedimentado em
privatizações, superávit primário e desregulamentação dos capitais, portanto,
tendo os fluxos de capitais como modus operandi, causou, ou vem causando,
profundo mal estar social.<BR> <BR>E podemos dizer que tal processo de
desenvolvimento chegou à sua exaustão. A população não suporta mais o transporte
privatizado, a saúde precarizada, degradada e também privatizada, o ensino
público profundamente degradado e abandonado. À exceção das escolas da elite,
privadas mas com mensalidades exorbitantes, somente para as classes dominantes e
classes médias altas.<BR> <BR>A população, portanto, chegou ao seu ponto de
saturação e esgotamento, causados por essa mercadorização da res publica, a
privatização tipicamente neoliberal. Vale lembrar que também na Inglaterra
tivemos a mesma saturação, levando à queda Margaret Thatcher, com a explosão
contra o aumento do imposto, o chamado pool tax. Ainda que os quadros
brasileiro e inglês sejam bastante diferentes, chega uma hora que tal processo
exaure o seu sentimento de aceitação na população. É por isso que faço aqui a
referência ao exemplo inglês. Em alguma medida, as explosões de junho estampam o
exaurimento da população com tanto descaso.<BR> <BR>Iniciamos uma fase de
fim da letargia. Aconteceu e aí entra o segundo elemento, numa conjuntura muito
específica: a explosão das manifestações foi marcada pela Copa das
Confederações, quando a população percebeu que estádios de primeiro mundo o
Brasil faz; enquanto isso, já no entorno dos estádios, a população é excluída.
Todos vimos durante a "Copa das Rebeliões" que os pobres e negros não estavam
presentes nos estádios. Estavam vendo os jogos nos estádios as classes médias e
as camadas abastadas. Os que construíram o país nestas últimas duas décadas
ficaram excluídos. Até mesmo do entorno do estádio, já que o comércio oficial da
Copa expulsou a população que poderia explorá-lo, os camelôs, os 'bicos',
aquele pequeno comércio que, para muitas pessoas, é a sobrevivência, a fim de se
colocar somente aquilo que a FIFA impunha. A população percebeu que há uma
simbiose complexa entre FIFA, interesses transnacionais e governo. E as
prejudicadas, quem sofreu e vem sofrendo com tal processo, são as camadas
populares. Isso fez com que houvesse, a cada jogo, uma ou muitas manifestações,
muitas rebeliões, com muita conflagração, onde a população mostrava seu completo
e cabal desconforto. Tudo fica evidente ao se ver que, ao menos desde que
acompanho futebol, desde anos 60, não houve comemoração do título. Após a
vitória contra a Espanha, não houve festejo, pois a insatisfação popular estava
no limite.<BR> <BR>Isso coincidiu num terceiro e importante movimento,
relacionado ao cenário internacional. Desde 2008 vemos que todas as
manifestações de massa - começando da Tunísia e indo à praça Tahrir (Egito), à
praça Taksim (Turquia), voltando à Tahrir, passando pela Grécia, Itália,
Portugal, França, Reino Unido, EUA, com o Occupy Wall Street, e Espanha, com os
Indignados - têm como traço comum a ocupação do espaço público, das ruas e
praças. Tal ocupação significa que a população não suporta mais a atual forma
degradada de institucionalidade, seja no caso dos países do Oriente Médio com
suas ditaduras, seja no caso dos países do ocidente com seu modelo de
"democracia burguesa" só para os ricos. Há também um fosso muito grande entre a
vontade popular e os interesses do parlamento. No caso brasileiro, por exemplo,
o Congresso Nacional certamente é a instituição mais rejeitada pelo país
hoje.<BR> <BR>No caso internacional, naturalmente há um efeito
demonstrativo para o conjunto de cada país: da Tunísia para o Egito, de lá para
o Iraque e a Síria; da Espanha para Portugal; da Grécia pra Itália; de lá para o
Reino Unido; depois, do Reino Unido para os EUA com o Occupy. Isto é, esse
cenário de manifestações populares contra a destruição da res publica, contra a
lógica de uma acumulação financeira ilimitada, além de destruição social e
pública também ilimitada, uma hora teve um limite.<BR> <BR><STRONG>-Correio
da Cidadania: Isso corrobora suas afirmações em entrevista concedida a nós em
2011, na qual afirmou que, assim como as placas tectônicas se mexeram no início
do século 20, estávamos vivendo novos tempos de ebulição social, tão globalizada
como o próprio capitalismo?</STRONG><BR> <BR>Ricardo Antunes: Sim, usando
essa metáfora, as várias curvas que existiam em nosso país, de direções muito
diferentes, se encontraram, todas elas, num ponto de intersecção representado
inicialmente pelo 6 de junho, e esse ponto de intersecção gerou a
ebulição. A percepção de projeto de governo de matriz ou neoliberal ou
social-liberal começa a ruir.<BR> <BR>Outro ponto: o mito da classe média
mostrou-se muito mais mito que realidade. Vimos agora que os níveis de
desemprego - ou, se quiserem, níveis de aumento de emprego - de algum modo
começam a diminuir, sinalizando a diminuição dos ritmos de crescimento,
que começam a chegar também aqui ao Brasil.<BR> <BR>Esse cenário todo é,
para mim, a explicação de fundo do monumental descontentamento e desta era das
rebeliões em que adentramos no Brasil a partir de junho. Entre junho e julho, as
grandes manifestações de massa migraram para manifestações nas periferias, ou
manifestações contra os pedágios ou para outras motivações, como as contrárias
ao brutal desaparecimento de Amarildo, no estado do Rio, onde os governos estão
marcados por níveis aviltantes de descuido da gestão pública.<BR> <BR>Vimos
outro caso nos últimos dias: todo o espaço preparado, com muita verba pública,
para a visita do papa, no cenário onde ele poderia fazer seu "festival", sua
celebração, e que não foi usado, por causa da chuva e da lama. Quantos milhões
foram gastos para preparar o espaço (que depois foi substituído pela praia de
Copacabana)? Isso aflora, de novo, a destruição da res publica no
Brasil.<BR> <BR>Tudo isto num contexto em que muitos estratos da classe
trabalhadora estão endividados, porque consumiram e usaram seu cartão. O cartão
é um fetichismo espetacularmente perigoso. Gasta-se dinheiro que não se paga com
papel-dinheiro. E o não uso do papel-dinheiro, para muitas pessoas, leva a certo
nível de abstração, do tipo "no cartão eu pago depois". Mas, a cada dia não
pago, se é lesado pelas altíssimas, explosivas e verdadeiramente saqueadoras
taxas de juros dos cartões de crédito cobrados pelos bancos no Brasil. Esse é o
cenário e o conjunto de questões sem os quais não dá pra entender o que se passa
no país no momento.<BR> <BR><STRONG>-Correio da Cidadania: A reboque dessas
manifestações, foi convocada a greve geral de 11 julho de 2013. Como avaliou a
oportunidade dessa convocação, bem como os resultados dela advindos, em termos
da participação de fato da classe trabalhadora e da juventude
operária?</STRONG><BR> <BR>Ricardo Antunes: Aqui precisamos de um pouco de
atenção na análise. As manifestações mais fortes que têm tido corpo no país
nesse período recente são as de rua, puxadas pela juventude estudantil que
trabalha ou pelo assalariado urbano que estuda, além de setores da
periferia - e, por isso, diferentes da greve das universidades federais de
2012 ou das greves de Jirau e das obras do PAC, também grandes, e diferentemente
ainda de 2012 no geral, marcado por muitas greves com reivindicações mais
específicas e próprias da pauta sindical, salarial.<BR> <BR>A greve
de 11 de julho, então, precisa ser analisada com cuidado. Em primeiro
lugar, a maioria das greves no Brasil, salvo exceções, não são momentos de
grandes manifestações de massa nas ruas. Houve quatro grandes greves gerais no
Brasil nos anos 1980 e não tivemos então grandes manifestações de massa nas
ruas. Mas foram greves marcadas pela paralisação de setores importantes do país;
bancos, indústria, setores do comércio etc<BR> <BR>Ainda não temos um
levantamento cuidadoso de quais setores pararam no dia 11. Quais atividades
foram mais ou menos afetadas? Sabemos, por exemplo, que foram importantes as
paralisações de várias estradas e autopistas, portanto, dificultando o fluxo de
mercadorias e pessoas. Precisamos saber o que se passou com a produção, bancos,
comércio etc. Teremos análises mais profundas sobre a incidência dessa greve
quando soubermos exatamente quais setores pararam ou não.<BR> <BR>O segundo
ponto é mais difícil. Das centrais sindicais que participaram, muitas são
completamente atreladas aos projetos do governo e é difícil para a população
entender como elas, que apóiam mais ou menos o governo (com a exceção clara da
CONLUTAS e do movimento IINTERSINDICAL), tornam-se, de repente, parte de um
movimento de clara oposição a todos os governos.<BR> <BR><STRONG>-Correio
da Cidadania: E como você analisa a entrada de tais centrais atreladas ao
governo no embalo das mobilizações de rua?</STRONG> <BR> <BR>Ricardo
Antunes: Essas manifestações de junho nasceram contra o sistema de
governos existentes. Não foram manifestações especificamente contra a Dilma, ou
contra o Alckmin, ou contra o Haddad, o Eduardo Paes, o Cabral. Mas foram,
simultaneamente, contra todos. Contra o governo federal, contra os governos
estaduais, contra os municipais, no caso do Rio até mais evidentemente. Depois,
vimos as pesquisas mostrando o desmoronamento dos índices de aprovação de todos
esses governos, de cima a baixo. E muitas das centrais sindicais estavam
comprometidas com o projeto do governo.<BR> <BR>Assim, como uma central
comprometida com tais projetos vai pautar a rua? A CUT, por exemplo, acreditou
piamente no mito de que o país estava mudando. Reproduziu o discurso lulista de
que o país era de classe média, a classe trabalhadora estava feliz, tudo
funcionava melhor... De repente, ficaram completamente aturdidos. É
compreensível, portanto, que a maioria das centrais sindicais, por acreditarem
no mito do país que dava certo, não podia ter grande sucesso no seu
chamamento.<BR> <BR>Desse modo, eu não gostaria de classificar a greve nem
como vitória, nem como derrota. Ela tem de ser vista com um pouco mais de
atenção. Os bancos funcionaram? O setor de transporte funcionou? As indústrias
tiveram diminuição de suas atividades? Se o nível de paralisação em tais setores
foi muito baixo, está configurada uma derrota<BR> <BR><STRONG>-Correio da
Cidadania: E quanto às centrais independentes e de oposição, você diria
que ficaram sem muito espaço pra operarem uma mobilização de
sucesso?</STRONG><BR> <BR>Ricardo Antunes: As centrais que sempre fizeram
oposição ao governo, como a Conlutas e o movimento denominado Intersindical,
além de outros setores que têm estado desde o início do governo Lula em clara
oposição, para não falar do governo FHC, ainda têm uma força minoritária, mas
têm um amplo espaço para avançar.<BR> <BR>As centrais que estão na órbita
do governo tentaram mostrar o seu espaço, mas as manifestações que vemos não são
manifestações lideradas pela institucionalidade, nem mesmo pela
institucionalidade sindical. São manifestações de massa contra as formas
burocratizadas e degradadas da institucionalidade.<BR> <BR>Assim, coloco um
outro ponto, para encerrar a análise da greve: elas, em geral, não costumam
convergir em grandes manifestações de rua, salvo quando tínhamos as greves do
ABC, em tempos passados e históricos do país. No ABC, as manifestações iam às
ruas para entrar no estádio, à época de Vila Euclides, depois 1º de Maio, a
polícia impedia e sempre havia confronto. Mas, salvo momentos de crise profunda,
as greves no Brasil não são marcadas por grandes manifestações de massa na rua.
Salvo, repito, aquelas greves de caráter político muito aberto, como na época da
ditadura ou em outras greves do pré-64, claramente políticas. Em geral, quando
bem sucedidas, são marcadas por maior ou menor adesão dos trabalhadores ao
chamamento de suas centrais. Se o índice de paralisação é alto, torna-se
vitoriosa em grande medida. Baixa adesão significa o inverso.<BR> <BR>Como
as centrais têm sido cooptadas, muitas delas pelo governo, burocratizadas e
institucionalizadas, não é difícil concluir, com as exceções já citadas (e suas
dificuldades por serem entidades de menor amplitude), que as paralisações de 11
de julho certamente não entraram no mesmo patamar, nem de longe, de força que
tiveram as manifestações de junho, que atingiram dezenas e centenas de milhares
de participantes em São Paulo e no conjunto do país, caracterizadas como grandes
manifestações nas praças e espaços públicos.<BR> <BR><STRONG>-Correio da
Cidadania: Face a este contexto, onde a vitalidade das manifestações da
juventude contrastou com uma greve geral esvaziada, o que pode ser diagnosticado
quanto à atual estrutura sindical, com traços evidentes de corporativismo,
economicismo e atrelamento ao Estado?</STRONG><BR> <BR>Ricardo Antunes: O
problema da estrutura sindical, formalmente atrelada ao Estado e burocratizada,
deve ser adicionado a outro elemento central: o problema é das direções
sindicais que aceitaram os chamamentos do governo lulista, aceitaram o caminho
da servidão voluntária; lutaram e bateram palma para a extensão do imposto
sindical às centrais, essa verdadeira aberração do sindicalismo, criado pela
ditadura varguista, mas que gera muito dinheiro. Direções estas que acreditaram
no projeto lulista.<BR> <BR>O que vemos, na realidade, é que a cúpula das
centrais, por problema de sua estrutura e, essencialmente, por suas concepções
políticas, sindicais e ideológicas, altamente burocratizadas, submersas e
atoladas no que já chamei de sindicalismo negocial de Estado, vive um momento
difícil.<BR> <BR>Claro que o problema tem causas complexas: a classe
trabalhadora se metamorfoseou. Há uma nova morfologia do trabalho, coisa que já
expus bastante em meus trabalhos. Essa nova morfologia nos apresenta categorias
novas, que não existiam anteriormente: os trabalhadores do telemarketing, de
call center, caixas de supermercados, da indústria de fast-food, enfim, um novo
proletariado do setor de serviços, não industrial. Desses setores, muitos estão
à margem da representação sindical ou não aceitam a representação tradicional.
Portanto, estamos num momento de redefinição da concepção de
sindicato.<BR> <BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Mas qual tipo de
redefinição na estrutura sindical você avalia como necessária e possível para os
próximos anos?</STRONG><BR> <BR>Ricardo Antunes: Tenho dito há algum tempo
que os sindicatos poderiam se inspirar mais nos movimentos sociais, ou seja,
terem uma concepção mais horizontal, menos cupulista, menos burocratizada e mais
afinada e sintonizada com as questões vitais que tocam seus representados. Quais
são as questões vitais que vêm atingindo o cotidiano da classe trabalhadora
brasileira: precarizados, precarizadas, terceirizados, terceirizadas,
quarteirizados e quarteirizadas, e todos que estão inseridos na economia
pautados por laços de informalidade?<BR> <BR>A classe trabalhadora hoje é
tanto masculina quanto feminina, como sempre foi. Há setores como telemarketing
e call center nos quais 70% ou 80% de seu contingente é feminino; a classe
trabalhadora hoje tem alguns de seus estratos (como os supermercados) marcados
pela juventude; ela tem traços de gênero, geração e etnia. São todas questões
que o sindicalismo precisa compreender. Não é estranho que uma categoria como o
call center, cuja grande maioria é formada por mulheres, tenha as direções de
seus sindicatos formadas por homens? E é só um traço, um
exemplo.<BR> <BR>Assim como na virada do século 19 para o século 20, quando
nós saímos de um sindicalismo de ofício para um sindicalismo de massa, na
transição para o século 21 nós devemos sair de um sindicalismo que começou como
de massa, tornou-se profundamente burocratizado, institucionalizado e
verticalizado, para um sindicalismo mais horizontal, que seja efetivamente
representativo do conjunto da classe trabalhadora que ele pretende representar.
Esse é o desafio mais vital do sindicalismo de classe hoje.<BR> <BR>Por
fim, é preciso também resgatar o sentido de pertencimento de classe, que obriga
os sindicatos a compreenderem a nova morfologia da classe. E avançar em sua
dimensão autônoma, de base, significa abandonar o sindicalismo negocial de
Estado, que tem sido dominante pelo menos nas cúpulas sindicais mais próximas ao
governo -as quais, vale acrescentar, se desenvolveram muito sob o lulismo.
<HR>
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