<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.0 Transitional//EN">
<HTML><HEAD>
<META content=text/html;charset=iso-8859-1 http-equiv=Content-Type>
<META name=GENERATOR content="MSHTML 8.00.7600.16385"></HEAD>
<BODY style="PADDING-LEFT: 10px; PADDING-RIGHT: 10px; PADDING-TOP: 15px"
id=MailContainerBody leftMargin=0 topMargin=0 CanvasTabStop="true"
name="Compose message area"><FONT size=2 face=Arial>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de
Prensa<BR></FONT><U>18 de setiembre 2013<BR></U><FONT color=#800000
size=5>Colectivo Militante - Agenda Radical<BR></FONT>Montevideo -
Uruguay<BR>redacción y suscripciones: germain5@chasque.net<A
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="mailto:germain5@chasque.net"></A></FONT></STRONG><A
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT
title="mailto:germain5@chasque.net CTRL + clic para seguir el vínculo"
size=4></FONT></STRONG></A></DIV>
<DIV align=justify>
<HR>
</DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT size=3>O STF diante do
mensalão</FONT></STRONG><BR></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG></STRONG></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>Valerio
Arcary *</STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2><STRONG><FONT face=Arial>Correio da
Cidadania</FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><A
title="http://www.correiocidadania.com.br/ CTRL + clic para seguir el vínculo"
href="http://www.correiocidadania.com.br/"><STRONG
title="http://www.correiocidadania.com.br/ CTRL + clic para seguir el vínculo">http://www.correiocidadania.com.br/</STRONG></A></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2><BR></FONT><FONT size=2
face=Arial> <BR></FONT><FONT size=2 face=Arial>O STF decidirá, finalmente,
se deverá ou não acontecer um segundo julgamento do mensalão. O mais provável é
que se pronuncie a favor dos embargos. A cúpula do PT admite que praticou crime
eleitoral de Caixa 2, mas adverte que não usou dinheiro público para garantir
maioria de votos no Congresso para o governo Lula. Reivindicam o benefício da
dúvida. Esta argumentação é hipotética. É, também, precária, incerta e duvidosa.
Ou seja, quase insustentável. Tem como objetivo único conseguir uma redução das
penas para evitar a prisão de alguns de seus líderes em regime fechado, ou seja,
a máxima humilhação. Que seria uma derrota simbólica
importante. </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Paradoxalmente, a decisão de um
segundo julgamento e a possível redução de penas favoreceria a cúpula do PSDB.
Estão preocupadíssimos, com razão, com o julgamento do mensalão mineiro,
articulado em 1998, pelo mesmo Marcos Valério que depois foi o braço direito de
Delúbio Soares. O julgamento do tucanoduto está previsto para 2014. Deve se
transformar em um pesadelo para Aécio Neves, o herdeiro político de Eduardo
Azeredo, que foi presidente nacional do PSDB depois de deixar o Palácio da
Liberdade em Belo Horizonte.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Quando a direção do PT decidiu, por
iniciativa direta de Lula na campanha de 1994, aceitar dinheiro das grandes
corporações, o destino do PT estava traçado. O vale tudo eleitoral tinha, desde
o início, um endereço trágico. Era, no fundo, só uma questão de tempo para que o
PT evoluísse do financiamento "legal" dos monopólios para um sistema de caixa
dois - a exemplo dos partidos tradicionais - e, depois, para a transferência de
recursos arrecadados para os partidos aliados, o sistema de mensalão para
assegurar maioria no Congresso, culminando com o enriquecimento de alguns de
seus chefes, o que é sórdido. A direção do PT fez em dez anos um trajeto que a
social democracia levou cem anos para completar. Mas, tudo isso foi, também, uma
evolução triste. </FONT></DIV>
<DIV align=justify><BR><FONT size=2 face=Arial>Os líderes do PT que estiveram à
frente da operação financeira que culminou na fraude organizada por Marcos
Valério junto aos Bancos, articulada por Delúbio Soares e pilotada por José
Dirceu não merecem, portanto, solidariedade alguma. Entretanto, ao mesmo tempo,
é desprezível, abjeta, e repulsiva, a hipocrisia que cercou o circo do
julgamento do mensalão no STF. Porque a direção do PT não fez nada,
absolutamente, nada de novo na vida política nacional.<BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2><FONT face=Arial><STRONG>Capitalismo e
corrupção</STRONG><BR></FONT></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Recordemos, então, o que a história e
o marxismo nos deixaram como fundamentos "graníticos" sobre a corrupção.
Primeiro, o mais importante. Nunca existiu capitalismo sem
corrupção. <BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Capital e Estado estiveram sempre
unidos através das mais variadas cumplicidades. Desde o alvorecer das pioneiras
Repúblicas italianas, quando a Europa recuperou ao Islã o controle das
lucrativas rotas comerciais do Mediterrâneo, passando pela conquista da América
pelas Coroas ibéricas, sem esquecer os quase cento e cinqüenta anos de disputa
entre Londres e Paris pela supremacia no mercado mundial: a corrupção estava lá,
em todos os portos, em todos tribunais, em todas as Cortes, em todas as línguas.
A corrupção nunca foi privilégio dos latinos, nem dos chineses, nem dos árabes.
Desde o século XIX falou, sobretudo, o latim moderno, o inglês. Comprando
favores, deslocando concorrentes, driblando as leis, subornando autoridades,
obtendo cargos. A força do dinheiro abrindo as gavetas do poder, e o domínio do
Estado favorecendo os cofres da riqueza.<BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Quando argumentamos que capitalismo e
corrupção sempre caminharam de mãos dadas, muitos nos perguntam se a corrupção
não seria inevitável em qualquer sociedade. Porque, afinal, ninguém ignora que
tanto na URSS, quanto na China, as burocracias estatais se regozijavam em
privilégios driblando as suas próprias leis. A corrupção não seria
expressão das incoerências sombrias da natureza humana? </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Os socialistas defendem que não
existe fatalismo na condição humana que nos condene a corrupção. Assim como
existiram sociedades que desconheceram a exploração do homem pelo homem,
ignoraram, também, a corrupção. A corrupção é uma doença econômico-social, e se
explica em função de circunstâncias históricas. Ninguém é, naturalmente,
corruptível ou corruptor. Algumas pessoas transformam-se em corruptos, em função
de cálculos de risco e benefício.<BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>A percepção de que, no Brasil, a
apropriação privada do Estado pelo mundo dos negócios teve sempre na sua raiz a
impressionante desigualdade econômica e social, é chave para mantermos o sentido
das proporções diante do colapso moral da direção máxima do PT. Ao se
transformar, a partir de 1988, em um partido que se credenciava para a gestão do
Estado sem ameaçar o capitalismo, o PT selou o seu destino. </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Um programa de adaptação à gestão de
um capitalismo que quase não cresce, ou cresce muito devagar e cheio de
desproporções, em uma sociedade em que a desigualdade social permanece obscena,
e na qual a mobilidade social vem diminuindo há um quarto de século, ou seja, um
reformismo quase sem reformas, não poderia evitar a degeneração ética. Ensina a
sabedoria oriental que o peixe morre pela boca. Já o Padre Antonio Vieira dizia
que o peixe apodrece pela cabeça. O marxismo alerta que a cabeça não é imune à
pressão do chão que os pés pisam. <BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>O PT escolheu um caminho de
social-democratização que já tinha sido trilhado na América Latina por muitos
outros, até por organizações que encabeçaram revoluções democráticas, como os
sandinistas. Se, mesmo os partidos que se formaram na severidade das condições
da luta armada contra ditaduras - como a FSLN, os Tupamaros ou a Farabundo Marti
- quando aceitaram se transformar em partidos eleitorais, se descobriram
vulneráveis diante da pressão política e social da democracia liberal, parece
inescapável que o PT, que já nasceu como um partido eleitoral, seria presa fácil
da corrupção endêmica do Estado brasileiro. </FONT></DIV>
<DIV align=justify> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>O domínio do Capital sempre foi a
associação legal e ou ilegal, portanto, sempre ilegítima e imoral, da riqueza
com o poder. Todos os partidos comprometidos com o regime democrático-eleitoral
e, por isso, financiados pelo capital, foram aliciados, em todos os tempos e
lugares, pela força do dinheiro. Nos últimos cem anos, à escala mundial, a
imensa maioria dos instrumentos da representação política dos trabalhadores, no
centro ou na periferia, quando se consolidaram regimes democráticos, foram
absorvidos pela pressão do eleitoralismo. <BR></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>A social democracia européia antes da
I Guerra, ou os partidos eurocomunistas depois dos anos 60, muito antes do PT,
confirmaram que é difícil, politicamente, e complexa, social e
organizativamente, a construção de reservas ou filtros de imunidade diante da
pressão de forças sociais hostis. Degeneraram, absorvendo além dos métodos do
eleitoralismo, os seus vícios. Seus dirigentes, fossem do SPD na Alemanha e do
Labour na Inglaterra, ou do PCF na França e do PCI italiano, experimentaram,
primeiro nos parlamentos, depois com o ministerialismo, um processo de ascensão
econômica e acomodação social irrecuperável<BR> <BR><STRONG>Adaptação
política e degeneração burocrática</STRONG><BR></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Admitamos, contudo, que os
privilégios dos aparelhos social-democratas foram a ante-sala de aberrações
ainda mais graves. Não bastassem as desprezíveis excentricidades da burocracia
russa, como a coleção de automóveis de Brejnev, ou a cômica sucessão de tipo
monárquico, em nome do socialismo, do regime totalitário na Coréia do Norte, a
esquerda do século XX viveu a degradação do assalto dos sandinistas às mansões
na Nicarágua. </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Pressões sociais em sociedades
desiguais nunca devem ser, portanto, subestimadas: os que se deixam confundir
politicamente, assimilam os métodos da política burguesa - em que tudo são
mercadorias, incluindo o voto - e, finalmente, se rendem a um modo de vida de
ostentação. É o que confessam os principais líderes petistas quando, de maneira
até grotesca, invocam absolvição porque estavam agindo de acordo com as "regras
do jogo". </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><BR></FONT><FONT size=2
face=Arial>Quando o publicitário que criou o "Lulinha paz e amor" confessou seus
pecados, ironia da história, enfiou uma adaga no coração da direção do PT. O
enquadramento histórico parece incontornável, sob pena de qualquer análise
sucumbir aos impressionismos de conjuntura. Só uma perspectiva mais ampla
permitirá explicar como o partido político que foi a expressão eleitoral do
movimento operário sindical e da maioria dos movimentos sociais brasileiros nos
anos oitenta, se transformou, a partir de sua mais alta direção,
irrecuperavelmente, neste espantoso amálgama de arrivistas e
vigaristas.<BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>O tema da burocratização dos partidos
de trabalhadores assalariados em sociedades urbanas permanece um fenômeno
polêmico. Ao analisar a socialdemocracia de cem anos atrás, Lenin recorreu ao
conceito de aristocracia operária para tentar explicar a crescente diferenciação
social no mundo do trabalho na passagem do século XIX para o XX, e tentar
compreender porque uma maioria das bases sociais e eleitorais da
socialdemocracia apoiou seus respectivos governos, quando do início da guerra de
1914. </FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><BR></FONT><FONT size=2 face=Arial>No
entanto, é menos lembrado que Lenin previu que esse apoio seria efêmero, mesmo
entre os setores da classe trabalhadora que obtiveram concessões na etapa
histórica anterior. A "aristocratização" de um segmento da classe operária era
compreendida pela esquerda marxista como um fenômeno, essencialmente, econômico
e social, enquanto o agigantamento do aparelho sindical e das frações
parlamentares absorvidos pelo Estado, era discutido como um processo,
essencialmente, político-social. <BR></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>Aristocracia operária e burocracia
sindical-parlamentar não eram identificadas como o mesmo fenômeno social, porque
a aristocracia, um conceito relativo às condições materiais e culturais de
existência da classe trabalhadora de cada país, permanecia sendo um setor de
classe, ainda que privilegiado. Enquanto a burocracia dos aparelhos que se
apóiam nos trabalhadores seria uma casta exterior ao proletariado. A experiência
do PT e da CUT é uma confirmação quase caricatural deste
prognóstico.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial></FONT> </DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>* Valerio Arcary é professor do IF/SP
(Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia) e doutor em História pela
USP.</FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial>
<HR>
</FONT></DIV></BODY></HTML>