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<DIV align=center><STRONG><FONT size=4><U>boletín solidario de 
información</U><BR><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de 
Prensa</FONT><BR><U>23 de diciembre 2013<BR></U><FONT color=#800000 
size=5>Colectivo Militante - Agenda Radical</FONT><BR>Montevideo - 
Uruguay<BR>redacción y suscripciones: <A 
title="mailto:germain5@chasque.net&#10;CTRL + clic para seguir el vínculo" 
href="mailto:germain5@chasque.net">germain5@chasque.net</A></FONT></STRONG><A 
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<HR>
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<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR><BR>Entrevista a Chico de 
Oliveira<BR><BR>2013: acabou a paz social</FONT></STRONG>&nbsp;&nbsp; 
<BR><BR></DIV>
<DIV align=justify><STRONG>Valéria Nader e Gabriel Brito, da 
Redação&nbsp;&nbsp;&nbsp; <BR>Correio da Cidadania<BR><A 
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href="http://www.correiocidadania.com.br/">http://www.correiocidadania.com.br/</A></STRONG><A 
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title="http://www.correiocidadania.com.br/&#10;CTRL + clic para seguir el vínculo"></STRONG></A><BR></DIV></FONT><FONT 
size=2 face=Arial>
<DIV align=justify><BR>"2013 deixa um sinal muito positivo". Essas são as 
palavras do sociólogo e professor aposentado da USP Chico de Oliveira nos 
momentos iniciais da entrevista que concedeu ao Correio para a edição especial 
retrospectiva de 2013.<BR>&nbsp;<BR>A efervescência do mês de junho, com a 
massividade dos protestos populares em todo o Brasil, faz de 2013 um ano, sem 
dúvida, bastante singular. Uma população há anos esgotada com a precariedade e 
ausência de serviços públicos, e assistindo erguerem-se à sua frente monumentais 
e luxuosos estádios de futebol para atenderem à Copa do Mundo de 2014, se pôs 
acesa pela bandeira da Tarifa Zero, levantada pelo Movimento Passe 
Livre.<BR>&nbsp;<BR>A renitência inicial dos governos federal, estaduais e 
municipais rendeu-se à força dos movimentos; a tradicional criminalização de 
protestos e manifestantes promovida pela grande mídia caminhou rapidamente para 
a suavização do tom em um primeiro momento adotado.<BR>&nbsp;<BR>Passados, no 
entanto, os primeiros e intensos meses de democracia viva das ruas, governo e 
mídia reapropriam-se aos poucos de sua postura de surdez face às demandas 
populares. A ortodoxia econômica a la FMI do governo cresce a passos largos 
neste final de ano; já a mídia, passou a linha auxiliar dos legislativos na 
tentativa de minar as manifestações, criminalizando o que chama de radicalismos, 
que têm justificado a edição e reedição de leis que permitem encarcerar 
manifestantes.<BR>&nbsp;<BR>Para Chico, nada muito surpreendente: "Qualquer 
governo tende à repressão, às vezes muito violenta, como em 2013. Quem faz 
oposição não pode se assustar. É assim mesmo e vamos em frente". Assim como 
também não se assusta face à surdez do governo e ao recrudescimento no 
conservadorismo: "Esse é um dos pontos precisamente fracos dos governos Lula, 
seguidos por Dilma: não tem política econômica para as áreas sindical e 
trabalhista, é um repeteco um tanto desqualificado da própria política econômica 
do FHC".<BR>&nbsp;<BR>Em uma avaliação mais estrutural sobre os governos Lula e 
Dilma, acrescenta ainda o sociólogo que "o lulismo é grave. É um movimento de 
cooptação da classe trabalhadora, comandado pelo seu expoente máximo. Como disse 
certa vez o velho gaúcho Leonel Brizola, com muita amargura, mas precisão quase 
sociológica, 'o lulismo é a esquerda que a direita pediu'".</DIV>
<DIV align=justify><BR>Para o futuro, Chico descrê de previsões específicas, que 
extrapolem a observação dos fluxos e refluxos dos movimentos sociais. Este olhar 
permite apenas dizer que as atuais movimentações certamente voltarão, não se 
sabe quando e nem com qual intensidade.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da 
Cidadania: Falar de 2013 é falar do ano em que a população brasileira foi 
massivamente às ruas de todo o país em busca de direitos. Como você enxerga 
essas manifestações, pensando em todo o processo anterior de mobilização que a 
elas conduziu, no estalar e dimensão adquirida no mês de junho e no momento 
posterior à efervescência inicial?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: É um 
sinal positivo do ponto de vista da sociedade, porque diz que sua capacidade de 
mobilização não esmoreceu. Geralmente, a gente pensa que uma sociedade de 
massas, como já é a brasileira, seja mais ou menos indiferente aos grandes 
temas. Mas as manifestações de junho, e também as subsequentes, mostram que isso 
não é verdade e, felizmente, a sociedade brasileira ainda tem alta sensibilidade 
às questões tratadas ao longo desse período. 2013 deixa um sinal muito 
positivo.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: E esse momento positivo 
veio para ficar?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Não é assim, não. Em 
nenhuma sociedade consegue-se manter a mobilização 24 horas por dia, 365 dias 
por ano. Em certas ocasiões, ela se manifesta, depois reflui. Dependendo do tema 
e da mobilização, volta a se manifestar. Não há nada que diga que uma sociedade 
tem de se manter de plantão 24 horas. De modo que uma apreciação tão otimista 
desconhece as formas pelas quais a sociedade se 
mobiliza.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: O que pensa da forma com 
que os vários níveis de governo, municipal, estadual e federal, enfrentaram e 
têm enfrentado tantos e legítimos protestos populares, no que se refere ao 
atendimento às demandas sociais?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Todo 
governo tende a reagir como governo da ordem. É para isso que estão lá, foram 
eleitos para manter a ordem. Sempre pensamos, ou tendemos a pensar, que os 
governos estão para promover a desordem, mas essa é uma fala de quem está na 
oposição. A tarefa de qualquer governo é manter a ordem.<BR>&nbsp;<BR>Portanto, 
a reação oficial aos manifestos de 2013 é típica dos governos: manter a ordem 
custe o que custar. E cabe aos que estão contra a ordem achar meios de negá-la. 
Essa é a tarefa dos que fazem oposição.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da 
Cidadania: Quanto ao enfrentamento policial aos manifestos que têm se espalhado 
por todo o país, qual a sua opinião?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: É 
normal. Normal dentro das características que descrevi aqui, de governos cuja 
tarefa é manter a ordem. Se os grupos que querem subvertê-la mostram força, a 
tarefa do governo fica mais difícil, e rapidamente qualquer um deles tende à 
repressão, às vezes muito violenta, como em 2013. Quem faz oposição não pode se 
assustar. É assim mesmo e vamos em frente.<BR><STRONG>&nbsp;<BR>-Correio da 
Cidadania: O que dizer, face a esse contexto, dos chamados black blocks e de 
toda a polêmica que têm trazido à cena política nacional? Como encara este 
fenômeno?</STRONG><BR><BR>Chico de Oliveira: Não acho muito importante. Na 
verdade, dentro do processo, dos vários momentos em que eles apareceram e 
perturbaram a ordem, deu-se uma certa valorização e publicização. Acontece com 
movimentos internos da população, desta vez foi o caso do black block. Mas eles 
não são tão importantes assim.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: 2013 
foi o ano anterior àquele da Copa no Brasil, quando também ocorrerão as eleições 
presidenciais. Muitos estudiosos e analistas previram um 'saco de maldades' para 
2013, com vistas a 'sanear' um orçamento que será mais complicado de ser 
manejado em ano futebolístico e eleitoral. Como viu 2013 neste sentido da 
condução da política econômica interna, levando-se em conta, além do mais, a 
forma como o governo enfrentou o cenário de desaceleração 
econômica?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Isso fica ligado à questão 
anterior, da tarefa desses governos de manterem a ordem que os alçou aos cargos 
de poder. E mantê-la custe o que custar, contra qualquer grupo que se insurja 
contra os interesses da ordem. De modo que não tem muito a ver, especificamente, 
com o fato de no ano que vem termos eleições e Copa do Mundo. Se não tivesse 
nada disso, o que aconteceria?<BR>&nbsp;<BR>Tampouco se pode dizer, na análise 
do que aconteceu, que, se o governo não reagisse, o movimento tenderia a 
crescer. Não é verdade. Porém, qualquer movimento mais intenso tem uma espécie 
de curva ascendente em determinado momento. Depois que mudam os temas e a 
capacidade de mobilização, vem uma queda. Se o governo atua com repressão, o 
decaimento poderá vir mais rápido, de forma violenta. Mas nenhum dos dois lados 
tem fôlego para prolongar por muito tempo seus movimentos 
políticos.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Face a este cenário, como 
tem enxergado, de modo geral, o mundo do trabalho no Brasil, especialmente no 
que diz respeito à condução de políticas e medidas nas área trabalhista e 
sindical nestes três últimos anos sob o governo de Dilma 
Rousseff?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Não vejo nenhuma política 
voltada às áreas trabalhista e sindical. O que há com o movimento sindical é uma 
cooptação, que se deve à apreciação que o Partido dos Trabalhadores tem do 
movimento sindical. E ao próprio fato de que o Lula é produto desse 
sindicalismo. Portanto, não vejo nada de especial, não penso que o governo 
prestou atenção ao movimento sindical ou à questão 
trabalhista.<BR>&nbsp;<BR>Aliás, esse é um dos pontos precisamente fracos dos 
governos Lula, seguidos por Dilma: não tem política econômica para tais áreas, é 
um repeteco um tanto desqualificado da própria política econômica do FHC, o que 
é surpreendente, por ser um governo federal nascido no PT e na forte influência 
desse mesmo movimento sindical. É claro que esperávamos 
mais.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Se 2012 já havia se encerrado 
marcado pelo chamado Mensalão, 2013 o trouxe à mesa de modo que se pode dizer 
espetacular. O que este episódio e a sua visibilidade e repercussão dizem de 
nosso contexto político?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Dizem muito. 
Tanto governo como oposição não possuem instrumentos para processar conflitos 
sociais. E o mensalão foi um conflito social, evidentemente elevado pela mídia, 
ao nível de um processo exclusivamente político, o que não é 
verdade.<BR>&nbsp;<BR>Mas, de qualquer forma, a sequência do mensalão mostra que 
governo e oposição estão mal preparados para lidarem com os novos conflitos, de 
uma sociedade já nitidamente capitalista. Todos os conflitos brasileiros no 
fundo remetem à questão principal, isto é, o conflito capital versus 
trabalho.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Estudiosos, como o 
sociólogo do trabalho Ruy Braga, referem se a um processo de concessões reais 
que embasam aquela que é chamada de 'hegemonia lulista', basicamente calcada em 
um consentimento passivo das bases sociais e em um consentimento ativo por parte 
das direções sindicais, o que teria sido a base para um forte desmobilização nos 
anos Lula. Como encara hoje o que se chama de 'lulismo' e tantas tentativas de 
se entender este que seria quase um conceito?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>Chico de 
Oliveira: Acho que o Ruy Braga e o André Singer são hoje os melhores analistas 
desse fenômeno apelidado de lulismo.<BR>&nbsp;<BR>O lulismo é grave. É um 
movimento de cooptação da classe trabalhadora, comandado pelo seu expoente 
máximo. Como disse certa vez o velho gaúcho Leonel Brizola, com muita amargura, 
mas precisão quase sociológica, "o lulismo é a esquerda que a direita pediu". É 
isso, um movimento de apaziguamento de conflitos, de contenção da classe 
trabalhadora, apaziguamento e rendição às classes 
dominantes.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: À luz desse 
entendimento, qual é o vigor e/ou importância que você considera ter hoje este 
'lulismo'? Como ele tem sobrevivido ao governo Dilma e como se interconecta à 
própria massividade dos protestos populares em 2013?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico 
de Oliveira: O lulismo não tem muito fôlego. Não é um movimento que possa se 
tornar algo como o varguismo aqui, ou o peronismo na Argentina. Não deve durar 
além do governo Dilma.<BR>&nbsp;<BR>Felizmente, o lulismo passará, mesmo porque 
o Lula, apesar de sua envergadura política, não tem a estrutura de um movimento 
de massas como o associado aos dois fenômenos que citei. Podemos ficar 
tranquilos.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Faria alguma diferença 
entre Lula e Dilma em suas respectivas conduções política, econômica e social da 
nação?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: É evidente. A Dilma não tem os 
requisitos e carisma que o Lula encarnou tão bem. Por isso ela, também por sua 
fraqueza, é monitorada o tempo todo pelo próprio lula, que não a deixa governar 
como talvez pudesse ter feito, se assim quisesse. A diferença entre ambos é 
marcante, e não se deve tanto a defeitos da Dilma. Deve-se, muito, à sombra que 
o lulismo projeta sobre toda a política nacional.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio 
da Cidadania: Qual a sua opinião quanto ao cenário eleitoral que se está armando 
para 2014? Arrisca, ademais, algum palpite?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de 
Oliveira: Está se desenhando que a Dilma, com todas as dificuldades, nada de 
braçada. E o PSDB, principal partido de oposição, é tão fraco que está sendo 
ofuscado até pela dupla Marina Silva-Eduardo Campos. Aqui, não precisa ser 
sociólogo. Basta acompanhar os jornais pra entender que a eleição já está 
decidida. A oposição tucana será pavorosa.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da 
Cidadania: Acredita que haja espaço nesse cenário para a entrada de uma esquerda 
que apresente novidades e receba atenção do grande público 
eleitor?<BR></STRONG>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Não, não tem nenhuma chance. 
Deve continuar fazendo seu papel, que é a crítica, sobretudo ao sistema. Mas não 
tem nenhuma chance de influir positivamente nesta 
eleição.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: E o que senhor considera 
'esquerda' no atual momento?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Isso é uma 
definição que nem uma reunião de todos os sábios do mundo será capaz de fazer. É 
a esquerda e ponto.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: O que espera 
para a economia mundial e nacional nos próximos tempos, após um período de 
evidente desaceleração e/ou baixo crescimento que têm vitimado a Europa, os 
Estados Unidos e a nações em desenvolvimento, na Ásia, África e América Latina, 
o Brasil dentre elas?</STRONG> <BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: A economia 
capitalista se move em ciclos. Isso é clássico desde o século 19, de modo que 
não há muita previsão a ser feita. É bobagem. A economia continua tendo seus 
ciclos de altas e baixas, dependendo dos estímulos de ação dos seus atores 
centrais. E os economistas têm aí seu Waterloo, pois qualquer previsão é de 
naufrágio.<BR>&nbsp;<BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Você possui uma visão 
esperançosa para o futuro das movimentações sociais que vêm rondando o mundo, 
desde a primavera árabe até a grande quantidade de movimentos 'Occupy' que têm 
varrido diversos países, passando por alguns protestos massivos na Europa e, 
agora, os do Brasil em 2013?</STRONG><BR>&nbsp;<BR>Chico de Oliveira: Não tenho 
esperança, sou sociólogo e cidadão, não vivo de esperança. Estou aqui observando 
movimentos da sociedade. O máximo que se pode dizer é que, entre fluxos e 
refluxos, esse movimento se repetirá. Qualquer tentativa de previsão para além 
de generalidades tende a fracassar.</DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify><BR>&nbsp;<BR></DIV></FONT></BODY></HTML>