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<DIV align=center><STRONG><FONT size=3><U>boletín solidario de 
información<BR></U><FONT color=#800000 size=5>Correspondencia de 
Prensa<BR></FONT><U>16 de febrero de 2014<BR></U><FONT color=#800000 
size=5>Colectivo Militante - Agenda Radical<BR></FONT>Montevideo - 
Uruguay<BR>Redacción y suscripciones: </FONT></STRONG><A 
href="mailto:germain5@chasque.net"><STRONG><FONT 
size=3>germain5@chasque.net</FONT></STRONG></A></DIV>
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<HR>
</DIV>
<DIV align=justify>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><STRONG><FONT size=3>Brasil<BR><BR>Entrevista a Gilmar 
Mauro,&nbsp; dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 
(MST)<BR><BR>"Luta do MST de hoje é contra o modelo do capital na agricultura e 
necessita de toda a sociedade" </FONT></STRONG></FONT></DIV>
<DIV><FONT face=Arial><STRONG></STRONG></FONT>&nbsp;</DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><FONT size=3>"Reforma agrária 
zero. No final do ano, desapropriaram-se umas áreas e, se nada der errado, serão 
assentadas umas 4 mil famílias. É evidente nosso descontentamento, de todos os 
camponeses em geral, com a política de governo, principalmente nos últimos três 
anos."<BR></FONT></STRONG></DIV>
<DIV align=justify><BR><BR></DIV></FONT>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG>Gabriel Brito e 
Valéria<BR>Correio da Cidadania, Sao Paulo, 10-2-2014<BR><A 
href="http://www.correiocidadania.com.br/">http://www.correiocidadania.com.br/</A></STRONG></FONT></DIV>
<DIV align=justify><FONT size=2 face=Arial><STRONG><BR></STRONG><BR>A semana 
começa com um marco histórico da luta social brasileira: o VI Congresso do 
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), no exato momento em que 
celebra seus 30 anos. Como anunciado, trata-se de um momento de autocrítica e 
reflexão, de um movimento que marcou época em sua luta por justiça no campo e 
agora se vê cercado pelos dilemas de um novo momento, entre eles, o abandono da 
reforma agrária – inclusive pelos próprios governos que sempre se identificaram 
com a luta pela terra.<BR><BR>Em entrevista ao Correio da Cidadania, Gilmar 
Mauro, dirigente nacional do MST, faz um apanhado histórico, ressalta a 
trajetória do movimento, mas reconhece a urgência de se estabelecerem novas 
pautas diante da sociedade, atualizando os conceitos sobre a necessidade da 
reforma agrária no atual contexto político da agricultura 
brasileira.<BR><BR>“Não se trata de fazer uma reforma agrária que apenas 
distribua a terra, para disputar mercado com o agronegócio na base do 
produtivismo burro. Trata-se de mudar o modelo agrícola, os paradigmas 
tecnológicos de produção e, claro, de um reordenamento fundiário. Não é só 
distribuição de terra, mas é também assentar um novo modelo agrícola”, 
afirma.<BR><BR>A respeito do desempenho dos governos recentes, apenas desengano, 
refletido não só em números de desapropriações e assentamentos, mas também em um 
fato emblemático: “Não tivemos nenhuma reunião com a presidente Dilma, pra se 
ter ideia. Não que reunião resolva problemas, mas até com FHC tivemos várias 
reuniões. E com a Dilma, nenhuma. Em termos de desapropriação, é vergonhoso, não 
tem nada”, lamenta.<BR><BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Inicialmente, que 
balanço você faz dos trinta anos de história do Movimento dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra?<BR></STRONG><BR>Gilmar Mauro: Há várias coisas importantes nos 
30 anos do movimento. A primeira é que o MST é uma das organizações que está na 
história da luta pela terra e pela reforma agrária no nosso país. Um herdeiro, 
continuador de tais lutas. Também porque é uma das organizações camponesas de 
maior tempo de vida. Outras duraram muito menos, foram reprimidas etc. E, nesses 
30 anos, como fruto do aprendizado histórico nas lutas do Brasil, desenvolvemos 
várias questões que, a meu ver, são importantes:<BR><BR>1) estabelecemos com 
clareza um rumo a ser seguido, qual seja, lutar pela terra e pela transformação 
social;<BR><BR>2) estabelecemos que isso será alcançado por meio da luta social, 
sem outra alternativa. Não porque gostamos ou achamos bonito, mas por ser uma 
condição histórica da classe trabalhadora e porque a luta é um processo pelo 
qual os trabalhadores se tornam sujeitos e protagonistas da própria história. 
Além das conquistas, é através disso que se dá um processo de elevação do nível 
de consciência e formação;<BR><BR>3) a partir desses dois grandes ingredientes, 
construímos uma organização interna para além das demandas da reforma agrária, 
pura e simplesmente. Tem-se um movimento que trabalha na educação, como, por 
exemplo, na alfabetização de jovens e adultos, mas também em parcerias, no 
sentido de que nosso povo, trabalhador, possa ter acesso ao ensino superior, 
pós-graduação etc. Desenvolvemos política de formação, de comunicação, temos uma 
escola própria... Enfim, para além da luta pela reforma agrária, desenvolvemos 
modos de produção nos assentamentos, a agroindústria, e assim por diante, com 
organicidade;<BR><BR>4) construímos um movimento com unidade interna. Cheio de 
contradições, como a vida é, mas unidade em torno de um projeto e de ações, o 
que nos permitiu fazer muitas lutas pelo Brasil;<BR><BR>5) construímos um 
movimento com articulação internacional. A própria Via Campesina é fruto desse 
processo que ajudamos a construir. Entendemos que as mudanças no Brasil são 
parte de mudanças estruturais em todo o planeta. E mesmo com outras contradições 
do movimento camponês, há pontos e projetos em comum. E ousaria dizer que, na 
atualidade, esta é uma das poucas organizações com funcionamento de escala 
planetária;<BR><BR>6) construímos um movimento que, além de colocar questões 
imediatas, coloca questões políticas, em busca de diálogo entre a luta econômica 
e a luta política. Buscamos trazer ao presente o que se quer no futuro. Exemplo: 
vamos a um congresso cuja metade do tempo será dedicada à autocrítica, pois é 
uma obrigação, uma tarefa política. Vamos discutir a participação das mulheres e 
todos os problemas que ainda temos. É um dos movimentos que, de fato, conseguem 
fazer tal exercício. É aquilo que a agricultura nos ensina: se quisermos colher 
abacate, temos que plantar abacateiro. Vamos tratar da abertura da participação 
às mulheres, da formação e integração de novos militantes etc.<BR><BR>Por fim, 
há a questão da dignidade e da auto-estima de uma categoria que, no Brasil, 
sempre foi relegada ao terceiro escalão, no caso, os sem terras. Portanto, 
através da luta e organização, exaltamos a dignidade humana das pessoas, ao 
mesmo tempo em que lhe damos um sentido político. O MST é um interlocutor e 
agente político no Brasil, fruto de seu processo de 30 anos.<BR><BR>Tem reforma 
agrária? Ainda não. Temos política de assentamentos, como fruto de muitas lutas 
e mortes. <BR><BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Qual é, mais especificamente, a 
nova leitura do movimento para a reforma agrária no atual momento, face à citada 
hegemonia do agronegócio e à predominância de um modelo agrícola fortemente 
hegemonizado por grandes oligopólios? <BR></STRONG><BR>Gilmar Mauro: É um debate 
que vocês, da chamada “mídia alternativa”, terão de nos ajudar a travar com a 
sociedade. Temos de colocar questões do tipo: que uso a humanidade, 
particularmente os brasileiros, quer dar à terra, à água, à biodiversidade, aos 
recursos naturais em geral? Se for o uso atual, de hegemonia do capital, não 
precisa de reforma agrária. Que tipo de comida queremos consumir? Se for o 
atual, talvez tampouco precise de reforma agrária. E que paradigmas tecnológicos 
de produção usaremos no próximo período?<BR><BR>A questão envolve o conjunto da 
sociedade. Se quisermos dar outro uso aos recursos naturais, com outro tipo de 
alimentação, se quisermos produzir de forma mais sustentável, com menos impacto 
ao meio ambiente, e, principalmente, colocando os trabalhadores no centro, 
diminuindo a penosidade do trabalho agrícola e, ao mesmo tempo, garantindo 
produtividade, a reforma agrária é uma das coisas mais modernas que 
existem.<BR><BR>No nosso modo de ver, esse é um debate necessário, pois não se 
trata de fazer uma reforma agrária que apenas distribua a terra, para disputar 
mercado com o agronegócio na base do produtivismo burro.<BR><BR>Trata-se de 
mudar o modelo agrícola, os paradigmas tecnológicos de produção e, claro, de um 
reordenamento fundiário. Não é só distribuição de terra, mas é também assentar 
um novo modelo agrícola. O debate de reforma agrária vai girar em torno disso no 
próximo período. Além, é claro, de muita luta e 
mobilização.<BR><BR><STRONG>-Correio da Cidadania: O que pensa sobre essa nova 
postura e como você tem enxergado, nesse sentido, o movimento neste atual 
momento histórico?<BR></STRONG><BR>Gilmar Mauro: Houve mudanças. Diria até que, 
nos anos 2000, vivemos uma ascensão muito grande, com muitas lutas, havia muita 
gente acampando. Mas a própria mudança do país, com situação de pleno emprego 
relativo (emprego precário, evidentemente, mas com trabalho), faz com que, 
apesar de o sonho da reforma agrária continuar presente em milhões e milhões de 
pessoas, a situação seja diferente daquela da década de 90, pois a maioria das 
famílias não fica no acampamento o tempo todo. Porque está trabalhando, se 
sustentando. Aí, vem pros acampamentos nos finais de semana, nas assembleias, 
mas não tem aquela mesma disponibilidade que tinha nos grandes acampamentos que 
fizemos na década de 90. Levávamos gente pra participar de mobilizações urbanas, 
cursos de formação... Hoje, tem menos gente morando nos acampamentos, o que não 
significa ter diminuído a necessidade e vontade de luta dos 
trabalhadores.<BR><BR>A classe trabalhadora, na atual fase do capitalismo, não 
vive no campo, vive trabalhando fora. Aliás, é a única alternativa. Ou vende o 
que os outros produziram, ou produz e vende, ou vende a força de 
trabalho.<BR><BR>Os momentos de luta da classe trabalhadora são sazonais, uma 
greve aqui, outra acolá, assim por diante. No nosso caso, não é diferente. Digo 
tudo isso pelo seguinte: a partir de 1995, quando o movimento sindical de certa 
forma entrou em refluxo, pela derrota da greve dos petroleiros, nos colocamos em 
posição de certa arrogância. E continuamos avançando. A partir da década de 
2000, por volta de 2002, 2005, vimos uma reestruturação produtiva no campo que 
nos colocou numa outra condição.<BR><BR>Penso que o MST faz uma releitura não 
para diminuir e parar de fazer luta, pelo contrário, é para buscar um salto de 
qualidade. No entanto, há outro ponto que gostaria de colocar aqui: embora 
existam críticas ao MST, vejo-o como um dos maiores movimentos sociais da 
atualidade, sem dúvidas. Vamos botar 15, 16 mil pessoas no nosso congresso, 
fazer uma autocrítica interna e jogar pra frente, junto com nossa categoria. Uma 
organização que não responde às necessidades de sua categoria, que não faz 
lutas, não tem sentido de existir. Prefiro errar coletivamente do que acertar 
sozinho.<BR><BR>E acredito que daremos o salto de qualidade no próximo período, 
tanto no debate da reforma agrária, como no processo de organização e 
politização da nossa própria categoria, além da legitimação do movimento, ao 
lado de outros setores da classe trabalhadora.<BR><BR><STRONG>-Correio da 
Cidadania: Como você descreve o atual quadro de disputa pela terra no nosso 
país, inclusive em termos de aquisição de terras por parte de grupos 
estrangeiros?<BR></STRONG><BR>Gilmar Mauro: Esse é o grande nó que enfrentamos. 
Na década de 90, estávamos em ascensão e enfrentávamos o latifúndio atrasado. 
Hoje, com maiores dificuldades de mobilização, por se tratar de outra classe 
trabalhadora, enfrentamos um latifúndio mais moderno, do capital financeiro. 
Além da aliança do agronegócio com os meios de comunicação, o aparelho da grande 
mídia, uma situação difícil.<BR><BR>Do ponto de vista macroeconômico, tanto no 
governo FHC, como no governo Lula e na campanha de Dilma, esse mesmo modelo foi 
utilizado como forma de equilibrar o balanço de pagamentos. Ou seja, o Brasil 
tem um déficit muito grande nos chamados serviços – em função do pagamento de 
juros, da remessa anual de lucros das empresas etc. – e busca se equilibrar 
produzindo commodities. Produtos primários para exportação. Assim, o campo 
brasileiro passou a ser utilizado de forma predatória pelo grande capital, que, 
em tempos de crise, inclusive na Europa, se utiliza de processos de extração de 
minerais, domínio e controle de terras.<BR><BR>Portanto, é a grande briga, 
contra o grande capital, que por sua vez investe em agricultura, por ser mais um 
espaço de valorização e ganho de dinheiro. O problema é o modelo, e os governos 
recentes o adotaram, em busca de algum equilíbrio no balanço de pagamentos. Em 
detrimento de não se fazer a reforma agrária, em detrimento do solo, da água, 
com as monoculturas e assim por diante.<BR><BR>Esse é o grande desafio nosso do 
momento, porque não é uma luta só dos sem terras. Teremos de nos articular com o 
conjunto da sociedade brasileira, inclusive discutindo a essência do problema. 
Fazer o debate a respeito, como dito, de que uso queremos dar aos recursos 
naturais, o que queremos de produção agrícola. Será exigido um processo de 
formação e debates com a sociedade brasileira.<BR><BR>E digo com a maior 
tranquilidade: ninguém luta contra aquilo que não conhece, ninguém luta sem 
saber por quê. De modo que temos de convocar intelectuais, pedagogos, pra fazer 
o debate. Se a sociedade não fizer uma crítica e não entender qual a lógica do 
capital, e suas consequências à própria sociedade, ninguém vai lutar. Sem esse 
entendimento, dificilmente conseguiremos uma luta por outro projeto, um projeto 
socialista.<BR><BR>Vejo as coisas assim, essa é a forma de evitar transformar a 
luta, mesmo com caráter de esquerda, numa espécie de massa de manobra. Portanto, 
é preciso desenvolver o processo de formação, porque não acredito em mudanças 
sem tal trabalho. Mudanças profundas irão ocorrer no dia em que a classe 
trabalhadora assumir seu protagonismo nas lutas e na própria 
história.<BR><BR><STRONG>-Correio da Cidadania: Como avalia o governo Dilma 
frente a essas discussões e, especificamente, no que se refere ao seu 
posicionamento face ao agronegócio e à desaceleração no processo de reforma 
agrária?<BR></STRONG><BR>Gilmar Mauro: Um dos piores em termos de reforma 
agrária, comparável ao período Collor. Não tenho nenhuma dúvida. Não tivemos 
nenhuma reunião com a presidente Dilma, pra se ter ideia. Não que reunião 
resolva problemas, mas até com FHC tivemos várias reuniões. E com a Dilma, 
nenhuma.<BR><BR>Já em termos de desapropriação, é vergonhoso, não tem nada. A 
grande política da Dilma para o campo é um pouco mais de crédito e a inserção de 
parte da pequena agricultura dentro do mercado. Mas eu diria que o projeto é 
buscar inserir alguns assentados, alguns agricultores, e transformá-los em 
“agronegocinhos”. E o restante da população fica com política de compensação 
social.<BR><BR>Reforma agrária zero. No final do ano, desapropriaram-se umas 
áreas e, se nada der errado, serão assentadas umas 4 mil famílias. É evidente 
nosso descontentamento, de todos os camponeses em geral, com a política de 
governo, principalmente nos últimos três anos.<BR><BR><STRONG>-Correio da 
Cidadania: Qual será a postura do movimento neste ano eleitoral, com diversos 
interesses político-econômicos desde já pressionando o governo por grandes 
concessões? <BR></STRONG><BR>Gilmar Mauro: Pra ser bem honesto, o período 
eleitoral é bem difícil para nós. Respeitamos, a população participa... Mas são 
processos tão viciados que é difícil assumi-lo como possibilidade tática de 
grandes mudanças. Principalmente porque as eleições são muito marcadas e dadas. 
Portanto, será um ano difícil para nós, sem dúvida, ainda mais com a Copa do 
Mundo.<BR><BR>Normalmente, não nos envolvemos tão diretamente nas eleições. 
Atrapalha. Não temos debate algum e não queremos antecipar o assunto. Tanto que 
no nosso congresso não há programação para falar de eleição. Os temas serão 
reforma agrária, participação das mulheres, desafios da classe trabalhadora, 
desafios internos. Discutiremos questões internas e a luta política que faremos 
no próximo período.</DIV>
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<HR>
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