<html xmlns:v="urn:schemas-microsoft-com:vml" xmlns:o="urn:schemas-microsoft-com:office:office" xmlns:w="urn:schemas-microsoft-com:office:word" xmlns:m="http://schemas.microsoft.com/office/2004/12/omml" xmlns="http://www.w3.org/TR/REC-html40"><head><meta http-equiv=Content-Type content="text/html; charset=iso-8859-1"><meta name=Generator content="Microsoft Word 14 (filtered medium)"><!--[if !mso]><style>v\:* {behavior:url(#default#VML);}
o\:* {behavior:url(#default#VML);}
w\:* {behavior:url(#default#VML);}
..shape {behavior:url(#default#VML);}
</style><![endif]--><style><!--
/* Font Definitions */
@font-face
        {font-family:Calibri;
        panose-1:2 15 5 2 2 2 4 3 2 4;}
/* Style Definitions */
p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal
        {mso-margin-top-alt:auto;
        margin-right:0cm;
        mso-margin-bottom-alt:auto;
        margin-left:0cm;
        text-align:justify;
        font-size:11.0pt;
        font-family:"Calibri","sans-serif";
        mso-fareast-language:EN-US;}
a:link, span.MsoHyperlink
        {mso-style-priority:99;
        color:blue;
        text-decoration:underline;}
a:visited, span.MsoHyperlinkFollowed
        {mso-style-priority:99;
        color:purple;
        text-decoration:underline;}
span.EstiloCorreo17
        {mso-style-type:personal-compose;
        font-family:"Calibri","sans-serif";
        color:windowtext;}
..MsoChpDefault
        {mso-style-type:export-only;
        font-family:"Calibri","sans-serif";
        mso-fareast-language:EN-US;}
..MsoPapDefault
        {mso-style-type:export-only;
        mso-margin-top-alt:auto;
        mso-margin-bottom-alt:auto;
        text-align:justify;}
@page WordSection1
        {size:612.0pt 792.0pt;
        margin:70.85pt 3.0cm 70.85pt 3.0cm;}
div.WordSection1
        {page:WordSection1;}
--></style><!--[if gte mso 9]><xml>
<o:shapedefaults v:ext="edit" spidmax="1026" />
</xml><![endif]--><!--[if gte mso 9]><xml>
<o:shapelayout v:ext="edit">
<o:idmap v:ext="edit" data="1" />
</o:shapelayout></xml><![endif]--></head><body lang=ES-UY link=blue vlink=purple><div class=WordSection1><div class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";mso-fareast-language:ES-UY'><hr size=2 width="100%" align=center></span></div><p class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><b><span style='font-size:20.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";color:#953735;mso-style-textfill-fill-color:#953735;mso-style-textfill-fill-alpha:100.0%;mso-fareast-language:ES-UY'>Correspondencia de Prensa<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><b><span style='font-size:14.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";mso-fareast-language:ES-UY'>boletín informativo – 25 de mayo 2014<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><b><u><span style='font-size:14.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";color:blue;mso-fareast-language:ES-UY'><a href="mailto:germain5@chasque.net">germain5@chasque.net<o:p></o:p></a></span></u></b></p><p class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><b><span style='font-size:20.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";color:#953735;mso-style-textfill-fill-color:#953735;mso-style-textfill-fill-alpha:100.0%;mso-fareast-language:ES-UY'>A l’encontre – La Breche<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><b><u><span style='font-size:14.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";color:blue;mso-fareast-language:ES-UY'><a href="http://www.alencontre.org/">www.alencontre.org<o:p></o:p></a></span></u></b></p><p class=MsoNormal style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt'><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";mso-fareast-language:ES-UY'><o:p></o:p></span></p><div class=MsoNormal align=center style='margin:0cm;margin-bottom:.0001pt;text-align:center'><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";mso-fareast-language:ES-UY'><hr size=2 width="100%" align=center></span></div><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:12.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Haití<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:12.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Entrevista a Franck Seguy, pesquisador e sociólogo haitiano<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:12.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Dez anos da ocupação: "o povo quer que as tropas saiam já"<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Os generais brasileiros no Haiti admitem isso, do Haiti como campo de treinamento. Um comandante de um contingente assumiu que o Haiti serve para treinar o Exército para atuar nos morros do Rio de Janeiro depois. E isso está sendo demonstrado agora porque boa parte dos soldados que já passaram pelo Haiti estão no Rio.<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Fábio Nassif, da Carta Maior<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Brasil de Fato<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'><a href="http://www.brasildefato.com.br/">http://www.brasildefato.com.br/<o:p></o:p></a></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>A ocupação militar no Haiti, comandada pelas tropas brasileiras do Exército, completa dez anos no dia 1 de junho. A Minustah (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti) foi iniciada a partir de decisão da Organização das Nações Unidas em 2004, quando estávamos sob o governo Lula (PT).<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O fato chama a atenção para uma reflexão sobre o papel brasileiro em um país que conhecidamente foi espoliado durante sua história. A imagem muitas vezes transmitidas por veículos de mídia oficiais e pela grande mídia empresarial é de que os soldados brasileiros desempenham um papel de paz e de solidariedade. Essa não é a opinião do pesquisador haitiano Franck Seguy. Ele acompanhou de perto a atuação das tropas militares até vir em 2008 estudar no Brasil. Em 2011 voltou a morar lá e acaba de concluir seu doutorado na Unicamp, com a tese "A catástrofe de janeiro de 2010, a ‘Internacional Comunitária’ e a recolonização do Haiti”. Orientado pelo sociólogo Ricardo Antunes, Franck pretende lançar a tese em livro.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'> Na entrevista que nos concedeu, Franck ressalta os interesses do Brasil na missão militar, destacando a busca por uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU e o aprofundamento de laços comerciais. Em sua visão, o Brasil desempenha um papel subimperialista no país e colabora com os Estados Unidos – que passaram a terceirizar a invasão militar no Haiti por interesses comerciais próprios.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Ele destacou a atuação repressiva e violenta das tropas militares, rejeita o nome de “missão de paz” e afirmou que o objetivo é “establizar a ordem existente, que mantém o haitiano na precariedade que ele está hoje”. Sobre a retirada das tropas, Franck acredita que o cenário mais provável é que a Minustah saia do país “somente quando eles tiveram garantia de que já existe uma força nacional capaz de garantir o mesmo papel da Minustah”. Apesar disso, reforça: o povo haitiano quer a saída imediata.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Quais os principais interesses do Brasil no comando da Minustah?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Franck Seguy - Essa ocupação se deu em decorrência de uma situação social e política haitiana na qual havia uma possibilidade de mudança social no país, impedida por uma intervenção militar.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O país estava passando por um processo, onde havia um movimento social plural mas significativo nas ruas: uma parte da burguesia na rua, os estudantes da principal universidade – que é a Universidade do Estado do Haiti – muitos grupos organizados e alguns partidos políticos. Era um movimento muito plural que não tinha uma única direção, mas que tinha também uma ala radical.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Houve uma primeira intervenção no dia 29 de fevereiro de 2004, realizada pelos Estados Unidos, apoiada pelo Canadá e pela França. A intervenção militar tomou o poder no país e mandou o presidente Jean-Bertrand Aristide embora – ou seja, foi um golpe de Estado. Ele foi exilado, e essa força multinacional composta pelos exércitos norte-americano, francês e canadense tomou conta do país do dia 29 de fevereiro até o dia 31 de maio. A partir de 1 de junho, depois de um voto do Conselho de Segurança da ONU, uma força multinacional foi enviada ao Haiti para tomar conta da ocupação. Assim foi criada a Minustah (Missão das Nações Unidas para a estabilização no Haiti), liderada pelo Brasil.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O primeiro interesse do Brasil é o seguinte: com dois anos e pouco no primeiro mandato do Lula, ele queria conseguir o que nenhum presidente havia conseguido antes - uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Mas o imperialismo não dá essa vaga de graça para ninguém. Quer dizer, o governo brasileiro precisava comprovar ao mundo inteiro que tinha essa capacidade para lidar com essa vaga. O Haiti foi o laboratório oferecido para o Brasil comprovar isso. Em um artigo chamado “Haiti: a primeira vítima da tentação imperial do Brasil”, Joël Léon, da Anistia Internacional, está corretíssimo em sua análise de que o Brasil está pagando por esta tentação imperial. Na minha análise, o Brasil está desempenhando um papel subimperialista na América Latina e o Haiti está pagando por isso.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O segundo ponto é que o Haiti oferece uma extensão para o mercado brasileiro em alguns sentidos, principalmente na área têxtil. É preciso lembrar que o Brasil tinha um dos maiores empresários do mundo na questão de vestuários, que era o José Alencar (ex-vice presidente no governo Lula). E o filho dele é bastante ativo no Haiti. [veja aqui documento do Wikileaks sobre o lobby de Josué Gomes da Silva, presidente da Coteminas, no Haiti]. Ele já foi ao Haiti junto com Bill Clinton – que é hoje o enviado especial do secretário-geral da ONU e leva regularmente empresários para fazer negócios no Haiti. Hoje o lema oficial do governo haitiano é: “o Haiti está aberto aos negócios” e o principal deles é com a indústria têxtil.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Existe um estudo realizado antes do terremoto de 2010 por um economista da Universidade de Oxford chamado Paul Collier que aponta a criação de zonas francas no Haiti como única saída para explorar o que ele identifica como a mão de obra mais barata existente hoje – ele diz que a mão de obra haitiana é mais barata que a chinesa.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Esses dois fatores são fundamentais para explicar porque o Brasil está ocupando o Haiti hoje e prestando um serviço ao imperialismo, que precisa do Haiti não somente para explorar essa mão de obra mas também para produzir para um mercado norte-americano, muito próximo ao Haiti.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Para explicar um pouco melhor, existe entre o Haiti e os Estados Unidos um acordo, a partir de uma lei adotada pelo Congresso norte-americano, chamada HOPE. De acordo com essa lei o produto vestuário feito no Haiti é comercializado nos Estados Unidos como sendo norte-americano. Ou seja, entra no mercado norte-americano sem pagar nenhuma taxa. O Paul Collier diz no relatório dele que o Haiti, localizado próximo ao maior mercado mundial, tendo mão de obra barata, não exigindo pagamento de taxas de acordo com a lei HOPE e sendo um país pouco regulamentado – com poucas leis que protegem direitos trabalhistas – é o lugar mais seguro para produzir. Por isso o Brasil está desempenhando este papel.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Por que você considera que o Brasil desempenha um papel subimperialista e qual a diferença com um imperialismo no sentido clássico?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Vou responder a partir da realidade haitiana.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Como o imperialismo clássico costuma atuar no Haiti? Se você olhar para a história do Haiti, no final do século XIX, a batalha era entre quatro potências: França, Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos. Cada um tinha um plano de controle. Eles precisavam controlar o Haiti porque o país estava em processo de liberalização e era necessário disputar quem financiaria isso. Em segundo lugar, pela localização geográfica, pelo fato do Haiti estar no caminho do canal do Panamá. Quem controlasse o Haiti controlava quem ia passar no canal do Panamá. Terceiro que, pelo Haiti, era possível ter controle de Cuba também. E neste período era muito importante comprovar que o Haiti, por ser um país negro, era incapaz de ser governado por si mesmo. <o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Na luta entre essas potências, os norte-americanos, prevalecendo-se da Doutrina Monroe – segundo a qual a América pertence aos Estados Unidos – decidiram que não deixariam um país europeu ocupar o Haiti. Por isso em 1915 o imperialismo norte-americano decidiu intervir no Haiti e ocupar o país militarmente durante 19 anos.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Durante esta primeira ocupação o que eles fizeram? Expropriaram, pegaram as terras do povo haitiano e mandaram os camponeses para Cuba nas plantações de cana e para o Panamá, terminar a construção do canal. Nas serras implementaram algumas empresas, por exemplo de extração de borracha, banana e algodão, e depois continuaram tomando conta do país. Por exemplo, no início da década de 80 havia 164 empresas norte-americanas no Haiti. Na mesma época eles mataram parte da economia haitiana que era baseada no gado e no rebanho suíno. Eles mataram os porcos para liberar uma mão de obra que precisavam para trabalhar nas zonas francas e nos parques industriais. Estou falando isso para exemplificar que o imperialismo norte-americano sempre que precisava tomava conta do país, econômica, política e militarmente. Ocuparam também em 1994.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Mas o que aconteceu? A partir de 2004 os norte-americanos fizeram a escolha de terceirizar as ocupações. Quer dizer, hoje eles não mais ocupam o Haiti militarmente. Eles fizeram isso por alguns dias só por ocasião do terremoto em 2010. Enquanto o Exército brasileiro já estava lá, eles interviram com 15 mil soldados e o general brasileiro que comandava a Minustah ameaçou ir embora. O Exército brasileiro nestes dias distribuía água nas ruas e o general justificou a ação dizendo que era preciso marcar presença ali. Ou seja, a “ajuda” ficou explicitamente em segundo plano.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Hoje, a ocupação do Haiti é terceirizada. Os países que têm tropas lá são todos periféricos em relação aos Estados Unidos e ao imperialismo de um modo geral. Países como Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai, Chile, Senegal, Burkina Faso, Bangladesh, Iêmen, etc. Essa terceirização acontece militarmente e economicamente porque as zonas francas que estão sendo implementadas no Haiti são com empresas de países periféricos como Coréia do Sul e República Dominicana. A produção, porém, é destinada ao mercado norte-americano a favor do seu próprio capitalismo.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Na visão do povo haitiano e dos movimentos sociais, a Minustah pode ser considerada uma missão de estabilização como o nome sugere?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O que é uma missão de estabilização? Estabilizar o quê? Establizar a ordem existente, que mantém o haitiano na precariedade que ele está hoje. Às vezes eles a chamam de Missão de Paz, e eu acho que não são a mesma coisa. Uma missão de escravização não é uma missão de paz e vice-versa. A Minustah não é uma missão de paz e sim de estabilização. Estabilizar o país para que o trabalhador continue ganhando 4 dólares por dia – que é o salario no Haiti hoje – enquanto os capitalistas exploram a barata mão de obra haitiana – e como se esse barateamento fosse uma coisa natural. O papel da Minustah é exatamente esse: reprimir os movimentos sociais e operários de um modo geral toda vez que eles procuram mudanças na estrutura social do país.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O Exército brasileiro já deu as provas sobre isso. Em 2009, quando houve um movimento a favor do reajuste do salario mínimo, as tropas brasileiras, principalmente em Porto Príncipe, baixaram a mais tremenda repressão no movimento. Quando o Exército brasileiro chegou no Haiti em 2004, foi aplaudido como herói. Em agosto a seleção brasileira de futebol foi jogar no Haiti, ganhou de seis a zero, foi aplaudida pelos haitianos. Os haitianos são torcedores loucos por futebol, principalmente pelas seleções – muito mais do que no Brasil – e não seria exagero afirmar que 70% torce pela seleção brasileira. E gostam do Brasil porque a imprensa fora do seu território o apresenta como um país que não tem racismo, miscigenado e integrado.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Em 2004 era muito fácil o Exército brasileiro chegar no Haiti. Como eles começaram a baixar a repressão nos movimentos sociais e nos bairros populares, o povo haitiano passou a perceber que o papel da Minustah não era ajudar aquele povo mas ajudar a estabilizar o Haiti para o imperialismo. Os haitianos hoje não têm mais essa ilusão. Eles sabem que é uma missão para o que haitiano fique na dele e seja explorado. Quando não há lutas abertas para o Exército brasileiro, qual é o papel do Brasil? O povo haitiano usa a palavra “turistah”. É um jogo de palavras entre “turista” e “Minustah”. Ou seja, é para o soldado que está fazendo turismo. Ele só tem duas coisas a fazer: repressão em momentos de luta aberta e passeio nas belas praias quando não há luta. É isso que faz o soldado brasileiro no Haiti.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Claro que a grande mídia mostra um soldado brasileiro ajudando alguém individualmente, chorando, para mostrar o soldado brasileiro como um sujeito simpático e sensível à miséria humana. Claro que a grande mídia faz isso, para enganar quem não vai analisar com profundidade. Mas quem convive com os haitianos sabe que o Exército está fazendo um papel muito repressivo em relação ao povo.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Como você enxerga a missão no Haiti sendo utilizada como argumento para as intervenções das forças armadas nas favelas brasileiras?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Os generais brasileiros no Haiti admitem isso, do Haiti como campo de treinamento. Um comandante de um contingente assumiu que o Haiti serve para treinar o Exército para atuar nos morros do Rio de Janeiro depois. E isso está sendo demonstrado agora porque boa parte dos soldados que já passaram pelo Haiti estão no Rio.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Qual o balanço que você faz desses dez anos, do ponto de vista da violação dos direitos do povo haitiano?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Deixa eu te contar um evento. Havia um general brasileiro [Urano Teixeira da Mata Bacelar] no Haiti que foi morto, mas oficialmente foi considerado um suicídio. Disseram que ele cometeu suicídio e ponto. Mas as pessoas que têm mais conhecimento do que eu sobre perícia já disseram que não foi suicídio. Ele não era canhoto e recebeu a bala do lado esquerdo, abaixo da orelha, e uma série de argumentos que pelo menos colocam em dúvida a tese do suicídio. É porque naquele período esse general recebeu uma ordem para reprimir o povo que mora numa favela enorm, chamada Cité Soleil. O general brasileiro, deve ter esquecido que era general, pensou que era sociólogo, e começou a dizer que aquele povo não precisava de repressão e sim uma ajuda para sair da miséria. Um militar que pensa é perigoso. [Veja matéria do The Guardian, com documentos do Wikileaks, que aponta suspeitas sobre a morte de Bacelar.]<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Eu conheço alguns soldados que foram pro Haiti e eles não voltam com o mesmo ânimo que foram pro Haiti. Alguns voltam e nunca mais falam no Haiti. Porque eles fazem coisas diferentes do que estavam esperando. Muitos deles vão para o Haiti pensando que vão pacificar um país em guerra e outros pensam que vão ajudar um povo em dificuldade. Quando eles chegam não há nenhuma guerra para pacificar. E não há nenhuma ajuda a favor deste povo. Então eles voltam muitas vezes desapontados em relação à expectativa inicial.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Sobre a retirada das tropas, você acredita que ela deva ser gradual ou imediata? O que ficará do Haiti depois dessa saída?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>O povo haitiano e os movimentos sociais querem que a Minustah saia do país. E não é amanhã ou depois de amanhã. É sair agora. Esse é o desejo e entre o desejo e a realidade a diferença é grande. O povo haitiano não é soberano hoje, não é ele quem decide sobre isso. O Estado haitiano só existe no nome. É a própria ONU que vai decidir. Como a Minustah está lá para desenvolver determinado papel, do ponto de vista do imperialismo, a Minustah vai sair somente quando eles tiverem garantia de que já existe uma força nacional capaz de garantir o mesmo papel da Minustah. Na minha análise, esse é o cenário mais provável no Haiti. Esse ano tem eleição legislativa e a presidencial é no final de 2015 para tomar posse em 2016. Do ponto de vista do povo, é saída já; do ponto de vista do imperialismo, saída gradual – seja para colocar outra força ou para treinar as forças haitianas até que seja tão repressiva quanto a Minustah.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><b><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>-Carta Maior - Acredita que existe relação entre a presença das tropas brasileiras no Haiti e a vinda de haitianos para o Brasil?<o:p></o:p></span></b></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Eu vejo relação mas tem mais do que isso. Há relação no sentido que o projeto de zonas francas que está sendo implementado no Haiti hoje – que prevê a construção de 42 delas – e a mais recente inaugurada pretende fornecer entre 65 e 75 mil empregos. Mas o salário vai ser de 4 dólares por dia. Quer dizer, o imperialismo diz que quer criar emprego como forma de reconstrução do país, mas é um emprego que não garante a sobrevivência do haitiano. Assim, o haitiano procura saídas e uma delas é a migração. Portanto, a relação se dá porque o Exército brasileiro está lá para garantir essa estabilização com um salário de miséria.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>Mas é muito mais do que isso, no sentido de que esta obrigação pela migração não é uma situação que vem de 2004. É de antes porque o país foi destruído sistematicamente do século XIX pra cá. Em todos os sentidos. As finanças do país foram roubadas – como verdadeiros assaltos principalmente pela França, Alemanha e Estados Unidos. Aliás, a primeira medida da ocupação norte-americana em 1915 foi pegar a reserva do Banco Central do Haiti para levar a Washington. O imperialismo destruiu sistematicamente o meio ambiente haitiano fragilizando cada vez mais o país em relação a qualquer fenômeno da natureza. Por isso um terremoto tão fraco de 7.2 matou 300 mil pessoas no Haiti enquanto a gente vê um terremoto de 8.9 no Chile matar aproximadamente 100 pessoas. E o país foi fragilizado também pela migração de sua força de trabalho mais qualificada. Hoje, mais de 80% dos haitianos com diploma de ensino superior estão fora do Haiti. No Canadá, somente no Quebec, existem mais médicos haitianos, formados no seu país, do que no próprio Haiti.<o:p></o:p></span></p><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'>A tragédia do Haiti não é o terremoto de 2010. É essa situação que evolui ano a ano até hoje. A migração do haitiano se coloca como necessidade que não é do século XXI e é feita em vários sentidos. Mas a migração para o Brasil é da chamada mão de obra menos qualificada. A mais qualificada também está migrando mas não para o Brasil. Porque hoje a precariedade é a norma do cotidiano no Haiti. </span><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";mso-fareast-language:ES-UY'><o:p></o:p></span></p><div class=MsoNormal align=center style='text-align:center'><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif";mso-fareast-language:ES-UY'><hr size=2 width="100%" align=center></span></div><p class=MsoNormal><span style='font-size:10.0pt;font-family:"Arial","sans-serif"'><o:p> </o:p></span></p></div>
<br /><br />
<hr style='border:none; color:#909090; background-color:#B0B0B0; height: 1px; width: 99%;' />
<table style='border-collapse:collapse;border:none;'>
        <tr>
                <td style='border:none;padding:0px 15px 0px 8px'>
                        <a href="http://www.avast.com/">
                                <img border=0 src="http://static.avast.com/emails/avast-mail-stamp.png" />
                        </a>
                </td>
                <td>
                        <p style='color:#3d4d5a; font-family:"Calibri","Verdana","Arial","Helvetica"; font-size:12pt;'>
                                Este mensaje no contiene virus ni malware porque la protección de <a href="http://www.avast.com/">avast! Antivirus</a> está activa.
                        </p>
                </td>
        </tr>
</table>
<br />
</body></html>