Brasil: incorporar densidad social al proyecto del PSOL [Ricardo Antunes - entrevista en portugués]

Ernesto Herrera germain en chasque.net
Jue Abr 13 09:25:14 UYT 2006


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Boletín informativo - Red solidaria de la izquierda radical

Año III - 13 de abril 2006 - Redacción: germain en chasque.net

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Brasil

Entrevista a Ricardo Antunes

Desafio do PSOL é dar densidade social ao seu projeto


Valéria Nader
Correio da Cidadania Nº 493
http://www.correiocidadania.com.br/



O Correio da Cidadania entrevista nessa semana o sociólogo Ricardo Antunes, que avalia o governo Lula, o surgimento do Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, seu significado político e suas possibilidades eleitorais. 

Correio da Cidadania: É corrente a opinião de que não há diferença de projetos para o Brasil entre o PT e o PSDB. Qual a sua opinião sobre essa máxima? Se na política econômica são realmente notórios os aspectos continuístas, haveria algum avanço do ponto de vista da política externa e da política social?

Ricardo Antunes: Eu diria que, essencialmente, não. Na verdade, o PT e o PSDB, ainda que acirrem a sua disputa política pelo poder, são hoje as duas faces da mesma moeda - e no sentido literal do termo. A base dos interesses que representam é muito assemelhada. No que diz respeito, por exemplo, à política econômica, há a prevalência do capital financeiro e dos grandes industriais - esse é o bloco que hegemoniza a política tanto do PT como do PSDB. Quanto às políticas sociais, as do PT são focalizadas, tais como eram as do PSDB. A política agrária do PT é tão pífia quanto era a do PSBD. 

No que tange a um projeto para o país, ambos não só não romperam com o neoliberalismo como se mostraram as duas principais variantes do ideário e da pragmática neoliberal. Fernando Henrique, em seus oito anos, fez uma aplicação exemplar dessa pragmática, à qual o PT deu continuidade. Por exemplo, a política monetária e a política fiscal do governo Lula são mais duras do que as de FHC, o que mostra que as diferenças não são essenciais. 

Quando os petistas dizem que não privatizaram como no governo FHC mentem, pois cometeram um crime tão ou mais violento que aqueles cometidos pelos tucanos, que foi a privatização e financeirização da previdência pública. É bom lembrar que o governo Lula tentou também aprovar as reformas sindical e trabalhista, que tinham embutidas em suas propostas a idéia da flexibilização. Sem falar das PPPs (Parcerias Público-Privadas) e da liberação dos transgênicos. O governo Lula diz também que rompeu com o FMI. Na verdade, ele assimilou a tal ponto, no corpo e na alma, o ideário e o receituário do FMI que o organismo não precisa mais controlá-lo. O governo do PT é um servo que realiza com presteza as imposições do Fundo.

Portanto, o desafio que se coloca para a esquerda, os movimentos populares, sociais, o sindicalismo, os partidos, os intelectuais de esquerda e os cidadãos trabalhadores, que acreditavam que o governo Lula pudesse trazer, mesmo num nível pequeno, alguma mudança e que perceberam que ao longo de três anos e meio de governo não houve substancialmente nenhuma mudança - e quando houve, foi pra pior -, é reconstituir um projeto político e social de esquerda.

CC: O PSOL é hoje o partido que ressalta à esquerda no cenário político. Qual é a sua importância e o seu diferencial, especialmente considerando ser este um ano eleitoral?

RA: O PSOL vem se mostrando, desde a sua fundação, como um caminho que tem sido bem trilhado. O que quero dizer com isso? Primeiro, os fundadores do PSOL o fizeram como um ato de revolta contra a tese do PT, dominante, de que a esquerda tinha acabado, de que o socialismo tinha acabado. Um ponto importante foi mostrar que tanto a esquerda quanto o socialismo são projetos contemporâneos em relação ao século XXI. 

Segundo, ao fazer isso, o PSOL mostrou, ao longo deste primeiro ano e meio de existência, uma abertura para receber parte importante das várias dissidências que foram nascendo dentro do PT. Foi essencial que o PSOL tivesse dado o primeiro passo. Na última eleição que definiu a direção do PT, deixando-o sob a direção do núcleo dominante que é a Articulação, que não perde o comando do partido sob hipótese alguma, o PSOL recebeu uma parcela importante de militantes do PT, intelectuais, sindicalistas, militantes dos movimentos populares.

CC: Nesse sentido, como se coloca hoje no partido, diante da conjuntura nacional e internacional, a discussão sobre a luta pela construção de uma sociedade socialista? Qual o modelo de socialismo projetado e qual o caminho para alcançá-lo?

RA: Qual é o projeto do PSOL? É um projeto aberto, mas que tem claro desenho socialista, ainda que plural em sua concepção. E nós queremos que seja um pluralismo socialista, onde os marxistas, os cristãos, os militantes de base e os intelectuais encontrem espaço para um diálogo vivo, fraterno, generoso e autêntico em torno do seguinte tema: qual é o socialismo do século XXI. Para isso, vamos ter que fazer um balanço das experiências do século XX, do século XIX, dos desafios do século XXI, das novas experiências emergentes. O PSOL tem se mostrado positivo nesse processo; não está fechado, mas sim aberto. Não tem mostrado um sectarismo, ao contrário: evidencia uma disputa positiva, um debate positivo em sua reflexão sobre o país. 

O desafio fundamental que o PSOL possui hoje, em minha opinião, é dar densidade social ao seu projeto. Não queremos ser um partido de grupos de esquerda, não queremos ser um partido de vanguarda na antiga tradição marxista-leninista. Queremos ser um partido de esquerda, radical, com um socialismo claramente anti-capitalista, mas com espaço para que vários agrupamentos, tendências e individualidades dele participem e encontrem um espaço autêntico de debate. Precisamos - e, repito, é o nosso desafio maior - encontrar ancoragem, suporte, nos movimentos populares. Isto fará a diferença. 

Estamos muito perto de alcançar com força esse objetivo - até diria que já começamos a alcançá-lo. Após as duas últimas grandes dissidências que o PT sofreu em 2005, no Fórum Social Mundial e entre o primeiro e o segundo turno das eleições internas para a escolha da direção petista, recebemos um número muito grande de filiados, egressos do sindicalismo de esquerda e dos movimentos populares. Temos muitos simpatizantes no MST e em movimentos como o dos sem-teto. Precisamos ampliar o nosso apoio, a nossa centralidade no que eu chamo de "classe-que-vive-do-trabalho". Ou seja, o nosso PSOL precisa ser um representante que encontra a sua força e sua impulsão nessa nova morfologia do trabalho - uma expressão que venho usando nesse novo desenho multifacetado que compreende as forças sociais do trabalho.

O PT possuía essa característica nos anos 80. Quando nasceu, apresentava, inclusive, uma certa diluição ideológica. Não havia um perfil traçado. Alguns de seus agrupamentos não se definiam como um partido socialista. O PSOL, ao contrário, se define como socialista, o que fica claro por seu próprio nome. Queremos, portanto, avançar para a confluência generosa do socialismo com a liberdade, com a autonomia dos trabalhadores e trabalhadoras, uma espécie de associação livre dos indivíduos para o século XXI.

CC: Indo a reboque de sua analogia entre PSOL e PT, setores de esquerda, atualmente filiados ou não a algum partido político, avaliam que, justamente na medida em que o PSOL nasceu sem um acúmulo suficiente de forças políticas e sociais e, portanto, sem uma base militante consistente - ao contrário do histórico do próprio Partido dos Trabalhadores -, poderá resvalar, dentre outros, para uma postura eleitoreira. Qual a sua opinião sobre isto?

RA: O primeiro ponto importante é que o contexto de fundação do PSOL é muito diferente do contexto do PT, cujo nascimento em 1980 se deu na abertura de um vasto ciclo de lutas sociais no Brasil, que começou em 1978 e foi até 1989. Foi a década de ouro das lutas sociais no Brasil. O capital costuma dizer que foi uma "década perdida"; talvez para eles, mas para o mundo do trabalho, movimentos operários, lutas sociais, sindicalismo de base, foi uma década majestosa. Quando for feito um balanço do século XX no Brasil, a década figurará entre as mais majestosas da luta social. 

O PSOL nasce, ao contrário, no início do século XXI, que é ainda um período de relativo refluxo das lutas sociais, um rescaldo da barbárie neoliberal e da contra-revolução burguesa de amplitude mundial, para usar uma expressão cara ao nosso querido e saudoso Otávio Ianni. Nesse contexto, o partido nasceu para dizer que não aceita esta ordem. Mas há um outro dado importante: o PSOL nasceu em um momento que é também de resistência e de retomada das lutas sociais, como se observou em Seattle, nos Fóruns Sociais Mundiais, com o Zapatismo no México e a Revolução Bolivariana na Venezuela, além da recente vitória do povo na Bolívia. Estamos na contracorrente dessa reação imperialista que foi muito violenta, especialmente depois de 2001.

No caso brasileiro, tínhamos duas alternativas quando o PSOL foi fundado: fundá-lo e dar o pontapé inicial para que este fosse um coágulo que permitisse que outros movimentos viessem a se somar a ele; ou esperar uma base mais sólida para a sua fundação. Acontece que, muitas vezes, a história oferece alternativas que são diferentes daquelas que pensamos. Poderia ser positivo esperar a confluência de vários movimentos de resistência para que fundássemos um partido mais pra frente; só que, se não tivéssemos fundado o PSOL, se não tivéssemos formado esse coágulo, essas dissidências todas do PT, dos movimentos populares, ficariam órfãs. 

Sou radicalmente contra um partido institucional e exclusivamente eleitoral. Se tivesse que citar o veneno maior que levou o PT ao seu processo de desvertebração completo, diria que foi o seu abandono da condição de um partido cuja centralidade era dada nas lutas sociais para tornar-se um partido cuja centralidade passou a ser, cada vez mais, a busca da vitória eleitoral. Chegou ao governo e foi o antípoda de tudo o que propôs. Tornou-se um partido eleitoreiro, que chafurda numa crise inimaginável para a esquerda brasileira, latino-americana e mundial, dada a significação que possuía. Não adianta, no entanto, dizer que não há calendário eleitoral no Brasil. 

Temos, portanto, que ter claro no PSOL que, se nós vamos participar do processo eleitoral, se aceitamos a busca pela legalização do partido, é porque não queremos um partido clandestino. A esquerda só é clandestina quando a direita lhe impõe essa condição. Queremos ser um partido aberto, de massas, de base, socialista e radical. Radical no sentido de tocar nas questões cruciais, vitais, sem escamoteá-las com o intuito de nos tornarmos mais palatáveis no plano eleitoral. Este é mais um dos desafios do PSOL. 

Se você perguntar se existe o risco de o PSOL repetir a tragédia do PT, existe, claro. Se o PT repetiu a tragédia do New Labour inglês, que por sua vez repetiu a tragédia de toda a social-democracia, o risco existe. E como fazer com que esse risco não se efetive? Só tem um jeito: o partido precisa estar colado às lutas sociais. As eleições têm que ser um momento de conscientização das lutas sociais, de organização popular, de avanço da consciência de classe, de discussão das questões sociais e de discussão do socialismo. Se isso vai nos levar à vitória ou à derrota, a circunstância histórica é que vai dizer.

CC: O senhor considera oportuno o lançamento de uma candidatura à presidência pelo partido (no caso, da senadora Heloísa Helena) na conjuntura que hoje está dada para a nação e também para o partido? Qual o alcance, tanto qualitativo com também quantitativo, dessa candidatura?

RA: Heloísa Helena é uma candidata muito forte, tem 5%, 6% nas pesquisas. Isso significa um ponto de partida especialíssimo, considerando tratar-se de uma candidatura de um partido pequeno, que nem foi pras ruas ainda. O PSTU, que nós respeitamos muito e que tenho a convicção de que estará conosco no processo eleitoral, com uma campanha sempre corajosa, teve sempre uma limitação forte no plano eleitoral. Claro, nós temos mais densidade social: o PSTU é uma parte desta luta e o PSOL é outra. O PCB também deve atuar conosco, assim como outros movimentos sociais que não têm vinculação partidária, mas que podem se constituir como setores simpatizantes e partícipes de nossa luta. O PSOL tem, assim, mais esse desafio: utilizar o processo eleitoral para conseguir subir degraus no processo de organização, de politização e de consciência da luta popular e da ação socialista.

Veja bem, o PT chegou, ao final de 26 anos de sua história, como um partido tradicional. É uma espécie de PMDB do século XXI - versão, eu diria, até piorada, se analisarmos as alianças que o PT fez nos últimos anos, que evidenciam sua completa falta de escrúpulos e de limite. Em mais um episódio dessa falta de limite, devastaram a vida de um trabalhador enquanto os trilhões que se movimentam nos bancos não são sequer combatidos. 

O PSOL precisa colocar como seu desafio hoje utilizar-se do processo eleitoral para que as questões cruciais e vitais que infelicitam a classe trabalhadora brasileira, como o desemprego, a precarização, a fome, a miserabilidade, a insegurança, a devastação que decorre da economia do narcotráfico, sejam enfrentadas. E estas são questões que devem ser enfrentadas através de mudanças estruturais, não através de contra-reformas neoliberais. 

CC: Qual é o caminho para se fazerem essas mudanças profundas?

RA: A história da humanidade mostra que há dois caminhos para se fazerem mudanças profundas. Um é o caminho clássico das revoluções. A Revolução Francesa foi uma revolução fundamental, burguesa, mas que mudou a humanidade. A Revolução Russa de 1917 foi grandiosa, generosa e auspiciosa em sua origem. 70 e poucos anos depois, foi derrotada. A Revolução Chinesa também foi uma revolução popular, socialista, ousada. O impasse em que vive o país hoje mostra o avanço da contra-revolução, onde a lógica do capital se impõe cada vez mais. 

Se não vivemos um ciclo revolucionário, temos que ter uma forma de ação que permita que a classe trabalhadora, quer no seu espaço nacional, quer no seu espaço internacional, tenha canais de lutas. O primeiro passo, evidente e decisivo, é a auto-organização popular. O PSOL terá futuro se for um espaço de auto-organização política e de base. O segundo passo é lutar para que possamos ter governos que se contraponham à barbárie capitalista e sua lógica neoliberal. 

Hoje, é possível dizer que há um único governo - com a exceção de Cuba, que viveu uma revolução socialista - na América Latina que resiste claramente contra o neoliberalismo e o imperialismo, que é o governo Chávez. Há também a esperança positiva de que o governo de Evo Morales, na Bolívia, possa seguir no mesmo curso. O caso da Argentina é um caso singular, ninguém imaginou que Kirchner seria uma alternativa de esquerda. Embora aqui e ali ele possa tomar medidas positivas, no fundo ele é parte da arquitetura neoliberal. 

O governo Lula, que poderia não ser parte dessa arquitetura, tornou-se uma espécie de paladino do neoliberalismo. O PSOL deve caminhar na busca dos passos políticos possíveis, no plano das lutas sociais, das lutas operárias, das lutas sindicais e no plano dos governos de resistência, para ajudar a combater a tragédia neoliberal, que em última instância é a expressão político-ideológica do capitalismo em sua fase mais destrutiva, belicista, supérflua.

Neste plano, eu faço uma diferença, que, para mim, é importante: uma candidatura à presidência da República é diferente de uma candidatura ao parlamento. O parlamento é o fórum da dominação burguesa, em última instância. Não sou contra a atuação no Parlamento, mas acho que ela é somente uma caixa de ressonância das lutas sociais para a esquerda. A presidência da República é bem diferente. A revolução bolivariana avança na Venezuela, pois o levante popular impediu o golpe da direita de ser vitorioso. Então, veja: sob pressão da massa, guiado pela organização popular, um governo político pode colocar parte de sua força contra o FMI, o sistema financeiro, a provocação imperialista. 

É evidente que, nesta fórmula que estou trabalhando, não há uma oposição de fundo entre a abertura de um ciclo revolucionário e a possibilidade de experiências de reformas estruturais profundas. Uma via de reformas estruturais pode estar muito concatenada se estiver olhando para um horizonte novo, de uma nova economia, de uma nova sociedade, de um novo modo de vida, de um novo modo de metabolismo societal, ou seja, quando estivermos olhando para o socialismo, que é um empreendimento que foi derrotado nos séculos XIX e XX. O capitalismo levou quatro, cinco séculos para se formar. Por que o socialismo teria que ser vitorioso no primeiro século? Vamos dar ao socialismo as possibilidades que o capitalismo teve, que as revoluções burguesas tiveram ao longo dos séculos XV, XVI e XVII, até as suas grandes vitórias nos séculos XVIII e XIX.

CC: Ao se pensarem em mudanças estruturais, não se pode deixar de lembrar das recorrentes e contundentes críticas à política econômica nesse mandato, cuja intensidade vai desde alterações expressivas nas políticas monetária, fiscal e cambial, pavimentando o caminho para uma ruptura, até o calote imediato das dívidas interna e externa. Qual é a sua opinião sobre esse tema? 

RA: A questão econômica é essencialmente política. Entendo, como Marx, que a anatomia da sociedade civil está na política. A resolução da economia política é essencialmente política. O que quer dizer isso? Se Lula, quando foi eleito com 53 milhões de votos, tivesse ousadia política, consistência ideológica, força política, encontraria impulso popular e força para começar as mudanças fundamentais. Veja, com 7 milhões de votos, Nestor Kirchner foi muito além de Lula. E não é, como já citei, nenhum exemplo de esquerda; é, no máximo, a ponta mais crítica dentro da ordem. 

Na Venezuela, quando Chávez sofreu o golpe, abriu-se um debate no interior de seu governo, resultante da vitória popular que conseguiu impedir o golpe da direita: o governo deve moderar para ter o apoio das burguesias golpistas ou deve radicalizar o seu projeto? Felizmente, o governo Chávez decidiu pela segunda alternativa, avançar. E não se trata de radicalizar no plano discursivo, mas de avançar no processo de organização e auto-organização popular. Este é o segredo. Na Venezuela, pude presenciar a existência de um Estado que não atrapalha a organização popular e, quando pode, a auxilia. O que já é um grande avanço.

O nosso desafio seria, com a vitória no processo eleitoral, iniciar desde logo as mudanças. Evidente que, em função da mobilização e força popular, o contexto latino-americano nos ajuda: Bolívia, Venezuela, rebeliões no Equador e no Peru, descontentamento em outros países. No Chile e no Uruguai, Bachelet e Vázquez, ainda que progressistas no plano político, não tocam na barbárie neoliberal. Isso vai sepultá-los como sepultou Lionel Jospin, François Miterrand e Felipe Gonzáles. Mas é claro que o povo uruguaio e o povo chileno podem encontrar, neste momento, situações para avançar.

No caso brasileiro, nós teríamos que perceber um contexto internacional que nos ajudaria a colocar uma trincheira contra essa política destrutiva do FMI e do sistema financeiro. Deveríamos dizer que isso acabou, que não vamos suportar mais saques generalizados, que não vamos mais trabalhar para pagar dívidas que foram feitas há séculos. Isso é uma resposta política, que não pode ser dada por um governo frágil, mas sim por um governo forte, como é o caso da Venezuela. Chávez mostrou força em três momentos: quando o povo suportou o golpe, quando o povo impediu o processo de privatização da PDVSA - que foi um locaute na gerência mancomunada com os EUA - e no plebiscito. Esta combinação de luta social e luta política é o caminho a ser perseguido. É claro que estamos começando, mas estamos começando numa situação favorável, que é a percepção de que o PT faliu completa e irreversivelmente como partido - em minha opinião, a esquerda que resta dentro do PT será sempre apenas um discreto charme de um partido cada vez mais nefasto. 

Temos que pensar num movimento que possa ser social e político junto com outros partidos. Não há hegemonismo. Na melhor das hipóteses, o PSOL seria um dos canais importantes por onde a luta política do povo brasileiro encontra possibilidades de seguir. 

CC: O PSOL, enquanto sentimento coletivo, já enterrou efetivamente o PT - não só no que se refere ao abandono das práticas do partido, mas muito especialmente quanto à "superação emocional" de uma experiência de largo e histórico prestígio?

RA: O desmoronamento de Lula é lento, pois Lula foi uma liderança operária que se consolidou no imaginário e na consciência popular ao longo de décadas. Foi uma liderança que se construiu pela base, com força popular, com um processo sistemático de montagem, preparação e luta. Agora seu desmoronamento está maior, mas são quatro anos de percepção da falência de seu projeto. 

O que o governo fez? Na ponta de cima, atendeu de modo impressionante aos interesses dos grandes bancos, que lucram muito mais do que no governo FHC. E, na ponta de baixo, em relação aos miseráveis, fez uma política assistencialista vergonhosa para a esquerda, mas que, na barbárie brasileira, rende votos. Além disso, ao levar o PT e a CUT para o governo, Lula fez com que esses se voltassem contra os movimentos populares. É contra tudo isso que o PSOL tem que lutar.

Felizmente, herdamos uma coisa generosa. Se o povo brasileiro viu o processo de definhamento e de exaustão da sua principal liderança, que era Lula, ele também viu nascer, nesses últimos anos, uma liderança como Heloísa Helena. E ela encanta grande parte da população por sua coerência e coragem; não se ligou às oligarquias, não se curvou ao esquema de FHC, foi uma figura eminente no PT e, quando quiseram intimidá-la, não se curvou nem a Lula, nem a José Dirceu e nem ao PT dominante. Em sua luta recente, nos movimentos populares, no processo parlamentar, soube preservar-se e manter a coerência. Está agora junto a um partido que está aglutinando a esquerda que ainda quer ser esquerda.

Temos que criar a esquerda de esquerda, e não a esquerda que a direita "gosta" - que é o PT. Falar é fácil. Fazê-lo é nosso grande desafio e nisso estamos empenhados.

CC: Anteriormente à definição da candidatura de Alckmin pelo PSDB, vinha surgindo um sentimento crescente, porém velado, dentre setores progressistas que se ressentiram do governo Lula, de que Serra poderia ser a opção de mudança, sendo até mesmo mais temido pelo sistema financeiro atualmente. Nesse sentido, quais as suas projeções para o cenário eleitoral desse ano? Qual é o candidato mais confiável, qual será agora o escolhido pelo sistema financeiro, Lula ou Alckmin? 

RA: Eu diria que são os dois. Na eleição passada, quando Serra não decolou, migraram para o Lula. É uma situação muito cômoda para eles. Lula não é um dos seus, mas faz o que querem; é o servo ideal. Alckmin é um deles, o PSDB é a cara da burguesia que domina o país hoje, transnacionalizada, financista. E há também o PFL, que traz os grotões da burguesia para garantir esse projeto. 

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