Brasil: dilema del PSOL, pragmatismo electoral o propuesta anticapitalista [Heloísa Helena - entrevista en portugués]

Ernesto Herrera germain en chasque.net
Vie Ene 20 09:34:01 UYT 2006


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Boletín informativo - Red solidaria de la izquierda radical

Año III - Nº 9265 - Enero 20 - 2006 - Redacción: germain en chasque.net

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Brasil

Entrevista a Heloísa Helena

"Temos que fazer a revolução democrática"

"Não vou vivenciar o socialismo"

César Felício De São Paulo 
Valor Econômico, Sao Paulo, 19-1-06


Quarta colocada nas pesquisas de opinião para a eleição presidencial, a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL) está em uma encruzilhada: se fizer uma campanha evitando radicalismos ideológicos, poderá continuar crescendo e retirando votos tanto de uma candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto do bloco PSDB/PFL. O seu recém-criado partido, entretanto, mergulharia em uma crise de identidade. Afinal, o P-SOL surgiu exatamente por não aceitar o pragmatismo eleitoral do Partido dos Trabalhadores. Se abraçar a extrema-esquerda, adotando um programa anticapitalista, tende a perder eleitores conservadores que aderiram à sua candidatura para fazer uma espécie de voto de protesto. A tendência da senadora é ficar com a segunda posição.

Candidato do partido ao governo do Rio, o ex-deputado Milton Temer reconhece o dilema. "Os votos de Heloísa Helena não são obrigatoriamente de esquerda. Graças a atributos pessoais, como o fato de ser mulher, ter uma imagem de coragem, de honestidade e outros valores não necessariamente vinculados a uma posição ideológica, ela capta eleitores que poderiam ir para um candidato conservador. Vamos ter que conciliar a tática eleitoral com nossa estratégia de dizer que é impossível a felicidade dentro do capitalismo", disse.

"Não podemos cair no pragmatismo para obter mais votos. Saímos do PT por não aceitar isso. Precisamos juntar as duas coisas", preocupa-se o deputado Ivan Valente (P-SOL-SP). "Não poder falar o que pensa para não perder votos foi o drama do PT, que levou o partido a perder-se. É melhor a campanha nítida do que mentir para o povo. Fazer a opção socialista tem um preço que precisa ser dito a sociedade, e, ao contrário da voz corrente, não acreditamos que haja consenso entre as classes sobre o que deve ser feito", rebate o provável candidato do partido ao governo de São Paulo, o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio.

O pragmatismo pode ainda afastar da senadora o PSTU e o PCB, os únicos partidos com quem o P-SOL deve se coligar. Nenhuma das duas micro-legendas elegeu parlamentares em 2002, mas a soma de seus espaços no horário eleitoral gratuito pode fazer com que Heloísa Helena alcance até dois minutos diários na televisão, dependendo da quantidade de candidatos. Os dois partidos nanicos já ajudaram o P-SOL no ano passado a recolher assinaturas que asseguram o registro provisório à sigla.

"O PSTU participa das eleições para fazer propaganda das mudanças que defende e fortalecer movimentos sociais. Para nós, a votação é um item absolutamente secundário. É possível apoiar Heloísa Helena, desde que com esta perspectiva. Caso contrário, se for para abrir espaço para o marketing, estamos fora", afirmou o ex-sindicalista José Maria de Almeida, candidato do PSTU à Presidência em 2002.

Heloísa Helena obtém entre 4% e 9% dos votos nas pesquisas, conforme o quadro de candidatos apresentados. Mas quando se isola os eleitores de maior renda e maior escolaridade, passa os dois dígitos e fica em terceiro lugar, à frente do ex-governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho (PMDB).

Na última pesquisa Ibope, chegou a obter 17% das intenções entre os pesquisados com superior completo, na simulação que incluía o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Na pesquisa do Datafolha, em uma simulação com o prefeito paulistano José Serra (PSDB) e o deputado federal Roberto Freire (PPS), fica com 10% nesta faixa. Em tese, é um indicativo de potencial de crescimento, já que estes eleitores são os que tem maior acesso à informação.

As circunstâncias são adversas para uma campanha de esquerda. "As classes D e E estão com o governo federal, não tanto pela Bolsa-Família, mas pelo recuo da inflação, que preserva o valor da cesta básica", comenta Temer. "No começo dos anos 80, o PT cresceu impulsionado pelos movimentos sociais em ascensão. Hoje a sociedade organizada perdeu energia", disse Valente.

A dependência do P-SOL da candidatura presidencial é total: o partido só tem três meses de existência legal e precisa da eleição para ganhar visibilidade. A estratégia passa não apenas pela candidatura de Heloísa Helena, mas pelo candidato próprio aos governos estaduais. Devem disputar, além de Temer, o ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio em São Paulo e o ex-prefeito de Belém Edmílson Rodrigues no Pará.

Ninguém no P-SOL tem ilusão de atingir os 5% nas eleições proporcionais exigidos pela cláusula de barreira para o partido continuar com existência parlamentar e direito ao fundo partidário. Mas todos contam com uma votação acima deste nível para Heloísa Helena e alguns candidatos a governador.

Não podemos cair no pragmatismo para obter mais votos. Saímos do PT por não aceitar isso" - Ivan Valente, deputado federal (P-SOL-SP)

Será o suficiente, segundo acreditam, para conseguir a reeleição dos seus sete deputados: Chico Alencar e Babá (PA), pelo Rio de Janeiro; Valente e Orlando Fantazzini, em São Paulo; Luciana Genro, no Rio Grande do Sul; Maninha, no Distrito Federal e João Alfredo, no Ceará. Mesmo sem direito a funcionamento legislativo, os sete poderão funcionar como uma espécie de bancada informal.

Os membros do P-SOL acreditam que o ritmo da campanha poderá aproximá-los dos movimentos sociais desiludidos com o governo Lula. A candidatura de Plínio de Arruda Sampaio em São Paulo tem este explícito sentido. "O Plínio acabou de receber uma votação muito expressiva em São Paulo na eleição interna do PT e é um elemento aglutinador, pelo seu histórico de proximidade com a Igreja progressista e o MST", comentou Valente.

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Heloísa Helena

"Não vou vivenciar o socialismo"


Virtual candidata do P-SOL à Presidência da República contra Lula, Heloísa Helena admite diálogo com o PT, caso ambos percam a eleição presidencial

Ainda sem assumir-se como candidata, a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL), diz que não irá moderar seu discurso, mas sinaliza que seu programa tende a propor uma "revolução democrática", e não uma revolução socialista. Alegando que o programa da campanha será discutido no Congresso do partido, em março, a senadora não quis entrar em detalhes sobre o tema. Eis trechos de sua entrevista ao Valor.

Valor: A senhora tem conseguido índices expressivos nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência. Não teme perder popularidade quando explicitar uma posição ideológica?

Heloísa Helena: Veja, ainda há condicionais para que esteja decidida minha candidatura à Presidência. Posso ser candidata novamente ao Senado em Alagoas ou ao governo estadual, estaria em posição confortável para isso. Se eu for candidata à Presidência, farei a campanha com enormes dificuldades e muito mais importante do que fazer a medíocre matemática eleitoral de captação de votos é apresentar uma alternativa concreta. Não vou ser candidata porque o P-SOL está refém do coeficiente mínimo de votos da cláusula de barreira ou para garantir tempo de TV, que aliás, será mínimo, no máximo uns dois minutos por dia, se tivermos a sorte de aparecerem poucos candidatos.

Valor: Então uma eventual campanha sua assumiria um tom anti-capitalista?

Heloísa Helena: Sou uma socialista de carteirinha, mas infelizmente sei que não vou vivenciar o socialismo, com a estrutura anátomo-fisiológica que existe hoje no país. Não é o pensamento de todos, mas é o meu. A campanha será realista. Ao mesmo tempo, não vou escamotear nossas convicções ideológicas. Não somos mercadores de ilusões.

Valor: Se não vamos vivenciar o socialismo, o que poderia ser vivenciado?

Heloísa Helena: Na minha opinião, antes da revolução socialista, temos que fazer a revolução democrática, favorecendo a soberania nacional, com o controle de capital, a auditoria sobre pagamentos ao exterior e o alongamento da dívida interna; a democratização do Estado, com o uso dos plebiscitos e o fortalecimento de conselhos na área social e o desenvolvimento econômico, com o aumento do investimento público. Mas o programa de governo ainda está sendo preparado e me alongar nesta questão seria um desrespeito com os quadros do partido envolvidos no assunto.

Valor: Isto não pode assustar um eleitor conservadora que aderiu à sua candidatura por motivos não ideológicos, como a sua atuação nas CPIs, por exemplo?

Heloísa Helena: Acho que não, porque quem se identifica com a nossa bandeira ética, se identificará também com os nossos pontos programáticos. Nunca escondemos o que somos de ninguém. Eu não trago os temperos da civilidade, como as virtudes da moderação e da prudência. Mas eu estou tão bem assim nas pesquisas?

Valor: Está em quarto lugar. Quando se isola os eleitores de maior renda e maior escolaridade, com mais acesso a informação, a senhora sobe para o terceiro lugar, dependendo do quadro de candidatos, um pouco acima de 10%.

Heloísa Helena: Veja que este é um sinal fortíssimo que muita gente neste país quer conhecer algo novo. Vamos enfrentar a visão fatalista de que existe uma polarização incontornável entre o neoliberalismo do PT e o do PSDB. Não temos o direito de escamotear alternativas concretas, de desenvolvimento social, econômico e regional.

Valor: É um sinal portanto que o P-SOL não irá abrir espaço para qualquer tipo de acordo com a oposição representada pelo PSDB e pelo PFL, mesmo no nível tático?

Heloísa Helena: Não há hipótese.

Valor: Como vencer o desestímulo dos movimentos sociais em participar do processo político-eleitoral?

Heloísa Helena: Temos que ir além da estrutura formal dos movimentos sociais. Eles incorporaram os vícios das estruturas partidárias, no movimento sindical, no movimento estudantil. É muito difícil. Se os militantes das causas sociais estão fazendo uma generalização perversa sobre os políticos, imagine o que não ocorre na sociedade como um todo. Nós da esquerda teremos uma montanha para escalar de modo a minimizar o impacto que foi o governo Lula para os simpatizantes do nosso campo.

Valor: Como a senhora pretende gerenciar a parte financeira da campanha presidencial do P-SOL?

Heloísa Helena: A campanha de televisão e rádio já está equacionada, conseguimos acordos com quem aceita colaborar de graça. Mas é preciso viajar pelo país. Só vou aceitar doações de pessoas físicas, não de jurídicas. Mas de todo modo seria difícil imaginar uma empresa querendo nos financiar, salvo se estivesse imbuída do espírito de viabilizar o máximo de alternativas possíveis à polarização que existe hoje. Mesmo em relação às pessoas físicas, seremos criteriosos com as que aparecerem, para que não nos vinculemos a certos interesses. A realidade é que devemos estar preparados para andar mais pelas estradas do que pelos aeroportos.

Valor: Se Lula perder a eleição presidencial deste ano, é possível que o PT e P-SOL se reencontrem no futuro?

Heloísa Helena: Eu não guardo mágoa do meu processo de expulsão. A história da esquerda no Brasil não nasce com o PT e nem termina com o P-SOL. Não somos um santuário de ungidos, somos apenas um grupo de pessoas que não aceitou um partido mudar de lado. Percebemos que aquele PT de antes tinha morrido e apodrecido. O PT que fundamos, há muito tempo não existe.

Valor: Então a senhora antevê uma reorganização partidária em 2007?

Heloísa Helena: Fazer o quê? É da vida. 
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