Brasil: balance y previsiones de la economía, una fiesta para los ricos [Ceci Vieira Juruá - portugués]

Ernesto Herrera germain en chasque.net
Mie Mar 1 09:23:51 UYT 2006


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Boletín informativo - Red solidaria de la izquierda radical

Año III - Miercoles 1º de marzo 2006 - Redacción: germain en chasque.net

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Brasil

Economia

As Previsões para o Novo Ano de 2006

Ceci Vieira Juruá

Desempregozero
http://www.desempregozero.org.br/


O ano que passou foi um ano de festa para todos os endinheirados: bancos, seguradoras, empresas transnacionais e seus parceiros no Brasil ampliaram seus patrimônios e seu poder. Em contrapartida, sacrifícios crescentes vêm sendo impostos às empresas locais, às classes médias e às finanças públicas, dando lugar a um círculo perverso que facilita: a) reconcentração de renda em favor do capital rentista e em detrimento dos rendimentos do trabalho, b) endividamento de amplos segmentos da economia brasileira e, principalmente, do Governo federal, c) desindustrialização e desnacionalização do sistema produtivo local. 

Esses três movimentos - reconcentração da renda/desindustrialização, endividamento e desnacionalização - são complementares e atuam no sentido de ampliar a dominação das finanças internacionais sobre a economia e a sociedade no Brasil. A reconcentração de renda e o desemprego industrial limitam a expansão do consumo doméstico e propiciam o endividamento das famílias, a estagnação do consumo fragiliza as finanças públicas e limita a modernização dos negócios privados voltados para o mercado interno, provocando desequilíbrios econômico-financeiros que, aliados às elevadíssimas taxas de juros, propiciam o endividamento das empresas e às conduzem à falência ou à desnacionalização. Para um grande número de empresários brasileiros é difícil escapar desse círculo perverso, dada a assimetria na relação de forças com os grupos econômicos estrangeiros. Por exemplo, em 28 de dezembro último o jornal Valor informava: 

" O valor de mercado de 269 empresas com ações negociadas na BOVESPA ( Bolsa de Valores de São Paulo) chegou a US$ 457 bilhões em dezembro de 2005. Em 27 de dezembro de 2005, dois grupos - Wal Mart e Citigroup - valiam, juntos, US$ 450 bilhões." 

A desnacionalização da economia brasileira já constitui uma ameaça real em setores estratégicos da economia brasileira (ver no Anexo alguns indicadores), como o de exportação em que seis conglomerados estrangeiros figuram na lista dos dez maiores exportadores em 2004 - Bunge, Volkswagen, Cargill, General Motors, Halliburton e Ford -, enquanto no varejo de supermercados a liderança é ocupada por três estrangeiros - Carrefour, Casino/Pão de Açúcar e Wal Mart. Convém observar que grupos econômicos do porte dos que acabamos de enumerar, quando atuam nos países periféricos costumam extrapolar a ação produtiva e invadir o campo da política e das idéias, de modo que a desnacionalização da economia desdobra-se em desnacionalização das decisões de Estado e da cultura brasileira. 

Nas previsões econômicas feitas para 2006, em geral os pontos acima não são considerados. O debate oficial, das elites dirigentes, concentra-se em torno das diferenças homeopáticas que poderão ocorrer nas taxas de juros, de inflação e de crescimento econômico e no tamanho do superávit comercial da Balança de Pagamentos. [1] Tudo se passa como se tivéssemos desaprendido os princípios básicos da arte de projetar variáveis econômicas e sociais, arte que nos ensinava a utilizar não apenas os dados quantitativos do passado, mas também as relações estruturais capazes de fundamentar hipóteses sobre o comportamento futuro daquelas variáveis. A omissão é particularmente generalizada quando se trata de reconhecer que o Estado, e principalmente a União, é o único agente social com capacidade legal para defender o interesse público e coletivo, atributo cujo exercício requer ampla margem de autonomia e de credibilidade/legitimidade nos limites definidos constitucionalmente como <Todo o poder emana do povo>. 

A fragilidade técnica e o campo social restrito no qual e para o qual são elaboradas as previsões dos principais agregados macro-econômicos dificultam uma crítica séria que deveria abordar: 

-consequências econômicas e sociais da desnacionalização, das quais a proibição de venda para a Venezuela de aviões produzidos pela Embraer é apenas um exemplo; 

-a impraticabilidade de sustentar elevados saldos comerciais na Balança de Pagamentos em caso de perturbações na economia mundial, confrontada com a remessa anual de mais de US$ 25 bilhões (R$ 57,5 bilhões!) para o exterior como pagamento dos serviços do capital estrangeiro; 

-os limites do endividamento privado (empresas e famílias) e do Governo sobretudo. A taxa média projetada para a SELIC em 2006 deverá acarretar o pagamento de quase R$ 200 bilhões como juros da dívida pública, valor incompatível com o orçamento federal; e 

-o sucateamento da mão-de-obra qualificada (ironicamente denominada de capital humano) em decorrência da desindustrialização e da desnacionalização do parque industrial brasileiro. 

Na verdade, todos aqueles que propõem uma reflexão sobre o esgotamento do modelo neoliberal e sobre o day after que marcará o fim da farra financeira correm o risco de ser desqualificados, como portadores de insanidade mental, negativistas, etc, sendo aconselhados no mais das vezes a 'relaxar e usufruir'. 

Contudo, uma leitura atenta dos jornais nesse início de ano permite antever as dificuldades que os movimentos sociais e os segmentos nacionalistas enfrentarão. Transcrevo abaixo declarações e notícias capazes de despertar apreensão: 

--" Algo de grande importância aconteceu (no Brasil) a economia e a política se separaram ". ... Albert Fishlow, professor da Universidade de Columbia/EUA [2] 

- " Por causa da dependência dos mercados locais às decisões tomadas lá fora, os indicadores (norte) americanos são hoje mais importantes para a definição de tendências do que os brasileiros ... A resposta (para a valorização do real perante o dólar) deve ser buscada nos US$ 70 bilhões mantidos em contratos futuros de dólar (venda de moeda americana e compra de real) fechados no mercado de balcão internacional. Esses contratos buscam a rentabilidade oferecida pela Selic, derrubam o dólar futuro no mercado interno e, por extensão, a cotação à vista sem que haja ingresso físico de moeda. ." Luiz Sérgio Guimarães, colunista do jornal Valor [3] 

- " ' Custo político ' come receita de municípios - Os 5.565 municípios brasileiros gastam por ano cerca de R$ 10 bilhões para manter atividades consideradas 'políticas'. Mais da metade das cidades (57%) usa parcelas superiores a 21% da receita para sustentar esse 'custo político' ." Fernando Canzian [4] 

- " Os novos governantes terão de reduzir a carga tributária para 25% do PIB (média de 1969-93); terão de reduzir drasticamente o custo do dinheiro para estimular investimentos e empregos ;..." Antonio Ermírio de Moraes, empresário dono do grupo Votorantim. [5] 

- " Grandes empresas de celulose (estrangeiras) estão acenando com uma alternativa de renda extra aos gaúchos . ... prometem investimentos bilionários no cultivo de eucaliptos, na produção de celulose voltada à exportação e, num futuro remoto, na fabricação de papel ." [6] 

- " Vimos que o governo (Lula) tem agido muito corajosamente na administração da política econômica... Esse governo vem conquistando a confiança da comunidade bancária internacional ." Presidente do banco holandês ABN AMRO [7] 

- " O UBS, um dos maiores bancos do planeta, prevê desaceleração da economia global e retornos de investimentos abaixo da média este ano, mas se diz otimista com relação à economia brasileira ." Assis Moreira, jornalista [8] 

As declarações e notícias que transcrevemos acima sugerem que, apenas se forem mantidas as atuais políticas monetária e fiscal (taxa de juros elevada, câmbio flutuante e arrocho nos gastos públicos à exceção das despesas com juros pagos ao capital rentista), os recursos de bancos e financistas internacionais permanecerão aplicados na economia brasileira, auferindo lucros excepcionais e redirecionando nossos recursos produtivos para as atividades que atendem aos objetivos e necessidades dos países centrais. Advertem outrossim que, nas condições atuais, o desempenho da economia brasileira vai depender principalmente de indicadores externos vinculados à economia mundial. 

É claro que esta situação de dependência e de estrita subordinação às diretrizes do capital financeiro internacional não interessa à maioria da população brasileira. A farra financeira em países periféricos têm sérias conseqüências, é o que nos ensinam as lições da História. 

Este ano começa, na verdade, sob o signo da absoluta incerteza. Haverá embates em torno dos gastos públicos com aposentadorias e pensões, com o pagamento do funcionalismo e com o valor do salário mínimo. As transnacionais e seus parceiros vão pressionar no sentido de reduzir ainda mais os direitos sociais dos trabalhadores. O Governo, se permanecer fragilizado, pode ser tentado a ampliar a política suicida de distribuição de favores fiscais aos grandes grupos econômicos. Nada disso interessa ao povo brasileiro. 

Precisamos formular outros cenários nos quais a paz e a liberdade sejam utilizados como ingredientes de uma outra sociedade menos temerosa e insegura, mais justa e mais autônoma. Vivemos ainda um momento favorável ao fortalecimento dos laços históricos que unem o Brasil aos povos da América do Sul. É hora de construir, entre nós, um espaço econômico e social totalmente distinto daquele organizado em torno do Muro da Vergonha, na fronteira Estados Unidos/México, onde são cruelmente abatidos brasileiros, argentinos, bolivianos, peruanos e equatorianos, entre outros. Para isto, devemos fortalecer e ampliar o Mercosul, fazendo dele um espaço de livre circulação dos trabalhadores e de nossas moedas nacionais. 

Uma moeda única, comum, para as transações regionais no âmbito do Mercosul, poderia cumprir funções altamente estratégicas, vinculadas ao resgate da soberania de nossa política monetária e à ampliação do grau de governabilidade em nossos países. Constituiria, além disso, um freio a tentativas eventuais de captura dos bancos centrais locais por agentes poderosos das finanças internacionais. Mas seria também uma medida saneadora e moralizante pois evitaria o desvio de parcela dos recursos nacionais para paraísos fiscais. 

Enfim, há um cenário político propício à contestação das previsões econômicas oficiais e à construção de alternativas de resistência. 

Notas 

[1]A FEBRABAN (Federação Brasileira dos Bancos), por exemplo, prevê as seguintes taxas: 3,3% para o crescimento do PIB, inflação de 4,6%, 15,2% para a Selic e taxa de câmbio de r$2,42/dólar em dezembro de 2006, saldo comercial externo superior a US$ 36 bilhões, e vigorosa expansão do crédito para pessoas físicas. 
[2]FSP, caderno Dinheiro B-3, 08-01-2006. 
[3]Coluna Por dentro do mercado, 09.01.2006. 
[4]FSP, A6, 01-01-2006. 
[5] Artigo "Perspectivas para 2006." FSP, A2, 01-01-2006 
[6]Jornal Valor, A10, 05 de janeiro de 2006] 
[7]Jornal Valor, C2, 09-01-2006. 
[8]jornal Valor, C8, 6 a 8-01-2006. 



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Anexo

INDICADORES DE DESNACIONALIZAÇÃO DA ECONOMIA BRASILEIRA 
  
I- Posição dos grupos de capital estrangeiro na  lista dos 25 maiores conglomerados do Brasil,  segundo o montante da Receita Bruta em 2004 

Ranking 2004                              Grupo                         Origem do capital 

6                                            Telefonica                           Espanha  
11                                            Ambev                              Belgica 
12                                            Bunge                               Holanda 
16                                            Fiat                                  Italia 
18                                          Volkswagen                        Alemanha 
20                                           ABN AMRO                        Holanda 
21                                      Pão de Açúcar/Casino              França 
22                                          Shell Brasil                          Holanda/Reino Unido 
23                                      Santander Banespa                  Espanha 
24                                           Cargill                                 Estados Unidos 

II- Posição dos grupos de capital estrangeiro na lista dos 10 maiores grupos financeiros privados do Brasil, segundo o montante do Patrimônio Líquido em 2004 

Ranking 2004                             Grupo                                   Origem do capital 

4                                       Santander Banespa                               Espanha 
5                                             ABN AMRO                                     Holanda 
7                                             Citigroup                                         Estados Unidos 
8                                              HSBC                                            Inglaterra 
9                                          Bank of Boston                                 Estados Unidos 

III- Posição dos grupos de capital estrangeiro na lista dos 10 maiores grupos comerciais do Brasil, segundo o montante do Patrimônio Líquido em 2004 

Ranking 2004                              Grupo                                      Origem do capital 

1                                              Carrefour                                            França 
2                                       Pão de Açucar/ Casino                               França 
3                                             Shell Brasil                                       Holanda/Reino Unido 
10                                            Chevron                                            Estados Unidos 

Fonte: Valor/Grandes Grupos, dezembro de 2005 
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