Brasil: perfil de Heloísa Helena, candidata del Frente de Izquierda [Naná Whitaker - portugués]

Ernesto Herrera germain5 en chasque.net
Vie Sep 29 14:14:29 UYT 2006


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Boletín informativo - Red solidaria de la izquierda radical

Año III - 29 de setiembre 2006 - Redacción: germain5 en chasque.net

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Brasil

Heloísa Helena, um marco na historia brasileira

Naná Whitaker

Primeira mulher candidata 
 
No partido que estamos construindo haverá espaço para todas as pessoas como eu : cristã e trotskista ; para os trabalhadores de qualquer religião ; para os brancos ; para  os negros ; para  os índios ; para  os héteros ; para os homosexuais, mas não haverá nenhum espaço para os capitalistas nem para os corrúptos ! é assim que ele começa : seus fundadores são dois homens e duas mulheres ! Com estas palavras Heloisa Helena abre o ato de fundação do futuro partido, na cidade do Recife, em abril 2004. Em jeans e uma blusinha branca, feita por ela mesma, continua seu discurso cheio de metáforas, contra as aberrações do sistema, contra as medidas anti-sociais do governo do seu ex-partido, o Partido dos trabalhadores, terminando com a ovação do público composto de representantes dos movimentos Negro, das mulheres, de sindicatos, de associações de solidariedade, etc. 
Heloísa é a primeira candidata mulher na história das eleições à presidência da República no Brasil. Com seus 44 anos, dotada de verbo fácil e direto, de muita convicção e ousadia, magrinha, não muito alta, seu corpo de menina ganha em altura quando fala para os trabalhadores, seus traços se endurecem quando fala da exploração do FMI, da OMC e da cumplicidade do governo brasileiro com os países imperialistas, mas seu rosto se ilumina atrás dos seus óculos, quando discreve a sociedade que sonha construir.

Nascida em Alagoas, famoso pelo machismo, pela corrupção de seus políticos, usineiros latifundiários, industriais clientelistas, desde jóvem Heloísa participa de movimentos sociais e sindicais. Entra no PT em 1985, identifica-se com a Tendência Democracia Socialista, tendência internacionalista[1] e logo é eleita vice-prefeita de Maceió, a capital. Dois anos depois é eleita deputada estadual pelo Estado atuando nos setores da saúde, da reforma agrária, da educação e em 1998, com 56% de votos, é eleita a primeira senadora da República. Mas Heloísa não recorre ao seu brilhante curriculum vitae para levar sua vida de militante. Sua tragetória é guiada pelas convicções que a conduziram ao PT e à IV Internacional. Ela age ao inverso do PT, quando este aceita as exigências da burguesia brasileira e internacional, rompendo com as decisões dos seus congressos. É neste quadro que Heloísa começa a questionar e a recusar as imposições da direção do PT, quando esta exige sua aliança com o Partido liberal, de direita[2], como candidata a governadora do Estado de Alagoas em 2002. Em seguida, desobedece a diretiva do PT, também por « fidelidade aos princípios do PT », de votar a reforma do governo, de supressão das conquistas dos trabalhadores aposentados do setor público[3], despertando assim a fúria da direção do partido contra ela e contra os parlamentares, deputados Luciana Genro e João Batista Araújo (Babá), que se negavam a vota-la.

Objetos de um processo digno de métodos stalinistas, em dezembro 2003 Heloísa é expulsa do partido, junto aos parlamentares abandonados aos seus próprios destinos. E é o que vão fazer : ousar construir um novo destino para o Brasil.
 
Um novo fôlego

Enfrentando as condições draconianas da legislação brasileira, os 4 parlamentares, junto aos milhares de ex-militantes do PT, conseguem realizar uma façanha : recolher 600 mil assinaturas das 450 mil exigidas para oficializar a criação no novo partido, o Partido Socialismo e Liberdade e em setembro 2005 o partido é registrado pelo Tribunal Superior Eleitoral. Enquanto isto, continua a hemorragia do PT com a divisão de todas as suas tendências de esquerda, inclusive da DS, culminando com a saída de novos parlamentares, de dirigentes e militantes ativos dos movimentos sociais, integrando-se ao PSOL, decididos à construir outra vez os alicerces de uma nova sociedade. Com uma orientação anti-capitalista, anti-imperialista, feminista e ecologista, o novo partido ousa apresentar-se às eleições de 2006[4] !

Em junho 2005 são descobertos atos e práticas de corrupção de políticos e responsáveis do PT : um sistema de compra de votos à deputados, com dinheiro público, em favor das reformas do governo, de presentes onerosos dos banqueiros e responsáveis de entidades públicas ou privadas em troca de favores dos políticos. Senado e a Câmara de deputados formam suas Comissões Parlamentares de Inquérito para apurar os fatos publicamente, diante dos olhos perplexos das massas trabalhadoras. Jamais a corrupção fez correr tantos milhões de dólares nos bolsos dos políticos. O tema da corrupção leva Heloísa a transformar-se na parlamentar mais crítica do governo PT e das suas reformas, integrando-se as CPI, assumindo suas funções de titular das comissões permanentes ligadas à assuntos econômicos, à fiscalização, ao idoso, à exploraçao do trabalho e a prostituição infanto-juvenil, etc.

O papel exercido pelo PT, sob a presidência de Lula, tem prejudicado toda a esquerda brasileira e latino americana, sobretudo pela supressão das conquistas sociais, através das reformas anti-sociais e da política de colaboração com a burguesia. Assim, a campanha do PSOL para as eleições de 2006, vai no sentido de recuperar os males que tem feito os partidos do governo aos trabalhadores. Constituindo uma Frente de Esquerda, o Partido Comunista, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados e o PSOL lançam o manifesto « Contra os banqueiros, o imperialismo e os políticos corruptos », assinado por Heloísa Helena e pelo candidato a vice-presidencia, César Benjamin[5],. propondo conquistar a soberania e independência nacional, rompendo com o capital financeiro e o imperialismo, propondo abolir a escravatura moderna, a precariedade, os salários miseráveis, defende os direitos das mulheres, contra as discriminações raciais e sexuais, propondo novas instituições democráticas sob contrôle direto dos trabalhadores, lança um apelo à luta e propõe os seus candidatos. Com seus quase 8% de intenções de votos, a nível nacional, Heloísa viaja por todo o país explicando estas propostas, como sempre faz, sem meias palavras.
 
Uma candidata ímpar
 
Heloísa, perde seu pai aos dois meses e sua mãe, sozinha com seus filhos, ganha a vida bordando « os vestidos das madames ». Atravessando uma infância doentia, asmática, cheia de complicações, aprende a ler com as freiras e suas leituras « sobre as lutas do povo de Deus », são sugeridas por padres e freiras holandeses. Provavelmente vem daí a sua adoção ao catolicismo e seus hábitos fora do comum do meio da esquerda marxista: anda com uma bíblia na bolsa, coleciona imagens do São Francisco (o « Chiquinho », como o chama) e quando fala, usa uma retórica própria. Em 2003 afirma : « o camarada Jesus Cristo dizia : ou quente ou frio, o morno se vomita » ; em 2004, à propósito da discussão entre a direção do PT e as bases[6] : «  Não há discussão. O partido tem desrespeitado as suas próprias resoluções, sobretudo a do encontro nacional. Até entendo que o governo possa ter uma certa autonomia. Mas, o que o PT não deve ter autonomia para rasgar[7] as suas resoluções partidárias, ferindo de morte a nossa tradição que é o debate franco e fraterno nas estruturas partidárias » ; em 2006, em entrevista à revista Cláudia[8] : « .eu sou uma socialista por convicção, eu digo sempre que aprendi na bíblia, antes de ler os clássicos da história socialista, a ser uma socialista.»

Apesar da vida modesta, forma-se em enfermagem e torna-se professora de epidemiologia da Universidade Federal de Alagoas. Casada duas vezes e separada em seguida, Heloísa educa sozinha seus dois filhos Sacha (22 anos) e Ian (19) trabalhando, militando e exercendo seus cargos, « carregando-os de um lado para o outro », como costuma dizer.

Heloísa torna-se referência para os trabalhadores que sonham com uma sociedade na qual os trabalhadores são atores, onde seus direitos são respeitados, onde prevalece as relações de solidariedade entre os povos e o respeito pelos recursos naturais do planeta, onde são extintas as opressões de sexo, os preconceitos e o racismo.
 
 27 de setembro de 2006.


Notas

[1] Tendência de formação trotskista, reclamando-se da IV Internacional, a qual Heloísa Helena é uma das dirigentes.
[2] O PL representa um setor da burguesia industrial brasileira.
[3] As reformas néo-liberais do setor privado já haviam sido feitas, quando as conquistas obtidas pelas lutas nos anos 1970-80 foram suprimidas pelo governo precedente do presidente Fernando Henrique Cardoso, membro do Partido Social Democrático Brasileiro (PSDB), compondo a direita liberal.
[4] No dia 1 de outubro 2007 votam-se deputados (estaduais e federais), senadores, governadores (dos Estados) e o ou a presidente da República.
[5] César Benjamin é ex-membro fundador do PT, dirigente do partido até 1995 e atual dirigente de um importante movimento, a Consulta Popular
[6] Em entrevista dada à autora no Recife.
[7] No sentido de romper. (Nota da autora.)
[8] Revista muito popular no Brasil, destinada mais à um público feminio, equivalente à revista  francêsa « Elle ». 

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