Brasil: por una nueva morfología de las luchas sociales [Ricardo Antunes - entrevista en portugués]

Ernesto Herrera germain5 en chasque.net
Jue Mar 29 08:14:31 GMT+3 2007


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boletín informativo - red solidaria de revistas
Correspondencia de Prensa
Año IV - 29 de marzo 2007 - Redacción: germain5 en chasque.net

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Brasil

Entrevista a Ricardo Antunes

Críticas ao governo Lula, à cúpula da CUT...

E sinaliza para "uma nova morfologia" do trabalho e, portanto, das lutas sociais

O sociólogo Ricardo Antunes é um dos maiores especialistas brasileiros no estudo das mudanças no mundo do trabalho. Professor de sociologia no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp e autor, entre outros, de Uma Esquerda Fora do Lugar: o GovernoLula e os Descaminhos do PT, O Caracol e sua Concha: Ensaios sobre a Nova Morfologia do Trabalho e Lukacs, um Galileu no século XX, lançou no ano passado, juntamente com um grupo de pesquisadores, o livro Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil, no qual traça um panorama do momento atual e do futuro do trabalho e do sindicalismo. Nesta entrevista, além de expor os temas presentes em seu último livro, Antunes faz críticas ao governo Lula, à cúpula da CUT e sinaliza para "uma nova morfologia" do trabalho e, portanto, das lutas sociais. 

Juliana Sassi *
Revista Caros Amigos, março 2007  
http://carosamigos.terra.com.br/

 
Quais foram as mudanças ocorridas no mundo do trabalho nos últimos anos?

No início da década de 70, o capitalismo sofreu transformações muito profundas no tempo, no espaço, no modo de produção, na forma de se reproduzir, no perfil da classe trabalhadora, na relação com o maquinário e na financeirização. Aquela forma de produção taylorista/fordista genialmente estampada pelo Chaplin em TemposModernos - a grande indústria concentrada, verticalizada, com milhares de trabalhadores sob o mesmo teto - foi sofrendo alterações significativas a partir da segunda metade do século passado. Isso ocorreu em função, primeiro, das mudanças tecnológicas - especialmente das chamadas mutações tecnocientíficas da era informacional - e também como resposta do capital às lutas sociais dos anos 1968, 1969, 1970, na Europa e na América Latina, que questionavam o controle social da produção. 

Todos esses fatores, as lutas sociais, a crise estrutural do capitalismo, a superprodução, o envelhecimento do sistema taylorista/fordista, a tendência decrescente das taxas de acumulação, fizeram com que o capitalismo mudasse um pouco sua forma para que pudesse continuar sendo o capitalismo. Essas mudanças de forma significaram fundamentalmente o seguinte: primeiro, em vez de uma grande empresa concentrada, uma empresa, como chamam os capitalistas, enxuta, pequena e esparramada. Um dos primeiros experimentos disso foi a Benetton já nos inícios dos anos 70 na Itália, uma empresa que se esparrama em milhares de unidades pelo mundo inteiro conectadas pela Internet. Em vez de ter milhares de operários em uma mesma fábrica, são milhares de operários esparramados em centenas ou até milhares de pequenas unidades produtivas, e com isso a empresa se torna mais rentável. Essa foi uma das respostas do capital às taxas decrescentes dos níveis de lucro que se iniciam a partir dos anos 70, e também uma maneira de o capital desorganizar a classe trabalhadora. No final dos anos 70 e início dos 80, Margaret Thatcher na Inglaterra, Ronald Reagan nos Estados Unidos, Gustav Heinemann na Alemanha vêm com o neoliberalismo, um ideário - e uma pragmática - regressivo, reacionário que transfere tudo para o mercado como forma de reestruturar os níveis de acumulação e o padrão de dominação do capital. Em 1989/90, a URSS desmorona, tornando possível até o Fukuyama escrever que o capitalismo é o fim máximo da história pela sua positividade, quer dizer, era um fim positivo, a democracia, o capitalismo e o mercado. 

Essas mudanças afetaram muito o mundo produtivo e a forma de ser do trabalho, abalando violentamente a classe trabalhadora, o sindicato, os partidos de esquerda. Entre tantas conseqüências desse "vulcão" está a precarização estrutural do trabalho, que discuto no livro. Venho trabalhando com a idéia de que essa precarização do trabalho que estamos vivendo não é circunstancial, mas sim estrutural, assim como o desemprego, que também não é circunstancial, é estrutural. E por que é um desemprego estrutural? Porque o capitalismo tem uma lógica destrutiva, ele cresce destruindo, destrói o ambiente, destrói a natureza, destrói a força humana de trabalho e destrói pela guerra, o sistema precisa destruir para poder se alavancar. Esse traço afetou bastante a classe trabalhadora. 

Você tem idéia dos números reais de desemprego?

Os dados oficiais falam de 10 por cento, nas capitais do Brasil, e até muito recentemente tínhamos índices de 20 por cento oficiais - há três anos tínhamos bairros em São Paulo em que o desemprego chegava a 70 por cento. A Argentina, no ápice da sua crise em 2001, chegou a ter índices reais de 40, 50 por cento de desemprego, de cada dois argentinos um era desempregado, fazendo o que, então? Trabalhos precários. Então, na base um desemprego muito ampliado, e no meio do mundo do trabalho uma massa ampla realizando trabalhos precários, caindo cada vez mais na informalidade, trabalhando muito mais e recebendo menos e sem nenhuma estabilidade - aquela relação contratada tayloriana/fordizada que marcou a industrialização do século 20 está em processo de erosão, os capitais querem uma classe trabalhadora supérflua que possa oscilar entre a sua condição de perenidade. Um núcleo cada vez menor trabalha muito e, no outro pólo da superfluidade, um núcleo cada vez maior de homens e mulheres vive na informalidade, quando não no desemprego, esse é o cenário que visualizo. Se a lógica do capital continuar prevalecendo, é esse o futuro, e ele é trágico.

Como o trabalhador pode se organizar tendo em vista esse cenário?

A primeira coisa é a seguinte: eu disse que esse é o cenário se a lógica do sistema continuar prevalecendo, ou seja, no século 21 temos que pensar em alternativas, é uma obrigação nossa, quando o Fórum Social se reúne, um outro mundo é possível. Não tenho dúvida de que o século 21 reponha a questão do socialismo. Quando eu falava, há dez anos, que o socialismo era possível, diziam "ah, esse cara é louco", mas agora é o povo da Venezuela que está dizendo que o socialismo do século 21 é uma alternativa. Se o governo Lula é incapaz de levantar a questão, na Bolívia o Evo Morales está dizendo, o Rafael Correa, no Equador, também. O primeiro desenho importante é que há lutas sociais e essas lutas sociais estão obrigando a humanidade e governos a buscar alternativas. Você pergunta quais as formas de se organizar. 

Primeiro ponto: muita gente dizia que o sindicato ia desaparecer e isso não aconteceu. O sindicalismo viveu uma crise profunda? Viveu. Abalou os pilares da organização sindical? Abalou. É uma crise terminal? Não. Os sindicatos estão sendo obrigados a mudar, a incluir, por exemplo, a mulher trabalhadora. O sindicato de esquerda era muito machista, mas como organizar um sindicato de telemarketing onde 80 por cento dos trabalhadores são mulheres? O sindicato também tem que incluir o terceirizado, tem que enfrentar a organização dos jovens, há exemplos importantes de sindicatos que rejuvenesceram, que buscaram alternativas. Segundo ponto: há muitas lutas sociais importantes. Quando houve o desemprego maciço na Argentina, o que ocorreu? Uma explosão dos piqueteiros, um movimento de desempregados dizendo: "Olha, vocês não falam da gente, é como se não existíssemos, então vamos parar a Argentina". E pararam as principais estradas que chegavam à capital federal. Outro movimento importante na Argentina, do qual há sinais no Uruguai e no Brasil, é o das "fábricas recuperadas". Fiz dois lançamentos de livros na Argentina, um em uma metalúrgica recuperada chamada IMPA Fábrica Cultural, e o outro em um hotel chamado Bauen. Ambos haviam sido abandonados pelos patrões e os trabalhadores assumiram, reorganizaram a empresa que voltou a funcionar sem patrão privado. A Argentina chegou a ter duzentas fábricas recuperadas. 

Outro exemplo de luta social, esse um exemplo brasileiro: o MST há mais de vinte anos vem demonstrando que é possível um movimento aglutinar os deserdados da terra, os desempregados do campo que foram para a cidade e hoje são deserdados da cidade e voltam para o campo. Quer dizer, estamos vendo que, quando os partidos de esquerda se tornam partidos da ordem, a resistência em massa os envolve, surgem novas formas de luta. Num certo marxismo tradicional havia uma tese também tradicional de que o organismo mais importante da classe trabalhadora era o partido. Se alguém perguntasse "mas por que o partido?" - vou falar com um pouco de ironia -, ele responderia: "Porque o comitê central decidiu que o partido é o mais importante organismo da classe operária". Se perguntassem "qual é o segundo organismo mais importante da classe operária?", ele diria: "O sindicato". Por quê? "Porque o comitê central definiu que o sindicato é o segundo." E os movimentos sociais? "Ah, esses são menos importantes." Por quê? "Ah, porque o partido acha que os movimentos sociais são menos importantes." Na condição de intelectual marxista, mas fora desse marxismo tradicional e fechado, eu diria que temos que entender que não há hierarquia nas lutas sociais, há uma nova morfologia do trabalho, e frente a essa nova morfologia do trabalho existem novas e velhas formas de organização da classe trabalhadora. 

Se você perguntasse para mim "mas, Ricardo, qual é a mais importante?", eu responderia: "Aquela que fizer a luta mais radical". O que é fazer a luta mais radical? Não é berrar, que não adianta nada, é tocar nas raízes. Por exemplo, pode ser que na Bolívia de hoje a luta mais importante seja aquela que quer o controle do gás na mão do povo boliviano, porque o gás é uma riqueza para eles; da mesma maneira, provavelmente a luta mais importante para o povo venezuelano hoje é a do petróleo, aliás, a primeira iniciativa do Chávez quando eleito foi desmontar o projeto de privatização da PVDSA. Sofreu um golpe por isso, teve que derrotar o locaute patronal e ainda teve que ganhar um plebiscito para derrotar a oligarquia do petróleo, que queria privatizar segundo os interesses dos Estados Unidos. Veja que são outras lutas sociais, há uma nova morfologia das lutas sociais.

* Juliana Sassi é estudante de jornalismo.  
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