Re: [Laredviene] Fwd: Fw: Uma carta interessante - O cisma da Igreja Católica
IMELDA ARANA SAENZ
imearana en gmail.com
Sab Mar 14 18:10:30 UYT 2009
Gracias Hildezia, muy pertinente para nuestra idea de trabajar la laicidad
IMELDA
2009/3/13 Hildezia Medeiros <hildezia en gmail.com>
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> *Este texto foi escrito por uma freira, teóloga, assistente de Dom Hélder
> Câmara nas favelas do Recife. Punida pelo Vaticano.*
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> *O cisma da hierarquia católica** *
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> *Ivone Gebara *
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> *(freira e teóloga)*
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> Os últimos acontecimentos envolvendo a interrupção da gravidez da menina
> de nove anos em Pernambuco evidenciaram um fato que já estava presente desde
> muito tempo na vida da Igreja Católica Romana. Os bispos perderam o senso de
> governarem unidos aos desafios da história e à fé da comunidade e julgam-se
> mais fiéis ao Evangelho de Jesus do que a própria comunidade. Por manterem
> uma compreensão centralizadora e anacrônica de sua função e da teologia que
> lhe corresponde desviaram-se de muitos sofrimentos e dores concretas das
> pessoas, sobretudo das mulheres. Passaram a ser defensores de princípios
> abstratos, de incertas hipóteses futuríveis e pretenderam até ser advogados
> de Deus. A este acontecimento de distanciamento chamo de cisma. Os bispos
> tanto a nível nacional quanto internacional e aqui incluo também o Papa,
> como bispo de Roma, tornaram-se cismáticos em relação à comunidade de
> cristãos católicos, isto é, romperam com grande parte dela em várias
> situações. O incidente em relação a proibição da interrupção da gravidez da
> menina do qual Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife foi
> um dos protagonistas é um exemplo irrefutável. Sem dúvida há muitas pessoas
> e grupos que pensam como eles e que reforçam seu cisma. Faz parte do
> pluralismo no qual sempre vivemos.
>
> A hierarquia da Igreja, servidora da comunidade dos fiéis não pode em
> certas questões separar-se do sentido comum e plural da vivência da fé. Não
> pode igualmente para certos assuntos de foro pessoal e mesmo grupal
> substituir-se à consciência, às decisões e ao dever das pessoas. Pode emitir
> sua opinião, mas não impô-la como verdade de fé. Pode expressar-se, mas não
> forçar pessoas a assumir suas posições. Nesse sentido, não pode instaurar
> uma guerra santa em nome de Deus para salvaguardar coisas que julga serem
> vontade e prerrogativa de Deus. A tradição teológica na linha mais profética
> e sapiencial nunca permitiu que nenhum fiel mesmo bispo falasse em nome de
> Deus. E isto porque o deus do qual falamos fala em nosso nome e tem a nossa
> imagem e semelhança. O Sagrado Mistério que atravessa tudo o que existe é
> inacessível aos nossos julgamentos e interpretações. O Mistério que em tudo
> habita não precisa de representantes dogmáticos para defender seus direitos.
> Nossa palavra é nada mais e nada menos do que um balbuciar de aproximações e
> de idéias mutáveis e frágeis, inclusive sobre o inefável mistério. É nessa
> perspectiva que também não se pode obrigar que a Igreja hierárquica torne,
> por exemplo, a legalização do aborto sua bandeira, mas simplesmente que não
> impeça que uma sociedade pluralista se organize conforme as necessidades de
> suas cidadãs e cidadãos e que estes tenham o direito de decidir sobre suas
> escolhas.
>
> As comunidades cristãs assim como as pessoas são plurais. Num mundo tão
> diverso e complexo como o nosso não podemos admitir que apenas a opinião de
> um grupo de bispos, homens celibatários e com uma formação limitada ao
> registro religioso, seja a expressão do seguimento da tradição do Movimento
> de Jesus. A comunidade cristã é mais do que a igreja hierárquica. E, a
> comunidade cristã é na realidade múltiplas comunidades cristãs e estas são
> igualmente muitas pessoas cada uma com sua história, suas escolhas e
> decisões próprias diante da vida.
>
> Impressiona-me o anacronismo das posturas filosóficas e éticas episcopais
> começando pelos bispos brasileiros e continuando nas instâncias romanas como
> se pode ler na entrevista que o cardeal Giovanni Batista Re, presidente da
> Congregação para os bispos, deu a revista italiana Stampa concordando com a
> postura dos bispos brasileiros. Os tempos mudaram. Urge, pois, que a
> teologia dos bispos saia de uma concepção hierárquica e dualista do
> Cristianismo e perceba que é na vulnerabilidade às múltiplas dores humanas
> que poderemos estar mais próximos das ações de justiça e amor. É claro que
> sempre poderemos errar inclusive querendo acertar. Esta é a frágil condição
> humana.
>
> Creio que nossas entranhas sentem em primeiro lugar as dores imediatas, as
> injustiças contra corpos visíveis e é a eles que temos o primeiro dever de
> assistir. A consternação e a comoção em relação ao sofrimento da menina de
> nove anos foram grandes. E isto porque é a esta vida presente e atuante, a
> esta vida de menina feita mulher violada e violentada em nosso meio que
> devemos o respeito e o cuidado primeiros. Por isso como membro da comunidade
> cristã, louvo a atitude do Dr. Rivaldo Mendes de Albuquerque e da equipe do
> CISAM de Recife assim como da mãe da menina e de todas as organizações e
> pessoas que acudiram a ela neste momento de sofrimento que certamente
> deixará marcas indeléveis em sua vida.
>
> Dirão alguns leitores que minha postura não é a postura oficial da Igreja
> Católica Romana. Entretanto, o que significa hoje a palavra oficial? O que é
> mesmo Igreja oficial? A instituição que se arvora como representante de seu
> deus e ousa condenar a vida ameaçada de uma menina? A instituição que se
> considera talvez a melhor seguidora do Evangelho de Jesus?
>
> Não identifico a Igreja à hierarquia católica. A hierarquia é apenas uma
> parte ínfima da Igreja.
>
> A Igreja é a comunidade de mulheres e homens espalhada pelo mundo,
> comunidade dos que estão atentos aos caídos nas estradas da vida, aos
> portadores de dores concretas, aos clamores de povos e pessoas em busca de
> justiça e alívio de suas dores hoje. A Igreja é a humanidade que se ajuda a
> suportar dores, a aliviar sofrimentos e a celebrar esperanças.
>
> Continuar com excomunhões, inclusões ou exclusões parece cada vez mais
> incentivar o crescimento de relações autoritárias desrespeitosas da
> dignidade humana, sobretudo, quando surgem de instituições que pretendem
> ensinar o amor ao próximo como a lei maior. De quem Dom José Cardoso e
> alguns bispos se fizeram próximos nesse caso? Dos fetos inocentes, dirão
> eles, aqueles que precisam ser protegidos contra o "Holocausto silencioso"
> cometido por algumas mulheres e seus aliados. Na realidade, fizeram-se
> próximos do princípio que defendem e se distanciaram da menina agredida e
> violentada tantas vezes. Condenaram quem levantou a menina caída na estrada
> da vida e salvaguardaram a pureza de suas leis e a vontade de seu deus.
> Acreditam que a interrupção da gravidez da menina seria uma lesão ao
> senhorio de Deus. Mas as guerras, a crescente violência social, a destruição
> do meio ambiente não seriam igualmente lesões que mereceriam denúncia e
> condenação maior? Perdoem-me se, sem querer acabo julgando pessoas, mas
> diante da inconsistência de certos argumentos e da insensibilidade aos
> problemas vividos pela menina de nove anos uma espécie de ira solidária me
> assola as entranhas.
>
> De fato um cisma histórico está se construindo e tem crescido cada vez mais
> em diferentes países. A distancia entre os fiéis e uma certa hierarquia
> católica é marcante. O incidente em relação à interrupção da gravidez da
> menina pernambucana é apenas um entre os tantos atos de autoritarismo e
> desconhecimento da complexidade da história atual que a hierarquia tem
> cometido.
>
> Na medida em que os que se julgam responsáveis pela Igreja se distanciam da
> alma do povo, de seu sofrimento real estarão sendo os construtores de um
> novo cisma que acentuará ainda mais o abismo entre as instituições da
> religião e a simples vida cotidiana com sua complexidade, desafios, dores e
> pequenas alegrias. As conseqüências de um cisma são imprevisíveis. Basta
> aprendermos as lições da história passada.
>
> Termino este breve texto lembrando do que está escrito no Evangelho de
> Jesus de diferentes maneiras. Estamos aqui para viver a misericórdia entre
> nós. E todos nós necessitamos dessa misericórdia, único sentimento que nos
> permite não ignorar a dor alheia e nos ajudarmos a carregar os pesados
> fardos uns dos outros.
>
>
> * Teóloga
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