Brasil: una receta para superar el lulismo [Cesar Benjamin - portugués]

Ernesto Herrera germain en chasque.net
Lun Mayo 8 14:14:03 UYT 2006


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Boletín informativo - Red solidaria de la izquierda radical

Año III - 8 de mayo 2006 - Redacción: germain en chasque.net

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Brasil

Entrevista a Cesar Benjamin

Uma receita para superar o lulismo 



Fred Melo Paiva 
Estado de Sao Paulo, 7-5-06


Seu País ideal passa longe do PT, partido que deixou em 94, quando sentiu o cheiro do caixa 2. Há cerca de 20 dias, Cesar Benjamin recebeu a notícia de que o PSOL, o Partido Socialismo e Liberdade, cogitava o seu nome para candidato a vice-presidente na chapa de Heloísa Helena. Uma reunião entre os 101 fundadores da sigla serviu para dar sustentação à idéia. Nas duas últimas semanas, sua indicação foi dada como certa. "Ainda há consultas a fazer", pondera Benjamin, para quem o convite seria "um gesto bonito em um momento em que a política brasileira está muito feia". "Eu não lidero nenhum grupo, não tenho votos ou esquemas, nunca me candidatei a cargo eletivo, não sou celebridade", diz. "Só tenho a oferecer idéias sobre o Brasil."

Cesar Benjamin, 52 anos, é dono da editora Contraponto, pela qual lançou seus dois últimos livros - A Opção Brasileira (1998) e Bom Combate (2004). Com uma formação "errática" segundo o próprio, é capaz de lecionar sobre a história do pensamento econômico, a macroeconomia, o jornalismo científico, o meio ambiente, as ciências sociais - já deu cursos regulares sobre cada um dos assuntos. É doutor honoris causa pela Universidade Bicentenária de Aragua, na Venezuela. Estudou Letras na Universidade de Estocolmo, na Suécia. É uma cabeça pensante capaz de conferir estofo à juvenilidade do PSOL.

Benjamin era PT. Foi um de seus fundadores e figura história na luta contra a ditadura - tinha 15 anos quando, líder estudantil secundarista, foi preso num quartel do Exército. Só saiu de lá três anos depois, e para a cadeia. Aos 23 foi expulso do País. Voltou clandestino pouco antes da Anistia, em 1978. Até 94, fez parte da direção do Partido dos Trabalhadores. Desligou-se quando, na campanha presidencial daquele ano, percebeu "uma claríssima evidência de prática sistemática de caixa 2". É bom ouvir o que diz Cesar Benjamin. A seguir, 10 de suas idéias para o Brasil.

1. GARANTIR A ALTERNÂNCIA NO PODER

"Nos últimos três anos, passamos a conviver com um grave risco na política brasileira. Até recentemente, os conservadores dominavam os governos, mas seu projeto era contestado pelas forças hegemônicas da oposição, lideradas pelo PT. Hoje, os conservadores detêm hegemonia no governo Lula e também na principal corrente da oposição, a coligação PSDB-PFL. Se esse arranjo se consolidar, a alternância no poder perderá qualquer potencial transformador, como ocorre nos Estados Unidos. Controlar, ao mesmo tempo, situação e oposição, em um sistema estável, é o sonho de qualquer estrategista político. Temos o dever de impedir que essa operação se complete, para que possa haver uma disputa de projetos. A sociedade brasileira precisa disso."

2. CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA PÓS-LULISMO

"Estamos assistindo ao fim de um ciclo de existência da esquerda brasileira. Não quero dizer com isso que o PT vá desaparecer, ou que Lula não possa ter uma grande votação, como Collor e Fernando Henrique tiveram. Não estou falando de Ibope, mas de História. Lula rebaixa sistematicamente o horizonte político e cultural do povo brasileiro, e precisa desse rebaixamento para se manter no poder. Só um povo mediocrizado aceita alugar sua consciência pelo medo de perder uma bolsa-família de, em média, R$ 60. Um povo culto e organizado, ou em processo de aprendizado e organização, conhecedor de seu próprio potencial humano, exigiria muito mais. O lulismo não tem futuro, pois não está produzindo nem idéias a serem multiplicadas, nem um povo mais consciente, nem uma juventude mais mobilizada, nem instituições republicanas mais avançadas. Quando perder o controle de cargos e verbas - neste ano ou daqui a quatro, não importa -, não se sustentará. Para se manterem vivos, movimentos precisam de idéias e utopias. Máquinas vazias desmoronam com facilidade. Muita gente já se deu conta disso, mas a construção de uma alternativa leva tempo. O PSOL sabe que é apenas uma das vertentes dessa alternativa, e a campanha eleitoral é um momento de um processo mais amplo de reconstrução."

3. DEMOCRATIZAR NOSSA DEMOCRACIA

"Em caso de vitória nas eleições, enfrentar lobbies é fácil. Nosso desafio será muito maior do que esse. Ele inclui alterar o modo como funciona o sistema político brasileiro. Há muitos anos, forças de natureza supranacional, representantes de rentistas, credores da dívida pública, controlam diretamente duas instituições-chave: o Ministério da Fazenda e o Banco Central. A partir dessas posições, definem as políticas monetária, cambial e fiscal, e comandam a execução do Orçamento da União. Assim, subordinam a ação de todo o Estado nacional. Forças de natureza subnacional apresentam-se no jogo político por meio, principalmente, das bancadas formadas no Congresso Nacional - as do agronegócio, da construção civil, das escolas privadas etc. A partir delas, negociam seus interesses com o Executivo, cujo núcleo é dominado pelo sistema financeiro. O povo pobre, por sua vez, recebe políticas compensatórias. Funcionando assim, nosso sistema político torna-se um obstáculo à construção de um projeto nacional consistente. Trai as esperanças trazidas pela redemocratização do País. Nossa principal tarefa política será democratizar, de fato, a nossa democracia. Ou, se quiser, republicanizar a República."

4. DEIXAR DE SER REFÉM DO SISTEMA FINANCEIRO

"Nos últimos anos, cerca de 40% dos recursos da União têm sido usados com encargos de dívidas financeiras, restando bem menos de 5% para investimentos. A desproporção dos gastos com o serviço da dívida, em relação aos demais gastos do Estado, é chocante. Dois meses de pagamento de juros correspondem ao dispêndio anual do Sistema Único de Saúde. Um mês corresponde ao gasto anual com educação. Quinze dias, aos recursos alocados no Programa Bolsa Família, que unificou quase todos os programas sociais anteriores. Um dia de pagamento de juros ultrapassa com sobras o gasto, no ano, destinado à construção de habitações populares. Um minuto corresponde à alocação anual de recursos com a defesa dos direitos humanos. É um descalabro. O País não pode funcionar assim. E não me venham com supostas tecnicalidades. Estudei bastante economia, justamente para não ter medo delas. Qualquer discurso que justifique isso é, antes de tudo, imoral.

"Eu ainda quero viver em um país em que os ministros da Educação, da Cultura e dos Esportes sejam mais importantes do que o ministro da Economia. A enorme importância deste último é um signo da nossa crise. Isso ocorre porque vivemos esmagados por variantes de uma 'macroeconomia do curto prazo' que se nutre do próprio fracasso: quanto maior o apelo a ela, maior a crise; quanto maior a crise, maior o apelo. Para sair dessa arapuca, é preciso, em primeiro lugar, uma decisão de natureza política: o Estado nacional brasileiro não será mais refém do sistema financeiro."

5. DESMONTAR A ENGRENAGEM DA CONCENTRAÇÃO DE RENDA

"Um novo ministro da Economia terá de desmontar, com rapidez, as engrenagens que perpetuam a maior anomalia da economia brasileira, que é a existência de dois tipos de moeda: a moeda comum, à qual todos têm acesso e que se desvaloriza conforme a taxa de inflação; e a moeda financeira, que tem a mesma liquidez da moeda comum, pois é transacionada todos os dias no over, mas rende juros muito acima da inflação. Só os mais ricos e os bancos têm acesso a esta última. Este é, de longe, o principal mecanismo de concentração da renda nacional. Para desmontar isso, precisaremos aliar competência técnica, estabelecendo um novo modus operandi para o Banco Central e o Ministério da Fazenda, e capacidade de liderança política da Nação."

6. DEVOLVER AO BC O PLENO CONTROLE DOS JUROS

"Quando as verbas da educação ou do saneamento são cortadas ninguém fala em "calote". Aplica-se esse termo, exclusivamente, para defender a altíssima rentabilidade do capital especulativo. Ele se tornou, de fato, muito poderoso na medida em que o Banco Central foi abrindo mão dos controles sobre as diversas formas de remessas de recursos para o exterior. Esse processo começou no governo Collor e se completou no governo Lula. Como as remessas estão liberadas, os aplicadores financeiros ameaçam fugir a qualquer momento para o dólar, desestabilizando a taxa de câmbio e ameaçando assim o funcionamento da economia real. Com isso, conseguem impor ao Estado brasileiro um alto prêmio para aceitar permanecer com seus ativos denominados em reais. Este prêmio são taxas de juros suficientemente atrativas, que sejam um múltiplo da taxa básica paga no sistema internacional aos ativos denominados em dólar.

"Restabelecida a disciplina sobre o envio de recursos ao exterior - tal como existiu, em diferentes formatos, desde o início da década de 1930 até 1992, e tal como é praticada hoje por inúmeros países -, o BC retomará pleno controle sobre a fixação das taxas de juros, reduzindo-as sem dificuldade a um patamar compatível com a realidade internacional, o equilíbrio das contas públicas e a retomada do crescimento econômico. Se o mercado financeiro recusar as taxas menores oferecidas, deixando de adquirir títulos públicos, o BC simplesmente comprará os títulos vencidos ou vincendos, injetando liquidez no mercado interbancário. Os bancos aceitarão rapidamente as novas taxas oferecidas, por uma questão de racionalidade econômica. Pois, eliminada a possibilidade de corrida para o dólar, não terão melhores alternativas de aplicação para os recursos em caixa à sua disposição.

"Tudo isso o BC pode fazer, agindo dentro dos limites das leis em vigor. O Brasil descobrirá então que nos últimos 15 anos - desde Collor até Lula - entregou alguns trilhões de reais ao sistema financeiro sem a menor necessidade. São os recursos que faltam para desenvolver o país. No limite, se os especuladores decidirem enfrentar o Banco Central, exigindo a continuação de pagamentos incompatíveis com a nossa existência e dignidade, o povo precisará se posicionar diante desse confronto. Quem você acha que vencerá?"

7. COMBATER A POBREZA COM EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

"Com reformas sociais, desenvolvimento econômico e expansão dos serviços públicos essenciais, entre os quais a educação. O maior patrimônio de um país é seu povo. E o maior patrimônio de um povo são suas capacidades culturais. Mas um projeto que priorize isso é incompatível com a predominância das macroeconomias do curto prazo. O capital financeiro que nos domina é rápido, esperto, móvel, centrado em operações de curto prazo. A Nação não pode subordinar-se a essa lógica. Ela tem território, história, cultura, instituições permanentes. E, principalmente, tem gente. Ela existe em um tempo histórico que não se confunde com o tempo rápido da especulação financeira."

8. CONSTRUIR UM NOVO PROJETO CIVILIZATÓRIO

"Eu sou socialista e adoro o Brasil. Quero que o nosso país dê certo. Temos recursos de todo tipo, capacidade técnica, enorme potencial cultural e um belo povo. Podemos construir aqui um projeto civilizatório novo, cheio de alegria, mistura, tolerância e espiritualidade."

9. TRANSFORMAR O BRASIL EM UMA NAÇÃO-PARA-SI

"Na origem, fomos grupos desenraizados - índios destribalizados, brancos deseuropeizados e negros desafricanizados, depois gente do mundo inteiro -, usados como força de trabalho pelo capitalismo mundial. Gradativamente, porém, constituímos um povo novo, que não existia há relativamente poucas gerações. É bonito isso. Formamos um povo filho da modernidade, miscigenado, aberto ao futuro, que produziu uma cultura de síntese e ganhou uma identidade. Esse é o nosso grande êxito. Mas, até agora, tivemos também um grande fracasso: esse povo nunca comandou a sua nação. Este é o impasse brasileiro, que está ficando cada vez mais radical. Já somos 190 milhões de pessoas, 83% vivendo em cidades e 33% em apenas nove regiões metropolitanas. O Brasil não pode mais organizar-se como uma empresa para poucos, controlada de fora, como sempre se organizou, a não ser a um custo humano altíssimo e crescente, que pode conduzi-lo à anomia e à desagregação. Está na hora de refundar o Brasil, transformando-o de uma empresa-para-os-outros, que sempre fomos, em uma nação-para-si, que desejamos ser."

10. SABER RECOMEÇAR

"Estou sempre recomeçando. Heidegger refere-se reiteradamente ao olhar que calcula, que mede, tendo sempre em vista um fim instrumental. É o olhar típico do mundo dos negócios, que visa ao lucro, e da atividade política, que visa ao poder. Essa característica já estava presente na tradição da própria esquerda, mas se tornou caricata com a hegemonia do lulismo, que não tem conteúdo nenhum. O cálculo, que em si já é problemático nas relações humanas, degenera então em mera esperteza. Eu nunca compartilhei desse modo de estar-no-mundo, até porque as pessoas que vivem assim são muito infelizes. Vivo segundo os meus princípios, procuro manter uma existência espiritualmente rica e diversificada, e estou sempre preparado para perder. Quase sempre, os perdedores é que fazem a história andar: Jesus, Zumbi, Tiradentes... Quem se lembra daqueles que os derrotaram? Os que querem o poder a qualquer custo acabam não tendo importância nenhuma." 
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